Crítica - Morte Instantânea
Já imaginou o quão sem graça seria Premonição com a entidade visível?
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Baseado num curta-metragem com o mesmo título original (Polaroid), o longa tem direção assinada por Lars Klevberg que também comandou a mini-produção datada de 2015. O enredo adota um processo bem semelhante ao da franquia repleta de sequências de mortes profetizadas, colocando seus personagens no centro de uma maldição cujo principal agente vai catando um por um. Mas a comparação termina aí mesmo, pois a fonte de todo esse pesadelo provém de uma antiga câmera polaroide (meio pleonástico isso) com a qual você tira uma foto e a pessoa fotografada automaticamente está na mira de uma entidade assassina que não poupará a ninguém. Um aspecto legal, embora não expresse uma criatividade de ineditismo, e, como referenciado por um dos personagens, bem a cara de creepypasta, é o lance da entidade dar uma de intrometida na foto como uma sombra e a cada vítima feita essa imagem tenebrosa migra para uma outra foto para indicar a morte seguinte. Uma elaboração simplista e que de primeira pode não causar interesse espontâneo, mas senti que podia valer uma conferida e a duração aceitável (1h28) me compele à isso - porque há filmes com durações incompensáveis ao potencial que demonstram, o que passa longe de ser o caso deste terror que não assusta quando realmente quer e precisa.
No prólogo temos duas amigas chamadas Sarah e Linda, ambas mexem na caixa de lembranças da mãe de Sarah e acham a tal câmera maldita, obviamente a primeira se oferecendo para uma foto tirada pela segunda a fim de testa-la. Após a entidade matar Sarah, na única cena suficientemente escura para favorecer o suspense (a ausência de trilha incidental é por muitas vezes obrigatória, o silêncio é um agravante potencializador da reação esperada, mas nem sempre funcional) apesar da intenção de causar sustos ficar apenas nisso - na mera vontade de arrepiar o espectador sem atingir verdadeiramente esse objetivo -, o roteiro apresenta seu foco real, a personagem Bird Fitcher (acho que só nos EUA mesmo pros pais registrarem seus filhos com nomes de animais x_x), uma tímida estudante do ensino médio que trabalha numa loja de antiguidades recebe a câmera de seu amigo Tyler que a encontrou numa venda de garagem. A gente pensa de início que em determinado momento as situações envolvendo os principais alvos da entidade conversarão com o prólogo e se interligando de alguma forma com a morte de Sarah que afirmou sobre a mãe ter obtido a câmera num leilão (eu vi legendado, tenho quase certeza que não li errado), mas tanto Sarah quanto Linda não desempenham mais do que funções introdutórias que são peças de um pré-desenvolvimento a preparar o espectador para as respostas sobre a origem do sobrenatural associado à câmera. Não vou ser chato com a lentidão dos esclarecimentos porque são jovens que à certa altura nem sabem direito com o quê estão lidando (normal se darem conta da anormalidade com a morte de Avery, a anfitriã da festa à fantasia onde Bird tirou a foto em grupo dos amigos que os pôs em perigo).
Em relação aos atores que integram o time marcado para morrer, não servem nem para testes de gravação para a Malhação haja vista que não fazem o menor esforço para reagirem às tragédias, com exceção de Kasey, best-friend de Bird, que faz caras de choro mais críveis, entregando atuações frias e cruentas, melhorando relativamente lá pelo ápice do terceiro ato na luta para sobreviver à entidade após a descoberta do antigo portador original da câmera chamado Roland James Sable (com suas iniciais gravadas nela). A esposa dele, Lena Sable (senhora de uma expressão que eu não gostaria de fitar por muito tempo num ambiente escuro) conta uma versão da história que apoia o pai vingativo contra os valentões da escola que levaram sua filha Rebecca ao suicídio enquanto o xerife Pembroke (Mitch Pilleggi, o único nome conhecido do elenco pra mim), com ligação ao crime descoberta por Bird e Connor num anuário escolar, relata outra que o coloca como culpado, sendo esta a genuína. Roland abusava sexualmente da filha e a fotografava (na versão distorcida de Lena foram os amigos de Rebecca que faziam isso), logo sabendo que os amigos da filha queriam afasta-la dele além de encontrarem as fotos e para eliminar provas incriminatórias e testemunhas ele os matou, tornando-se procurado e por fim morto pela polícia com a câmera na mão. O suicídio de Rebecca foi motivado pela culpa insuportável. Portanto, o próprio Roland é a entidade fantasmagórica ligando-se à câmera como seu invólucro. Uma pena que os efeitos não proporcionam aquela tensão desmedida e empolgante, ficou numa "qualidade" bastante similar ao do "Slender Man de madeira" naquele filme problemático e tosco. E o fechar solucionante não podia ser mais óbvio: Fazer o feitiço se virar contra o feiticeiro. É que há uma condição de que a pessoa fotografada sofre os mesmos danos que uma foto recebe (exemplo: atear fogo na fogo = tocha humana - ou quase) e pela lógica a entidade teria sua derrota garantida caso alguém tirasse sua foto e a destruísse, coisa que a própria Bird, num instante de desespero, consegue (e quem mais conseguiria não fosse num roteiro fílmico?) já que foi perseguida devido a seu (anteriormente despercebido) reflexo na foto dos amigos. Só não entendi muito bem a decisão dela de jogar a câmera num rio sendo que estava livre da entidade, mas... todo cuidado é pouco né?
Considerações finais:
O elemento de inimigo oculto beneficiaria o enredo de Morte Instantânea mesmo que no produto final não houvesse nenhuma equiparidade com Premonição ou com a entidade deixada à mostra num clímax que poderia ser mais perturbador e utilizar de bom proveito a brutalidade para evocar a ameaça do perseguidor incansável (facilmente vencido). A fotografia tá 10 (estável), mas parece que não caiu uma gota de sangue, muito menos ocorreu algum esboço angustiado de horror.
PS1: Avery não deveria ser a última a morrer (das pessoas mais próximas da Bird) por ter tirado uma foto sua após os outros tirarem sem ela? A entidade (Roland) não segue uma ordem? Tyler foi fotografado antes da festa e a sombra foi transferida da foto dele para a de Avery? Tem uma inconsistência aí...
PS2: Lena é igualmente culpada como seu marido pedófilo por ter acobertado seu crime falseando a história. Então Bird deveria tirar a foto dela quando tinha a chance no meio do interrogatório. Será que Roland a mataria?
PS3: Fantasia de Chapeuzinho Vermelho da Bird é econômica, tipo cosplay de Clark Kent.
PS4: Na cabeça desmiolada do Devin, a culpada de tudo é a Bird. É muito justo, afinal ela que mostrou a câmera, fabricou a câmera, amaldiçoou a câmera e fez um pacto com a coisa assassina. Personagem babaca tem que se fudê e acabou.
PS5: Se a pessoa cura o ferimento ligado ao dano na foto... a foto se reconstituí. Nossa, que demais! Isso não é um fantasma, é um deus (hahahahah).
NOTA: 6,0 - REGULAR
Veria de novo? Provavelmente não.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://cinepop.com.br/morte-instantanea-terror-nao-sera-mais-ser-lancado-pela-netflix-saiba-mais-198561
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