Frank - O Caçador (Especial #6): Luz, Câmera, AssombrAÇÃO!


Tremulamente a mão direita daquela jovem mulher loira tocava na maçaneta enferrujada da porta de estado tão desgastado quanto. Abria a porta que emitia um rangido fino com a lentidão. No quarto havia, além da cama e outros móveis, um boneco ventríloquo do tamanho exato de uma criança de 10 anos vestido elegantemente com um terno preto, calças e sapatos da mesma cor e uma gravata vermelha sentado numa cadeira de balanço virado para a janela pela qual passavam relâmpagos intensos. Ela focou sua visão nele aproximando-se vagarosamente. Apreensiva, ela falou:

- Robert... Pode me ouvir? 

A face branca do boneco estava imóvel bem como seu corpo inteiro. Ela esperou uma reação. 

- OK, nós vamos embora... pra que o deixemos em paz. - disse a mulher recuando. 

Porém, uma presença atrás dela a fez virar-se imediatamente.

- Como se atreve a perturbar meu filho? - disse uma senhora de cabelos brancos presos num coque. Usava um vestido longo e preto datado de uma época muito pretérita. A aparência enrugada e pálida de seu rosto causou profunda repulsa na mulher que tremia e se afastava - Não vê que ele está relaxando enquanto observa a paisagem? 

A moça gritara aterrorizada, mas uma voz "impertinente" ressoou naquele espaço.

- Corta! - gritou a voz que fizeram tanto a mulher quanto a senhora sinistra pararem de agir como agiam. Um homem de cabelo curto, castanho e meio espetado na frente aproximou-se delas - Vamos fazer uma pausa, Bridget. - disse Ash Nexton que muito recentemente empreitou na carreira de cineasta após largar a vida de apresentador - Meu assunto é com você, Chloe. - voltou-se para a loira que atuava como a personagem principal do longa-metragem de terror - Tem que dosar um pouco mais esse seu grito de medo, exceder além do aceitável deixa muito canastrão, nós já discutimos isso.

- Olha, na minha experiência teatral eu vivia histórias menos pesadas, coisas que não envolvessem... casas mal-assombradas, espíritos maus, bonecos estranhos... 

- Eu devia ter conferido melhor seu currículo. Você é formada numa das melhores academias de teatro da Califórnia, não dá pra entender essa sua dificuldade em lidar com um roteiro que não exige tanto pra transmitir as emoções que o filme necessita. Ou você... não gosta de filmes de terror? Se for isso, por que assinou contrato?

- Acúmulo de boletos. - respondeu Chloe, lacônica - Eu me aprimorei pra outros gêneros, não esse, mas achei que valesse a pena arriscar. Sem falar que é meu primeiro filme... Mas tô me mostrando uma péssima marinheira de primeira viagem como atriz profissional. Se puder me dar só mais uma chance, não quero atrapalhar mais do que... 

- Chloe, escuta bem: A única pessoa que pode desacreditar em você é você mesma. - disse Ash interrompendo-a com um ar professoral de diretor - Mas eu venho pensando em... aperfeiçoar a produção. 

- Como assim? - indagou Chloe, curiosa. 

- Estive cogitando transferir as gravações pra Pensilvânia. 

- Ma-mas... lá é onde fica a mansão Chambler, o lugar supostamente assombrado que... é tema do filme.

- Elementar, minha cara Chloe. - disse Ash sorrindo com auto-confiança - Que tal darmos uma boa incrementada de realismo cenográfico? 

- Tá maluco, né? Tem registros verídicos de pessoas que entraram naquele lugar... e jamais saíram. Vai querer filmar lá sem a certeza de que a lenda do casal Chambler seja real ou não? 

- Você arriscou participar do filme pra se desenvolver como atriz, nós todos iremos nos arriscar em prol da qualidade técnica que motivará o sucesso de nosso filme.

- Nosso não, seu filme. - disse Chloe soando irritada - Quer saber? Dane-se, eu me demito. 

Chloe saíra do set de gravação a passos largos julgando a ideia absurda de Ash como a gota d'água. 

- Não, não, Chloe, espera... Eu só tava brincando. - disse Ash tentando convencê-la a voltar, porém desistindo facilmente. O assistente dele, um homem meio baixo e gorducho, de barba grisalha, chegava até ele - Caramba, perdemos mais uma estrela, Francis. Quem mais vai debandar assim que ouvir minha brilhante ideia de gravarmos na autêntica mansão?

- O Elton e Hayley. - disse Francis limpando seus óculos - Bem, isso já aconteceu. 

Ash deixou os ombros caíram em puro desânimo. 

- Será que ninguém além de nós dois acredita nesse filme?

Francis pigarreou forte com a declaração de Ash olhando-o seriamente. 

- Não... Não é tempo de desistir. - disse Ash dando batidinhas nos dois lados do rosto - Coragem, tenacidade e força de vontade. Decisão nova, Francis: Vamos fazer umas pequenas alterações no enredo. Mas nossa viagem pra Pensilvânia tá mais do que garantida. E no meio dessa mudança... acho que vou incluir a presença de um investigador paranormal pra engrossar o caldo. 

Ash não pensava em outro nome com tamanha bagagem relacionada à fantasmas... senão o de Frank Montgrow. 

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CAPÍTULO ESPECIAL: LUZ, CÂMERA, ASSOMBRAÇÃO!

Oito dias depois

Ao retornar para sua casa após uma trabalhosa caçada, Frank não contava com uma visita naquele dia tão especial.

- Surpresa! - disseram Carrie e Axel em uníssono. A assistente pegara um bolo que comprara e o decorou especialmente para comemorar os 49 anos do melhor amigo - Encara isso, Frank, por mais que não goste, nunca se safará disso. Não enquanto eu estiver viva. 

- Ah Carrie, só podia ser você mesmo... - disse Frank olhando para a vela faiscante - Não fico bravo, eu... agradeço muito, apesar de continuar não me sentindo nada confortável com festinha surpresa.

- Nesse ano você não tem razão pra se emburrar, afinal somos só eu, você e o Axel. Vai, faz um pedido.

Frank assoprou a vela o mais forte que pôde. 

- Argh, espero que tenha desejado que esse cheiro de sangue saía da sua roupa em poucos dias... - disse Carrie, torcendo o nariz com o odor desagradável exalado. 

- Desculpa, acabei de voltar de uma caçada contra um monstro que agia como uma esponja ambulante, ele começou a absorver carne bovina e... deu nisso aqui. - disse Frank, seu sobretudo sujo de sangue seco.

- Por que não me contou que hoje é seu aniversário? - perguntou Axel aproximando-se dos dois. 

- O Frank é assim mesmo, não faz questão nem de lembrar aos colegas de trabalho. - disse Carrie que retirou a vela - Vou partir o bolo. Adivinha pra quem vai o primeiro pedaço... 

- Se me derem licença, eu vou me dispensar da festa. - disse Axel - Tá bem tarde... 

- Tudo bem, Axel, eu também nem vou ficar a tempo de comer esse bolo ainda hoje porque o banho vai ser longo. - disse Frank sentindo o sangue impregnado na roupa. 

- Peraí, vão sair os dois e eu fico sozinha... - disse Carrie contrariada. 

- Tá na minha horinha de dormir. - disse Axel direcionando-se à escada - Foi um prazer, Carrie. E feliz aniversário, Frank.

- Valeu. - disse Frank. 

- O prazer foi meu. - disse a assistente olhando-o subir a escada até ele desaparecer de sua vista - Prontinho, o seu urso de estimação foi pra toca. - ela abriu sua bolsa que estava sobre a mesinha e pegara seu laptop. 

- Ué, tava esperando o Axel sair da sala? - perguntou Frank. 

- Você me disse que ele é meio intrometido, quer ficar por dentro dos casos paranormais que investiga na esperança de que seja aceito como parceiro. - disse Carrie parando sua digitação acelerada.

- Ele passou a ficar só na curiosidade, ainda mais depois do caso do Touro Vermelho. O que você tem aí?

- Está sabendo do mais novo filme de terror rodado aqui no estado que chega aos cinemas no fim do ano? Bem, tem uma diferença pra te atualizar: ele teve suas filmagens transferidas pra Pensilvânia. 

- Ah, o tal filme baseado em fatos reais sobre a mansão Chambler que dizem ser assombrada. - disse Frank quase sentando-se no sofá, mas se detendo ao lembrar que estava imundo - Aconteceu alguma coisa nos bastidores tipo O Exorcista?

- A situação aqui é bem mais explícita. Migraram as gravações pra própria mansão. Um figurinista foi achado morto, degolado por um caco de vidro. Ele não teria se matado ou sido assassinado por qualquer colega de equipe, segundo disseram ele não tinha atritos com ninguém. O diretor conseguiu um aval da prefeitura pra usar a locação. Não vai acreditar em quem é.

Frank levantou uma sobrancelha esperando que ela revelasse. 

- Ash Nexton. Sei que lembra muito bem desse sujeito... 

- Ah, aquele maluco?! Atacando de cineasta agora... 

- Foi por isso mesmo que decidi te contar. Só pra constar, é o mesmo cara que tentou uma artimanha sagaz de revelar ao público que você é um caçador paranormal através daquele reality show fajuto que ele gravou aqui na sua casa. Eu não confio na menor possibilidade dele não ter vazado pra alguém ou pra mais gente. 

- Não, creio que não, todas as pessoas que ajudei, cujas vidas salvei, garantiram voto de silêncio quanto a minha identidade de caçador de assombração. - ressaltou Frank - Depois do que o Ash aprontou, não vejo porque seria diferente.

- Acredita mesmo que ele desistiu da obsessão em te transformar numa celebridade pra agradar os entusiastas maníacos do sobrenatural? Pensa comigo: E se ele decidiu rodar o filme na mansão Chambler exatamente pela crença de que é assombrada usando da morte de alguém da equipe como anzol e isca pra te atrair? 

Frank se pegou pensando naquela provável ideia. 

- Teoria bem válida, Carrie, mas... O Ash podia ser meio inconsequente, mas não acho que seria tão mau-caráter.

- Pois eu creio firmemente. Aquele cara pode estar apelando pra uma nova chance de colocar sua vida privada de caçador em sério risco de exposição. 

O detetive ficou um tanto absorto, expressando seriedade máxima ao considerar a especulação de Carrie. 

Após o banho, Frank aproveitou um tempinho daquele início de madrugada para sentar-se à mesa da cozinha e navegar pela internet pelo seu laptop. Buscou o seu canal de vídeos, o único meio pelo qual se podia fazer contato online com ele. Um frio na barriga lhe fez paralisar diante da indicação de uma nova mensagem pelo ícone de sino. Clicou relutantemente no sininho tendo um ligeiro déja vú com a fatídica mensagem de Penny Carter, outra pessoa com intenções de tornar a parte mais obscura da vida dele em um livro aberto publicamente acessível. Ler a mensagem quase o fez golfar seu coração.

- "Olá, Frank, eu gostaria que tivéssemos um reencontro pra bater um papinho, tomar uma geladinha, recordar daquela nossa aventura em que te pus em maus lençóis... Mas infelizmente não é pra isso que venho a chama-lo. Espero que esteja por dentro da tragédia que aconteceu no meu filme. Pois é, larguei da TV, o cinema agora é minha paixão. Estamos gravando na mansão Chambler. O fantasma de Greta ou de Duncan Chambler matou meu figurinista. Por favor, preciso da sua vasta experiência pra gente poder seguir em frente com esse trabalho pelo qual eu venho dando meu suor. Conto com você." - leu Frank, abismado - OK, agora é só pensar numa boa desculpa pra um atestado amanhã. - suspirou, preocupado. 

                                                                                   ***

Harrisburg, Pensilvânia

O sedã prata de Frank avizinhava-se nas proximidades da mansão dando a volta num canteiro de flores que enfeitava o jardim da entrada. Ash tirou seus óculos escuros correndo em direção ao carro. Um pessoal da equipe de produção encontrava-se em preparação para mais um dia de trabalho de filmagem dentro da enorme residência de aspecto vitoriano. 

Frank saiu do veículo logo encontrando-se com Ash que parecia bem empolgado em revê-lo. 

- Saiu correndo que nem uma gazela pra me ver. Você é o quê? Um fã alucinado meu? - perguntou Frank. 

- E me fala uma boa razão pra não ser fã de um cara do seu naipe. - disse Ash sorridente - E aí, como vai? 

- Estava bem até você me mandar aquela mensagem. Como descobriu meu canal?

- Como todas as pessoas normalmente descobrem, quase que por acaso. 

- E essa felicidade estampada no rosto? É seu luto pelo membro da equipe que morreu na mansão? 

Ash rapidamente alterou o semblante como se Frank tivesse proferido uma ordem. 

- Claro que não... É por te rever após uns... 

- Três anos. - disse Frank. 

- Isso mesmo, já fizeram três anos desde aquele reality show no seu lar doce lar em que eu teimava de projetar sua imagem pro mundo. Mas pode ficar sossegado que dessa vez não tem nada de querer revelar seu incrível trabalho pro público.

- Acho bom mesmo não ser mais um joguinho seu pra me deixar famoso. 

- Mas... tenho que dizer que... você vai desempenhar um papel maior pra solucionar esse caso. - disse Ash dando um sorriso nervoso. Frank ligou seu alerta de desconfiança - Antes de arrumar as malas pra filmarmos na mansão, eu reescrevi partes do roteiro e... incluí você no enredo.

- Como é que é? Repete pra mim! - disse Frank agarrando a gola da camisa floral que ele vestia. 

- Calma, calma, olha pelo lado bom, ao menos nessa circunstância você será um personagem mas ao mesmo tempo destrinchando os mistérios da família Chambler e de quebra ainda encarando os fantasmas. Será, sem dúvidas, o maior filme baseado fatos reais da história do cinema. 

- Seu filho da mãe! - xingou Frank soltando-o. Alguns membros da equipe de produção olhavam para eles curiosos - Será que não aprendeu nada com o que passamos há três anos? Eu tava convencido de que você tinha largado de mão dessa ideia.

- Não é o que tá parecendo, Frank, tenta me entender... 

- Não tá parecendo, é! Eu não vou ser ator por um dia pra sair nesse filme, não faz ideia do prejuízo que isso traria pra mim. 

- Prejuízo? Mas que prejuízo? Você só tem a ganhar e não tô falando apenas de dinheiro. Eu dirijo, você "atua" - fez aspas com os dedos - e os fantasmas são colocados no seu devido lugar. 

- Essa mansão é o devido lugar desses fantasmas. - destacou Frank mantendo sua exasperação - Tá pensando o quê? Que eu consigo manda-los direto pro inferno com algum poder oculto?

- Ou fazer como meu avô e guiá-los até a paz eterna. - disse Ash.

- Você tá completamente despreparado pra lidar com isso. Quer um filme super-realista sem temer os riscos às vidas dos seus funcionários. Devia se envergonhar e se colocar no lugar das pessoas. 

- Então concorda que o certo seria... paralisar as gravações pra você investigar?

- Ah agora sim uma ideia sensata, mas não espero que você leve em conta. - disse Frank andando à frente para entrar na mansão - Dá tempo de você reescrever essa merda de filme, de preferência sem mim como o seu herói. 

Ash fez pouco caso da sugestão, nem um pouco disposto a seguir desviando do seu propósito de realizar o sonho do filme de terror mais sombrio e realista de todos os tempos. Frank explorava o interior da mansão adentrando no labirinto de corredores de paredes cinzentas com diversos quadros retratando pessoas que pareciam acompanhar visitantes com o olhar. O detetive ouvia um barulho semelhante a um rangido intermitente. Ouriçou-se mais à procura da origem daquele som, andando vagarosamente pelo corredor. Havia uma porta entreaberta e logo entrara no recinto. Os rangidos tinham cessado. Viu um boneco de ventríloquo em tamanho real de uma criança de 10 anos sentado numa cadeira de balanço. 

- O maluco resolveu enfiar até um boneco nessa tranqueira. Coisa mais clichê, boneco assustador e amaldiçoado. - disse Frank olhando para o menino inanimado vestido elegantemente - Vamos ver o que tem nessa cômoda, esse aqui deve ser o quarto do casal. - começou a mexer nas gavetas em busca de alguma evidência que pudesse corroborar a lenda. Agachou-se para verificar a gaveta de baixo, encontrando um diário de capa preta de couro. Frank estava de costas para o boneco que moveu seus olhos para ele enquanto o detetive folheava o diário - Anotações de Greta Chambler... - seus olhos cravaram numa informação crucial - Peraí... "Nosso pequeno Robert nasceu". - folheou mais e mais páginas e o boneco mantinha os olhos nele - "Hoje comemoramos os dez anos de nosso amado herdeiro".

Frank levantou-se e virou para o boneco que já estava com seus olhos voltados para a janela como deveria - se fosse um boneco comum. O estudou por um tempo começando a levantar a hipótese de aquele boneco fosse uma propriedade dos Chambler. Ou bem mais que isso. Guardou o diário dentro de um bolso interno do seu sobretudo. A repentina entrada de um operador de câmera o assustou. 

- Detetive Montgrow, o Nexton mandou avisar que vamos manter os trabalhos aqui na mansão e que o senhor se preparasse pra sua inserção no filme. 

- Não esperava menos dele. - disse Frank não demonstrando nenhum entusiasmo com a película. 

- Ah e também disse pro senhor ir pro camarim que improvisamos no quarto doze. 

- Ué, pra quê? Já tô vestido como manda o figurino. 

- A maquiagem. - disse o operador de câmera. 

- Não, nada de pozinho na minha cara pra disfarçar minhas rugas ou me deixar mais bonito. 

- Ahn... Tudo bem, mas ele quer o senhor no filme de qualquer forma. 

- Espera aí, esse boneco aqui... não saiu dos custos de produção, né?

- Não, já o encontramos aqui, é o verdadeiro. O que usamos é uma réplica. 

- Mas na lenda nunca ouvi falar dele. - salientou Frank. 

- É porque Nexton foi o primeiro a entrar na mansão e descobrir mais segredos dela pra fugir da lenda que se contava por pessoas que diziam ter entrado na mansão e saído vivas pra espalhar a história. Sabe como é, ele quer entregar o filme que seja o mais fiel possível à realidade. Descobriu que o boneco era uma representação do filho do casal Chambler que supostamente teve sua alma transferida pra ele após a morte prematura. Vou indo, temos que regravar uma cena. 

- OK. - disse Frank que logo após o operador de câmera sair virou-se para o boneco ficando mais ansioso em ler o diário que talvez descrevesse em pormenores o que causou a morte precoce do garoto.

                                                                            ***

Ash estava no quarto que usavam como set de gravação para a cena em que a protagonista iria falar com o boneco posteriormente à tentativa de assassinato contra seu namorado, Peter, na noite anterior. 

- Ação! - gritou Ash. A atriz recém-contratada chamava-se Bella Grayson, loira assim como Chloe, foi entrando no quarto com os olhos fixos no boneco. Enquanto isso, uma mulher que trabalhava como assistente de produção andava por um corredor e parou frente a uma porta batendo com dois dedos.

- Bridget, você já terminou? Tá em cima da hora. Bridget? 

No quarto, a intérprete de Greta Chambler adentrava para surpreender a mocinha desprevenida. 

- Como ousa perturbar o precioso descanso do meu filho? - perguntou Greta. 

Ao vê-la, Bella gritara de horror de acordo com a intensidade exigida por Ash. Paralelamente, a moça da produção insistia nas batidas na porta e dada a impaciência acabou abrindo-a. No entanto, o que encontrou a fez arrepender-se disso. Bridget jazia morta no chão com vários cacos de vidro do espelho cravados em pontos vitais do seu corpo, inclusive nos olhos. A mulher soltara um grito de pavor que ecoou. Ash mostrava-se contente com a cena e foi parabenizar a atriz de Greta... 

- Bridget, você tá de parabéns, arrasou. Pelo visto, capricharam na sua caracterização hoje hein. 

- Pode me dar a liberdade de permanecer e estudar o roteiro? - perguntou ela.

- Ahn... - Ash não poderia mentir pra si mesmo que achara estranho - Sim, claro, pode ficar por aqui e reforçar os estudos. 

- Obrigada. - disse ela que sentou-se na cama com o script em mãos. Frank dobrava para o corredor no mesmo instante em que da direção oposta vinha a moça da produção correndo em prantos.

- Ei, o que foi? - perguntou Frank - Fica calma, me conta.

- A... A Bridget... ela tá morta no camarim. Tinha passado do momento dela sair de lá e ir gravar. 

Ash vinha do corredor à direta de Frank comemorando o sucesso da filmagem. 

- Má notícia, Ash: Sua equipe teve mais uma baixa. - disse Frank.

- O quê? Mas quem, afinal? - perguntou Ash, alarmado. Os demais funcionários ficaram impactados. 

- Foi a Bridget. - disse a mulher em seu incontrolável choro. 

- Não... Não pode ser... Ela gravou a cena conosco agora há pouco e... Ah essa não. 

Ash disparou de volta ao quarto onde haviam gravado. Não encontrou nada além do roteiro deixado sobre a cama. A face do cineasta ficou lívida.

- Ai meu Deus... 

Frank chegou perto dele quase correndo junto com o restante da equipe. 

- Conseguiu sua melhor atriz. - disse o detetive - O próprio fantasma da Greta Chambler. 

                                                                              ***

Ryan, que no momento não estava nem um pouco a par da tragédia, entrava no quarto para trocar sua roupa para a do figurino que utilizaria no filme pois estava próximo do horário de gravar sua cena com Bella. O camarim improvisado não possuía janelas, estando às escuras. Porém, quando Ryan tocara no interruptor para acender a luz, pareceu que a energia foi cortada. Deu uns passos adiante da soleira da porta, intrigado com a estranha falta de luz.

Antes que pudesse virar para sair dali a fim de avisar Ash do problema, a porta fechara-se com uma batida alta como se uma corrente forte de vento a empurrasse. Ryan tocou na maçaneta na tentativa de abrir, mas estava trancada. 

- Mas que droga é essa? - questionou ele, logo batendo fortemente e gritando por ajuda - Socorro! 

Atrás dele, duas luzes brancas acenderam, mas não provinham de lâmpadas... e sim de um par de grandes olhos o fitando se esforçar em vão a pedir por ajuda. Ryan se virou ao perceber e congelou perante aos olhos brancos e luminosos. Uma risada zombeteira e envelhecida soou aos seus ouvidos como uma sinfonia macabra que prenunciava algo ruim. A lâmpada do quarto acendeu, porém tremeluzia em altíssima velocidade, revelando a figura por trás do riso amedrontador. 

Ryan soltara um grito de pavor encostando-se na porta ao ver Greta Chambler flutuar em sua direção com os olhos brilhando e um sorriso largo com dentes sujos que denotava o seu sadismo em assustar. 

Um produtor veio ao camarim abrindo a porta facilmente e encontrou Ryan deitado no chão agarrando seus joelhos e acometido por uma tremedeira de bater os queixos. 

- Ryan, ouvi sua voz de longe... O que aconteceu? Você tá bem?

O produtor se aproximou dele e avaliou seu estado. Ryan estava pálido e tremia, mal conseguindo exprimir palavras, sua face com uma expressão de puro choque como se ainda visse a imagem do espírito de Greta interminavelmente vindo até ele com sua risada infame. O caso chamou a atenção da equipe que veio em peso ao quarto onde o produtor deixou-o. 

Frank passava por entre as pessoas para analisar Ryan.

- Abram espaço, abram espaço.. - pedia Ash vindo com o detetive - Deixem o Frank cuidar disso. Todo mundo de volta ao trabalho, circulando. 

O pessoal acatava a ordem saindo do quarto, mas todos preocupados com a condição de Ryan, especialmente Bella que preferiu ficar.

- Bella, você também, melhor esperar no seu camarim pra próxima cena. - disse Ash. 

- Próxima cena?! Viu como o Ryan está? Que raio de diretor é esse que não tem a menor sensibilidade com coisas horríveis acontecendo? Primeiro a Bridget, agora quase foi o Ryan! 

- Eu sei, é doloroso dizer isso, mas... Não podemos parar, esse filme significa muito pra mim.

- E as vidas que foram ceifadas nesse inferno de mansão? Vai me desculpar, mas aqui eu não fico mais.

Bella saiu do quarto enfurecida e as esperanças de Ash no avanço de seu projeto se esmaeciam mais. 

- Você é um babaca mesmo, sabia? - acusou Frank que reprovava o comportamento insensível de Ash em meio às trágicas perdas - O Ryan não responde a nenhum estímulo, tá num estado de paralisia. 

- Felizmente ele não morreu. - disse Ash, aliviado. 

Ryan balbuciava alguma coisa. Os fios compridos do seu cabelos pendiam quase ocultando os olhos. 

- Ryan... Fala comigo. - disse Frank inclinando-se para el. O ator exprimia algo ininteligível - O quê?

- Gre.... - sua fala flexibilizava-se um pouco mais - Greta... 

- Você viu a Greta Chambler... Certo, é o suficiente. 

- Esse tipo de reação não parece ser comum quando se vê um fantasma. - disse Ash. 

- Espíritos mais carregados de sentimentos malignos podem gerar reações como essa, uma paralisia muscular, talvez até um ataque fulminante do coração ou um derrame cerebral em casos bem mais graves. Ele tem que ficar em observação. 

- Frank, você irá passar a noite aqui? 

- Pra acabar com a festinha de horror do casal sem-vergonha, não pelo seu filminho mequetrefe. 

- Achei que fosse encarar numa boa essa mescla que eu propus. Nossos trabalhos convergindo pra que saíssemos ganhando. 

- Eu realmente espero, Ash, que essas mortes tenham te dado um choque de realidade pra que perceba o quão ingênuo você foi. Pode nos prender aqui pela noite de hoje, mas... e quando os fantasmas nos prenderem? Ainda vai insistir nisso?

O detetive saíra do quarto deixando a pergunta no ar para que o aspirante a cineasta refletisse profundamente. 

                                                                                   ***

À noite, quando o relógio marcava quase onze horas, Bella, tendo que dormir na mansão a contragosto e já planejando declarar seu pedido de demissão, levantava-se da cama para ir ao banheiro que localizava-se um pouco além da sala de jantar. Ao passar pelo corredor e mais precisamente pela porta do cômodo, escutou sons de vozes e ruídos de objetos vindos diretamente da sala. Ela andou para trás em uns três passos e olhou pela brecha da porta dupla. Seus olhos arregalaram vendo Greta e seu marido, Duncan Chambler, um homem gordo e calvo com um bigode cheio que quase tomava seus lábios, brindando na mesa de jantar. A atriz correra para retornar ao quarto, porém ao dobrar para o corredor à esquerda, deparou-se com Greta barrando seu caminho. 

- Para onde a mocinha vai com tanta pressa? 

A boca de Bella tremia na sua face repleta de tensão. 

- Por favor, eu imploro, não me matem, eu faço o que quiserem... 

- O que quisermos... - disse Duncan bem atrás dela. Ele tinha um rosto tão cinzento e horrendo como o da esposa - Veja querida, é nossa noite de sorte. Capturamos uma presa bem flexível. - colocou suas mãos aos ombros dela.

Greta deu uma risadinha fazendo um certo mistério quanto suas intenções. 

- Vamos começar... a plantar a semente de nosso sonho. - disse Greta mostrando uma seringa para inseminação artificial contendo fluido seminal - O homem que você ama nos foi muito útil. 

Bella abriu a boca para gritar, mas foi agarrada por Duncan e sua boca tapada. Ela debatia-se desesperando-se cada vez mais que Greta ria e aproximava a seringa da região íntima dela. 

Wyatt, namorado de Bella, dormia de bruços usando camisa branca e uma bermuda. Era um rapaz corpulento de cabelo castanho bem curto, quase raspado, e interpretava um coadjuvante que era amigo dos personagens de Ryan e Bella. Alguém aproximava-se dele sorrateiramente em passos silenciosos. Uma faca reluziu à luz do luar que atravessava a janela ao ser erguida mirando o corpo de Wyatt. O ator despertou a tempo de ver pelo espelho a presença intrusiva brandindo a faca. 

Wyatt levantou-se depressa e a faca desceu fundo sobre a cama. Ele viu um boneco de terno como sendo o autor da tentativa de homicídio. O mesmo boneco que representava o falecido filho do casal Chambler. Wyatt correu para sair do quarto sem visualizar uma maneira efetiva de se defender, mas não foi perseguido por Robert. Ele esbarrou com Bella cujos olhos viam-se encharcados de tanto chorar. 

- Bella... O que foi que houve? 

- Diz você primeiro. Tava correndo de quê? 

- O boneco... ele tá vivo. Tentou me esfaquear, eu tava dormindo.... 

- Ai meu Deus... - disse Bella afligindo e pondo as mãos na cabeça - Essa noite tá virando um pesadelo, eu quero ir embora daqui.

- Bella, o que aconteceu com você? Me fala, eu sei que tem certos moradores nessa mansão que não nos querem aqui...

- Eu tô grávida, Wyatt! - disparou Bella chorando. O ator franziu o cenho, confuso. 

Frank adentrava novamente no quarto de Robert que já estava de volta ao seu aposento. Veio devolver o diário de Greta ao seu devido local. Olhou para a cama na qual Robert dormia. De repente, o fantasma de Greta surgira ao lado da cama. 

- Nem mais um passo. - disse ela autoritária, seus grandes olhos tentando incutir medo em Frank. 

- Eu só vim deixar o diário. - disse Frank de modo pacífico, mas se pondo em alerta - Não perturbar o sono do seu filho... se é que ele consegue dormir dentro dessa casca vazia em que vocês o enfiaram.

- O que fazemos por nosso filho não diz respeito a invasores como você. 

- Se acham os melhores pais do mundo, né? Imagina o Robert sabendo do que fizeram...

- Shhh. - disse Greta pedindo silêncio - Apenas me dê o diário e suma daqui... assim pouparei sua vida.

- Uma bruxa velhaca como você... não merece o privilégio de ser mãe. - disse Frank jogando o diário no chão - Toma aí, recolhe esse lixo pra mim. São dois fracotes que não souberam lidar com o luto. 

- Nos atiramos daquela ponte por fracassarmos em vida lutando pelo nosso sonho, o milagre da vida que sempre ansiamos desde o dia em que dissemos sim um ao outro no altar. Nem você e nem ninguém que pisou os pés imundos na nossa casa impedirá. Até porque já não é mais possível. Mas em compensação tivemos sucesso para conceder um irmão à Robert. 

- Um irmão? A sua gravidez foi delicada porque você tinha uma saúde frágil e o Robert, aos 10 anos, acabou morrendo de uma doença grave que você não especificou no diário. Como poderiam dar um irmão? Tem páginas arrancadas no final do diário, será que não é sobre esse segundo filho?

- Seu tolo, o irmão de Robert ainda sequer nasceu. Mas está sendo concebido.... dentro de um corpo saudável e jovem que em questão de horas vai nos dar o nosso presente. - disse Greta logo rindo - Não me importa se ela morrer no parto. 

- Ela quem? - perguntou Frank engrossando o tom. Greta não respondeu nada, somente rindo diabolicamente. O detetive saiu em disparada do quarto pensando em Bella como a possível vítima. 

                                                                                  ***

Bella e Wyatt se horrorizavam ao ver duas pessoas da equipe de filmagem mortas a facadas em suas camas. 

- Vamos sair, vem. - disse Wyatt pegando-a pela mão. Ambos deram de cara com Frank ao dobrarem um corredor - Detetive Montgrow... 

- O que estão fazendo fazendo fora da cama? - perguntou Frank. 

- Mais gente morreu. O Wyatt quase sofreu um golpe fatal. - disse Bella que nitidamente não transmitia uma imagem de bem-estar emocional. 

- O boneco, foi ele quem me atacou. - disse Wyatt. 

- Bella, você foi atacada pela Greta e o Duncan? 

- Sim... Aquela maldita fez uma inseminação em mim... Mas antes disso, usou o Wyatt como ferramenta, ela é uma bruxa. 

- Houve uma hora que apaguei antes de ir pra cama. Quando retornei... Vi que tinha me tocado, se é que me entende. 

- Ah sei... Então a Greta extraiu o material pra que a Bella engravidasse de um bebê que adotariam como irmão do Robert. 

- Não, ela não vai tira-lo de mim.... - disse Bella tocando na sua barriga que aparentemente havia crescido alguns centímetros.

- Sua barriga parece estar... meio crescida. Ou é impressão minha? - perguntou Frank notando. 

- Ela me enfeitiçou.... - disse Bella, nervosa - Acelerou minha gravidez. 

- Bella dará à luz... em menos de nove horas. - disse Wyatt, o semblante de inquietação. 

Ash apareceu de surpresa atrás de Frank com um cinegrafista que era parte da produção. 

- Mas que algazarra é essa aqui? - perguntou o diretor - Tem mais coisa acontecendo que eu não sei, né?

- Tá tudo uma loucura aqui, não há tempo pra explicar. - disse Frank querendo agir o mais depressa possível para um plano de contingência - Temos que evacuar a mansão, o boneco assassino tá passando a faca em geral. 

- Ah não... Quantos mais morreram? - perguntou Ash assumindo temor intenso. 

- Conferimos alguns quartos e... estão todos mortos, todos os que vimos. - disse Wyatt. 

- Não fazemos a menor ideia se mais gente foi assassinada. - disse Bella. 

- Ahn, galera.... É tarde demais pra fugirmos. - disse Garth, o cinegrafista - Todas as entradas e saídas da mansão... foram trancadas. 

- E você me avisa só agora?! - disse Ash em tom de sermão - Ótimo, viramos reféns de fantasmas. Se não agirmos rápido, essa mansão será um túmulo compartilhado. Frank, você fica na dianteira, acreditamos em você.

- Então me empresta um galão de gasolina pra queimar o boneco. - pediu Frank - A desgraçada da Greta recorreu à bruxaria pra fixar a alma do filho no boneco depois que ele morreu de uma doença grave.

- Poliomielite. - disse Ash causando espanto no detetive - Fui eu quem arranquei as páginas do diário pra usar como prova de que a lenda espalhada tinha inconsistências. 

- Mas temos que levar a Bella pro hospital. - disse Wyatt aflito. 

- Calma, uma coisa de cada vez. - disse Frank - Não, melhor, enquanto me livro do boneco, vocês ganham tempo pra fugirem pelas janelas dos quartos. 

- Menos nós dois. - destacou Ash ao lado de Garth com sua câmera de mão - Descartei o roteiro, vamos fazer um filme no maior improviso. Quem precisa de direção e pós-produção quando se tem uma genuína situação paranormal que cabe direitinho ao objetivo? 

- Mesmo depois de tudo que aconteceu você ainda pensa em fazer esse filme? - perguntou Wyatt. 

- Desencana, Ash. - aconselhou Frank - Procura salvar tua pele em vez de persistir nessa ambição. 

- Eu torci muito por esse filme, mas... eu tô de acordo. - disse Garth, meio tristonho, baixando a câmera.

Ash ficara silencioso por um instante, tentando absorver dolorosamente a conformação de que seu filme, naquele crítico momento, estava inviável. Frank retornou ao quarto de Robert empurrando a porta e trazia consigo o galão de gasolina. Entrou com os olhos cravados no boneco que via-se sentado na cadeira de balanço. 

- Chegou a tua hora, garoto. - disse Frank aproximando-se. Reparou em manchas de sangue na camisa branca por baixo do terno. Tirara a tampa do galão, logo jogando o líquido sobre Robert - Por mais que tenha cometido atrocidades... você foi uma vítima. Não merece viver uma vida aprisionado nessa carcaça... e nessa mansão caindo aos pedaços. O que você precisa é de um bom descanso. 

- Por favor, o que fizer comigo pra acabar com isso, não demore. - disse Robert dando um belo susto em Frank. 

- Eu sabia que você falava e se movia como se fosse vivo, mas não precisava ser tão repentino. 

- Eu imploro, é horrível... estar nesse corpo que não é meu e... não conseguir comer.... nem mesmo chorar. - disse Robert proporcionando certa comoção em Frank - Mamãe e papai me obrigaram a fazer aquelas coisas ruins... Eles detestam intrusos, mas sempre fui tão obediente que não recusei. 

- É muita crueldade forçar o próprio filho a terminar o serviço sujo deles. - declarou Frank com firmeza - Robert, eles pensavam que submetendo você à isso estariam lhe dando uma segunda chance. Mas tudo o que fizeram foi te causar sofrimento. Não foi por amor à você, foi pela satisfação deles que não conseguem superar as próprias mortes.

- Não me sinto vivo. - disse Robert piscando seus olhos quase inumanos - Sinto saudade de comer a comida que a mamãe fazia....  Sinto falta até mesmo da dor. 

- Está bem, Robert, vou atender seu apelo. - disse Frank sacando um isqueiro - Quer voltar a sentir dor? Não duvide que sentirá uma que jamais passou pela sua cabeça. Mas ela vai passar quando estiver às portas do descanso eterno. 

Mexeu no isqueiro com o polegar direito para acender a chama, porém nenhuma fagulha brotou. Tentou mais vezes, mas sem nenhum sucesso. A janela do quarto abriu-se subitamente e a temperatura do quarto sofria uma queda vertiginosa fazendo o detetive expirar bafo gelado da boca. Na intenção de pega-lo em guarda baixa, Greta e Duncan ressurgiam flutuantes com seus olhos brilhando em branco atrás dele. Frank tentou uma última vez e o isqueiro acendeu sua chama. Jogou-o sobre o boneco que incendiou quase que totalmente num segundo. O detetive logo virou-se para os espíritos. 

- Pronto, o Robert tá livre dessa prisão em que vocês, os piores pais do mundo, o colocaram!

- Daremos a lição apropriada por essa audácia contra nosso filho! - disse Greta enfurecida. 

Duncan o arremessou contra a parede telecineticamente. 

- Pagará caro por isso, detetive Montgrow. - disse o marido de Greta baixando ao chão - Greta, deixe que eu mesmo me encarrego de ensina-lo a lição por ter tirado Robert de nós. 

- Tratavam o filho de vocês como um brinquedo... - disse Frank, discretamente retirando de um bolso do sobretudo um frasquinho contendo sal grosso enquanto levantava-se. Quando Duncan tomou um pouco mais de proximidade, o detetive jogara o sal que colocou na palma da mão esquerda bem no rosto do patriarca que urrou pela ardência que fazia exalar uma fumacinha branca. Ainda mais furiosa, Greta abrira a boca esticando seu braço direito na direção de Robert e aspirando o fogo que consumia o boneco direto para si. Duncan a pegou pela mão e ambos viraram formas de fogo que levitavam. 

Frank correra para sair do quarto. Fugiu o mais rápido que suas canelas poderiam aguentar, dobrando um corredor ao ser perseguido por Greta na forma de uma enorme cabeça flamejante cujo rosto parecia carbonizado com  a boca e os olhos fumegando. A matriarca ria mefistofelicamente no encalço de Frank. Mas o detetive logo empacou no caminho ao ver Duncan no mesmo estado horripilante vindo de um corredor à direita para encurrala-lo. Frank olhou para os dois lados, os fantasmas prestes a engolirem-no. Mas sentiu a sorte a seu favor com uma porta atrás dele. Pulou para dentro daquele quarto empurrando a porta com o ombro. Mirou sua visão na janela a fim de quebra-la. Deu alguns tiros com sua arma contra o vidro, porém o fogo alastrava-se pelo recinto a um ritmo aterrador. 

Subindo na cama, Frank se direcionou à janela antes que as chamas revoltas o atingissem em cheio. Pulara para fora, rolando ao chão. Reergueu-se e correu uns metros, logo voltando-se para a mansão. Greta e Duncan estavam parados lado à lado como sombras em meio fogaréu observando o detetive. 

- Frank! - chamara uma voz familiar. Frank virou o rosto para a esquerda avistando Ash com um grupo de pessoas. O cineasta acenava para ele balançando avidamente os braços levantados para chama-lo - Vem, rápido! 

O detetive novamente olhou para a mansão, mais exatamente para o quarto de onde escapou do incêndio. O casal Chambler desaparecera, restando apenas o fogo devorando o quarto implacavelmente.

                                                                              ***

Logo pela manhã, Ash e sua equipe desmontavam a produção recolhendo o material técnico. O ex-apresentador de TV olhava com amargura reprimida para a mansão Chambler. Frank se pôs ao lado dele.

- Eu vou indo nessa. - disse Frank com a chave de seu sedã prata - O chefe já meteu a bronca sem nem eu ter passado do prazo do atestado. 

Ash sorriu timidamente achando graça baixando a cabeça. 

- Senti falta da Carrie e daquele seu chefe resmungão. 

- Desde o ano retrasado eu tenho sentido falta dele todos os dias. 

- O quê? Quer dizer que... - disse Ash virando o rosto para Frank parecendo surpreso. 

Frank fez um meneio positivo de cabeça expressando seriedade. 

- Eu não tava sabendo. Soube que ele concorria às eleições pra prefeito. Mas estive fora do país na época, viajei pro Japão pra rever uns amigos, já tinha encerrado minha carreira na televisão. Eu sinto muito.

- Disse isso também pras famílias dos que foram mortos? 

- Frank, eu posso ter sido um péssimo diretor, insensível e cego pela ganância de ganhar com esse filme mais do que em todos os anos que passei me dedicando à TV, mas não cometi o erro de não prestar as devidas condolências em respeito aos profissionais competentes que perdi. Eu me responsabilizo pelas vidas perdidas. 

- Olha, você foi um tremendo fanfarrão, mas não é caso de você ficar se culpando tanto assim. Queria fazer um grande filme, eu entendo, só que deveria ter pensado nas vidas alheias sabendo que os fantasmas imundos assombravam a mansão. Mas a Greta e o Duncan estavam fora de controle, nem mesmo eu consegui derrota-los, tem espírito tão ruim que dificulta o trabalho até o extremo. 

- Não precisa me dar mais sermão, Frank. Por isso mesmo o filme foi oficialmente cancelado. Pelo erro que eu cometi pondo todos em perigo. Penso em engatilhar outro projeto, mais modesto, mais barato... tipo um documentário abordando o sobrenatural com relatos verdadeiros de pessoas que tiveram contato com fenômenos estranhos que não conseguem explicar. Acho que vou nomear de "Nem Tudo É O Que Parece". 

- Aí sim, só não inventa de me colocar nessa. A menos que.... eu não seja identificado. Terá que dar liberdade pras pessoas escolherem isso.

Ash mostrou contentamento com a disposição do detetive. 

- Seu segredo está seguro comigo. - disse ele estendendo sua mão direita - Até mais, Frank.

O detetive dera a sua num aperto amigável. 

- Toma juízo hein. Ah e quanto a Bella? 

- O Wyatt me mandou mensagem... Ela deu à luz quase ao amanhecer. O bebê nasceu forte e saudável. Pelo menos um desfecho feliz nessa história trágica, apesar de ser um gravidez forçada por bruxaria pesada. Será que o bebê terá superpoderes? 

- Ash... Talvez esteja enganado com isso ser um final feliz. - disse Frank, pensativo. 

- Ué, por que não seria? 

- Porque de acordo com o plano da Greta e do Duncan, esse bebê deveria ser um irmão pro Robert. A mansão é o lar deles, mas não estão presos lá pois não morreram dentro dela pra se fixarem por apego. 

- Isso só significa uma coisa... - disse Ash permitindo que sua tensão se elevasse. 

À noite, Bella e Wyatt, na casa onde moravam juntos, olhavam carinhosamente o pequeno bebê recém-nascido dormir na cama rodeado de almofadas. Nuvens de tempestade encobriam o céu estrelado.

- Lá se foi nosso planejamento comum de filhos depois do casamento. - disse Bella. 

- E daí? O importante é a alegria que o Ben nos dará daqui pra frente. A ordem dos fatores não altera o produto. - disse Wyatt. 

Ambos beijaram-se apaixonadamente enquanto saíam do quarto deixando o bebê dormir sossegado. No entanto, lá fora, Greta e Duncan, debaixo de uma árvore, observavam parados a janela do quarto. Um relâmpago forte os iluminou. 

                                                                             -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

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