Capuz Vermelho #56: "Programa de Supervisão"


"Mal se completou um ano desde que mergulhamos de cabeça nesse projeto e já somos colocados para ensinar. Minha inclinação pra liderança não significa que vou me dar bem nessa relação de mestre e discípulo. Mas se é para ajudar dois seres humanos a alcançarem seus sonhos agora que estão tão próximos... é, isso sim torna a missão mais agradável, embora eu realmente sirva mais como apoio moral, eu sempre faço o lado mais psicológico da coisa."

                                                                      Trecho do segundo diário de Rosie Campbell - Pág 30.

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North Yorkshire 

A luz fria do luar estendia-se por boa parte do território daquela fazenda vasta. Um funcionário responsável pelos serviços gerais passeava calmamente, deixando pegadas pela terra úmida, segurando uma forquilha como sempre temendo os ladrões que ameaçavam roubar algumas galinhas. O canto dos grilos soava como trilha sonora para sua caminhada como guardião destemido.

Estacou ao ouvir ruídos baixinhos... que vinham de encontro por trás dele.

- A-há! - gritou ele, virando-se com a forquilha apontada... para um garoto vestido com suspensório por cima de uma camisa branca e que usava uma boina. - Ah, seu pirralho, vê se não me assusta...

- Quando finalmente vai me chamar pelo nome hein? - disse o menino, nem tão chateado - É Carl.

- Isso eu sei... pirralho. - provocou o homem. - Acontece que tem desgraçados rondando as terras e caso não saiba euzinho cuido da vigilância, sem querer me gabar. Eu quase te acertei.

- Você tinha que ter visto a sua cara. - disse Carl, rindo. Imitou a expressão - Parecia que os olhos iam saltar pra fora. Mas foi mal... fiquei entediado, os meus pais não me deixam procurar meus presentes de aniversário. Você é o confidente deles né? Sabe onde esconderam?

- Confidente?! Olha pra mim, rapaz. Não sou tão próximo dos seus pais quanto pensa. Sou... o humilde empregado "bem pago". - fez aspas com os dedos - Essa não é hora de criança ir pra cama?

- Lembrei que o Zack não jantou ainda. Estranho que não esteja latindo. - disse Carl, olhando na direção do celeiro - Boa noite, Morgan. Desculpa pelo susto. - ele correra até a casinha do cão.

- Se fizer novamente, conto pros seus pais hein! - avisou Morgan.

Passados alguns minutos, ouviu-se um grito familiar. Morgan parou e se virou na direção para onde Carl havia seguido e sentiu que usaria a forquilha para alguma coisa naquela noite.

Correra para o celeiro, mas no meio do trajeto encarou algumas vacas e cabras completamente mutiladas, suas barrigas abertas com entranhas expostas e os olhos faltando. Não havia sinal de Carl, mas ainda assim entrou, suando frio. Barulhos grotescos surgiram. Por uma brecha, Morgan observara uma sombra mover-se como se estivesse alimentando-se. Os grunhidos eram de Zack.

O olho de Morgan arregalou-se mais do que nunca quando a sombra ergueu-se, revelando a forma de um lobo bípede com três cabeças que soltou um uivo agudo.

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CAPÍTULO 56: PROGRAMA DE SUPERVISÃO

QG Alternativo do Exército Britânico 

A porta metálica fora aberta. A mesma pertencia a uma sala fechada com isolamento acústico e nela estavam presentes as três maiores mentes por trás do projeto DECASO: Primeiramente, General Holt que num encontro pessoal inédito com Walter Vannoy resolveu apoiar uma causa relacionada ao Colégio de Caçadores. A ideia envolvia Rosie e Hector que entravam intrigados.

- É o que meus olhos estão vendo? - perguntou Rosie, visualizando o trio no outro lado de uma mesa redonda no centro da sala - Os três grandes chefes juntos?! Exceto o Derek, ele é só comanda a tropa DECASO embora tente um relacionamento mais próximo.

- Tirou as palavras da minha boca. - disse Derek. - Ia corrigi-la exatamente nisso. Não me superestimo tanto. Aliás, reitero que é uma honra estar ao lado de dois grandes homens que movem céus e montanhas para fazer do mundo um lugar melhor numa preocupação genuína à humanidade.

- De novo, Sr. Marshall agradeço o elogio. - respondeu Holt - Vannoy e e eu tivemos nossas diferenças e não faz muito tempo que nos empenhamos em supera-las. Chega de disputar egos.

- A carta que eu enviei serviu pra alguma coisa. - disse Walter - Muito bem, agentes. Foram chamados para uma missão diferenciada hoje. Nenhuma reunião de emergência.

- Foi justamente o que pensávamos, de início. - disse Hector - Só não entendemos o porquê de nos reunirmos nesta sala que levamos praticamente uma hora para achar.

- Serviço confidencial. - disse Holt, as mãos para trás - Achamos que seria conveniente dada a grandeza do nosso objetivo. Até eu gostaria que fosse uma reunião, mas... - ele olhou de lado para Vannoy que devolveu um olhar severo. O general pigarreou - Continuando... Nada do que fala aqui escapa ao lado de fora. Mas o foco não é a estrutura da sala e sim no que vocês farão hoje. - estalou os dedos - Podem vir.

Dois jovens, um rapaz e uma garota, saíram da escuridão atrás dos três homens e se apresentaram formalmente à dupla investigadora.

- Olá, é um grande prazer. Sou Ramona. - disse ela, uma moça de rosto jovial, feliz e belo, com cabelos loiros claros e cacheados. Acenou educada.

- E aí? Me chamo Elliot. - disse o rapaz caucasiano de cabelo preto curto e rosto tímido.

- Se minha opinião é válida - disse Derek -, eu não concordo totalmente com essa empreitada.

- Podem esclarecer. - disse Rosie - Ficar enrolando só atrasa.

- Vocês foram promovidos a supervisores temporários. - disse Holt - Irão exercer o cargo por um dia.

- Isso significa que... seremos tutores deles? - perguntou Hector - Quanto a mim, tudo bem, mas a Rosie...

- É irrelevante o fato de Campbell possuir pouco tempo de experiência. - argumentou Holt - Vejam bem: Treinou com o Exército para as operações de resgate ano passado, recebeu suas orientações, possui um talento natural de liderança tão nítido quanto você Crannon, logo não vejo porque não considerar ambos igualmente aptos pra essa tarefa. Vannoy, melhor explicar logo.

- Pois bem, o negócio é que o êxito destes dois caçadores beneficiará vocês. Em suma, é um teste para os quatro. Valendo duas vagas como diretor e supervisor-chefe do CDC.

Hector quase engasgou-se com a própria saliva ao ouvir. Rosie arqueou as sobrancelhas.

- Espera aí, tá dizendo que... se eles irem bem na missão, além de conquistarem pontos, nos fazem sair ainda mais promovidos? Não dá pra acreditar, isso é...

- Drástico. - completou Hector - Diria impulsivo.

- Pois eu diria fantástico. - retrucou Rosie - Imagine só, você como novo diretor e eu ajudando vários caçadores a se aprimorarem com conselhos e dicas do que eu aprendi até aqui, sendo que o mais importante é o que nós podemos aprender com mais ocupações no âmbito caçador.

- O que quer dizer com mais ocupações? - perguntou Derek.

- Ahn... Eu sou líder da Legião, agente prioritária do DECASO... e possivelmente futura supervisora.

Holt deu uma risadinha baixa que contagiou Derek.

- Meus amigos, acho que não entenderam bem o cerne da ideia. - disse Derek - Asseguro que se saíram muito bem como agentes e promoções geralmente carregam mudanças e mudanças trazem perdas. Com isso quero dizer que infelizmente não permanecerão nas ocupações atuais.

- Ou seja, ganhamos empregos no Colégio de Caçadores ao custo de sairmos da Legião. - disse Rosie. - Agora fiquei indecisa.

- Admito que é ótimo ser cotado como sucessor do mestre... Mas está falando de se aposentar. - disse Hector, preocupado - Estamos bem como nossos papéis, não precisam haver substituições.

- Podemos rever esses termos. - sugeriu Holt.

- Eu discordo. - disse Derek, fazendo Rosie olha-lo estreitamente.

- Olha, nós apenas queremos uma chance de vitória. - disse Elliot - A Ramona e eu somos irmãos, estamos na etapa final de provas. Não se preocupem em acertar conosco.

- Já somos vitoriosos de estarmos aqui. - disse Ramona, sorrindo - Ainda mais treinados por duas pessoas ligadas ao Exército... Wow, nunca imaginaria isso. Tô muito ansiosa.

- Hector, cuide de arranjar um caso que transpareça simplicidade. - disse Vannoy - A primeira experiência de campo requer abordagens mais leves.

                                                                                       ***

Do lado de fora do QG, Rosie fazia companhia aos novatos caçadores próximo do jardim.

- Contra pra gente, Rosie. - pediu Ramona - Qual é a dessa capa, capuz, manto? Sem querer soar grosseira, mas... eu não sairia de casa com esse modelo.

- Ahn, bem... No meu caso, é algo bem mais pessoal. Coisa de família. Uma herança... do meu pai.

- Você é estranha e isso é bom. - disse Elliot, contente - Mas eu não teria problema em usar manto pra caçar à noite, dá um ar de intimidação, sabe... os monstros temem os encapuzados. Eu até arriscaria um capuz vermelho como o seu, acho que seria demais.

- Não entendi bem. O que seu pai era? - perguntou Ramona - E Elliot, nem pensa que vou te arrumar um traje de caçador que você quer. Precisamos ser discretos. - olhou para Rosie - Não foi indireta.

- Tudo bem, esse vermelho é extremamente chamativo. Na verdade, é uma desvantagem. Mas sobre o meu pai, é uma longa história...

Hector interrompera chegando com um jornal exatamente na página com o caso selecionado.

- Todos prontos para caçar em plena luz do dia? Esse caso me empolgou. Em North Yorkshire, um vilarejo está sendo assombrado por uma criatura que estaria se alimentando do gado de fazendas e de cães. Todas as vítimas achadas com os olhos arrancados - entregou o jornal à Rosie - e órgãos vitais faltando. Quando chegarmos, vou explicar como funciona uma investigação.

- Testemunha ocular sobrevivente. Que raro. - disse Rosie, lendo - É um garoto, filho de um casal de fazendeiro ricos que barraram a imprensa. Será que é o marco zero? A maioria dos ataques foi lá.

- De repente, eles podem ser suspeitos. - disse Elliot - Só uma hipótese.

- É estranho os proprietários da fazenda envolvidos na morte dos animais que cuidam. - disse Rosie - Sim, vocês tem muito o que aprender. Vamos logo.

- Ah, só uma coisinha... - disse Ramona - Eu gostaria... Na verdade, nós gostaríamos de provar honestidade, vocês são confiáveis e... não sei bem como dizer.

- Eu sei. - disse Elliot, tranquilo - Somos mais que irmãos. - olhou para Ramona - Almas gêmeas destinadas. - entrelaçaram as mãos delicadamente. - O amor é o que nos faz seguir em frente... desde a morte dos nossos pais.

Rosie e Hector fitavam-os estupefatos.

- E-eu... não tô acreditando. - disse Rosie - Mas vo-vocês são... - os irmãos assentiram felizes - Pelos deuses, isso é...

- Por favor, não diga horrível. - disse Ramona, tensa.

- Não, claro que não. - disse Rosie, acalmando-a - Apenas é... diferente. E ser diferente não é errado.

- Certamente não. - disse Hector, processando o fato - Podemos entende-los. Confiem em nós.

- Que bom. Ufa. - disse Ramona, quase rindo - São as primeiras pessoas em anos que sabem disso.

- Nem queiram saber o que as outras tentaram. - disse Elliot - Além do mais, já marcamos o casamento.

- Mas já? Meus parabéns, então. - disse Rosie - Imagino o quanto deve ter sido difícil passar por cima da intolerância e do preconceito... Faremos nosso melhor para vocês melhorarem. Prometo.

                                                                                    ***

North Yorkshire - Rancho Hydon 


Na entrada da fazenda a qual mostrava-se como um alto portão de madeira, o quarteto parara. Rosie e Hector colocaram-se à frente como dois bons líderes que ditariam os principais ensinamentos.

- Bem, vamos decidir nossos passos. - disse Hector - Para uma investigação prática envolvendo mais de duas pessoas é sugerível que as informações sejam buscadas por cada um. Em outras palavras, nos separarmos para depois somarmos o maior número de evidências possível. Averiguações, interrogatórios, cooperação da polícia etc.

- Agiu como um professor nato e não quer ser mestre de caçadores? - disse Rosie - Tá legal. Ramona e eu iremos a uma das residências atacadas. Você e o Elliot entram na fazenda pra interrogar.

- Tô sentindo uma vibração meio Sherlock Holmes. - disse Elliot, empolgado.

- Elementar meu caro Watson. - brincou Hector - Vamos. - ambos seguiram abrindo o portão.

Enquanto Rosie e Ramona dirigiam-se à uma das áreas afetadas, a dupla de rapazes passava pelo espaçoso campo observando alguns animais caídos. Vacas, bois, cabras e bezerros, todos com as mesmas condições de morte. Elliot parou para um bode morto e em estado avançado de putrefação com direito a vermes decompositores passeando pelos buracos.

- Nossa, que horror. Cara, esses rasgos na barriga e nos olhos... são humanamente impossíveis.

- Verdade. E o mais curioso: A maior parte dos corpos demorou para serem recolhidos. Não sei como esse odor não afugentou os repórteres... - olhou para a casa onde um grupo de jornalistas tentava entrar insistentemente. - Elliot, procure o capataz. Vou espantar os abutres. - foi até a casa.

O funcionário dos Hydon estava carregando baldes com leite de vaca e assustou-se ao ver Elliot.

- Opa, calma aí amigo. - disse o caçador - Não precisa temer. Eu sou... Só vim conversar.

- Quem o deixou entrar? Quem é você? - perguntou, ríspido.

- Não, ninguém especial, sou detetive estagiário. O meu parceiro tá bem ali.

- Aham, ótimo. Já vieram bem uns quinze policiais fazer pente fino na casa. Seu amigo vai perder tempo e terá que entrar pelos fundos se quiser conversar com o garoto.

- Por que o garoto? - indagou Elliot, logo lembrando - Ah sim, ele é a testemunha ocular.

- O pirralho viu a coisa de corpo inteiro e escapou. Não conseguiu pregar o olho à noite.

- Eu quero saber de você, senhor...

- Morgan. - respondeu ele - Olha, já acreditei em muitas lendas bizarras antigamente. Mas o que eu vi... nem nos meus piores pesadelos eu esperava encontrar. Flagrei a coisa devorando o cachorro... e quando vi a sombra... parecia um lobisomem com três cabeças.

Hector, paralelamente, interrogava Carl.

- Três cabeças?! Carl, consegue lembrar de algum outro detalhe?

O garoto fez que não. Ambos estavam sentados frente à frente nos sofás.

- Essas pessoas são irritantes. - disse Carl - Você é uma delas?

- Se eu fosse, não teria entrado pelos fundos. Carl, me responda mais uma coisa: Qual era exatamente o tamanho do monstro que matou o Zack?

Carl representou a altura da criatura erguendo a mão esquerda para o mais alto que conseguia.

- Bem, isso é uma boa resposta.

- Queria que meu avô nos ajudasse. - disse Carl, quase chorando - Mas ele se foi faz 20 anos. Abandonou a mamãe por causa de negócios. Ele nunca mais pensou em voltar.

- Fale-me um pouco mais dele. - interessou-se Hector.

Enquanto isso, Rosie e Ramona faziam a vistoria num quintal de uma casa dois dias antes.

A dona, uma senhora de meia idade com avental branco e cabelo desgrenhado, contava o que sabia para a dupla. Ramona, por sua vez, acompanhava o relato anotando num bloco de papel, fazendo Rosie prestar mais atenção nela do que na testemunha.

- Meu marido chegou em casa trazendo um novo carregamento de legumes bem depois que chamei a polícia e quis contar tudo mas acabei pensando: "Vou parecer uma idiota tentando explicar como minhas cabras morreram desse jeito se falar a verdade". Voltando um pouco, eu fiquei escondida no armário, não sabia atirar, aquela coisa talvez nem estava carregada...

- Olha, Sra. Fafner... - disse Rosie - Agradecemos pela atenção. Nos contou tudo o que precisávamos.
Tenha um bom dia. Vem Ramona.

- Mas espera aí Rosie... - disse a caçadora, atordoada por não terminar de escrever.

Ao se afastarem da casa, a jovem encapuzada dava uns conselhos básicos.

- Devia ter avisado antes. - disse Ramona - Eu tenho uma mania obsessiva compulsiva por atividades interrompidas na metade. Tipo, uma fixação por concluir o que começo.

- Desculpa, mas anotar tudo o que a testemunha fala não é bem a direção que seguimos. Se memorizar é difícil, na dúvida selecione os detalhes mais relevantes. Você escreveu uma monografia.

- Literalmente tudo que ela disse. - falou Ramona, achando graça - Tá bom, vamos filtrar os detalhes.

Sem que percebessem, um homem com roupas esfarrapadas desencostou-se de um poste e seguiu-as.

- É um licantropo que segundo ela possui três cabeças. - disse Ramona - Confere.

- E a pergunta de um milhão é: Por que se alimentar somente de animais e justo dos órgãos?

- Não se esqueça dos olhos. Três cabeças que poderiam devorar melhor que uma tem apetite focado só nos órgãos e nos olhos. Isso é o X estranho da questão.

- Tenho uma teoria... - Rosie interrompeu, ficando séria - Ramona... continua andando... talvez não resolvamos esse caso pra hoje, vou ver se tem hotéis baratos por aqui. Ou se tem hotéis. Te vejo logo.

- Tudo bem... - assentiu Ramona, desconfiada. O homem desviou para a rua seguida por Rosie.

Na fazenda, Carl continuava a conversa com Hector.

- Ele nunca nos falou nada. Mas o papai detesta tocar no assunto. Parece que eles não se gostavam.

- Então no caso seu pai e seu avô tinham alguma inimizade velada, certo?

- Não sei, só tenho 8 anos. Nunca me contam as coisas importantes. Só acho que o papai sabe do trabalho secreto do vovô, mas...

- Filho, por favor. - disse a mãe, aproximando-se - Arrume suas coisas, iremos viajar. Seu pai vai leiloar a fazenda em breve. Me desculpe, agente, por interromper. Mas é urgente. Não nos deixarão em paz se permanecermos.

- Compreendo perfeitamente. - disse Hector, levantando - Passar bem. Adeus, Carl.

Pelos fundos surgira Elliot chamando por Hector.

- O que foi? - perguntou ele - Encontrou algo?

- Não, a Ramona voltou pra avisar rapidinho sobre... a Rosie. Parece que uma cara estava seguindo elas e Rosie de repente teve a ideia de ir procurar um hotel, só que na verdade o cara perseguia a Rosie. A Ramona demorou pra perceber, mas suspeitou a tempo e seguiu.

- E o que houve depois? Sua irmã está bem?

- Ela não se machucou, tá tudo bem. Ficou escondida na parede observando Rosie intimidar o cara e quando ela pôs as algemas nele... os pulsos ferveram até fumaçar.

Hector fechou os olhos por um instante.

- É um licantropo. E agora? Pra onde será que ela o levou?

- Obviamente ela não ia deixar uma trilha com miolos de pão pra facilitar. A Ramona é... receosa sobre confiança, no sentido de valoriza-la e se exige demais, então por isso não resolveu acompanhar Rosie, com medo de falhar, mas até que esse defeito serviu pra alguma coisa. Tem um palpite?

- Vamos vasculhar a reserva florestal. - disse Hector, saindo.

- Isso tá ficando interessante... de um jeito perigoso. - confessou Elliot, seguindo-o.

                                                                                   ***

Rosie conduzira seu prisioneiro a uma cabana localizada entre as altas árvores da imensa floresta. O local interiormente era demasiado sujo, com janelas e portas precárias. O licantropo estava amarrado com uma corda numa cadeira no centro da sala, ameaçado pela ponta da faca.

- Pode ir começando a falar, senão te apunhalo ao menor sinal de resistência. - disse Rosie.

- Você tem um estilo diferente pra uma detetive. Achei que fosse do bando. Mas andando com uma caçadora?! Aquela garota loira bonitinha...

- Me confundiu com alguém da sua turma?! - disse ela, pegando-o pela gola da camisa - É, fui um belo chamariz pra te colocar em maus lençóis. Anda logo, fala. De qual espécie você é? Lycan? Lupus?

- Um pé-rapado feito eu um Lycan? Não tenta me elogiar... Mas calma aí, não me perfura. Sou meta-simbionte. Estou numa missão.

- Ah, que coincidência, eu também. Mas algo me diz que tem a ver com os ataques.

- A minha alcateia... digo, a alcateia na qual sou membro... anda caçando um cara novo no pedaço. Aparentemente uma nova espécie. Correm boatos de que tem três cabeças.

- Boatos que se provaram reais. - salientou ela - As testemunhas confirmaram.

- Dizem que ele está na cidade há 20 anos. Nunca matou humanos. Só agora isso tomou grandes proporções e ganhou mais atenção pois... a fome dele deve ter aumentado pra caramba.

Subitamente, dois meta-simbiontes apareceram quebrando as janelas e outro arrombando a porta.

Um avançou superveloz contra Rosie que foi colocada contra a parede, mas revidou com um corte de sua adaga no tórax dele, logo desferindo um chute potente. Depois a jovem partira contra outro, tentando corta-lo mas ele esquivava rápido. Seu braço direito foi barrado e o meta-simbionte a chutou e depois tentou arranha-la fazendo-a se esquivar por baixo e ataca-lo de novo com as mãos juntas em dois golpes no rosto e por fim um empurrão contra uma estante de madeira com porcelanas velhas.

Em seguida o primeiro agarrara por trás, mas ela pisara no seu pé logo dando uma cabeçada e virando-se para apanhar sua adaga e crava-la no peito dele. Removera-a, derrubando-o no chão. Mas ao se virar antes que matasse o outro, percebeu que seu prisioneiro escapara.

- Você é minha! - disse o meta-simbionte derrubado na estante, querendo ataca-la. Porém, recebera um tiro certeiro no coração.

A bala partiu de um revólver de Hector que chegava com Elliot e Ramona.

- Boa pontaria. - disse Rosie.

- Cadê o licantropo que você tinha pego? - perguntou Ramona.

- Ele se comportou bem pra favorecer uma armadilha. Tudo não passou de uma distração para solta-lo, mas ao menos consegui uma pista.

- O que ele revelou? - perguntou Hector.

- Esse licantropo esquisitão provavelmente atua no condado há 20 anos. A Legião, na década passada, já soube de casos desse tipo?

- Geralmente caçadores de aluguel ocupavam-se com casos dessa natureza. - respondeu Hector.

- Ah é, quase ia esquecendo que estamos numa caçada "simples". - fez aspas com os dedos.

Enquanto saíam da cabana, alguém observava entre as folhagens escutando Rosie contar sobre o plano meta-simbiontes para caçar o três cabeças. A pessoa escondida nada mais era que o próprio em sua forma humana.

                                                                                   ***

O homem que sofria a dolorosa metamorfose todas as noites entrava numa localização secreta com paredes de concreto pesado. Tudo era iluminado por lâmpadas branco-amareladas.

Bateu quatro vezes na porta metálica. Alguém um ferrolho que abria um buraco retangular. Os olhos tranquilos de um senhor de meia idade por trás óculos redondos surgiram.

- É bom que seja importante. - disse ele. A porta abriu-se e saíra o homem vestido com terno preto. Sua aparência indicava ter em torno de 60 e poucos anos, com cabeça meio calva de cabelos prateados meio espetados. Para alguém dessa idade, ele mostrava-se vigoroso. - Jason, melhore esse rosto, gosto de vê-lo feliz. Aconteceu um imprevisto?

Jason aparentava ser um jovem adulto de quase 30, com barba por fazer, rosto robusto e cabelo curto. Sua camisa branca não estava tão branca e suas calças pareciam de algum ex-militar.

- Eu gostaria de obter as respostas da minha antiga vida que sei que existiu. O que você tanto faz aí?

- Trabalhando no nosso futuro. Você não entenderia agora. - disse ele, logo tocando no ombro do rapaz - E o trapézio, como anda? - deu uma batidinha. Jason sentiu dor. - Oh, desculpe. Teve uma noite difícil ontem né?

- O camarada da esquerda levou um tiro na mandíbula. Nada demais. - disse Jason - Bem, se tô perto de ser liberado com você mantendo a palavra... - retirou um pote com sangue do bolso - É o que tem pra hoje. Aproveite. Nunca durmo de barriga vazia.

O velho sorrira pegando o pote.

- Jason, sua recompensa virá. Terá uma nova e boa vida.

À noite, Rosie e Hector resolveram retornar à cabana para discutirem os próximos passos. O caçador pôs uma lamparina apoiada com um ferro numa ripa do teto.

- Então é isso. - falou Rosie - O filho dos Hydon não foi forçado a mentir mesmo que a mãe não quisesse vê-lo falando demais. Há 20 anos o licantropo apareceu e nesse mesmo período o irmão de Jefferson Hydon renegou a família. Claro que ele está diretamente ligado à essa história. Resta saber como e porque.

- Mas há uma discrepância, algo não está batendo. - disse Hector - É inconcebível existir um licantropo que desenvolve duas cabeças perto dos ombros durante a transformação. Parece algum tipo de mutação. Sei que tudo é possível se tratando de sobrenatural, mas... sinto que tem algo mais.

Elliot e Ramona chegaram trazendo uma pesada caixa.

- De onde tiraram isso? - perguntou Rosie.

- Íamos ao hotel, mas passamos pela casa dos Hydon - disse Ramona, colocando a caixa na mesa - e não resistimos. Isso aqui deve tá repleto de provas.

- Eles se mudaram há duas horas. - disse Elliot - A área não foi restringida pela polícia... ainda. E pegamos a deixa. Conheçam o baú dos Hydon. Digo, o baú está lá, colocamos nessa caixa...

- Vocês tem ideia do que fizeram? - perguntou Rosie, aborrecida. - Isso é roubo. Mesmo com nossa jurisdição, não podemos invadir locais sem autorização pedida pelo DECASO.

- Odeio admitir, mas é verdade. - disse Hector - Não importa se aí dentro estão informações cruciais, vocês precisam devolver ao baú antes que a polícia faça uma nova varredura na casa.

- Ai meu deus. - disse Ramona, preocupada - Elliot...

- Não, calma. A gente tá tão perto. Olhem essa papelada, vejam... - retirou blocos de notas com desenhos e escritos. - Reparem nos desenhos... Algum tipo de projeto científico maluco.

- E tem mais. - disse Ramona - Um mapa. - desdobrou-o. - De uma casa enorme.

- A combinação licantropo mais ciência obscura - disse Rosie à Hector - te lembra alguma coisa?

- Anthony Hydon. - disse Elliot - Nas cartas ele desabafa sua relação com o irmão. Bem complicada. Brigavam pela propriedade da fazenda.

- No passado enfrentamos alguém que utilizou a ciência num propósito maligno. - disse Hector.

- Curioso que os desenhos mostram os estágios de transformação... - disse Rosie - Era mais plausível que a cobaia já tivesse duas cabeças extras após o experimento. Mas aqui... - mostrou - são dias com a mesma cobaia. Não é permanente. Transforma-se todas as noites.

- Pode haver magia envolvida nisso. - teorizou Hector - Alguém com uma façanha pior do que a de Loub. Era tudo que precisávamos.

- A mansão dele fica alguns quilômetros daqui. - disse Ramona - E quanto ao licantropo... vamos chama-lo de Cérbero. Faz sentido, ora.

                                                                                 ***

"O ideal é ficarmos todos juntos. Todos em alerta, principalmente vocês dois. Hector e eu seguimos na linha frontal. OK?" 

O quarteto adentrou pela porta dos fundos silenciosamente, munidos de suas lanternas para explorar a enorme mansão. Os relâmpagos piscavam nos corredores e contribuíam bastante. Diante da entrada principal, pouco depois do grupo entrar, vieram os meta-simbiontes prontos para uma invasão.

- Ao meu sinal. - disse o líder, logo crescendo as presas.

Num corredor, o grupo de caçadores mantinha-se próximo. No entanto, Ramona parara ao avistar um vulto passar por um canto escuro.

- O que foi? Viu alguma coisa? - perguntou Rosie.

- Na-nada... eu... - ela se aproximou, em seguida apontando a lanterna na direção.

O facho iluminou o licantropo Cérbero, bem perto deles. O monstro rosnara salivando nas três cabeças. Ramona gritara, afastando-se imediatamente com Elliot.

- Fujam depressa! Daremos cobertura. - disse Hector.

- Por favor, vão! - disse Rosie - Contamos com vocês, rápido! - falou Rosie que logo pegara um cabideiro usando-o para golpear a criatura que destruiu-o e desferiu um tapa nela derrubando-a. Hector empurrara com sua supervelocidade, mas o "Cérbero" revidara com um ainda mais forte que o jogou para contra a parede que rachara-se. - Vou tentar segurar ele pra não segui-los! - disse Rosie, pulando em cima dele para impedi-lo, mas o mesmo soltou-se. - Não!

Os irmãos corriam, mas antes que fechassem uma porta, a perna esquerda de Elliot fora abocanhada pela cabeça do meio. O caçador gritou em dor sendo puxado por Ramona. Conseguindo fechar a porta, lutando a mandíbula poderosa do monstro, a garota verificou o estado do irmão.

- Ai meu deus... - avistou um armário para onde levou-o - Fica aqui, não se mexe. Volto logo.

- Ramona... minha perna... - queixou-se da dor, as presas fincaram forte demais na carne - Não tô bem... Vai além dessa dor... Sinto uma coisa em mim. Você tem ir logo.

- Tá, já vou. Se Rosie e Hector vencerem eles vão te ajudar. Caso não, volto rapidinho com um kit de primeiros-socorros. Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem... - disse ela, saindo, quase aos prantos.

A moça seguiu correndo pelas direções que memorizou com Hector no mapa para chegar à sala onde Anthony conservava suas experiências. Abrindo a porta devagar, ela teve a sensação de não estar só.

O lugar era amplo, mas o chamativo foram as câmaras criogênicas com válvulas mantendo preservados os corpos de pessoas inocentes. Ramona tapou a boca horrorizada.

 - O verdadeiro monstro... é o responsável por isso.

- Tem razão, princesa. - disse Anthony, aparecendo de supetão. Ramona sacou uma arma, apontando. O homem a tirou dela movendo sua mão, ou seja, telecineticamente.

- Como fez isso? Ah sim... Um bruxo. Não é? Por que tá fazendo essas coisas horríveis?

- Em primeiro lugar: Mago. E em segundo: É tudo pela emoção de obter um status elevado. Um grã-fino como eu não se contenta com coisas pequenas para torna-las grandes. Torne as coisas grandes... maiores do que nunca foram. Deve saber da lenda de Cérbero. Quero traze-lo a mim.

- O cão do Inferno de mascote?! Até parece...

- Eu fiz o impossível! Sacrifícios que não foram em vão. O sangue que minha cria nutre com sua alimentação é compartilhado comigo. A partir dele, magicamente reforçado, posso realizar um ritual para trazer Cérbero ao nosso mundo, domestica-lo... e exterminar cada mago e bruxa da minha lista. O que vier depois é lucro.

Um click foi ouvido. Ramona percebeu meio tarde que era Hector apontando uma arma para o mago.

- Hector... Não chega perto, ele pode te enfeitiçar.

- Ele tem o poder, mas não uma mente genial.

- Engana-se, intruso.

- O meu irmão corre risco de morte por sua causa! Aquele monstro o mordeu fundo na perna e ele sente péssimo...

- Oh, que pena. - disse Anthony, tirando um relógio de bolso - Receio que o miserável não tenha tempo bastante. Dez minutos separam seu irmão da morte, querida. A princípio, ele pode imaginar que é uma transformação, mas não. Está morrendo, definhando gradualmente.

Ramona chorava copiosamente.

- Já chega. Considero um blefe. - disse Hector, atirando três vezes. As balas sequer aproximaram-se, pairando e caindo depois. - Anthony... unir ciência e magia para um objetivo maligno é insano. Destrua esse egoísmo e ajude a família do seu irmão!

- Eles são um caso perdido. Assim como eu. - disse ele, mantendo-se de costas.

Paralelamente, Rosie tenta procurar o "Cérbero" que escapara, mas tombou com os meta-simbiontes num corredor escuro. Um raio iluminou os furiosos licantropos.

- Desculpa, rapazes. Tenho energia pra gastar com um algo maior. - disse, logo correndo.

Na sala de experimentos, a tensão continuava.

- Me dá o antídoto. - pediu Ramona - Te suplico, por favor. Meu irmão é meu tesouro mais sagrado.

- Clamando por misericórdia agora é? Tarde demais.

A porta alternativa recebeu batidas violentas. Hector afastou-se, temeroso. Na sexta batida, ela fora arrebentada, com o "Cérbero"invadindo a sala, suas três cabeças rugindo ferozmente. O corpulento monstro tentou avançar contra Hector e o mesmo revidou com balas. Anthony empurrara o caçador contra a parede com telecinesia, separando-o da arma e focou sua atenção na criatura.

- Sou o único capaz de para-lo. Quiescis. 

A besta curvou-se ao mestre num instante. Hector fica surpreso.

- Então realmente utilizou magia. Ele responde muito bem.

- Ele morrerá em breve. Sempre evitei contar ao seu... eu-humano. Determino uma valdiade para cada um deles. Em 20 anos só liberei apenas três, este é o quarto e sua atividade data de 3 anos.

- Peguei documentos sobre pessoas desaparecidas nos últimos 20 anos antes de virmos para cá. Havia uma última... Jason Bartan. É ele?

- Sim. - Anthony entristecera-se - Era como um filho meu.

- Anthony... ainda há uma chance para apagar seus erros. Basta você acreditar e querer.

Rosie atravessara a outra entrada correndo e os meta-simbiontes vindo atrás que repararam no "Cérbero" aquietado e tentaram atacar. Mas Anthony agira rápido e fechou seu punho erguido inflgindo combustão espontânea nos licantropos que foram reduzidos a pó simultaneamente.

Os gritos alvoroçoados cessaram. Mas o "Cérbero" resolveu atacar o próprio mestre. Ramona, em ação rápida, pegara seu facão e correra, logo decepando a cabeça do meio com toda sua raiva.

O corpo da besta caiu duro feito rocha e a cabeça rolando com uma trilha sangrenta.

- Agora tem uma boa razão pra me dar o antídoto. - disse ela olhando para Anthony que soltara Hector. - Minha teoria estava correta. As outras duas cabeças eram apenas protuberâncias evoluídas.

- Precisei desfazer o encanto de domesticação para matar os invasores. - disse Anthony vendo Hector sacar algemas.

- Onde está Elliot? - perguntou Rosie.

- Ele foi mordido e só precisa de um antídoto que certamente existe.

- Não teria criado um se não houvesse possibilidade de falha no experimento. - disse Hector - Vamos Anthony, é sua última chance. Não tem mais nada a perder.

O mago andou à um armário de ferro e retirou uma seringa cheia dum líquido verde, entregando-o à Ramona. Logo seus pulsos foram algemados.

- Honestamente, a ciência me parece o lugar onde me encaixo. Comprarei as terras do meu irmão para fundar um centro de pesquisa científica, garanto.

- Pode se redimir explicando seus novos planos para a polícia. - disse Hector. Ramona correu para dar o antídoto à Elliot. - Rosie, pode leva-lo pra mim? Eu vou pela outra porta verificar se não há mais meta-simbiontes. A jovem concordou e conduziu Anthony. O caçador olhou para o "Cérbero", retirando um mini-pote de vidro do bolso interno do sobretudo.

                                                                                       ***

Na manhã seguinte, Rosie e Hector juntos despediam-se dos irmãos caçadores as quais foram de grande ajuda. Eles entravam num carro com motorista contratado pelo DECASO para leva-los à terra natal até o dia do teste que decidirá o futuro de ambos.

- Estão convidados pro casamento hein. - disse Ramona. - Não se esqueçam.

- Pode deixar, não subestime nossas memórias. - disse Rosie - Vocês mereceram. Não é incrível? Uma Legião novinha e exclusiva do CDC.

- Tudo graças à minha maninha. - disse Elliot, orgulhoso - Se não fosse pela coragem dela, nem teríamos nos tornado candidatos potenciais. Né amor? - perguntou, beijando-a na boca.

- Podíamos fazer isso mais vezes? Já fiquei com saudades. - disse Ramona, meio triste meio feliz.

- Nós também. - disse Hector - Espero que trilhem um caminho repleto de boas vivências. Boa sorte.

- Obrigada. Até loguinho. - disse Ramona. O vidro subira e o carro dera partida.

A dupla ficou a observar os irmãos partirem esperançosos.

- Fiquei na delegacia com o Anthony e quando saí... refleti um pouco. - disse Rosie - Será que o passado pode voltar de alguma forma?

- De várias formas. Nunca da mesma. - disse Hector, logo tocando-a no ombro para aproxima-la. A jovem encostou sua cabeça no ombro dele.

                                                                                 ***

QG Alternativo do Exército Britânico 

Na prisão, Mollock saboreava mais um pote de sangue trazido por Hector, chegando a lamber os resquícios. Satisfeito, devolvera ao caçador que logo fechou a porta de vidro reforçado.

- Percebo que está saciado. - disse Hector - Sentiu um sabor... atípico?

- O que tem neste sangue, afinal? - perguntou Mollock - Tenha certeza de que é um sabor tão atípico que me revigorou em segundos.

- Este não é um sangue comum. De nenhum demônio. Retirei de um licantropo não-natural cuja biologia foi reforçada por magia de seu criador. Pensando bastante, acabei me perguntando porque deixou Eleonor viva após conseguir o feitiço de teleporte? Poderia ter drenado seu sangue.

- Eu precisava unicamente do feitiço. E estava obcecado pelo poder, focando minha mente num patamar ainda maior. Magia humana não me serviria.

- Agora que revitalizou suas forças - disse Hector -, pode hipnotizar Derek. O faça esquecer de todos os indícios suspeitos relacionados a Rosie.

- Farei isso hoje mesmo. Mas reitero que sairei desta cela, Hector. Tive visões tenebrosas... sobre algo habitando nos mais profundos confins do Tártaro. - inclinou para ele - Algo quer se libertar. E quer minha servidão absoluta. Portanto, fiquem espertos. Há pouco tempo enfrentaram o que vinha de cima... mas o que vem de baixo... pode ser ainda pior.

                                                                            CONTINUA... 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.rtvcanal38.com.br/2014/09/28/eleicoes-2014-bala-de-prata-prometida-por-requiao/

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