Frank - O Caçador #51: "Faça um Pedido"


A sala de monitoramento e rastreamento de atividade anômala da fundação ESP se resumia a um espaço redondo preenchido com vários radares ultra-avançados e uma série de telas de monitores com captações de imagens de várias câmeras espalhadas por toda Danverous City, iluminada apenas pelas luzes deles. 

Naquele momento, Atticus estava no alto de um prédio contemplando a noite e sentindo a brisa gélida. Atrás dele, três espers chamados Flynn, Sue e Eve o acompanhavam para vê-lo fazer algo sobre o qual fez um suspense antes de virem teleportados por ele para o topo daquele edifício. 

- Desculpem, eu também detesto quando não falam diretamente sobre um assunto, mas tive que falar disso de uma maneira misteriosa porque é parte de um plano especial que vai nos favorecer. - disse Atticus, olhando para o céu negro e repleto de nuvens. Cerrou os punhos e fechos os olhos. 

- Ele não gosta quando alguém não é direto, mas fez o mesmo por causa de um plano? - perguntou Flynn, franzindo o cenho - Meninas, não sei vocês, mas... Acho que a gente tá dando trela pra um maluco. 

- Relaxa aí, Flynn. - disse Sue, uma jovem de longo cabelo preto partido - O cara sabe o que tá fazendo. Ele parece bem engajado em nos ajudar e... eu não consigo duvidar das intenções dele, pra ser sincera. 

- Por que ele não diz logo que plano é esse? - perguntou Eve, uma garota ruiva, impaciente - Fica nesse lenga-lenga, essa encheção de linguiça falando nada com coisa nenhuma. É um saco. 

- Shh, silêncio, ele tá manifestando a habilidade dele... ou uma das múltiplas habilidades. - disse Sue. 

As nuvens no céu ficaram revoltas, piscando relâmpagos e retumbando trovões. Depois raios iam de uma nuvem para outra. Atticus reabriu os olhos heterocrômicos. Um potente raio foi direcionado para uma região vizinha à Danverous City, mais precisamente em Ylon, numa cidadezinha pacata nomeada de Parkleyville. A descarga caíra sobre a estátua de uma fonte no meio de uma praça. Na sala de monitoramento da ESP, os radares dispararam leituras mais que significativas. A atividade detectada ultrapassava os índices de anomalias consideradas agravantes, as classificadas como Rubi. 

- Conselheiro, registramos um patamar elevado de atividade anômala. - disse o monitorador contactando Hoeckler por um comunicador preso à orelha esquerda - É possivelmente uma distorção... 

- Então obviamente é o Esper-X. - disse Hoeckler da sua sala na fundação - Não vou autorizar nenhuma força-tarefa imediata. O Esper-X formou uma coalizão entre seus pares em prol de uma causa supremacista com um falso viés de causa igualitária. Além do mais, não dispomos de recursos para conter uma ameaça como o Esper-X mostrou ser, nos convencemos de que ele é impossível de subjugar desde relatos de enfermeiros que sobreviveram a episódios de fúria durante sua internação no manicômio. Estamos lidando com uma anomalia mentalmente instável, não temos muitas opções práticas. 

Terminado o seu feito, Atticus virou-se para seus discípulos esbanjando satisfação. 

- Já ouviram falar da lenda da fonte dos desejos? 

- Quem nunca? - indagou Eve, dando de ombros. 

- Pois é ela que nos ajudará a livrar de um obstáculo. - disse Atticus. 

- Cara, a gente não nasceu com um pacote de superpoderes igual a você, porque se fosse teríamos lido a sua mente como você acha que nós somos capazes. - disse Flynn - Em que droga de ponto quer chegar? 

- Eu entendo não conseguirem ligar as coisas, mas prometo que tudo vai se esclarecer em breve. Dando uma dica: Frank Montgrow é um investigador de eventos paranormais, tudo que fiz foi criar um para mante-lo ocupado quando o grande dia da revelação chegar pois sei que ele vai tentar nos impedir se não formos bem recebidos e revidarmos. E o dia está próximo. Se preparem. - disse Atticus, sério - Esse mundo não será mais o mesmo. 

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CAPÍTULO 51: FAÇA UM PEDIDO

Dois dias depois 

Departamento Policial de Danverous City

Carrie adentrou apressada na sala de Frank com mais uma pasta contendo folhas anexadas de relatórios investigativos de um novo caso que ela sabia ter completa relação com a expertise do detetive. 

- Saindo um caso paranormal quentinho do forno e no capricho. - disse ela, aproximando-se - Bon appétit. - colocara na mesa de Frank que tirou sua atenção de uma leitura - Hum, tá lendo o quê? 

- Garimpando na internet alguma outra notícia sobre os nossos jovens prodígios que se apropriaram ilegalmente de um templo maçônico. Nada além daquele artigo que você me mostrou. Sei não... O Atticus tá se fortalecendo tanto que tô achando que basta um simples desejo, tipo um comando de voz, pra fazer qualquer coisa se tornar realidade, porque obviamente ele já... manipula a realidade. 

- Acha que ele amplificou esse poder pra simplesmente dizer "faz de conta que ninguém do âmbito midiático sabe que eu e meus amigos ocupamos um propriedade privada."? À essa altura, não duvido de mais nada do que esse rapaz pode ser capaz, afinal conseguiu a proeza de fazer um anjo sangrar. 

- Não é exatamente ele. O Adrael explicou que a fonte dos poderes dele não é ele mesmo. Um tipo de força que nem um centurião pode definir sentindo a energia, coisa que é mamão com açúcar pra eles. 

- Como se não bastasse o próprio Atticus representar um perigo pra sociedade, ele tá sendo manipulado por uma entidade desconhecida que anda dando poderes de presentinho pra ele. - disse Carrie - O que pra mim é mais uma boa razão de não chegar nele com pose de bonachão que quer paz e não guerra.

- Eu ia chamar o Adrael pra tirar uma dúvida cruel. Como será que se invoca um anjo? 

- E eu vou saber? Depois do massacre que os anjos causaram, ainda quer conversa com o seu amiguinho emplumado? Arriscado pedir reforço de um deles que participou da matança.

- Ele tava convicto de que o mandante da missão suspenderia essa abordagem. Preciso falar com ele só mais uma vez, saber se existe um método pra remover os poderes dos espers e dar fim na bomba antes de detonar.

- Mas antes o caso urge. - disse Carrie, empurrando a pasta. Frank deu uma lida rápida. 

- Ah não... Ylon. - disse Frank, cansando-se apenas ao ver o nome - Vou pra Ylon resolver um caso envolvendo uma fonte dos desejos. Carrie, você chegou toda radiante dizendo que é paranormal, mas não tem evidência que sugira isso. Pessoas jogando moedas numa fonte e uma morte ocorre. E daí?

- E daí que você não liga pra supostas coincidências. - retrucou Carrie, meio irritada - Alguém jogou uma moeda desejando que um desafeto morresse de forma trágica. A preguiça não te deixa questionar.

- O combustível vai zerar só na ida. - disse Frank, fechando a pasta e levantando-se para seguir viagem.

                                                                                   ***

Alguém batia na porta do compartimento traseira da van branca onde Ernest aprontava para o comício, basicamente um camarim onde ele lia um texto decorando uns trechos do seu discurso e algumas pessoas da sua equipe o acompanhavam e uma delas abriu a porta para quem batia insistentemente. 

- Entramos em doze minutos, Sr. Duvemport. - disse um cameraman. já com sua máquina sobre o ombro. 

- Que entrem vocês nesse tempo, eu saio quando tiver estudado minha fala. - respondeu ele. 

- É um comício simples, pode se virar no improviso, ninguém vai criticar.  

- É que sou muito perfeccionista. - retrucou Ernest, forçando um sorrisinho - E um bom candidato deve transparecer espontaneidade em todos os sentidos. Agora vá, diga que vou levar mais alguns minutos. 

- Desculpe. Ou aparece daqui à 11 minutos ou não tem transmissão. - disse o cameraman indo embora.

- Só porque tenho mais de 50% das intenções de voto não quer dizer que eu dependa de emissoras de TV pra espalhar minha palavra. - disparou ele em tom áspero - Se ele vier de novo, cancelo tudo. 

Uma massiva frente de apoiadores realizava panfletagem, adesivaço e exibição de cartazes pela campanha de Ernest. Um dos espers recebeu um panfleto junto a uma colinha presa num clipe de papel. O esper que era um rapaz branco com barba por fazer usando um gorro preto amassou os papéis e os jogou no chão. Seguiu procurando reconhecer membros do seu grupo e avistou pelo menos uns dois. 

Eis que o esper de gorro se encontrou com os seus pares e mais outros dois se avizinhavam. 

- Hora do show? - perguntou o rapaz de gorro. 

- O Atticus não foi muito específico. - disse Eve - Mas fomos os escolhidos, já que estamos aqui... 

- Ele nos deu carta branca pra decidirmos o momento certo de agir. - disse Sue juntando-se e formando um quinteto - Podem deixar comigo, eu faço as apresentações formais. Alguém contra?

- Mas Sue, você mal tem controle do seu poder e apesar da gente não se conhecer há muito tempo eu sei dessa sua dificuldade. - disse Flynn - O Atticus tá botando tanta fé nisso que nem se deu ao trabalho de escolher.

- Porque ele confia em nós, é óbvio. - retrucou Sue - Pára de se preocupar a toa, vou ficar bem. 

- Além disso, a Sue tem um rosto mais amigável. - opinou Eve fazendo Flynn olha-la raivosamente. 

- Vai lá, arrebenta. - disse Flynn. 

A esper foi a caminho do palanque usando seu poder de invisibilidade que também ocultava suas roupas, mas acabou esbarrando num truculento segurança de terno e gravata que estranhou ter sido tocado por uma coisa que procurava mas não achava. A jovem subiu no palanque tornando-se visível e pegara no microfone que emitiu um ruído agudo quando ela aproximou sua boca para falar. 

- Err, desculpem... - disse Sue. Boa parte do público voltou as atenções diretamente à ela e questionavam a razão de terem permitido uma jovem assumir o palanque antes do prefeito - Não sou uma eleitora de Ernest Duvemport. Mas sou uma cidadã que deseja ser reconhecida pelos direitos que todos ganham desde o momento em que nascem, principalmente o direito à vida. Eu já os tenho como todos aqui presentes, claro, mas... eu nasci com uma condição especial que uma baixa parcela da população tem. Parece coisa de filme de terror. Nos forçamos a ficar escondidos até esse dia chegar. Sentimos que era o tempo certo. Eu cansei de me fechar. Quero ser vista como realmente sou. 

Sue se invisibilizou, chocando toda a plateia. A reação de perplexidade total atiçou os outros espers que observavam. O rapaz de gorro soltava um espinho negro deslizando para fora do seu pulso esquerdo. 

Flynn percebera e deu uma cotovelada super-leve no braço do colega. 

- Harry, agora não. 

Uma onda de falatórios tomou conta do público. Todos pensavam que a jovem desaparecera. 

- Isso não é um truque, é uma habilidade que descobri ainda criança. - disse Sue, ficando visível - Eu faço um apelo para que saibam e tratem essa verdade com respeito. Não saiam por aí dizendo que há monstros com superpoderes espalhados pela cidade se fingindo de humanos, não encarem assim. - a esper começava a ficar invisível sem que o acionasse por vontade própria, preocupando Flynn. 

- Chega, ela perdeu o controle. - disse ele, cogitando intervir. 

Um grupo de policiais apareceu no local apontando armas para a garota. 

- Parada aí! - bradou um - Não tem autorização pra subir no palanque, só o prefeito tem direito!

- E por que estão apontando essas armas? - perguntou Sue, quase completamente invisível. 

O policial que falara parecia nervoso com o que testemunhou tal qual a maioria das pessoas. 

- Po-porque... Você literalmente desapareceu e reapareceu como mágica. O que mais pode fazer? 

- Não vou sair, não enquanto prometerem nos tolerar. 

Acidentalmente o dedo do policial apertou no gatilho, acertando Sue de forma violenta. 

- Agora, pessoal! - disse Harry, saindo na frente. O esper pegou o espinho que soltou e o arrancou do pulso, jogando-o no policial como uma lança. O espinho cravou na cabeça do homem, atravessando as laterais. Mais policias somaram-se ao grupo que miraram suas armas ameaçando abrir fogo. 

Boa parte do público que assistiria ao comício se dispersou sob pânico intenso. Ernest foi novamente incomodado pelo cinegrafista e bufou de raiva levantando ele mesmo para abrir a van. 

- O que é dessa vez? Estou muito atrasado? 

- Senhor, teremos que cancelar a transmissão, mas... - o profissional olhou para a movimentação na praça - ... por um outro motivo. Tá acontecendo um tiroteio, não sei bem ao certo... 

- Ernest, fique, eu ouvi mesmo um tiro. - disse Michael Bass, o candidato a vice - O que está havendo?

- Parece que uma garota subiu no palanque e ficou invisível...

- Invisível?! - disse Ernest, franzindo o cenho, já suspeitando do que fosse. 

- Sim! Não tô brincando, de repente a polícia chegou e mandou ela sair, só que um atirou e... acho que matou ela. - disse o cinegrafista, tomado pela tensão - Essa cidade não pode ficar mais estranha! Sempre teve gente jurando de pé junto que viu fantasma, lobisomem, vampiro e agora pessoas com superpoderes aparecendo bem na nossa frente e mostrando o que sabem fazer diante dos olhos! 

A expressão de Ernest mudou para uma preocupação disfarçada. Mais tiros foram escutados. 

- Fiquem aqui, tenho que subir naquele palanque e acabar com essa balbúrdia! - disse Ernest descendo da van para correr em direção à praça onde os policiais estavam sendo asfixiados por uma jovem esper chamada Alicia que detinha o poder de privar o oxigênio de um espaço delimitado. 

- Ernest! - gritou Michael também descendo - Não banque o herói, pode acabar sendo atingido!

O diretor do DPDC mal escutava seu vice, correndo à uns bons metros. Michael suspirou com a boca.

- Esse idiota vai se arriscar a troco de nada. - disse ele, limpando o suor da testa. 

Ernest percebeu um grupo de outros espers vindo armados com pedras e coquetel molotov. Uma equipe da polícia militar chegara como um batalhão munidos de cassetetes e escudos, todos de prontidão para frear uma eventual arruaça de eleitores da oposição. Um esper jogara o coquetel molotov sobre uma viatura da polícia e Ernest correu para alcançar o púlpito o mais rápido que pôde, porém a garrafa soltando um jato de fogo caiu no teto da viatura que explodiu destrutivamente salpicando fogo e pedaços. Ernest sentiu o impacto da explosão e caiu rolando para um lado, perto de arbustos e ficou de quatro se escondendo dos agressores. Sentiu uma presença atrás dele, não exatamente boa. 

- Espera, você é o... - disse Ernest, surpreso. 

- Olá, Sr. Duvemport, é um prazer conhece-lo. O senhor é convidado de honra da minha casa. - disse Atticus, logo pegando-o pela gola do terno e o teletransportando à sua residência que não passava de um espaço dimensional criado pelo esper. Atticus empurrou o diretor para que sentasse numa cadeira acolchoada branca sem braços - Não se mova. - disse, infligindo telecinesia para imobiliza-lo. 

- É fácil pra você, né, espertinho? Não é um bruxo pra dizer palavrinhas mágicas. 

- Quieto, preciso me concentrar pra avisar os outros de pararem com a confusão. - disse Atticus, fechando os olhos para enviar uma mensagem telepática determinando que seus seguidores recuem - OK, primeira parte do plano encerrada. 

- O que significa isso além de um sequestro? - perguntou Ernest - Adorei a decoração da sala, mas para manter cativa uma celebridade como eu requer um assento mais confortável, de preferência que não tenha amarras invisíveis esmagando as articulações. - o diretor afastou um pouco o rosto vendo que Atticus chegava perto - Tenho 56 anos, devia me tratar melhor.

- Que ser tratado como se deve? Primeiro atenda às minhas exigências, eu sei que está saindo na frente, é o favorito de muitos. Sabe o que é patético? Você sentir medo de mim quando devia mostrar calma com alguém que gostaria de ser compreendido como um semelhante. Não sinta medo do que sou, mas sim do que está me abençoando com esses poderes. 

- Rapaz, se me permite ser abertamente honesto com você... - disse Ernest, inclinando seu rosto - Seu lugar é numa cela de manicômio, apodrecendo e definhando na sua própria loucura. É um monstro, desalmado, vazio... e ingênuo. 

Atticus agarrou o maxilar de Ernest. 

- Todos os espers merecem isso? Serem aprisionados e torturados? Vistos como monstros? 

- Eu me referia unicamente à você. Os que te apoiam cegamente... são pobres vítimas de um falso deus. Sabe o Charles Manson, o serial killer? Ele ficaria orgulhoso do que você tem feito. 

- Chega! Nem mais uma palavra. - disse Atticus, transtornado, soltando o maxilar de Ernest empurrando a cabeça para trás - Complicou sua situação, candidato. Eu pediria que quando eleito anistiasse os espers concedendo direitos iguais. 

- Ah não, outro ignorante político. - disse Ernest, revirando os olhos. 

- O senhor será eleito, há uma probabilidade imensa. 

- Bom saber. Previu com suas habilidades? 

- Não vêm ao caso. A sua vida a partir de agora depende do que um grande amigo decidir. - disse Atticus, não medindo ameaça - Vigiem ele. Pode fugir de vocês e se esconder, mas não escapar. - falou para dois rapazes espers com tatuagens de dragões nos braços. Um manifestava pirocinese com uma mão e o outro mostrava faíscas elétricas nos olhos e nos dedos, amedrontando Ernest que corria o risco de ser tostado de duas diferentes formas. 

Atticus teleportou-se para algum lugar que Ernest não saberia, mas sabia quem era o grande amigo. 

                                                                                 ***

O sedã prata de Frank corria a toda velocidade pela estrada rumo à cidadezinha na região de Ylon. 

Ele pensou em rejeitar uma ligação de Carrie, mas atendeu a contragosto após quatro toques. 

- Fala Carrie, tô no meio da estrada ainda. Acho que vai esgotar a bateria. 

- É tarde pra pedir que você dê meia-volta, né?

- Por que? O que aconteceu? Tá falando de um jeito que dá pra notar que rolou alguma treta. 

- Uma manifestação de espers ocorreu agora há pouco na praça Olympus. 

- É onde iria ter o comício do diretor. 

- Teria se não fosse pela arruaça causada por um bando de espers que chegaram a explodir uma viatura. Disseram que uma garota invisível tomou o palanque pra fazer um apelo por tolerância. 

- Essa não... - disse Frank, sentindo os pelos eriçarem - À essa altura o país inteiro e provavelmente o resto do mundo sabe que existem pessoas com poderes especiais que nem nos desenhos animados. 

- Pelo que indica minha fonte, não é bem assim. Parece que nada foi filmado, até porque o comício seria veiculado por uma só emissora local, então é provável que não tivessem autorização pra filmar antes do diretor subir no palanque, ia entrar o ar dentro do jornal do meio-dia. Já são quase uma hora. 

- E cadê o diretor? Ele tava no meio da zona de guerra? Tem alguma informação? 

- Frank, eu não sei do diretor. Ninguém sabe. - disse Carrie, preocupada - Vou arranjar uma forma de entrar em contato com o vice dele ou os assessores, qualquer um que tenha visto a confusão de perto. 

Na mente de Frank um turbilhão de pensamentos ruins formou-se, obrigando-o a cogitar dar meia-volta.

- Sabe que eu nunca fui de abandonar casos de propósito, né? Pois bem, tudo tem sua primeira vez.

- Não, Frank, espera, continua seguindo em frente. Acabei de atualizar o portal de notícias e Parkleyville está vivendo uma onda de mortes, incluindo assassinatos, lógico. A água da fonte dos desejos ficou vermelha... Dizem que se transformou em sangue fresco. Acelera, Frank, desvenda esse mistério e depois voa pra cá. 

- Tá OK, ligo mais tarde quando tiver encerrado com essa fonte maldita. - disse Frank, logo desligando e pisando fundo no pedal acelerador, o ponteiro do velocímetro encostando no limite permitido. 

                                                                                ***

Os espers haviam batido em retirada imediatamente após o aviso telepático de Atticus. Preferiram se refugiar num armazém abandonado que tiveram sorte de encontrar para despistar a polícia que os perseguia pelos quarteirões numa implacável ronda de patrulhamento para detectar um possível vândalo. Alicia verificava pela janela se alguém vinha. 

Atticus aparecera com teletransporte, pegando-os de surpresa. 

- O que houve com a Sue? - perguntou ele olhando sentada num banco junto com Flynn que pressionava uma ferida no braço esquerdo dela - Levou um tiro?! 

- Pegou só de raspão. - disse Flynn estancando o leve sangramento com um pano branco. 

- Mas o filho da mãe que apertou o gatilho teve o que merecia. - disse Harry, encostado numa parede - Graças à mim. 

- Você Harry? - disse Eve, revoltada - Nem de longe você foi o herói do dia, agiu sem pensar duas vezes.

- Então o Harry quem matou o policial? Francamente... Admiro a coragem, mas foi inconsequente. 

- Qualé, me elogia primeiro e depois me reprova?! A polícia sequer deu uma chance pra Sue. 

- Não descarto que o policial tenha reagido tão mal que acidentalmente atirou. - disse Atticus. 

- Ah, agora vai defender? - perguntou Flynn - A Sue podia ter morrido se não estivesse ficando invisível aos poucos por causa do descontrole e não teria como correr a tempo da bala passar raspando. 

- Flynn, não esquenta com o Atticus, eu tô legal. - disse Sue. 

Atticus passou a mão no rosto numa clara indicação de que não estava com muita paciência para discussões. 

- Não importa, o que importa é que todos estão bem. Fiquei pensando onde vocês estariam pra se abrigar e vim logo assim que descobri. Ninguém viu um cara de sobretudo de detetive por lá, não? 

Todos fizeram que não com a cabeça. 

- Ótimo. Eu ia encontra-lo agora mesmo, mas ele ainda tá a caminho da cidade da fonte dos desejos. 

- Se desde que terminamos de revelar pro mundo que somos especiais ele ainda não tá ocupado em investigar a fonte, então de que serviu distraí-lo? - perguntou Flynn. 

- Vai servir. Daqui há pouco. - disse Atticus dando um misterioso sorriso fechado. 

                                                                            ***

Em Parkleyville, após Frank passar uma hora e meia de trajeto para a região, uma mulher loira vestindo um casaco de lã cinza por cima de uma blusa rosa, chamada Tania acompanhava o detetive até a fonte. 

- A forma que o cotidiano da cidade mudou é assustadora. - disse Tania - No primeiro dia, tudo corria bem, embora surreal. As crianças faziam seus desejos na fonte como sempre e todos ficaram abismados quando essas mesmas crianças acordavam com seus desejos até então impossíveis... realizados. 

- E quando foi que precisamente a água da fonte ganhou essa cor? - perguntou Frank olhando o fontanário com três estátuas pretas de anjinhos que derramavam de suas bocas o líquido vermelho. 

- Eu comprovei, está jorrando sangue fresco. - disse Tania olhando para o detetive com expressão aflita.

Frank aproximou-se da fonte redonda e olhou com mais atenção o sangue que substituiu a água. Levou seus dedos indicador e polegar esquerdos para a água vermelha e analisou a consistência.

- E não é que é sangue mesmo? Caramba, espero que nenhuma criança tenha confundido com suco de groselha. - disse Frank - Soube que a água se converteu em sangue depois que alguns assassinatos foram registrados. Um recorde na cidade inteira em tantos anos de segurança pública bem preservada. 

- Uma coincidência macabra, mas sei que não é mera coincidência. Certamente que a notícia dos desejos realizados das crianças chegou aos ouvidos de quem não presta e deu no que deu. - disse Tania. 

- Como a população tá lidando com um fenômeno desses?

- Muitos estão achando e gritando aos quatro ventos que o apocalipse está próximo. 

- Eles podem ter razão. - disse Frank, lembrando a ameaça potencialmente desastrosa de Atticus. 

- Desculpe, está na minha hora. Tenho que chegar no consultório às quatro. - disse Tania - Prazer conhece-lo, detetive Montgrow. Boa investigação. - apertara a mão direita do detetive gentilmente. 

- Bom trabalho também. 

Vendo que Tania havia se distanciado pela espaçosa área sob o sol forte da tarde e nada circulava nos arredores a não ser lixos, Frank pegara uma moeda e a jogara na fonte pedindo um bom desejo. Mas ao contrário do que esperava, a cor da água não retornou ao natural transparente, permanecendo o sangue com um vermelho vibrante. 

- Frank. - disse uma voz familiar atrás dele. O detetive virou-se, contente pelo desejo atendido - O que estou fazendo aqui?

- Tá aqui pra sanar uma dúvida minha. - disse Frank assumindo postura severa - Não vem com rodeios, tem que confessar absolutamente tudo o que sabe, sem omissão. Eu achava que não ia funcionar, você ia aparecer só mais tarde, na verdade eu pensei que fazendo um bom desejo à fonte ela voltaria ao normal.

- Uma fonte que concede desejos? Isso parece ter mais a ver com as coisas que você caça. 

- Hoje não tô caçando nada, só quero mesmo que responda sinceramente à questão. - disse Frank, encarando-o seriamente - Existe uma maneira de remover os poderes dos espers definitivamente?

- Se houvesse uma fórmula que revertesse o efeito da água sagrada, Raguel nunca nos mandaria para a missão de estripar humanos com habilidades perigosas. - afirmou Adrael - Infelizmente, não há cura. 

Desconsolado, Frank de um suspiro longo. 

- Seria conveniente pra ser verdade. Mas não sei se tornaria fácil contra o Atticus. 

- Os espers são incuráveis fisicamente. Psicologicamente, Atticus não é. É suicídio se atrever a para-lo. 

- Pior que ele tá arrebanhando mais espers pra seita dele e ainda por cima juntou alguns pra se exporem ao público na esperança de que vão chamar a atenção de alguém que vai caça-los com, sei lá, robôs gigantes no futuro, mas acho que vão atrair mais olhares de empresários de circo. 

- Por que a água dessa fonte tem cheiro de sangue? - indagou Adrael. 

- Fizeram muitos desejos ruins e a fonte mudou da água pro sangue, literalmente. 

- É estranho, eu sinto que fui puxado pra cá apenas com um mero desejo. Uma fonte como essa não seria tão poderosa a ponto de simplesmente me fazer sair do meu mundo com a força de um pensamento. - fez uma pausa, aproximando-se mais de Frank - A menos que uma força mais poderosa tenha interferido. 

- Essa fonte ganhou o poder da noite pro dia, é lógico que é uma fonte comum, então... - pensou mais profundamente chegando a uma conclusão arrebatadora - Ah, Atticus, seus miserável filho da mãe. 

- Não me surpreende. - disse Adrael - Os poderes dele estão se tornando ilimitados. 

- Eu tô ligado nisso, o problema é que o desgraçado criou uma distração pra me trazer aqui e me impedir de acabar com a festinha exibicionista dos seguidores dele porque se não fosse isso eu iria pro comício do diretor que... - fechou os olhos por uns segundos, a preocupação com Ernest o torturando.

- Desista de tentar purifica-lo, Frank. - aconselhou Adrael - A humanidade dele se esvaiu. 

- Não, sem essa, alguma coisa lá dentro de humano o Atticus ainda por ter. E pra fazer um teste de normalizar a fonte vou precisar de você e um grande número de pessoas pra desejarem boas coisas. 

- Lamento. Me despeço aqui. Não precisa mais de mim. - disse o anjo, logo desaparecendo. 

- Valeu pela colaboração! - disse Frank em tom de reclamação - Otário. 

O detetive levara um tempo para convencer e reunir o máximo de pessoas que concordassem em realizar um desejo em conjunto para reverter a condição sinistra da fonte. Quinze pessoas estavam entre Frank, preparadas para desejarem a mesma coisa, todas de olhos fechados e mãos dadas ao redor da fonte. 

Com os pensamentos em sintonia, fizeram o pedido intensamente. 

A água descoloria-se gradualmente. Frank abriu somente o olho esquerdo para conferir. 

- É isso aí, galera! A água tá fresquinha e pura de novo. - disse ele em comemoração. 

Porém, ninguém respondeu à sua euforia. Aliás, todos pareciam travados como numa cena congelada. 

- Que diabos... - disse Frank, balançando a mão devagar na frente do homem ao seu lado, percebendo que o tempo havia parado completamente - Ah, é claro como água... - virou-se e deu de cara com Atticus parado uns metros adiante - ... que só podia ser obra sua. - deu mais passos adiante.

- Olá, Frank. Parabéns por restabelecer o abastecimento da fonte. Mas já consegui o que quero. 

- Ah é? Deixa eu adivinhar: Ferrar com a segurança nacional e tocar o terror no mundo inteiro. 

- Eu, mais do que ninguém, almejo a harmonia. O que tiver ao meu alcance pra consegui-la, vou usar. 

- Mas não é assim que se consegue respeito! Quer ser respeitado ou temido? Faz a tua escolha! 

- Quem deve escolher algo nesse momento não sou eu. - disse Atticus, estalando os dedos da mão direita. Num piscar de olhos, o céu escureceu como se tivesse anoitecido num ritmo instantâneo. 

- Isso é ilusão, né? Você não chegou no nível supremo divino pra fazer o dia virar noite. Diz que não.

- É meu efeito dramático. - respondeu Atticus - Pra te tranquilizar, isso é ilusão. - apontou para o céu - Aquilo é real. - apontou para a fonte. Frank olhou para trás e se embasbacou ao ver que a água da fonte se tingiu novamente de vermelho e para piorar borbulhava parecendo que esquentava. 

- Que merda é essa? - perguntou Frank, aborrecido. 

- O seu estimado amigo foi confinado no meu quartel-general, o mais reservado que existe. 

- Pegou o diretor, não foi? Ele te explicou a dureza que é aprovar uma lei de direitos iguais pra espers?

- Não, mas me ofendeu o bastante pra que eu viesse te desafiar a escolher entre a vida dele e a remoção dos meus poderes, não só meus como de todos os espers. Faça seu último desejo, Frank. Quer seu amigo liberto e vivo ou os espers finalmente curados da doença? Tem um minuto pra decidir. 

O detetive olhou mais uma vez para a fonte e seu temor aumentou consideravelmente. 

Mãos vermelhas cobertas de sangue e com unhas pretas pontudas saíam da fonte tocando nas bordas. 

- Não escolher nada significa matar essa pobre gente indefesa que se esforçou tanto pra um bom desejo.

Frank pegou a última moeda do seu bolso e a jogou de olhos fechados, intensificando seu pensamento.

A moeda quicou na água sangrenta que rapidamente parou de borbulhar e as mãos demoníacas desceram. Atticus estalou os dedos de novo, desfazendo a falsa noite. Frank fitou o esper com certo ódio.

- É com essa cara que eu gosto de ver você me olhando. 

- O diretor... Cadê ele? 

- São e salvo. - disse Atticus que desapareceu em seguida. O tempo descongelou e as pessoas se questionavam do porque Frank estava meio afastado delas, mas o detetive estava imerso em pensamentos desconfiados quanto à palavra de Atticus sobre a garantia da liberdade de Ernest. 

                                                                           ***

O tempo de retorno de Ylon até Danverous City durou até o início da noite. Frank estacionou em frente ao diretório do partido ao qual Ernest se filiara, não tendo parado em mais nenhum outro local antes. 

- Tá de saída? - perguntou Frank, fechando a porta do carro. Ernest estava sentado num degrau da escada que subia para entrada do prédio - Não é um convite pra carona, meu tanque tá quase esvaziado.

- Estou com cara de quem está mendigando carona?

- Também não precisa dar patada. Olha... O que o Atticus aprontou... 

- Frank, eu confio na sua intuição às vezes. Mas dessa vez é diferente, tenho plena certeza de que você está redondamente enganado sobre o que aquele esper alucinado tem de boas intenções. 

- Não, o senhor entendeu errado. O Atticus tem péssimas intenções, mas...

- Mas o quê, Frank? O que diferencia ele dos outros inimigos poderosos que já confrotou? 

- Ele não é o mal encarnado. Numa competição de maldade, o Malvus venceria ele de lavada. 

Enquanto ambos conversavam sobre seus pontos de vista divergentes, um restaurante era alvo de um ataque de granadas que foram jogadas contra as vidraças e expeliam um gás fumacento que se propagava pelo ambiente todo em segundos. Agentes da ESP observavam de cima de um prédio. 

- Status final: Bem-sucedido. - disse o agente no seu rádio-transmissor. 

Frank e Ernest terminavam o papo que não se enveredava para um consenso. 

- Eu não vou bater boca com o senhor sobre o Atticus. Me recuso a descarregar uma arma nele. 

- Mas me promete uma coisa: Que vai sobreviver. - disse Ernest. 

- Nós vamos sobreviver. - disse Frank, firme - Ao custo da nossa paz, mas vamos sim. 

No seu quarto, Atticus enfrentava problemas para um sono bem regulado. Um pesadelo aterrador o fazia se virar de um lado para o outro, suando frio. Por fim, acordou sobressaltado, quase dando um pulo enorme da cama,, os olhos heterocrômicos mais esbugalhados do que nunca numa face de horror.

                                                                                -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

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