Crítica - Colombiana: Em Busca de Vingança
Estratégias de vingança e seus custos.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
O que pelo cartaz de divulgação parece apenas mais um exemplar clichê de filmes sobre vinganças por assassinatos de familiares, na verdade guarda uma pérola contemplativa que foge de caminhos fáceis para traçar a narrativa de um protagonista que não tem medo de sujar suas mãos de sangue para pagar na mesma moeda o que fizeram com suas pessoas queridas. O sentimento de grata surpresa começa a brotar logo nos minutos iniciais com o prólogo estendido em 30 minutos ambientando os primórdios da trama em 1992, estabelecendo as raízes do conflito que cimenta o objetivo de Cataleya (Zoe Saldana) com as mortes brutais de seus pais pelas mãos de traficantes em Bogotá, na Colômbia. O pai de Cataleyia, Fabio Restrepo, estava confiante de que a facilidade de entrar na máfia era a mesma de sair, pedindo ao chefão Don Luis Sandoval para se desvincular da organização criminosa, o que ele categoricamente nega e envia seus asseclas, liderados pelo ardiloso traficante Marco (Jordi Mollá), o melhor homem a seu serviço, para eliminar Restrepo e sua esposa, Alicia (interpretada por Cynthia Adday-Robinson, atriz de feições muito similares à de Zoe Saldana, por sinal, um ponto a favor e tanto para a escalação do elenco). A pequena Cataleya de 10 anos assiste seus pais serem baleados na sua frente procurando não expressando nenhuma reação de medo naquela situação terrível e tensa, o que mais transpareceu um misto de nervosismo com uma apatia forçada - não é a toa que ela desenvolveu esse sangue frio, afinal cresceu numa família comprometida ao crime, portanto tomou por princípio que atirar para matar quem quer que interceda para arruinar seus planos é uma atitude de bravura e honra. O prólogo é imersivo o bastante para nos prender à corrida desesperada de Cataleya para sobreviver depois que esfaqueia Marco se recusando a dar o "ouro" ao bandido - no caso, um cartão de memória dado por seu pai com informações dos negócios de Don Luis, a orientando a usa-lo como uma espécie de passaporte, além de fornecer o endereço do seu tio, Emilio, também levando a vida na bandidagem morando em Chicago.
Um adendo sobre o prólogo, que soube preparar com bom estímulo para a mudança temporal de 15 anos à frente desse bloco inicial, é que não aparenta ser exatamente um prólogo, que normalmente conta com uma duração menor, está mais para uma primeira fase, um primeiro ato com ares de prólogo esticado. Sai o drama e ação tensionada da fuga de Cataleya e seu reencontro com Emilio (no qual ela derrama as lágrimas que se obrigou a segurar até ali) para dar lugar ao humor simples quando dois policiais prendem uma Cataleya disfarçada se fingindo de bêbada por bater seu carro na viatura, tudo parte de uma artimanha para ser enquadrada e durante o tempo de reclusão poder ficar mais próxima de Genarro Rizzo, um criminoso recém-enjaulado, e assassina-lo à queima-roupa, agindo como uma agente secreta numa furtividade impressionante, para enfim retornar à cela, pôr novamente o disfarce e fingir estar dormindo enquanto os policiais fazem a varredura (e acabam culpando um policial pela morte do bandido por conta da sua arma roubada por Cataleya). Ela performa a figura genuína de uma anti-heroína que não mede esforços para cumprir sua promessa vingativa, podendo ousadamente coagir uma autoridade a ceder às suas exigências para obter uma chance de metros mais perto dos seus principais alvos. A autoridade que fica sob a mira de Cataleya é o dedicado agente do FBI James Ross (Lennie James) que se lança numa caça ao homicida de criminosos facilitada pela alta tecnologia à disposição, logo descobrindo tratar-se de uma mulher que deixa em cada assassinato o desenho de uma orquídea, a flor Cattleya. Outra quebra de má expectativa é o próprio trabalho de Cataleya como assassina profissional, experiente e inteligente não se limitar em alvejar bandidos ligados à máfia de Don Luis, não é uma vingança que segue uniformemente para ir matando um à um dos lacaios do chefão até alcançar ele ao longo de todo o enredo. A personagem basicamente assume um arquétipo de justiceira sanguinária numa cruzada contra mafiosos ao passo que vai ganhando proximidade com seus algozes definitivos. Saldana encarnou bem as forças e vulnerabilidades dela.
Nesse estilo de vida nada saudável, Cataleya deveria pensar mais nas consequências de desfrutar de prazeres normais, como por exemplo vivenciar um romance. Ela forja uma identidade falsa para ser amante de Danny Delaney (Michael Vartan) chamando-se de Jennifer, que não é totalmente uma namorada pra ele (mas poderia ser =P). Mas eis que o cara tira uma foto dela enquanto ela dorme, mostra pra um amigo que mostra pra um amiga que trabalha de frente para um computador no FBI que está, naquela altura, atrás de (adivinha)... Enfim, uma conveniência escrachada para colocar, no fim das contas, a assassina de assassinos frente à frente com James Ross. O bom é que o roteiro não comete apelações que sobre-humanizam suas habilidades, uma hora Cataleya está num mato sem cachorro, noutra é Ross quem se encurrala - para uma coação aceitada em vista de sua família ameaçada por Cataleya (baita covardia, mas assim é o anti-herói... desprezo por princípios moralmente corretos). O duelo final entre Cataleya e Marco delineia o ápice da ação tornando impossível piscar assistindo cada golpe e contra-golpe numa pancadaria que só poderia terminar de um único jeito (ela se sobressaiu sem danos fatais improvisando com escovas de dentes!). Don Luis morrer virando ração de carne para os cachorrões dela, postos dentro do carro que ele usa para fugir, apenas provou (mais do que já estava provado) a inteligência e astúcia dela para impedir que fiquem pontas soltas, parecendo prever atos e resultados confiante de que as probabilidades estão ao seu favor.
Considerações finais:
Com uma ação de tirar o fôlego e desdobramentos de trama bem elaborados, este filme de Olivier Megaton, Colombiana: Em Busca de Vingança, traceja uma anti-heroína singular que vai no encalço dos inimigos fazendo chover sangue e balas por qualquer lugar em que seus alvos estejam. Zoe Saldana, dois anos antes de esverdear sua pele para incorporar uma outra assassina, imprimiu características tanto sensíveis quanto frias que foram expressadas para formatar essa personalidade auto-destrutiva de alguém que transforma a vingança no seu propósito de existência sem mais nada a perder.
PS1: A orquídea que inspirou o nome da protagonista é seu grande emblema, sua marca registrada, o que é evidenciado na cena em que atira contra William Woogard (criminoso com um harém no quarto que curte praticar baguncinhas com as garotas) para fazê-lo cair na piscina de tubarões e ela deixa uma florzinha no chão.
PS2: Emilio nunca apoiou a ideia da sobrinha seguir carreira no crime, isso fica ululante do começo ao fim. O cara podia ser um narcotraficante hediondo, mas estava coberto de razão em não envolve-la nesse tipo de furada, independente da sede de arrancar sangue dos vagabundos que mataram seus pais. Pena que ele, junto de sua mãe, pagou por essa insistência dela que ficou chorando pedindo desculpa...
PS3: O filme num todo não chega a ser 10/10, mas a fotografia sim. Nitidez de primeira.
NOTA: 9,0 - ÓTIMO
Veria de novo? Sim.
*As imagens acima são propriedades de seu respectivos autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagens retiradas de: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-182013/fotos/detalhe/?cmediafile=19784592
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-182013/fotos/detalhe/?cmediafile=19764793
Comentários
Postar um comentário
Críticas? Elogios? Sugestões? Comente! Seu feedback é sempre bem-vindo, desde que tenha relação com a postagem e não possua ofensas, spams ou links que redirecionem a sites pornográficos. Construtividade é fundamental.