Crítica - Bright


O ponto fora da curva dos filmes de parceiros policiais. Mas de que isso serviu?

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Sob a marca Netflix, na época em que a gigante do streaming ainda era considerada uma positiva referência de qualidade (alguém hoje ainda considera?), Bright teve seu lançamento no final de 2017 estabelecendo uma mistura inusitada de realidade e fantasia, mais especificamente pondo em coexistência criaturas mágicas como orcs, fadas, duendes e ogros com seres humanos, prezando por um enfoque em ambientações urbanas e pautando sua trama no jogo duro que é a rotina da polícia norte-americana no combate à gangues criminosas, sejam elas integradas por orcs ou por humanos. No filme, os orcs (que parecem ter vitiligo) são uma espécie que frequentemente é alvejada por discriminação (a convivência harmônica dita na sinopse deveria estar entre várias aspas), logo não são tratados como pessoas tais como os indivíduos humanos, isto porque ao longo dos tempos passaram a estar associados à criminalidade, mas um deles conquistou um feito que incomodou a ambos os lados. O orc chamado Nick Jakoby se formou policial, passando a ser igualmente rechaçado por seus colegas de trabalho e pelos irmãos de espécie. O longa abrange um universo do presente que busca traçar paralelos reais à medida que vai alinhando o enredo fantasioso. Porém, bateu tudo no "liquidificador" para sair uma gororoba de sabor indefinido.

Daryl Ward (Will Smith) é o parceiro humano de Jakoby no Departamento de Polícia de Los Angeles que não é lá muito tolerante às criaturas, sobretudo aos orcs, e guarda mágoa de um episódio controverso envolvendo o próprio Jakoby e a fuga de um bandido que baleou Ward supostamente permitida pelo orc policial (que já tinha uma má fama pelo simples fato de compor o time de oficiais da lei). Na relação de trabalho, Ward e Jakoby começam com energias antagônicas que durante as missões vão tornando-se mais compatíveis e quando a verdade finalmente vem à tona a dupla supera a falta de confiança que por pouco não se permaneceu depois que um grupo de policiais corruptos coage Ward a matar Jakoby para tomar posse da varinha mágica que é artefato de acirrada disputa com muitos jogadores no páreo (humanos, orcs e elfos, pra ser exato). Numa ação audaciosa e desesperada, Ward mata os quatro policiais que iriam mata-lo (e também Jaboky) já cientes de que ele iria se opor ao acordo, fazendo a escolha certa que é proteger a varinha e aquela que encontraram a portando, uma elfa chamada Tikka que é uma bright. E o que diabos são brights? Seres raros que podem manejar qualquer varinha mágica sem morrerem. Eu que já não esperava uma coisa estupenda e maravilhosa disso, me contentei com a possibilidade de me agradar na medida que o roteiro pudesse mostrar do mínimo realmente agradável. E foi tão mínimo que não senti meu tempo compensadamente investido. A trama é fantástica, mas apenas num único sentido, além de não funcionar organicamente.


A direção competente de David Ayer leva os personagens para os caminhos perigosos que rendem as sequências de ação com bastante tiro, porrada e bomba. Inicia ágil, mas no ápice da competição pela varinha capaz de alterar a realidade vai numa desacelerada que proporciona cansaço. Quando eu não boto fé numa proposta de enredo mirabolante, quase sempre me certifico. Por outro lado, a trama em torno de Jakoby que o atormentava (mesmo ele não externando sentimentos que ilustram sofrimento pela segregação que ele e todos os orcs lidam- até porque expressar linguagem corporal com aquele monte de efeitos na cara é uma tarefa que requer um esforço inimaginável) tem algum valor aproveitável, tendo um fechamento consistente assim que o orc revela a verdade à Ward de que o orc que atirou nele havia fugido e na perseguição o perdeu, depois encontrando um outro orc que acreditou ser o atirador, mas descobriu com seu faro que não se tratava de um orc criminoso e muito menos o que feriu Ward, pois o mesmo só estava grafitando e então Jakoby o ajudou a escapar antes que os policiais o pegassem para atirar primeiro e perguntar depois (ou só atirar). Eu não conheço a realidade dos EUA (ou a realidade de um passado áspero) o suficiente para ter certeza de que é uma crítica sólida, mas não duvido que hajam ou existiram antigamente em maior número casos de policiais que não sabem fazer distinções nas abordagens podendo agir de forma precipitada (e com isso não quero fazer generalização tendenciosa, afinal tenho muito respeito por essa profissão).

O terceiro ato se arrasta num tom dramático fingindo levar a sério toda a briga pela poderosa, perigosa e luminosa varinha (envolvendo o clã Inferni onde a proprietária original da varinha, a elfa Leilah, é uma jogadora difícil de despistar) após Ward e Jakoby, depois de muitas escapadas e confrontos, serem capturados por uma facção de orcs (nomeada Fogteeth Orcs) cujo líder, Dorghu (surpresa: ele também tá interessado na varinha!), é pai do orc que atirou em Ward, chamado Mikey. Dorghu obriga seu filho a matar Jakoby, porém se recusa pela gratidão ao salvamento, fazendo o pai tomar a arma e disparar contra o orc policial. É claro que uma cena de tamanho impacto não poderia ficar tão boa sem aquele Deus Ex-Machina da suprema conveniência. Tikka o ressuscita graças ao poder da varinha e o sabedoria magnânima dos Fogtheeth avisa que isso é parte da tal profecia (sim, ainda tem uma profecia apocalíptica sobre um mal diabólico que Leilah quer trazer para o mundo). Num momento de sufoco, Ward arrisca sua vida para usar a varinha e provocar uma explosão e... Nossa, ele não morreu! Isso só pode significar uma coisa. Sim, Ward é um bright (o roteiro quer que você se surpreenda com isso heheh). Ao menos o clímax enfadonho se finalizou com uma boa cena de companheirismo com Jakoby salvando a vida de Ward no incêndio.

Considerações finais: 

Bright é um filme que desmede a esquisitice do seu roteiro (a produção não se deu conta do quão destoante é colocar seres como orcs, elfos, e fadas para interagir com um mundo futurista, provando que a falta de senso de ridículo é um requisito primordial para esse tipo de ideia), resultando nessa pernóstica combinação de fantasia e realidade, dois alvos na mira, mas somente um acertado. A trama da varinha é pouco instigante, pouco abrangente, pouco interessante (pouco em quase tudo!), com escassos instantes que valem um acompanhamento mais concentrado e na maior parte deles a ação, prosseguida em toda a sua agilidade, bem a cara de filme policial onde a bala come solta, é o principal elemento que ajudar a manter. Tinha até uma base sustentável pra arrancar uns bons risos involuntários, mas nem isso...

PS1: Forçaram também na quantidade de palavrões, não que eu seja contra incluí-los, haja vista a classificação etária (ou será que a dublagem BR excedeu?). Fica divertido contar quantas vezes o Will Smith diz "merda" na grande maioria dos diálogos nas cenas que ele tá mais exaltado e nervoso. O importante é saber medir pra não acabar empobrecendo o texto.

PS2: Na hora que a fadinha feiosa apareceu de repente pra encerrar o filme eu achei que a tela ia "fechar" com o círculo que vai diminuindo até o fundo preto tomar conta que nem nos desenhos animados (não sei se descrevi bem).

PS3: Sinceramente não sei o que poderiam extrair mais dessa premissa de brights e os c4r4lh0. Foi justamente essa destoação que tornou o enredo bizarro. Tão vasto e tão pequeno ao mesmo tempo...

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Provavelmente não. 

*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.showmetech.com.br/bright-novo-filme-da-netflix/

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