Crítica - Doom: A Porta do Inferno
Os demônios exteriorizados.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Adaptação da famigerada série de games homônima, o longa distribuído pela Universal Pictures (com direito a abertura temática) e estrelado por Dwayne "The Rock" Johnson (em sua atuação mais questionável, por sinal) e Karl Urban (na pele do mocinho que salva o dia) sequer parece ser uma produção dos anos 2000 - com isso não quero afirmar que o negócio está à frente do seu tempo (só no enredo mesmo, já que a trama se passa numa realidade futurística do ano 2026) -, o que pode ter explicação pelo orçamento praticamente paupérrimo. Isso foi o que saiu de 60 milhões de dólares para basear-se num game de tiro, porrada e bomba em primeira pessoa (quando você "personifica" o atirador principal), mas como tirar leite de pedra é tarefa de eficácia rara (apenas prodigiosos e sortudos conseguem tal façanha) fizeram o que podiam dentro dos limites. Nada de demônios ou criaturas grotescas e bizarras literalmente infernais, a parada é firmada na mais pura ficção científica, não dispensando aquelas explicações prolixas e "complexas", as quais são verbalizadas pela personagem de Rosamund Pike, a Dra. Samantha Grimm (irmã gêmea do personagem de Karl Urban, John Grimm - dá pra ver que são muuuitos parecidos =P), que também assume o papel de "rainha do grito" toda vez que um monstro mutante parte ao ataque (e isso piora quando a treta ganha proporções incontroláveis). Li resumidamente sobre as tramas dos jogos e compreendo a decepção de fãs.
Lembrando que não faço parte da comunidade gamer, nunca apertei botões de um joystick na vida (T_T), então não posso falar com propriedade a respeito dos jogos e traçar comparações, mas, conforme dito acima, entendo que fãs podem ter levado esse filme como um presente de grego. A dissonância com a premissa relacionada com monstruosidades sobrenaturais dos jogos é o fator que prepondera para formação de julgamento, sobretudo aos apreciadores do material de origem (e não quero falar por eles sem nunca ter tido contato direto com o game, apenas estou certo de que desagradou parte desse público e eu ficaria bem chateado se fizessem mudanças duvidosas que fugissem daquilo que um jogo que curti apresentava). Na trama, a humanidade conquistou a viagem à Marte tendo feito até escavações arqueológicas nos territórios do planeta vermelho (enquanto isso, no mundo real ainda permanece travado na cogitação, é bem capaz dos carros voadores surgirem antes de algum astronauta pisar em solo marciano). O The Rock, já naquela época, esbanjava ar de protagonista com sua presença dominante, interpretando o líder do esquadrão de resgate Asher "Sarge" Mahonin (os nomes do meio de cada soldado são codinomes). Para chegarem à instalação que entrou num estado de quarentena, após pedido de socorro enviado pelo cientista Dr. Todd Carmack, a equipe utiliza uma tecnologia chamada de Arca (uma gosma transparente flutuante - parece mais um amontoado de coriza hahah) que os teletransporta para encontrar sobreviventes.
O enredo começa a engatar definitivamente no início da averiguação na zona de perigo com os soldados deparando-se com cientistas infectados pelo cromossomo de origem marciana (C24) usado numa pesquisa cabulosa que envolveu um assassino como cobaia para teste. À medida que o esquadrão vai se deparando com as mutações e sofrendo algumas baixas, as evidências vão se nitidizando com a Dra. Sam revelando que o C24 tem efeitos devastadores em pessoas com traços comportamentais agressivos e psicóticos e são essas que transformam-se nas criaturas mutantes (e pelo que vi, na insistência de John por esclarecimentos, ela tentava omitir isso!) Tão interessante quanto surpreendente é ver The Rock num personagem ligeiramente antagonizado e ainda perdendo protagonismo para o Karl Urban. Sarge só não foi mais insuportável que o doidão e irritante Dean Portman (nunca falta aquele personagem que você torce para ser o primeiro a virar presunto né?), embora a interpretação de Dwayne Johnson nada mais se pareça com um ensaio de falas sozinho de frente à um espelho na maioria das cenas. A ação é grandemente beneficiada pelo suspense, mas passa a ter momentos mais pontuais de impacto quando a situação atinge um ponto crítico, a exemplo de John matando as criaturas que encontrava pela frente após ser um dos poucos a restar (cena em que a atmosfera de game em primeira pessoa toma conta para fins de referência, claro) e o duelo final entre John e um Sarge infectado pelo C24 após se mostrar um grande FDP ao matar o soldado mais inexperiente, o "Kid", por insubordinação devido aos sobreviventes que muito provavelmente não estavam infectados e se estivessem não desenvolveriam mais do que habilidades sobre-humanas (tal qual John, conveniência relevável para equiparar as forças no confronto com Sarge). A porta do inferno diz mais respeito aos demônios interiores materializados.
Considerações finais:
Doom: A Porta do Inferno claramente não foi engendrado pensando nos jogadores de consoles, sendo uma versão mais enxuta e regrada para se distanciar da fantasia sobrenatural com baixo orçamento que impede monstros de caracterizações melhores de estarem ao alcance da produção. Ainda assim, tem um suspense envolvente e, no mínimo, consolador.
NOTA: 7,0 - BOM
Veria de novo? Provavelmente sim.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para lustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://ar.tviso.com/media/movie/1101/doom-la-puerta-del-infierno
Comentários
Postar um comentário
Críticas? Elogios? Sugestões? Comente! Seu feedback é sempre bem-vindo, desde que tenha relação com a postagem e não possua ofensas, spams ou links que redirecionem a sites pornográficos. Construtividade é fundamental.