Frank - O Caçador #87: "De Volta ao Passado"

Departamento Policial de Danverous City

Frank andava pelo corredor onde situava-se a sala de Carrie e bateu à porta da sala particular da assistente que prontamente concedeu-lhe entrada. O detetive com um contido sorriso de satisfação, mas não sutil o bastante para escapar à percepção aguçada de sua amiga. Ele veio aproximando-se devagar sem olha-la, como se pensasse no que dizer. 

- Ahn... O dossiê do caso que o diretor te mandou ainda tá sendo preparado, quase pronto. - disse ela que não escondeu sua estranheza - Frank, tá tudo bem? Nós geralmente perguntamos isso quando vemos alguém de quem gostamos muito triste ou abatido. E também quando se trata de um caçador de assombrações com um sorriso bobo disfarçado como se não flertasse com a morte todos os dias. - ela levantou-se com enfezamento - Quer parar de enrolação e suspense? Não faz isso comigo... 

- A Lucy e eu avançamos pro próximo nível. - disse Frank, a fala rápida.

- Como é? - indagou Carrie, franzindo o cenho como se não tivesse ouvido. 

- A Lucy... e eu... estamos... namorando. - disse Frank pausadamente aproximando-se dela. 

- Eu tinha escutado antes, mas queria que fosse mais específico. - disse Carrie logo pondo as mãos nas maçãs do rosto indicando sua surpresa - O encontro na sua casa foi mais bem-sucedido do que eu pensava. 

- E não foi apenas isso. - disse Frank chegando mais perto dela e inclinou-se para cochichar - Nós dormimos juntos. 

- Claro que não dormiram somente, né? - indagou Carrie, estarrecida e ao mesmo tempo feliz por ele. 

- Pode-se dizer que... brincamos um pouco de médico, se é que me entende. 

- Nossa... Minhas suspeitas se confirmaram, era mais que uma simples amizade de longa data. 

- Como sempre você supondo e acertando bem no alvo. Ela confessou uma queda por mim desde o colegial, talvez desde a primeira vez que me viu. E eu, o tapado que era, nunca me dei conta que ela tava na minha aquele tempo inteiro.

- Os sinais bem debaixo do seu nariz e nada de você se tocar. Entendo porque ela preferiu manter na base da amizade até a formatura. Interesse amoroso unilateral é desgastante. - declarou Carrie indo pegar uma água do seu bebedouro. 

- Experiência própria? - questionou Frank, curioso. 

- O primeiro cara por quem estive afim passou cinco anos cegamente achando que éramos melhores amigos. 

Inesperadamente, Hoeckler abrira a porta. O superintendente usava seu habitual terno azul.

- Frank, por que não está na sua sala?

- O caso que o diretor me indicou tá demorando pra sair com volume de evidências na pasta. 

- Então não será problema atender a visita que insistiu muito em lhe ver. Alega ser um amigo seu. 

- Meus únicos amigos são a Carrie e o Axel. - disparou Frank fazendo Hoeckler reagir chateado.

- E quanto à mim? - perguntou o superintendente. 

- Hoeckler, eu posso até ter perdoado o que você fez, com muito esforço, apesar dos pesares, mas... eu não esqueci. Tá tudo bem aqui gravado. - disse Frank tocando na têmpora direita - Assim como também nos arquivos de TV. Não somos nem inimigos nem parceiros... Simplesmente chefe e empregado. Não sentia falta da nossa antiga dinâmica? Eu também quero voltar a esses velhos tempos. Só que nada entre nós dois, depois do que passamos, do que eu passei, principalmente, será como antes. Que bom você ter mostrado as caras de novo pra mim após meses recluso na sua sala imperial pra eu poder finalmente te dizer isso. O sangue dele ainda tá nas suas mãos. O perdão pode até apagar a mágoa, mas não as ações.

Hoeckler passou a língua entre os lábios, descontente que Frank não o considerava ao menos alguém importante para se relacionar amistosamente no intuito de ajuda-lo a se reformular como pessoa após seus atos hediondos. 

- Enfim, fique com este rapaz que diz conhecê-lo. Ele parece querer ansiosamente tratar algo com você.

Hoeckler acenou para a visita entrar, saindo da sala logo em seguida. 

- Obrigado. - disse Nathan à ele. O jovem caçador entrou no recinto fechando a porta - Olá. 

- Eu te conheço? - indagou Frank. Carrie havia colocado mais água no copo descartável, mas não tirou os olhos do rapaz alto de cabelo preto em corte social, rosto atraente e jovem e usando sobretudo preto de couro. 

- Não, ainda não. Mas eu preciso que ouça cada palavra do que tenho a falar. É o meu apelo. Por favor.

- Tá legal, seja lá quem você for... Identifique-se. - disse Frank exigindo - Diga a que veio. 

Nathan respirou fundo antes de exprimir as surpreendentes palavras. 

- Sou Nathan Montgrow. - disse ele seguramente - Sou seu filho. Vim de 2050 pra avisa-lo de uma catástrofe que afetará a cidade inteira. Muitos podem acabar sofrendo um destino muito pior que a morte. Isso se não evitarmos juntos.

Carrie deixou o copo descartável escorregar de sua mão e cair derramando a água tamanho o baque sentido que a fez boquiabrir. 

- Quê? - indagou Frank, totalmente descrente e ao mesmo tempo estupefato com a notícia bombástica. 

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CAPÍTULO 87: DE VOLTA AO PASSADO

Dois meses depois

Ao longo desse meio tempo, as coisas desenrolaram-se em grande parte idênticas às vividas na linha do tempo anterior, a exceção de que Nathan evitou de todas as formas cruzar seu caminho com Lucy em todas as vezes em que isso parecia possível. A sensação mais tortuosa ao longo dessa segunda chance era de estar somente atrasando o inevitável. Mas numa altura em que a situação estava às vésperas dos momentos mais cruciais, Nathan calculou bem seus passos bem como o fornecimento de informações. Quando matou Euríale com a ajuda de Frank não precisou de um espelho para fazê-la refletir seu próprio olhar petrificador. Conseguiu desenvolver essa habilidade em exaustivos testes secretamente. 

Estava ele novamente rumando a mais uma tentativa de capturar a cabeça de Medusa descendo ao local subterrâneo que servia de abrigo para o insaciavelmente faminto Basilisco. Nathan ligou sua lanterna ao firmar os pés no solo terroso. Andou rapidamente despreocupado até o púlpito onde a cabeça de Medusa estava posicionado. Porém, a visão do Basilisco tomou sua frente iluminado pela luz amarelada da lanterna. Nathan estremeceu com a aparência grotesca do monstro, mas preparou-se. A serpente de escamas negras e olhos asquerosos mirou suas presas para abocanhar Nathan e rastejou velozmente. O jovem caçador rolou para o lado direito esquivando-se do ataque. Jogou uma bombinha de fumaça que estourou bem próximos aos olhos da serpente. Correu para pegar a cabeça, porém a cauda do Basilisco moveu-se para fazê-lo tropeçar. A lanterna quicou no chão, tremeluzindo e por fim apagando-se, mergulhando o lugar inteiro na escuridão.

- De novo não... - disse Nathan tateando de quatro atrás da lanterna. O Basilisco que ouvia os sons dos batimentos cardíacos e respiração moveu-se para pega-lo. Foi então que Nathan fechou os olhos, apurando sua audição de híbrido. Até que o Basilisco se aproximasse ele acionaria seu olhar petrificador que tentou aprimorar nos últimos dias. Quando o perigo de proximidade foi ao limite, Nathan reabriu os olhos virando o rosto diretamente para o Basilisco. Seus olhos brilhavam inteiramente em vermelho nítido. A serpente emitiu um som gutural ao ser petrificada da cabeça até a cauda. Nathan reouve sua lanterna e deu uma batida nela que logo a fez tornar a funcionar. Mirou o facho para o Basilisco comprovando tê-lo petrificado - Ótimo. - disse ele ofegante. 

Dirigiu-se à cabeça de Medusa, a pegando com as duas mãos deixando a lanterna debaixo do braço direito. 

- É isso aí, segue o jogo. - disse ele, sentindo o doce saber de vitória ao ter Medusa consigo.

                                                                              ***

Frank e Axel esperavam Nathan chegar e se levantaram depressa do sofá ao mesmo tempo quando ele voltara com algo coberto por um pano. O jovem caçador colocou a cabeça sobre a mesinha de centro e retirou o pano. 

- Tcharam. - disse ele apresentando a genuína Medusa petrificada. 

- Opa, aí sim hein. - disse Frank, contente. Tocou o filho no ombro, satisfeito pela conquista - Parabéns aqui do paizão por escapar vivo e inteiro de uma cobrona devoradora de homens. Trouxe a presa também? Essa deve ter sido barra.

- Pra ser honesto, nem tanto. - disse Nathan retirando a presa que arrancou do Basilisco na outra linha do tempo - Tá na mão.

- Caramba, você provou ser um caçador fora de série. - disse Axel, impressionado - Do que eu ouvi falar do Basilisco, ele encurrala suas vítimas com seu corpo pra espreme-las até quebrar os ossos e depois se alimentar. A gente tá muito orgulhoso de você, Nathan. Vamos poder armar a cilada.

- Peraí Axel, que mudança repentina é essa? - perguntou Nathan, estranhando - Há poucas horas você era terminantemente contra a tapear o Nero com o feitiço de reversão. 

- Aconteceu que... ele teve uma ideia de jerico e quase se matou. - disse Frank olhando-o severo. 

- O que houve? - perguntou Nathan. 

- Eu pretendia me igualar ao Nero em relação aos poderes que ele tem. - disse Axel mostrando-se arrependido - Você sabe que é ele foi picado por uma cobra, cobra essa saída da cabeça de Esteno por conta do feitiço que Medusa lançou nela após descobrir nosso romance. 

- Quer dizer que você queria bancar o herói pra destroçar o Nero com suas próprias forças. Francamente, essa foi a pior melhor ideia de todas.

- Como assim pior melhor? - perguntou Frank, contrariado - O Axel teve uma convulsão, o veneno da cobra corria nas veias dele. Eu chamei um anjo pra cura-lo e ele examinou dizendo que o veneno o mataria em um curto espaço de tempo. No que você pensou chamando isso de melhor pior ideia?

- Eu pensei que o Axel realmente ganharia as mesmas habilidades do Nero, mas, claro, haviam riscos da coisa desandar. Espera, um anjo?! Consegue invocar anjos pra ajudarem?

- Nem pensa que é conveniente, eles não são autorizados a interferir nos problemas mundanos que são pequenos demais comparados a um caso envolvendo anjos caídos. - disse Frank relembrando quando foi escolhido para empunhar o tridente forjado a aniquilar Malvus. O som da campainha soou e os três olharam para a porta. Frank conferiu no olho mágico.

- Quem é? - perguntou Axel. 

Frank veio quase que na ponta dos pés e falou em voz baixa:

- É a Lucy. 

Nathan pegara a cabeça da Medusa e o braço direito de Axel para ir junto com ele.

- Ei, Nathan, o que foi? Quer me levar pra onde?

- É, vocês podem ficar. A propósito, já tava mais que na hora de te apresentar a Lucy, Nathan. - disse Frank. 

- E-eu acho melhor, deixarmos vocês dois a sós. Tenho um lance pra discutir com o Axel. - disse Nathan nervosamente olhando para o hóspede do pai que retribuiu com um franzir de testa. 

- Tá legal, vão lá pro meu quarto. Desçam quando eu chamar ou tiverem terminado o papinho de vocês. - disse Frank indo atender Lucy. 

- Nathan, é sério? O que tem pra falar comigo? É sobre o plano? - perguntava Axel sendo puxado por Nathan até a escada. Subiram logo no instante em que Frank abriu a porta e recebeu Lucy com um beijo rápido na boca. 

Na metade da escada, Axel desvencilhou à força seu braço da mão de Nathan.

- Você tá muito estranho, sabia? - disse o ex-amigo de Nero, incomodado com o comportamento do jovem caçador - Tá agindo como se quisesse fugir da presença da Lucy. O que tá havendo com você? 

- Shhh, fala baixo. - pediu Nathan o dedo indicador na frente da boca - Podem nos ouvir. 

- E daí? - indagou Axel não entendendo nada daquela atitude.

- Anda, vem, quero tratar do plano em particular com você. 

- E o Frank não pode saber? 

- Ele tá ocupado agora. Vamos definir logo os passos que você terá de seguir quando irmos pra lá.

- Não, Nathan, foi mal, sem o Frank conosco é como a peça da Rainha fora do xadrez. 

Axel virou-se descendo os degraus e Nathan deu uma expirada de impaciência com a boca. O hóspede de Frank olhou escondido na parede o casal trocar afagos. Mas logo sentiu a gola da sua camisa ser puxada por trás fortemente.

- Vem aqui, Axel, para de bisbilhotar. - repreendeu Nathan. Axel parecia não ouvi-lo, imerso em pensamentos.

- A Lucy... De repente, ela me lembrou alguém... Não sei explicar, mas... Eu senti olhando só de relance. 

- Sentiu? Sentiu o quê? - perguntou Nathan, aborrecido. Axel emudeceu meio tenso por uns segundos.

- A Esteno. - disse ele fazendo Nathan ter arrepios e um mau presságio - Ela me lembrou a Esteno. 

Frank dava suas mãos à Lucy, mal contendo sua emoção. 

- Eu vou... vou ser pai. - disse ele, sorrindo - Meu Deus... Nunca em toda a minha vida achei que fosse digno dessa bênção. 

- Mas agora é a mais pura realidade. - disse Lucy, radiante com a descoberta da gravidez - A nossa realidade. 

- Quer marcar um encontro pra gente comemorar? - perguntou Frank. 

- Não sou louca de desperdiçar uma folga dessas sozinha em casa. - disse Lucy desatando a rir. 

Nathan tentava conter a ânsia de Axel em querer conhecer Lucy. 

- Olha, não é educado interromper, eles estão num momento de intimidade. 

- Mas eu preciso matar essa dúvida que me atormenta. Saber quem realmente é ela. - disse Axel decidido.

Frank já se despedia da namorada acompanhando-a até a porta. 

- Venho às nove em ponto. Prepara o espumante. - disse Lucy sorridente. 

- Ah, pode crer. Tchau, vou ficar te esperando. - disse ele dando uma piscadela - Te amo. - falou dando um aceno com a mão direita, logo fechando a porta. Axel vinha descendo a escada e Nathan logo atrás dele segurando-o - Ei, o que tá pegando entre vocês dois? Já terminaram a conversinha? Falaram dos rumos do plano, certo?

- O Nathan queria que fizéssemos isso sem você por medo de conhecer a Lucy. - disse Axel.

- Não. - disse Nathan categoricamente - Pai, vamos depressa prepararmos a cabeça. 

- Tudo bem, põe ali na mesinha. Seja o que Deus quiser. - disse Frank. Nathan pusera a cabeça sobre a mesa - Axel traz lá o pote com o sangue da Euríale, guardei na dispensa, terceira porta.

- Do que você e a mamãe falavam? - perguntou Nathan sacando um canivete do bolso do sobretudo. 

- Boa nova, rapaz: Você vai nascer. - disse Frank com um sorriso leve de felicidade. 

Nathan virou o rosto para ele parecendo meio incrédulo. 

- É verdade? Assim tão cedo? Estamos perto do final de fevereiro... 

- Olha, esquece isso, o importante é o nascimento em si e não o tempo exato pra acontecer. Relaxa, vai dar tudo certinho.

Axel voltava da cozinha com o pote de sangue e o entregou à Nathan. 

- Primeiro o sangue da górgona... pro símbolo do ouroboros. - disse o filho de Frank abrindo o pote e derramando o sangue na sua mão direita. Passou o sangue na testa de Medusa desenhando cuidadosamente o emblema da serpente mordendo sua própria cauda - Depois... sangue humano pra derramar nas serpentes. - Frank ofereceu-se a extrair um pouco do seu sangue. O detetive cortou seu antebraço esquerdo deixando o sangue escorrer banhando as serpentes petrificadas. 

- Terminado? Sem palavras mágicas? - perguntou Axel. 

- Segundo a Euríale, não. - disse Nathan que assim como Frank confiava na palavra da górgona - Ela disse a verdade, estava com medo que descumpríssemos a promessa de poupa-la. 

- Azar foi o dela confiando em nós. - disse Frank esfregando as mãos - E então? Vamos nessa? 

- Só esperar o sangue secar e a gente... arregaça as mangas. - disse Nathan. 

- Enquanto isso, vou preparar nossa artilharia pesada. - falou Frank indo à escada subir até o sótão onde guardava seu arsenal mais pesado. 

- Mas os corpos são como pedra maciça. - contestou Axel - No que vai adiantar usar armas? 

- Papai e eu combinamos de usar o sangue da Euríale na nossa munição. - revelou Nathan. 

- Será que funciona pra causar um dano grave neles?

- É o que veremos. - respondeu Nathan, um tanto incerto no tocante a eficácia das balas embebidas do sangue de górgona. 

                                                                                ***

Em Gargóvia, Nero encontrava-se na sala central de seu palácio sentado em seu trono lendo um livro roubado por um capanga durante uma noite. Dois guardas surgiram da entrada acompanhados de uma presença inédita.

- Senhor, aqui está ele, missão dada, missão cumprida. - disse um dos guardas. Nero ergueu os olhos que se arregalaram de empolgação, levantando-se do trono e largando o livro ao chão. Axel deu passos adiante segurando a cabeça coberta.

Nero ganhou aproximação com seu antigo companheiro de caçadas fitando-o seriamente. 

A expressão de Axel não se diferenciava. 

- Se viesse de mãos vazias, eu o torturaria prazerosamente por horas devido a sua fuga imprudente. - disse o governante da cidade subterrânea - Cheguei a pensar em anular nosso trato. Seria justo. Foi uma atitude estúpida demais, obviamente.

- Mas aqui estou trazendo o que prometi. - disse Axel - Posso deixar... ali naquela pedra? - perguntou olhando para o bloco de pedra redondo que servia como uma mesa. Nero fez um meneio de cabeça permitindo-o. Axel caminhou até o bloco de pedra levando a cabeça de Medusa. A pusera sobre e discretamente retirou a presa do Basilisco que guardou escondida debaixo da camisa e presa na calça - Eu gostaria de dizer que... sinto saudades de como éramos, embora você fosse difícil de lidar.

- Quando chegarmos no ponto máximo da nossa meta... você será obrigado a reconhecer seu novo sentido existência. - disse Nero - A única coisa a me lembrar daquele passado deprimente... é você. 

- Então se eu recusar virar gárgula como um mais um soldado do seu exército... você me mata. É isso? Porque sou apegado ao passado em que fomos praticamente heróis? Eu sou o último resquício de humanidade que você quer apagar. Uma pena.

- Por que uma pena? Você já contribuiu conforme prometido, vencemos a batalha. Agora saia. E quando a guerra começar, decida se vale a pena seguir como um obsoleto e frágil humano ou... como nós.

Axel balançou a cabeça, achando um tanto engraçado a ideologia que Nero adotara. 

- Você tem complexo. É doente por poder. Nosso papel era ajudar as pessoas, não se colocar acima delas. Nunca, em nenhum dia sequer, você parou pra pensar em se libertar da maldição? 

- O que ele está tentando? - perguntou um dos guardas - Nos convencer de que somos monstros? Até parece que existe uma cura pro que nos tornamos.

- Não estamos doentes! - esbravejou Nero, seus olhos de íris vermelhas pulsando cólera.

- Mas você está, Nero. - rebateu Axel - O que você chama de privilégio é fruto do seu pior defeito.

Axel retirou o pano da cabeça de Medusa e ergueu a presa do Basilisco para apunhala-la. 

- E isso tem que acabar hoje! Pra todos nós! - gritou ele pronto para o ato de deflagrar o feitiço reverso.

- Peguem-no! - ordenou Nero - Depressa! 

Os guardas correram e conseguiram agarrar Axel antes que ele descesse a presa com força sobre a cabeça petrificada de Medusa. O seguraram afastando ele do bloco da pedra e depois jogaram no chão. A presa largou de sua mão.

Nero se direcionou à cabeça de Medusa, enfurecido. 

- Eu deveria imaginar que estava tentando ganhar tempo pra um ardil. Muito esperto, mas não tanto. - disse Nero que tocou suavemente no rosto da górgona - Oh, minha amada... Medusa. Se houvesse uma maneira de trazê-la de volta, faria de você minha imperatriz até o fim dos tempos. - num acesso de fúria, Nero arremessara a cabeça contra a parede.

Axel olhou atemorizado ao ver o principal item que custou tanto esforço em ser conseguido se despedaçar completamente.

Enquanto o plano de quebrantar a maldição de gárgula sofria uma duro golpe de impedimento, Frank e Nathan se esgueiravam pelos corredores do palácio de pedra armados com submetralhadoras. Frank olhou com cuidado antes de dobrar para o próximo encostado na parede com Nathan bem atrás dele. Dois guardas passavam pelo corredor à direita.

- Ao meu sinal... - falou Frank baixinho, a mão esquerda levantada e fechada - Um... - ergueu o indicador - ... dois... - ergueu o médio - ... três. - ergueu o anelar. 

A dupla se expôs aos guardas mandando uma saraivada de balas das submetralhadoras contra eles. A chuva de projéteis conseguiu derrubou, no mínimo incapacita-los a atacarem. 

- Quem são vocês? - perguntou um deles, tentando se reerguer - Balas não deviam ter efeito sobre nós...

- É um segredinho nosso. - disse Frank olhando para Nathan com piscadela. Ambos seguiram autoconfiantes metralhando mais guardas que apareciam ao longo do trajeto. 

- Esse lugar é um labirinto... - disse Nathan vendo mais um guarda ao dobrar para outro corredor. Puxou o gatilho cuspindo mais balas - Resistente você hein! - falou vendo que o soldado tentava se sobressair à rajada de balas, porém, seu vigor não aguentou por mais tempo e caíra de joelhos. Nathan queria seguir atirando mais, porém ouviu apenas "clic" do gatilho - Droga, esse cara me fez esgotar o segundo pente. - reclamou Nathan - Se a gente topar com mais um desses...

- Fica frio, é só lembrar que o Nero conduziu o povo de um vilarejo, população que não é nem um terço de um bairro do subúrbio. O exército dele não é coisa que se compare a 300 de Esparta. Vamos pra frente e pra cima deles.

Frank e Nathan prosseguiram municiando suas armas e disparando contra qualquer guarda andando pelos corredores, mas ao passarem por uma abertura viram-se num amplo espaço iluminado por tochas. Frank rapidamente enxergou Axel e Nero. 

- Axel! Se afasta dele! - gritou o detetive. Contudo, um lacaio cortara uma corda presa a uma estalactite do teto usando um facão rústico. Tal corda prendia uma jaula de ferro oxidado prontificada como armadilha a intrusos. A jaula caiu em peso aprisionando Frank e Nathan como dois animais. Frank bateu o rosto nas grades quando avançava para ir até Axel. 

- Há quanto tempo, Frank. - disse Nero sorrindo cinicamente - O seu querido hóspede teve de ser forçado a sabotar a missão impossível que é me deter.

- Mentira! - disse Axel ficando de pé - Eu ia golpear a cabeça da Medusa com a presa, só que... Não fui tão rápido, enrolei demais. Me desculpem, Frank... Nathan... Eu vacilei feio com vocês.

- Ah, Axel... - disse Frank entristecendo o olhar, amargando-se com a falha do plano. Nathan fechou os olhos levando a mão à testa. Deixou-se sentar encostado nas grades, desalentado.

- Acabou, pai. - disse ele - Só provou que erramos em destruir a cabeça da Euríale... 

- Não, se o Axel levasse a cabeça dela e o Nero descobrisse a arapuca mesmo assim, ele teria que levar a cabeça da Medusa limpinha e ainda por cima seria verificada pra certificar de que não tá enfeitiçada. 

Nero soltara uma gargalhada zombeteira para os dois, só parando depois que Frank lhe questionou:

- Tá cascando o bico por que, desgraçado? Cantando vitória antes da hora, é? 

- Isso também. - respondeu Nero - Mas a estratégia que armaram estava fadada ao fracasso desde o início. 

- Não mesmo, o sangue da górgona e de um humano numa cabeça petrificada, são os ingredientes pra quebrar a maldição. - contestou Axel. 

- Ledo engano. O sangue de uma górgona não se inclui. - revelou Nero - Medusa mencionou isso enquanto narrava a primeira vez que usou a petrificação em massa na cidade grega antes de ser banida com suas irmãs ao submundo. 

- Aquela vadia da Euriale... - disse Frank, dando-se conta de que foram ingênuos ao confiarem na górgona - Quis morrer pra em compensação nos tapear.

- O azar foi nosso o tempo todo. - disse Nathan, inconsolável com o rumo desastroso da missão. Mas poderia piorar. 

Nero agarrou o pescoço de Axel apertando-o como intimidação. 

- Você trará a cabeça da última górgona viva ainda hoje.

- Ou iremos atrás de você, mas dessa vez não pra prende-lo. - disse um dos guardas.

- Caso eu traga... vai liberta-los, não vai? - perguntou Axel a voz saindo meio fraca pela força de Nero apertando seu pescoço. 

- Uma troca justa, era nisso que estava pensando. - disse Nero soltando-o e aproximando seu rosto ao dele - Agora vá. E não volte sem a cabeça. A quero limpa, intacta, não se atreva a fazer nenhuma adulteração, apenas irá encurtar as vidas de seus estimados amigos. Quem será essa última alternativa? Ah, lembrei... Sua amada Esteno. 

O governante de Gargóvia deu uma risadinha infame mostrando seus dentes cinzentos numa face odiosa. Axel o encarou furioso antes de ir embora por onde entrara olhando para Frank e Nathan com uma expressão de tristeza profunda lamentando suas condições. 

- Mas como diabos o Axel vai conseguir encontrar essa górgona ainda pra hoje? - perguntou Frank, indignado.

A questão não era nenhum mistério para Nathan que estampou o mais puro medo em seu semblante.

                                                                                  ***

No horário combinado, Lucy viera à casa, animada para celebrarem a geração do filho que esperavam. Axel atendeu após o primeiro toque da campainha. Ao ver o rosto de Axel, Lucy sentiu as pernas bambearem. Não via tal rosto há tempos.

- O Frank não está, ma-mas... Eu preciso que tenhamos uma conversa. - disse Axel, tenso. 

Permitiu ela a entrar virando as costas e passando as mãos no rosto em claro sinal de preocupação.

- Axel. - disse Lucy não vendo necessidade em disfarces. Ele voltou-se à ela, surpreso - Sabe quem sou. Ouvi sua voz... quando estive aqui hoje de manhã. Me olhou da escada escondido. Na verdade, está bem evidente pelo jeito que me recebeu. - ela deu passos à frente - Não precisa ter medo, ainda sou a mesma. Fico feliz que esteja acolhido aqui. 

- E olha que coincidência. Bem na casa do seu atual namorado. 

- É, o destino tem dessas. Por falar nele, aonde tá o Frank? Só pra você saber... nós teremos um filho. 

Axel fechara os olhos expressando seu lamento pela solução que se forçaria a assumir para salva-los.

- O que foi? Eu tô com a leve sensação de que tá acontecendo algo bem sério e você tá hesitando... 

- Tá mesmo, infelizmente. O Frank tá em apuros. E você merece saber toda a verdade. 

Lucy o fitou com desconfiança elevada, julgando pela expressão meio chorosa de Axel que não dizia respeito a nada de bom. Pela floresta onde situava-se a cabana, Lucy dirigia seu carro a uma certa velocidade com Axel no banco do carona. 

- Não, fora de questão. - disse Lucy contrapondo-se a uma sugestão de Axel.

- É questão de sacrifício nobre, Esteno. A minha vida perdeu o valor depois que fui vítima dessa maldição.

- E até hoje te devo mil desculpas por aquela barbaridade... Mas era Medusa, minha irmã mais velha, tinha poder sobre mim e Euríale - Esqueça, não vou cortar fora sua cabeça. Se houver um sacrifício... será pagando minha vida pra salvar a de Frank e a desse amigo dele... 

- O Nathan. - disse Axel - Pra que você fique sabendo logo... Ele é o filho que você espera, mas vindo do futuro. 

- O quê? - disse Lucy, abismada, quase batendo o carro numa árvore, mas desviou a tempo.

- Tudo bem, vou te explicar tudo. - disse Axel sentindo-se na obrigação árdua de relatar os fatos. 

No palácio de Nero, Frank e Nathan estavam presos na jaula sentados em pontos opostos. 

- Já anoiteceu e nada de Axel aparecer. - disse Nero para os dois - Presumo que eu já posso decidir o que farei com vocês se o atraso prolongar.

- Sim, liberta-los. É isso que você fará. - disse Axel para a surpresa de Nero e seus guardas - Eu trouxe a última górgona. 

Lucy saía da escuridão para a luz alaranjada das tochas. Frank ficara de queixo caído, levantando-se depressa e indo até as grades segurando-as. 

- Lucy! - chamou ele. A investigadora virara o rosto olhando-o com expressão nervosa - Por que justo você?

- Ela é Esteno, Frank. - disse Axel tão abalado quanto - Eu sinto muito. Por você... e pelo Nathan. 

Frank vagarosamente olhara para o filho que via-se num estado de completo desconsolo. 

- Nathan... - disse o detetive sentindo pena do filho. 

- Eu tinha dito antes, pai. Acabou. - disse Nathan, uma lágrima brotando do seu olho esquerdo e escorrendo - Desculpa por não contar sobre quem eu de fato sou...

- Não, não se culpa por isso. Entendo você. Se proibiu a revelar coisas muito profundas do futuro... e em relação a você também. Você não é a primeira pessoa da família a ser meio humano e meio monstro. O seu meio-tio que o diga.

- Venha. - disse Nero chamando por Lucy movendo o dedo indicador. 

Lucy caminhou adiante. Dois guardas se colocaram próximos de Axel para estarem prontos de segura-lo na hipótese dele investir numa tentativa desesperada de salva-la. Um guarda veio carregando uma lança de ponta grande e afiada. 

- Não! Lucy! - disse Frank, aflito. 

Ela olhou para a jaula vendo Nathan sentado de costas da perspectiva dela. 

- Será que vou morrer sem nem ao menos ver o rosto do meu filho? 

- Seu o quê? - indagou Nero, confuso - Aquele rapaz impertinente é seu filho?! 

Ouvindo isso, Nathan ficara de pé virando-se para a mãe. Lucy deu um sorriso fechado condescendente. O jovem caçador a encarou com lágrimas nos olhos que transbordaram pelo rosto. 

- Que se despeçam então. - disse Nero com extrema frieza. 

O guarda veio com a lança pronto para o golpe fatal. Nero acenou com a cabeça para que o fizesse.

- Nãããããooo! - gritava Frank querendo despertar uma força colossal para torcer aquelas grades. 

Lucy fechou os olhos lacrimosos mantendo o sorriso de satisfação simplesmente por ver Nathan. A lâmina da lança veio horizontalmente em encontro ao seu pescoço. Cortara sua cabeça num movimento preciso. Axel virou o rosto, debulhando-se em lágrimas com os dentes cerrados. A cabeça de Lucy rolou pelo chão deixando um rastro de sangue.

- Agora vamos ao próximo passo. - disse Nero mirando em Axel que rapidamente sofreu o peso na sua mente como sua cabeça pesasse toneladas o torturar a ponto de fazê-lo grunhir em dor. 

- Axel! - gritou Frank, alarmado. Nero utilizava sua possessão psicocinética o mais profundamente que sua capacidade lhe permitia, levando a vantagem da fragilização emocional de Axel - Seu traíra! E a promessa de nunca mais possuí-lo? 

As críticas de Frank não abalavam a postura de Nero que pouco importava-se em ser chamado de traidor. 

- Eu ainda preciso do feitiço de controle do Behemoth... - disse ele os olhos fechados. Axel caiu de joelhos com as mãos na cabeça, suas veias da testa altamente salientes, gritando pela dor lancinante. 

- À medida que ele resiste, mais danos ao próprio cérebro ele pode causar. - disse Nathan - Axel, entrega o jogo! 

Axel caíra desmaiado ficando de bruços com um filete de sangue escorrendo de uma narina. Nero reabria os olhos com um ar mais altivo que somente indicava sua conquista. 

- Não... Ele não pode... - disse Frank. 

- Sim. - disse Nathan certo daquilo - Ele penetrou na mente do Axel como nunca antes. 

- Hora de cumprir minha palavra. - disse Nero voltando-se à Frank e Nathan - Estão livres. 

Um guarda pegara em nas grades da jaula e com uma imensa força a removeu do chão jogando-a para longe. 

- Mas você traiu o Axel. - acusou Frank olhando-o com extrema raiva - E matou a Lucy! 

- Levem essa imundície de corpo daqui. - disse Nero autoritário.

- Não vem com joguinho, o Axel não tá morto. E você não nos dá ordens. - disse Nathan. 

- Isso não é jeito de prestar respeito diante do seu futuro imperador. - disse Nero que logo manifestou uma habilidade até então desconhecida. Uma espécie de vibração óptica que afetava Frank e Nathan de forma que sentissem dores de cabeça vendo o mundo ao redor deles ficar confuso, borrado e desordenado, como se estivessem envolvidos num túnel vibratório que provocava confusão mental. A dupla se curvou ao auto-proclamado imperador subjugados pelo incrível poder.

Nero cessou sua tortura, acreditando que demonstrara uma boa razão de temerem-no. Ele virou as costas silenciosamente andando até seu trono. Frank e Nathan tentavam se reorientar para pegar Axel e fugirem dali. 

                                                                                 ***

O retorno para casa foi sofrido, física e emocionalmente. Frank e Nathan carregavam o peso de Axel ao entrarem, seus corações dilacerados com a cena perturbadora testemunhada. Deitaram Axel no sofá e ambos seguiram para direções diferentes. Frank sentou-se na poltrona, exausto, pondo as mãos no rosto. Nathan ficara de pé olhando a noite pela janela. 

- Eu me odeio. - disse ele sofrendo de um arrependimento amargo - Eu nunca devia estar aqui, respirando esse ar, minha existência foi um erro muito maior. Sempre soube disso. Tentei reparar esse erro me propondo a salvar o mundo, mas tudo que fiz foi causar sofrimento. O que aconteceu hoje provou que não passo de um caso perdido. Resolvi interferir no destino, pisando num terreno onde não deveria. E eu sinto que vou pagar muito caro. Fazer isso foi tão inconsequente... e egoísta. 

- Nathan... A coragem que você teve de embarcar no trem... visando carregar o destino do seu futuro nas costas é o que enobrece o seu caráter.

- Ah, para, vai querer ser meu Mestre Yoda agora? 

- Você não queria somente que o seu novo eu nascesse comigo por perto. Queria arriscar sua vida em prol dos habitantes dessa cidade que talvez não possa ser salva num futuro distante. - disse Frank levantando-se da poltrona - É você quem tá querendo desistir agora? 

- Se o Axel não tivesse falado demais, ela ainda estaria viva. - disse Nathan virando-se para Frank claramente exaltado. 

Axel despertava da inconsciência naquele instante em que uma discussão acalorada iniciava-se. 

- Minha cabeça tá doendo... - disse Axel tentando sentar-se. Nathan cerrou os punhos. 

- Ótimo, me deixa piorar essa dor. - disse ele, logo dando um forte soco em Axel - Você tinha que ferrar com tudo, não é? Papai devia ter te matado quando teve chance! - aplicou mais um. Frank prontamente segurou o filho para acalma-lo. 

- Para, Nathan! Chega! Não havia outra escolha! - disse Frank segurando o filho encolerizado. 

Axel caiu no chão com os murros levados e levantava-se limpando o sangue da boca. 

- Você falou a verdade pra induzi-la a se sacrificar, assim nem você e nem o papai a teriam! 

- Tá insinuando que ele fez isso pra que a Lucy e eu não fôssemos pais de um bebê? Que ele fez por ciúme? Pensa direito no que você tá falando, cara! - disse Frank repreendendo a conduta de Nathan.

- Fui eu quem se dispôs a sacrifício. - disse Axel - Mas ela recusou me decapitar, ela escolheu morrer por vocês. Eu convenci ela a ajudar por vocês. Meu romance com a Esteno pertence ao passado, jamais iria quere-la de volta, independente de eu aceitar a natureza dela. Por favor, vê se me entende. Quando ela veio e contou da gravidez, fiquei destruído por dentro. Não pelo relacionamento com o Frank, mas... pela tragédia que seria encaminha-la direto pra morte em troca das vidas de vocês, ainda mais com um filho no ventre. E o Nero não tava blefando, ele pretendia estraçalha-los sem dó.

Nathan respirava com mais amenidade ajeitando a gola do sobretudo. As lágrimas que Axel derramava representavam a honestidade que desmentia qualquer especulação de que acatar a ordem de Nero foi movido à inveja. 

- Tudo bem, Axel... - disse ele dando uma fungada - Tá perdoado. Desculpa... 

Frank respirava mais aliviado com o filho de cabeça mais fria pensando pela razão. Axel sentou-se no sofá chorando copiosamente a morte de Lucy enquanto Nathan e Frank se abraçavam fortemente.

                                                                                 ***

Na manhã seguinte, Nero retornava de uma zona devastada pelo Behemoth a fim de chamar a atenção da besta primordial para executar o feitiço que a domaria para convir aos seus propósitos. 

- E então, senhor, como foi? - perguntou um guarda. 

- Magnífico. - respondeu Nero - Já comuniquei a todos os cidadãos tranquilizando quanto a temida invasão do Behemoth que se encontra bem mais comportado pra me obedecer como meu mascote. - ela parou aparentando estar ouvindo algo - Peguem a cabeça de Esteno. Achei uma marionete na superfície. 

Um homem meio gordo de moletom cinza e calças de academia caminhava pela floresta passando à alguns metros da cabana, mas bem acima de Gargóvia. Ele corria pela trilha olhando para a cabana pouco convidativa e tomou sua água na garrafinha. Porém, largou-a quando seu olhos ficaram pretos na esclera e vermelhos nas íris. Nero sorriu diabolicamente com os lábios do homem ao possuí-lo e controlar seu corpo para o levar direto ao palácio. Lá ele pegara a cabeça petrificada de Lucy das mãos dos guardas para ir a um ponto alto e recitar o feitiço de petrificação massiva. 

Paralelamente, Frank sentia-se bem vendo Nathan com sua força de vontade recomposta para seguir em frente na luta contra Nero. O filho do detetive dormira ali na tortuosa noite passada. Nathan estava vendo TV com as pernas esticadas e os pés apoiados na mesinha. 

- Ei, pode ir tirando as patinhas traseiras. - mandou Frank ao chegar à sala. 

- E eu que pensava estar me sentindo em casa. - disse Nathan obedecendo-o. 

Axel vinha do seu quarto descendo a escada, mas receou quando viu Nathan presente.

- Faz companhia pra ele. - sugeriu Frank ao hóspede - Vou indo pro trampo.

- Mas... depois de ontem... 

- Relaxa, ele tá de boa, perdoou você... Mas não perdoou a si mesmo. 

Axel olhava para Nathan como alguém que necessitava de um ouvinte para desabafar suas dores. Enquanto isso, o homem possuído por Nero colocara seus óculos escuros para disfarçar os olhos, levando a cabeça de Esteno sob um pano velho e sujo. Ele encontrou um prédio em processo de construção. Enxergou nele uma boa altitude para evocar a maldição do feitiço. Entrou pelos fundos sem ninguém notar e subiu as escadarias até o terraço. Ao chegar no topo do prédio de 7 andares, retirou os óculos e o pano e ergueu a cabeça ao aproximar-se do parapeito. 

- Bem que me disseram que a paisagem urbana mudou muito. - disse Nero com a voz do homem. Olhou para a cabeça pronto para recitar o feitiço em língua grega. Enquanto isso, Frank conversava com Axel sobre se reaproximar de Nathan após os desdobramentos terríveis do dia anterior. 

- Ele não vai te dar outro soco daqueles, se encoraja. - disse Frank dando uma batidinha no ombro dele - Ah, esqueci da minha pastilha de menta. 

Frank voltou à cozinha para abrir a geladeira e pegar suas refrescantes pastilhas. Um plantão de notícias surgia de inesperado na TV fazendo Nathan desencostar-se do sofá. Axel caminhou pra perto dele, interessado. Uma repórter estava visivelmente apreensiva, mal tendo condições psicológicas de iniciar a transmissão da notícia.

- Acabamos de ser notificados de um estranho fenômeno que está se alastrando pelos principais bairros da cidade e segue em larga expansão. Muitos que testemunharam até o momento relatam que as pessoas estão se tornando estátuas sem uma razão aparente. Mais especificamente, seus corpos estão sendo petrificados como um vírus que se espalha numa velocidade assustadora, jamais vista na história. - dizia a repórter que olhou para um lado terrificada - Ah meu Deus! 

- Me belisca... Eu acho que eu tô tendo um pesadelo. - disse Nathan para Axel - Chama o papai, rápido.

- Frank! - gritou Axel não tirando os olhos da TV. O detetive voltava após comer uma pastilha. 

- Ah não tem sensação melhor, essas coisinhas me deixam com um hálito perfumado. 

- Frank, vem dar uma olhada nisso. - disse Axel apontando para a TV. 

A repórter decidiu correr com o cinegrafista que já não filmava mais nada, apenas segurava a câmera ligada focalizando o chão e tremendo com os movimentos dele. 

- O que tá pegando? - indagou Frank. 

- O Nero deu o pontapé inicial pra artimanha dele. - disse Axel - Ele tá espalhando a maldição. 

Percebia-se que a corrida do cinegrafista se tornava mais lenta até a câmera parar de tremer e a imagem aparentemente congelar. 

- O plantão não acabou. - disse Nathan - Sinal de que o pessoal dos bastidores foi afetado. 

- Essa emissora fica na área nobre, a gente tem um tempo até essa merda chegar aqui. - disse Frank desesperado - Mas o que a gente faz? Não tem escapatória, não tem proteção... 

- Proteção tem. - disse Nathan fazendo Frank e Axel olharem curiosos para ele - Venham comigo. 

Nathan os fez seguirem-no até o porão, mais precisamente até a masmorra onde Axel se confinou.

- Minha mãe, no meu mundo do futuro, disse que era possível se blindar da petrificação enquanto ela se propaga. - disse Nathan parando diante da porta de ferro oxidado. Retirou seu canivete do sobretudo e cortou a palma de sua mão direita e desenhou um símbolo místico na meio da porta.

- Mas apenas com seu sangue, não é mesmo? - perguntou Frank.

- Sim. Mas é restrito pra somente uma pessoa num ambiente fechado. - disse Nathan que cravou seu olhar em Axel - Você, Axel, pode entrar. - puxou a porta de ferro, abrindo-a. 

- Mas e vocês? - questionou Axel, aflito. 

- Não esquenta. - disse Frank tocando-o no ombro - Damos um jeito de escapar a tempo. 

- Vocês me prometem... que voltarão. - pediu Axel com medo. Frank e Nathan se entreolharam.

- Não vamos te deixar sozinho. - disse Nathan. O hóspede entrou na cela olhando-os nervosamente. Nathan fechara a porta de ferro depressa - É hora da corrida. No meu carro. 

Pai e filho subiram na caminhonete preta dando partida rumo à uma parte da fronteira de Danverous City seguindo em alta velocidade pelas ruas. Demoraram cerca de trinta minutos para chegarem lá. Viram um morro meio baixo e correram para subi-lo. Um homem com uma mochila grande tentou acompanha-los para salvar-se. Frank ajudara o filho a subir para o topo. 

- Olha ali. - disse Nathan avistando o homem que desesperadamente tentava subir o morro. Nathan fez menção de ir ajuda-lo, porém Frank o tocou no ombro balançando a cabeça com os lábios comprimidos. Ele virou o rosto para o homem em sua peleja que logo foi tendo seu corpo petrificando-se dos pés à cabeça, seu último esforço de subir mais um pouco interrompido. 

- Acabou? - perguntou Frank - Toda a cidade... foi tomada por essa praga? 

- Acho que sim. - disse Nathan - Estamos bem na fronteira. Já ocupou tudo. 

A dupla retornou ao carro seguindo em retorno. Frank observava num misto de horror e desolação Danverous City transformada num mar de estátuas frágeis. Parou a caminhonete descendo para olhar ao seu redor. Nathan o acompanhou vendo o estrago causado por Nero. 

- Carrie... - disse Frank lembrando-se da assistente. O cenário à volta era desanimador: além das pessoas petrificadas, diversos carros se viam capotados, destruídos, invadindo lojas e casas e incendiando. 

- É o começo do fim. - disse Nathan pouco otimista. 

- Não. A gente nem começou a lutar pra valer. - falou Frank firmemente, apesar da angústia causada pelo estado catastrófico que a situação alcançara.

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*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: https://segredosdomundo.r7.com/medusa-historia/

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