Crítica - The Russian Bride


O perigo dos sites de relacionamento (e não vale para um único lado).

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Esta crítica vai se dividir numa pegada séria e ao mesmo tempo engraçadinha, haja vista que este é um tema de suma importância para inserir em discussão e com relação ao filme algumas características valem aquela zoeirinha básica (eu rachei o bico com certas situações). Esta é outra produção russa (que não é nenhuma super-produção do terror, diga-se de passagem) contendo uma noiva de protagonista (o que conferi anteriormente chama-se A Noiva, cuja review você pode conferir clicando aqui) e que transita entre os gêneros do terror e suspense, com apenas o segundo se saindo melhor na prática. Um coroa chamado Karl Frederick está em busca da parceira ideal e dá umas olhadinhas num site de namoro online para fazer sua escolha (será que ele não sabe usar o Tinder?). A "felizarda" é Nina, uma donzela russa que já vinha de uma relação conturbada com o obsessivo pai de sua filha Dasha, de 11 anos, e no avançar do compromisso atrás dos ecrãs de computador, a hora do encontro presencial finalmente chega e as duas viajam para os EUA para começarem a nova vida de pura ostentação na casa do milionário. Mas a moça parece que se toca de que tem um azar do caramba para o amor.

Curiosa a reação de Nina ao saber da existência do filho de Karl, o pequeno e adoentado Tyler, e da condição de saúde dele, deu a parecer que ele não curtiu muito (poxa, o homem tem pouco mais de 60 anos, além de ser podre de rico, ela esperava que ele passou anos na solteirice vivendo essa vida? Em que universo?), afinal ela tem uma filha oriunda de outro caso, logo ela não tem porque reclamar de Karl possuir um filho de um relacionamento passado, muito embora Karl só descortinasse a triste história do garoto após a instalação de Nina e sua filha na mansão enquanto a própria mostrara Dasha no vídeo de apresentação no site. Só que é exatamente o fato de Nina ser mãe que a torna a escolha perfeita para o ricaço, até porque Tyler necessita de um tratamento para curar seu organismo e Dasha é a doadora certa, mesmo que involuntária. Para a duração de 1h40, o longa desenvolveu de forma bem estável seu ritmo para gerar uma boa transição de clima da expectativa de um casamento feliz e duradouro para o mais completo desespero após as revelações do verdadeiro caráter de Karl que pelo visto foi bem apressadinho para querer se livrar da noiva (o fracassado plano de mata-la no passeio a cavalo sabotando a alça da sela provocando um acidente que só a deixou inconsciente) a fim de garantir que nada o impedisse de sacrificar Dasha para salvar seu filho. Apesar disso, o enredo suprime uns poucos momentos significantes.

A fotografia é um tanto irregular, ora a nitidez se excede, ora se estabiliza. Por outro lado, a qualidade do sangue falso dá de 10 a 0 em muito trash americano. No primeiro ato tudo ganha atmosfera de novela mexicana, algo que (felizmente) vai perdendo-se conforme a paixão doentia de Karl eleva seu nível, mas se fez muito necessária a indicação de passagem do tempo, elucidar que passaram duas ou três semanas (talvez um ou dois meses), para não ficar parecendo que os eventos desenrolaram rápido demais. Palmas para o intérprete de Karl, Corbin Bernsen, dominou o personagem eximiamente a ponto de fazer torcer pela sua morte da maneira mais brutal que esteja em proporção às monstruosidades das quais é capaz (porque psicopata da estirpe dele tem mais é que se ferrar bonito mesmo). Falei do bom ritmo que a convivência do casal segue, porém me referia ao conhecimento de Nina quanto a personalidade de Karl e não ao romance chegando a estágios avançados que é bizarro imaginar irem tão longe em aparentemente pouco tempo (custava indicar o número de dias?), então não sei se Nina fez aquele boquete no Karl logo na primeira noite como "marido" e "esposa" (O_O) e o mais estranho é ela submeter-se tranquilamente ao ato (e a empregada flagrou - que bom não ter sido a Dasha -, de início pensei que ela reagiria mal, mas só fez uma cara de "Humm, Ok, não vou interferir, se chupem aí").

Os dois únicos empecilhos para os planos de Karl são eliminados facilmente pelo mesmo, estes são o tio de Nina, Yuri, que prometeu visitas frequentes à casa, então no caso seria uma pedrinha no sapato do milionário maníaco, e o criado da mansão (cujo nome me fugiu à memória) que é mudo e infelizmente paga com sua vida na virada de casaca que levou à tentativa frustrada de salvar Dasha após acarretar o acidente de carro de Yuri a mando do patrão (o filme nem toca mais nesse assunto a partir disso, por sinal). No seu cárcere, Nina descobre a carcaça putrefata da ex-mulher de Karl numa "passagem secreta" e é a forma de abordagem desse ponto que defino como a maior burrada de todo o filme. Dasha não estava totalmente sentenciada à morte para ser usada na cura do moribundo Tyler. Havia uma salvação e das mais improváveis: nada mais que o fantasma da ex de Karl. Sim, um espírito que está se vingando do ricão por todas as suas atrocidades ajudando mãe e filha a vencerem. O problema é introduzir o sobrenatural quando o plot em si não demandava coisa do tipo para se sustentar (pela sinopse você crê piamente que trata-se de um terror realista mais puxadinho pro suspense). Nina podia cambalear pela casa, sofrendo com suas mãos e dedos deformados pelos tiros da espingarda que levou numa virada de jogo por parte de Karl no primeiro embate, e simplesmente cair derrubando a vasilha com a cocaína de Karl. E partindo disso temos outra bizarrice, porém hilária, o terceiro ato não teria sido o mesmo sem ela.

Nina aspira excessivos quilos de pó e sai loucona, chapadona e sedenta por sangue. Tenho noção dos efeitos dessa droga (não que eu tenha experimentado!!), mas torna-la impulso para transformar uma moça inocente numa assassina psicótica incontrolável foi bem exagerado para acarretar no gore desenfreado contra os médicos cirurgiões "amigos" (entre muitas aspas) do Karl. O gatilho por parte de uma possessão fantasmagórica seria o mal necessário e em compensação até mais "crível" considerando a outra via assumida além da que deveria permanecer como única, mas a noiva-cadáver cumpriu seu papel específico (era pra Dasha só ter confundido o manequim trajando o vestido de noiva com uma pessoa real, mas enfim...) e a sequência de mortes na climatização acertada (especialmente devido aos trovões e relâmpagos) salvou o longa de um desfecho morno e sem intensidade, um ponto de virada agitado e até divertido que terminou plantando dúvidas que ele mesmo devia sanar. Em tempos de desamor, desconfiança e pessimismo, ambos os lados podem representar ameaça nestas relações que florescem às cegas e a ignorância pode vir a cobrar um preço pior que o arrependimento.

Considerações finais:

Se de alguma coisa The Russian Bride serve independente dos seus quesitos técnicos, é basicamente como um serviço de utilidade para quem é propenso a aderir a sites de relacionamento e se conscientizar quanto aos riscos de expor a sua vida pessoal para alguém que você não interage pessoalmente, isso é realmente muito sério. O filme pode chegar ao seu ápice dramático no modo porra-louca, mas traça seus caminhos sem forçar muito a barra para concatenar os eventos à proposta.

PS1: O ferimento no rosto de Nina causado na queda do cavalo certamente fez com que Dasha pensasse que Karl estaria agredindo sua mãe. A avó, por sinal, na hora da partida das duas, parecia pressentir que daria merda.

PS2: De qualquer forma, Karl é um psicopata depravado e abusivo, mereceu morrer como morreu. Salvar o filho é uma atitude nobre, mas desde que o mundo é mundo o argumento dos fins justificarem os meios é falho.

PS3: A polícia chega (atrasada) e o que vem a seguir é uma grande incógnita, restando ao espectador teorizar o que sucedeu-se dali em diante. A Nina foi presa pela matança (tinha marcas de sangue no vestido, além dos objetos que usou para matar conter suas digitais, meio impossível escapar de condenação)?

PS4: Quando vi o cartaz principal achei que fosse a Brie Larson. Já ia pensar "Nossa, essa mulher tá em todas". Claro que ela não aceitaria um papel desses, muita submissão feminina a um macho hétero branco de 60 e poucos anos...

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://bloody-disgusting.com/movie/3483676/russian-bride-slashes-efm-images/

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