Crítica - Danganronpa 3: The End of Kibougamine Gakuen (Mirai-hen)


Avanço largo com resultados consistentes.

AVISO: A crítica abaixo contém (alguns) SPOILERS. 

Esse 3 aí no título é explicado pelo fato de narrativamente ela ser a terceira temporada pois a sequência dos eventos da temporada inaugural, estes baseados no primeiro jogo da franquia, ocorreu em Danganronpa 2: Goodbye Despair que, infelizmente, não foi adaptado, fazendo com que esta temporada aqui resenhada carregue o título de Danganronpa 3 ainda que tenha sido produzida após o primeiro anime, o que deixa claro que o anime é feito exclusivamente aos fãs dos jogos e que se dane quem acompanha pela animação que vai começar a assistir sem entender merda nenhuma no início. Portanto, esta é, ao mesmo tempo, a "segunda" e terceira temporada. Lembrou da tela azul do Windows? Pois é, representa muito bem.

A terminei em duas semanas, não tenho nenhum hábito compulsivo de maratonar séries e animes e em se tratando de animes 1 cour (neste caso, foram 12 episódios) isto não torna obrigatoriedade, qualquer um pode acompanhar no ritmo que bem quiser e acredito que tenha quem cague regra para produções com esse número específico de episódios e só porque é curto precisa ser consumido rápido. Ignorando esse assunto, a frase que pensei assim que o episódio 12 terminou foi: Que temporada maravilhosa! Mesmo com os rombos - rombos não, crateras - na história pela decisão infeliz de não terem animado o que seria a segunda temporada - que sanaria questões essenciais ao entendimento da obra -, The End Kibougamine Gakuen - Mirai-hen funciona tão bem que repete, aprimora e extrapola o maior feito de sua antecessora: O magnetismo imersivo. Recurso que toda trama, sobretudo suspense detetivesco misterioso, deveria prezar, mas nem sempre é assim. Algumas mentes dominam isso com facilidade, outras tentam mas conseguem relativamente bem e outras que... nem se preocupam porque pra elas a superficialidade narrativa basta para prender.

Quando menos se percebe você já se encontra mergulhado como se sentisse parte do jogo mortal proposto pelo impagável e sádico urso Monokuma, desta vez bem menos presente que no jogo de assassinato mútuo anterior onde já não dispunha de um teor protagonístico que o fizesse ter o merecido destaque, aqui as tiradas dele são poucas, basicamente servindo apenas para fazer resumos da história quando necessário - algo muito bem-vindo ainda mais para mim que tem uma facilidade absurda de deixar passar despercebido qualquer detalhe que num dado momento da trama será suscitado para que as peças se encaixem e quando isso acontece me sinto um tapado que não presta atenção em nada. A temporada é dotada de um background que faz parecer não ser parte da mesma coisa que foi vista antes. Um anime diferente com uma gritante destoação tonal e estética - e que convenhamos conecta-se muito mais à abordagem utilizada.

Até o excesso de informações pode ser relevado com a condução segura do enredo cadenciado pelas explorações aos personagens (o próprio enredo é bem seletivo nesse ponto), com aprofundamentos (leia-se flashbacks) que ganham enfoque e é uma decisão que casa com o tom mais sombrio forçado pelo contexto de viés apocalíptico. Comentei na review da primeira temporada a respeito da ausência de ação e maior direcionamento ao mistério com ar detetivesco (todo o mérito desse aspecto à Kyoko Kirigiri, a xeroque rolmes que ganhou minha admiração) aliado a um suspense competente. Nesta segunda aventura esses dois elementos realizam uma mistura envolvente e difícil de não gostar.

Novamente pegando um gancho de outro ponto comentando na review da primeira temporada: A ilusão de um anime nos moldes de Mirai Nikki. A ação é bem dosada e traz ecos sutis do anime citado. O cenário da vez é a Fundação do Futuro, uma organização designada a restaurar a paz no mundo - ou a tão falada esperança - que apresenta um novo grupo de personagens (muitos deles ex-colegiais da academia Topo da Esperança, o vice-presidente da FF, o anti-herói Kyosuke Munakata, é um deles) que irá compor o número de participantes do terceiro jogo mortal, agora verdadeiramente matar ou morrer sem frescuras, sem trapaças, sem julgamentos para apontar culpados, sem sangue Danoninho (essa censura imbecil finalmente perdeu espaço e o sangue vermelho e fresquinho caiu em doses hemorrágicas) e com novas regras bastante interessantes. A inventividade de soluções e regras é um dos pontos inabaláveis da trama. Os 16 membros da Fundação do Futuro precisam achar um traidor denominado Agressor que mata sua vítima enquanto os personagens tiram uma sonequinha devido a um gás sonífero liberado após um limite de tempo imposto por Monokuma.

Além disso, os participantes utilizam pulseiras e é aí que reside parte da disposição criativa que a história respira com fôlego máximo. As pulseiras não podem ser retiradas e não é permitido tentar remove-las, caso o contrário a pessoa é infectada por um veneno através de sua pulseira. Como se não bastasse, existem as tais ações proibidas, cada qual com uma diferente (algumas beiram a injustiça, como a de Kirigiri, por exemplo, que é proibida de estar viva ao lado do Naegi após quatro limites de tempo) e se executadas o fim é o mesmo: veneno da pulseira.

Dos personagens bem construídos, temos o já citado Kyousuke Munkata que tem uma visão menos pacífica sobre a disseminação da esperança. Sua divergência com Naegi (mais protagonista do que anteriormente, diga-se passagem), sob a justificativa do mesmo ter protegido estudantes do Desespero (inicialmente controlados por Enoshima Junko, a vilã que acendeu o pavio da bomba) põe em ferrenha discussão duas perspectivas de esperança e seguiu positivamente composta com peso dramático fazendo ele alcançar um convincente status de anti-herói. Eu particularmente prefiro o Munakata dos flashbacks com seus dois parceiros, o explosivo estudante nível pugilista super colegial Sakakura (odiável, mas que surpreendentemente tem uma redenção que leva-o a um desdobramento importante no clímax) e a doce Yukizome (morta precocemente no jogo), do que o Munakata inflexível, absorto ao ódio e determinado a impor seu ponto de vista que se resume no trivial "Os fins justificam os meios" (o que o torna meio hipócrita já que ele repetia feito disco arranhado que não seria como Naegi por acusa-lo de querer trazer esperança com métodos banais, superficiais e fracos). Naegi, por sinal, facilita empatia e sua postura é vulnerável, diria que de todos os participantes ele é o mais indefeso, porém não menos corajoso. Com Asahina e Kirigiri (por mais inexpressiva que seja, eu curto ela de montão, merece o título que ostentas), ele lidera e completa a trindade dos sobreviventes da 78ª turma.

Essa review tornaria-se uma bíblia se eu falasse sobre cada personagem por parágrafo. Só acrescento que a temporada não se retrai com sucessivos plot twists e me atenho ao que revelei antes, vou ser bonzinho porque disparar spoilers tão fortes e potenciais de estragar a experiência, ainda mais num anime com tamanha quantidade de informações e reviravoltas, seria meio que desrespeito, então sugiro que quem for ler descubra sozinho caso o anime tenha conquistado sua simpatia desde o primeiríssimo episódio (ou para quem curte spoilers e se interessou lendo a crítica da temporada 1).

Considerações finais:

Danganronpa 3: The End of Kibougamine Gakuen - Mirai-hen é uma suculenta parte deste universo que aproveita as particularidades mais atraentes e provenientes da identidade própria que a série lapidou em si mesma com segurança e fazendo bom uso de personagens relevantes com papéis igualmente relevantes. Obra-prima da animação japonesa com certeza não é, mas se procura uma diversão com ação e mistério equilibrados e com aberturas para teorias e conclusões inesperadas, esta temporada é a pedida certa e oferece o que esteve ausente na anterior e amplifica a essência "xeroque rolmes" que nela se sustentou. Se fosse transmitido e encaixado no universo de Death Note, L encontraria seu programa de TV favorito (sem levar para o lado sádico da coisa).

PS1: O núcleo envolvendo Ruruka, Izayoi e Kimura é o mais insossinho. Fizeram hora extra.

PS2: Togami voltou aparentemente regenerado, nem parece o babaca da primeira temporada. Destaque para Fukawa que permanece igual, porém não tem retorno comparável ao seu crush (na verdade do Genocyder) e só tem maior tempo de tela num episódio (7/12) focado na outra irmã de Junko, uma impostora que se passa por Miaya Gekkogahara no jogo mortal - mas não é o Agressor.

PS3: Quis começar o mais rápido possível e acabei me informando muito pouco sobre essa temporada. Ela possui uma história prelúdica intitulada Zetsubou-hen que é recomendada para ser vista intercalando episódios com Mirai-hen, sendo assim considerada ainda uma parte integrante dessa temporada conclusiva e ambos os arcos foram exibidos simultaneamente. Só que agora é tarde, mas pretendo vê-la sim.

PS4: Abertura e encerramentos visualmente bem produzidos e temas musicais excelentes.

PS5: A aparição de Enoshima Junko, ao lado de Ikizome, no final foi "propaganda enganosa" da imagem que serve de thumbnail do episódio no site em que eu assisti e enquanto eu não chegasse nesse episódio me sentiria "spoilerzado". Gostei do caráter metalinguístico, foi engraçado até.

PS6: Eis aqui o link com um resumão de Danganronpa 2, mesmo que sua cabeça exploda em algumas passagens, siga em frente pois garanto que todas as peças se encaixam. Encare como prelúdio se, assim como eu, caiu na armadilha de conferir Mirai-hen logo em seguida à The Animation e nunca flertou com os jogos na vida:

https://drive.google.com/file/d/0B1oQEfMw9UtwMW1Ca05sV3VzdUE/view

NOTA: 9,5 - ÓTIMO


*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.animexis.com.br/2016/04/22/danganronpa-3-mais-informacoes-e-personagens-sao-revelados/

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