Crítica - Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Homem-Aranha em treinamento.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
É um título honesto, há de se concordar. Após uma franquia que não rendeu um conjunto narrativo tão sólido quanto se esperava, ocorre uma nova tentativa de emplacar o teioso nos cinemas numa nova encarnação desta vez interpretada por Tom Holland que fez sua estreia no ótimo Capitão América: Guerra Civil (quero muito um dia fazer review da trilogia do bandeiroso) trajando o uniforme que definitivamente é o melhor de uma representação cinemática do herói. Ainda sobre o uniforme, é excelente num todo, repleto de upgrades interessantes, cortesia de ninguém menos que Tony Stark - para o imenso alívio deste que vos escreve não vai além do limite pré-estabelecido pelo roteiro que impõe a menor coadjuvação possível dada ao playboy bilionário que é reconhecido, na pele de Downey Jr. por sua inclinação em roubar a cena. E gostaria de pontuar sobre ele brevemente: Sua relação com Peter consegue divertir e convencer, dando verdadeiramente impressões de um vínculo que se ora não indicia algo entre mestre e discípulo ora acaba por ser como um pai disciplinando um filho e nesse ponto o Peter é a coisa mais próxima disso que ele teve na vida (sofrendo por antecipação ao lembrar do spoiler que levei de Guerra Infinita).
Peter Parker é um jovem de 15 anos em plena jornada experimental na pele de Homem-Aranha. Mas será que um adolescente imaturo e meio atrapalhado merece ser chamado? Do início ao fim, temos um seguimento bem linear buscando a realização de um jovem que deseja praticar o heroísmo de maneira adequada e experiente. Mas uma fase com esse tipo de ascensão e ainda mais tendo Stark como fornecedor de apoio material e disciplinário requer aprendizados sucedidos de erros. O filme visto por cada ato dá na mesma: É Parker aprendendo a ser Homem-Aranha sob orientação de um vingador proeminente. Uma abordagem coerente e nada trocável por qualquer outro reboot. Dá uma sensação de estar tudo muito corrido? Até que sim, mas a condução e o desenvolvimento compensam. Só a ação em geral mesmo que soa atrapalhada com cortes do tipo "se piscar perdeu".
A escolha para o vilão é consciente e pôde se encaixar naturalmente com a linkagem proposta com a trama de Os Vingadores e Vingadores: Era de Ultron. O Abutre não saiu da Oscorp (nem sinal de Harry Osborn nos corredores do Midtown, nem um easter-eggzinho ou menção a existência do pai e do filho), é um cara que deseja traficar (foi isso que entendi) armas de tecnologia alienígena. E como esse mundo é pequeno, o vilão é, por uma coincidência absurda, o pai da garota-paixonite do Peter, assim aproximando núcleos que a princípio estavam tão desconectados. Plot twist conveniente é plot twist bem feito. E bem feito não é algo que possa ser atribuído ao uniforme do Abutre, mas pelo menos o Michael Keaton não desaponta na atuação construindo seu Adrian Toomes ameaçador.
Outro grande acerto é a relação de entre Peter e Ned, o melhor amigo que parece estar inserido no filme somente para ameaçar a identidade secreta e acaba não trazendo uma boa sorte ao parceiro seja na escola ou numa festinha. Se não fosse pela lerdeza de Ned em levar a bateria Chitauri para o decathlon, não teríamos sido brindados pela ótima e tensa sequência de salvamento no monumento à Washington. Desse núcleo colegial se destacam positivamente a garota interpretada pela Zendaya (sou péssimo em pegar nomes de coadjuvantes menores) com a qual eu pude me identificar sobre ficar de cara nos livros e se manter meio isolada e como negativo eu assumo que esse Flash Thompson que colocaram é uma porra. Suavizaram demais a questão do bullying, transformando o Flash num implicante que só intimida, fala mal por trás, faz chacota e pronto, nada existe do brutamontes valentão que pega qualquer garota bonita e sacaneia o Peter a ponto de querer agredi-lo. É um estereótipo ultrapassado, eu sei, porém nada custava ser fidedigno a contraparte nas HQs.
Além de tudo isso, não posso deixar passar um agravante que permeou os dois filmes da franquia anterior da Sony e que, infelizmente, embora não na mesma quantidade, se repete aqui proporcionando o mesmo incômodo. Estou falando de tirar a merda da máscara quase que o tempo todo. Ah, claro, tinha esquecido que o pessoal da Sony (ou parte dele) que cuidou dos longas água-morna do Aranha-Garfield está por trás da produção por conta do acordo que trouxe o herói de volta à sua verdadeira casa. Por exemplo, na cena em que Peter e Stark estão acima de um edifício conversando, logo após o ferroso arrumar a bagunça na sequência do navio, ao meu ver, não existia muita necessidade da máscara ser retirada, podiam muito bem dialogar tendo Peter mascarado, acho que até geraria um impacto maior pela decisão do Stark em confiscar o traje devido a irresponsabilidade do seu pupilo (esperar o quê de um adolescente comum que parece ter acabado de adquirir esses poderes?). E uma pena (nada tão decepcionante porque o filme se desenrola bem) que seguimos daí até o ato final sem o uniforme legal e Peter, que como todo adolescente tem um ímpeto de rebeldia, insiste em frear os planos do Abutre utilizando seu traje convencional, traje este apropriado à natureza do contexto sobre o Homem-Aranha estar ainda em plena construção, heroica e moralmente, para no futuro tornar-se um herói independente e não apenas um aprendiz que a todo conflito de "grande importância" precisa provar seu valor àquele que lhe deu a oportunidade.
Considerações finais:
Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que o personagem necessitava para se restabelecer firmemente nos cinemas, trazendo uma espécie de sequência de Guerra Civil focada no herói-surpresa na batalha entre vingadores e, sobretudo, no quanto ele ainda é inexperiente. O Homem-Aranha de Holland ainda tem muito o que aprender, mas recebeu um longa divertido (o melhor desde Homem-Aranha 2, arrisco dizer) que é a completa tradução do que representa a famigerada e icônica frase das histórias do amigão da vizinhança: Com grandes poderes, vem uma grande responsabilidade.
PS1: Passou a impressão que a cena do navio tentou meio que emular a insuperável sequência no trem em Homem-Aranha 2. A chegada triunfal do Stark antes que a coisa ficasse feia apagou esse pensamento, não passou de pura referência.
PS2: Que erro grotesco na cronologia do MCU. Os caras passaram oito anos traficando e aprimorando armas alienígenas na maior tranquilidade, sem nenhuma ameaça de interferência...
PS3: Choker como um capanga do Abutre?! Não me desceu, parecem ter desperdiçado um vilão.
PS4: Homem-Aranha vs. "Vingadores" (se é que me entende). Melhor cena onde mostra o ponto alto da performance que mais se aproxima de como o Aranha é nos quadrinhos.
NOTA: 8,5 - BOM
Veria de novo? Sim.
*A imagem acima é propriedade de seus respectivos autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://www.papelpop.com/2017/07/nove-motivos-para-assistir-homem-aranha-de-volta-ao-lar/
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