Frank - O Caçador #63: "Maternidade Negada"

Aquela noite molhada tornava-se a cada minuto pior para Suzanna que era uma prostituta respeitada pelo comprometimento no seus serviços e ao mesmo tempo detestada pela sua inadimplência quanto à pagamentos de dívidas à certos homens de caráter duvidoso - para dizer o mínimo. Suzanna corria de dois desses cobradores fervorosos já cansados de pretextos e de esperar. Ela dobrou a um corredor pisando nas poças d'água e olhando para os lados desesperadamente procurando um refúgio. Viu uma porta entreaberta, mas não importava se não era convidativo, enfiou-se ali tratando de pegar alguma coisa que usasse como tranca improvisada. Afastou uma cômoda pesada demais para sua condição resistir. 

Suzanna, para seu azar naquela circunstância, estava grávida de sete meses. As contrações dolorosas apenas aumentavam, fazendo-a andar pela casa abandonada cambaleando. Chorando com as dores agudas, ela deitou-se no chão que não parecia ter sido tocado por uma vassoura há anos. Os dois caras caminhavam pelo beco caçando-a. Um deles tinha um porte mais truculento e acabou vendo a porta dos fundos da casa. Guiado pela intuição, levou a mão direita à maçaneta, logo escutando gritos de dor abafados. 

O bebê de Suzanna nascia a partir de um parto que se consideraria normal, embora de um jeito bizarro. 

Os gritos dela se elevaram quando o bebê saía pelas suas costas causando um estrago sanguinolento. Na silhueta gerada pela luz da lua que entrava pela janela isso se tornava agoniante. O choro da criança estava concomitante ao dela. O homem que a perseguia colou seu ouvido à porta. O outro o cutucou perguntando o que estava fazendo, mas logo se deu conta e ambos combinaram de arrombar a porta. Empurraram juntos com os ombros a pesada cômoda para abrir a porta e logo foram entrando, não ouvindo mais choro nenhum, nem da mulher e muito menos do bebê. Por fim, encontraram Suzanna.

- Cara, acho que a gente cometeu um vacilo. - disse o parceiro do homem truculento e de rosto robusto e austero - Vamos dar o fora daqui, tô ficando enjoado, olha pra isso! Cara... Como isso é possível?

O corpo de Suzanna jazia morto com um buraco medonho nas costas dando para sua coluna e as costelas. Não muito longe estava o bebê que havia rastejando centímetros nos curtos minutos de vida que usou para respirar antes de também falecer. Um certo traço de remorso se estampou na face cobrador grandalhão que encarava a prostituta morta daquela forma dantesca com um horror velado. 

   _____________________________________________________________________________

CAPÍTULO 63: MATERNIDADE NEGADA

Dois dias depois

Departamento Policial de Danverous City

Após receber dois dias de folga, Frank havia aproveitado para conversar com o agente Collins por chat para ficar inteirado de futuros planos estrategicamente traçados para recuperar a instalação subterrânea bem como as células-matriz em posse do ESP-47 que se pressupunha não saber o que fazer com elas àquela altura. A conversa online se encerrou quando Carrie bateu à porta do detetive três vezes. 

- Entra aí, Carrie. - disse Frank, fechando a aba do bate-papo. 

- Não é do seu feitio esperar que eu bata três vezes. - disse ela entrando com uma pasta - Tava fazendo o quê?

- Promete não me dar esporro, não surtar comigo e nem ir até a sala do Hoeckler pra xinga-lo? 

- Talvez um esporro sim, dependeria muito do que fosse. Surtar? Depende também. Agora soltar os cachorros pro superintendente? Ele ainda é nosso chefe geral. O máximo que fiz quando ele se engraçou pro meu lado, sendo bem eufemística, foi empurra-lo e correr pra fora. Se estivéssemos no mesmo nível de relação um tanto mais pessoal que você tem com ele, levaria um tapa bem dado. Agora vê se me conta logo o que diabos você estava aprontando.  

- Tá legal, abrindo o jogo contigo: Um agente da ESP andou sendo meu confidente, digamos que... engatamos um coleguismo. 

- O quê? Você amiguinho de um agente da ESP?! 

- Eu disse coleguismo, Carrie. Tem uma diferença gigantesca, mas muita gente, em pleno século 21 teima em confundir.  Ele tem só me repassado informações de planejamentos de contenção contra o meu clone. 

- Vazado informações você quer dizer. E algo me diz que o Hoeckler não tá nem um pouco a par disso. 

- E não tá mesmo, mas dane-se, o cara sabe que também tô atolado nessa lama até o último fio de cabelo. - disse Frank levantando-se da cadeira - E tudo graças a quem? Ao ilustre conselheiro Hoeckler.

- Foi ele quem autorizou roubar seu DNA pra injetar num monstro vindo de sei lá qual inferno? 

- Ele e mais quatro conselheiros bundões, mas ainda assim... depois de tudo que ele fez, as chantagens, encomendar a morte do Ernest, armar pra me jogar na prisão... Ele tá meio que querendo se redimir. 

- O perdoou pelo simples fato de ter usado de sua influência pra tira-lo da cadeia? Sabe lá que tipo de estratagema típico de vilão astucioso ele utilizou pra convencer a Justiça fácil como roubar doce de criança. Além do mais, como se não bastasse, ele parece omisso e relutante em compartilhar o que sabe, levando em conta que o principal motivo dele te ajudar a sair da prisão foi pra somar forças com a ESP.

- Sobre isso, nem me preocupo. Quando o negócio apertar, aí ele coloca o preto no branco. 

- Você tem muita expectativa, sabia? Se liga, de certa forma ele conseguiu o que queria desde o início, não vai pensando que a prioridade era o seu perdão. Os fins valem a pena se os meios forem bem executados. Esse assunto enche o saco, então de volta à programação normal. - disse Carrie entregando a pasta contendo a documentação de um novo caso. 

- Isso aqui parece um típico caso a ser noticiado num programinha policialesco. - disse o detetive, folheando as páginas - Mas cortariam um detalhe: Esse lance de bebê saído das costas da vadia. Entendi porque esse caso é a minha cara. 

- O nome da prostituta é Suzanna, mas só conseguiram sabe-lo através de conhecidos muito íntimos... até demais. 

- Caras com quem ela já transou? Tem dizendo aqui que ela foi perseguida por dois homens que a encontraram morta num apartamento abandonado. Ela tinha uma dívida acumulada em 200 mil dólares.

- É, pelo que indica ela cobrava caro. - falou Carrie num tom de deboche - O relatório não especifica se a dívida era por conta dos serviços carnais ou provavelmente de empréstimo, mas confio na primeira opção. Indicavam clientes pra Suzanna. 

- Oleg e Leopold, os nomes dos meliantes. Tinham passagem pela polícia, mas nunca os enquadraram nos crimes hediondos que supostamente cometeram por escassez de provas. Cafetões sortudos. 

- Ahn, esse Oleg, ele... Desculpa, eu acabei dando o relatório desatualizado. Conferiu a data? 

- Na matéria do jornal... foi há dias. - disse Frank dando uma rápida olhada na primeira página. 

- Oleg foi achado morto na sala do flat dele. - revelou Carrie - Notícia de última hora. 

- Morreu do quê? - indagou Frank. 

- Ahn... - Carrie vasculhava na mente as palavras certas para descrever - Castração sem anestesia. 

- Argh... - disse Frank fechando os olhos intensamente e balançando a cabeça em negação imaginando os horrores que um homem passaria nesse tipo de experiência brutal - Nunca pensei que sentiria pena de meliante. 

- Temos uma fantasminha castradora de clientes e sequestradora de bebês. - disse Carrie. 

- Arrancou as palavras da minha boca. Mas peraí... Sequestro de bebês? 

- Ela estava grávida, perdeu o filho depois de um parto horroroso... Certamente ela quer adotar. 

- Tá com peninha dela agora? 

- Ah para, você sentiu pena do Oleg. A polícia ouviu relatos de mães que flagraram uma mulher com um buraco nojento nas costas tentando roubar seus bebês. Curioso ela não ataca-las. Cada mãe disse ter pedido pra que ela fosse embora e ela o fez. 

- O problema é a incoerência nisso aí. - afirmou Frank, impaciente - Tá fora do padrão. Fantasmas se concentram num específico grupo de alvos. No caso da Suzanna, os caras que tiveram relação com ela. Talvez a abusaram, a estupraram, sei lá. O Oleg foi o primeiro. E o Leopold... 

- Está aqui no DPDC. - disparou Carrie - Esperando ser interrogado. Fique à vontade. 

- Ué, por que trouxeram ele? Estão achando que ele matou a Suzanna tirando o bebê das costas dela? 

- Não, mas pra protege-lo da castradora, a qual estão teorizando ser uma amiga de Suzanna vingando ela partindo da acusação de assassinato. Ele é o único homem mais próximo de Suzanna que pode nos dar muito mais que uma pista de quem a teria engravidado. Ou talvez ele seja o pai. E essa coisa de padrão fantasmagórico... 

- A gravidez da Suzanna pode não ter se desenvolvido normalmente, tem caroço no angu... - disse Frank, preparado para assumir o caso concretamente - Vou lá falar com o Leopold, ele pode nos ajudar a sair do campo das teorias. 

                                                                                   ***

Leopold aguardava interrogatório na sala com os braços cruzados. O robusto homem viu Frank entrando e ajeitou-se na cadeira. Frank sentou-se diante dele colocando com dedos entrelaçados sobre a mesa.

- Você é o cafetão da mulher que morreu após um parto normal mais anormal desse mundo? 

- Me chame de prestador de favores, se achar mais apropriado. 

- Gostei das costeletas. - disse Frank apontando para as costeletas grossas que se uniam à barba por fazer de Leopold - É bem o estilo de caras que trabalham nesse ramo de safadezas e favores. 

- Tá tentando me passar uma cantada? 

- Que nada, sai pra lá. Quero saber da Suzanna: Há quanto tempo ela trabalhava pra você e o Oleg?

- O Oleg e eu éramos sócios e fomos tapeados por aquela piranha desgraçada que nunca pagou um centavo do que devia. 

- Ela aplicou um golpe em vocês? 

- Clonou nossos cartões pra nos deixar falidos, ela queria se vingar dos caras que passaram o rodo nela, caras esses que eu indiquei, muitos deles a procurando para serviços de graça mas que ela não tinha interesse de oferecer pois o protocolo é de uma noite apenas. Quase caímos na bancarrota, mas seguramos as pontas. Quando a dívida chegou num valor exorbitante, fomos atrás dela. 

- Pra mata-la ou força-la a pagar? 

- Uma parte de mim queria esfola-la até a morte, a outra parte queria roubar do que ela tinha. 

- Antes de encontra-la morta você não tinha decidido ainda, né? 

- Confesso que não. Mas a parte do roubo estava falando um pouquinho mais alto. 

- Não se envergonha de perseguir uma mulher grávida independente dela ter sido uma vagabunda traiçoeira? 

- Não ficaria insano de raiva se descobrisse que foi enganado por quem mais amava? 

- Ah, você teve uma fodinha com ela? O filho que ela esperava era seu, né? 

A quietude silenciosa de Leopold ante a questão praticamente eliminava a dúvida. 

- Tá bom, é assim então, né? OK, sem pressão. Aproveita o quartinho de hotel meia-estrela enquanto não pegamos a capadora. - disse Frank se levantando - Ah, mais uma coisa: O Oleg também já levou ela pra cama?

- Assim como os clientes que apresentei, sim. Eu nem sei porque estou aqui.

- Não sabe... Então vai saber agora: Você tem ficha criminal e muito provavelmente estuprou a Suzanna. 

Novamente o cafetão se fechara no silêncio. 

- Até amanhã. - disse Frank olhando com desprezo, logo indo embora. Leopold o acompanhou sair com o olhar sério, ciente de que não manteria segredos dos quais conhecia por mais tempo do que gostaria. 

                                                                                  ***

Era bastante tarde da noite e Francine, uma jovem mulher loira que trabalhava como home-office, sentia-se exausta diante do laptop passadas horas de trabalho. Francine se espreguiçou alongando os braços e saíra da cozinha para ir ao quarto dar uma última espiadinha no seu filho recém-nascido. Mas ao dobrar para o corredor que levava ao quarto do bebê, ela estacou com o cenho franzido olhando fixamente para o cômodo. Uma mulher de calças jeans e blusa preta sem mangas estendia suas mãos para o berço. 

- Fica longe dele! - disse Francine depois de um tempo que ela julgou considerável demais para ficar presa à reação e não partir para a ação. Correu para o quarto, empurrando com violência a mulher estranha de cabelos pretos e pegara seu filho no colo visando protege-lo - Quem é você? - perguntou, logo olhando para a janela que não estava aberta - Eu quero você fora da minha casa agora! 

O espírito de Suzanna levantou-se do chão encarando Francine que tensa demais não reparou no buraco horrendo nas costas dela. Até ali não havia o visto. Suzanna virou de costas, mostrando o buraco tremendo pelo qual dava-se para vértebras da coluna e cavidades de carne viva. Desapareceu. 

Francine tremia não tirando da cabeça a imagem do buraco nas costas da invasora, segurando o filho com mais firmeza. O bebê começava a chorar devido aos gritos de Francine. 

- Shhh... Tá tudo bem, ela já foi. - disse ela mantendo a perplexidade de ver Suzanna desaparecendo como um fantasma. 

                                                                                    ***

Departamento Policial de Danverous City

Frank parecia ter entrado na sala de interrogatório chutando a porta dando o maior susto em Leopold que dormia sobre mesa. 

- Agora você vai desembuchar, seu infeliz. - disse ele, agarrando-o pelas golas da jaqueta preta.

- Como assim? Já é de manhã?

- Prometo dar um bom dia se você assumir com toda a honestidade que é pai do bebê da Suzanna. 

- Você chegou transtornado, pensei que tava acontecendo uma rebelião. O que foi que rolou? 

- Minha assistente acabou de me falar que mais uma mãe teve seu filho bebê alvejado. 

- O que eu tenho a ver com isso? 

Frank o soltara, indo sentar na cadeira para esfriar a cabeça e conduzir um novo interrogatório. 

- Não me chama de maluco depois do que eu contar pra você. A Suzanna... se tornou um fantasma obcecado e maligno que além de cortar o bilau dos seus antigos clientes, tem tentado sequestrar bebês.

- Sabe por que eu não te contei antes? Porque eu precisava que você me dissesse. 

- Então sabia das mães e pais que foram até a polícia prestar queixa... assim como o fato da Suzanna virar um espírito ruim. Tudo bem, eu entendo você ter esperado, acreditou que... você seria o maluco e eu o cético.

- Agora sim dá pra falar. - disse Leopold, tranquilo - Pois é, eu sou o pai daquele bebê. Eu tinha ordens pra mata-la vindas de um chefe de quadrilha, a renda da minha casa, uma casa de swing... essa renda era inteiramente vertida pra conta dele. Oleg e eu ganhávamos uns trocados e embora tivéssemos aberto a casa, o chefão era quem financiava as despesas e os recursos, precisávamos de fornecedores beneficiados pra mantê-la. A quitação da dívida dela pagaria uma dívida nossa. 

- E o parto da Suzanna? O bebê saiu das costas dela... e não sobreviveu. Como se explica isso? 

- Sei de alguém que talvez possa explicar, mas que não faz nada de graça. É uma das minhas amantes... Tabatha. Se ela vê uma faísca, não se contenta, quer ver tudo explodir. Creio que ela seja uma bruxa e possuída de ciúmes lançou uma maldição em Suzanna e no bebê. Não faz muito tempo que rompemos. 

- Ótimo, me diz onde ela estaria nesse horário. - pediu Frank entrevendo uma possível conveniência de resolução do caso. 

                                                                               ***

Naquela manhã, Francine havia terminado o banho e voltou ao banheiro, ainda de toalha, após secar o cabelo para passar um creme hidratante no rosto. O armário embutido estava aberto e ela pegara o creme. Porém, ao fechar o armário tomara um susto com algo escrito no espelho embaçado. 

"Hoje seu filho será todo meu"

Consternada, Francine tapou sua boca com a mão esquerda, o desespero fazendo-a cair no choro. 

Enquanto isso, Frank estacionava seu sedã prata em frente à uma boate gerenciada pela ex-companheira de Leopold. 

O detetive entrou no local, passando por um corredor de paredes vermelhas iluminado por luminárias amarelas. Para acessar o espaço principal, subiu uma escadinha de dois degraus. Tabatha, mulher caucasiana de seios fartos e cabelos pretos ondulados estava de costas, pondo um dedo de uísque num copinho e virou num único gole rápido. Frank a notou imediatamente, afinal ela trajava um vestido de vermelho vibrante, e foi aproximando-se. 

Ela virou-se para ele sorrindo gentilmente. 

- Hoje eu não atendo investidores. Só às quintas. 

- Mas vai atender um investigador. - disse Frank dando ênfase no "ga" - Sou Frank Montgrow, venho em nome do DPDC - mostrou seu distintivo - e um tal de Leopold me recomendou que eu viesse aqui. Não é o seu ex-amante? Tá quase pegando cadeia com as investigações da polícia a todo vapor sobre as tramoias hediondas dele. Você era do clubinho do swing?

- Eu era diferente das outras mulheres com quem ele saía, estava mesmo disposta a um compromisso sério, mas quando ouviu minha ideia, nunca mais olhou no meu rosto, nunca mais pisou os pés aqui... 

- Ele alegou uma suspeita de que você seria uma bruxa e teria amaldiçoado uma prostituta chamada Suzanna. Acredite ou não, sou especialista em desvendar esses mistérios mágicos, obscuros... - disse Frank, estreitando os olhos. 

Tabatha deu um sorriso de canto. 

- Um caçador. Devia imaginar que a curto, médio ou longo prazo chegaria até mim pra conseguir uma ajudinha. Ou uma troca de favores... - disse ela, passando seus dedos da mão direita ao peito de Frank.

- Meu corpinho tão casto e puro não tá à venda. - retrucou Frank - Se quiser fazer um favor, só aceito se for pra quebrar a maldição que acabou com a vida da Suzanna e a do bebê dela. Você é um monstro, sabia?

- Leopold me trocou pela pior das piores substitutas que ele poderia fisgar naquela casinha mequetrefe. 

- Daí você teve uma crise de ciumeira e meteu o louco pra ferrar com a vida da coitada. Agora fala como desfaz essa merda se não quiser que eu recorra a uma abordagem mais frequente com bruxas. 

- Suzanna não virou um espírito vingativo comum. Ela tornou-se uma Sundel Bolong. 

- Uma o quê? - indagou Frank franzindo a testa. 

- Sundel Bolong. É como se chama o espírito de uma prostituta que é vítima da maldição, mas uma prostituta que esteja grávida. Passei a ser uma stalker do Leopold depois que ele me largou. No nosso último encontro, me declarei, mas não sabia que naquela altura já havia partido pra outra e ainda contou todo felizão que iria ser papai. Nas últimas horas fiquei por dentro dos fatos, conhecia o Oleg, mas como amiga, não como parceira sexual. - disse Tabatha, andando devagar - O feitiço oculto que eu usei afetou unicamente á ela. Leopold certamente tinha um amuleto, ele desconfiava da minha natureza.

- Que a Suzanna não é um fantasma do típico padrão, isso já sei. Ela tá também tentando furtar algum bebê pra viver a experiência de mãe. Sem a maldição com certeza ela atacaria só os ex-clientes. 

- Exatamente, mas favores comigo vem com um preço. Concordando, vai receber meu essencial apoio. 

- Agora lembrei que o Leopold falou que você não faz nada de graça e tá cobrando por um serviço de utilidade pública. Fui. - disse Frank, virando as costas para ir embora pretendendo resolver por sua conta.

- Pode me dar seu número. - sugeriu Tabatha, flexível - Para de fingir que não sou a única saída. 

Frank, numa expressão enfezada, virou-se para ela retirando o celular de um bolso externo do sobretudo.

                                                                              ***

À noite, Frank batera à porta de Francine que prontamente o atendera. 

- Olá, você é a Francine que ligou mais cedo pro DPDC solicitando proteção? 

- Sim, eu mesma. Entre, por favor. 

O detetive adentrou na casa que estava às escuras. 

- Por que apagou as luzes? 

- Se eu disser o que realmente significa, não sei se vai acreditar ou achar que eu pirei. 

- Francine, estudei a fundo o caso dessa invasora de lares... e te digo seguramente que com todas as luzes apagadas vai atraí-la num instante porque se trata de um espírito frustrado, obcecado, mal, sujo... 

- Ainda bem... - disse ela, emotiva - Me sinto abençoada por contar com a ajuda de um especialista nessas coisas que até então eram... surreais pra mim. Quando ela invadiu da primeira vez, o choque não deixou a ficha cair. A gota d'água foi ela ter escrito uma mensagem no espelho do banheiro... ameaçando roubar meu filho, ele só tem um mês. 

- E onde ele tá agora? No quartinho dele? 

- Está dormindo... mas no meu quarto. - disse Francine, falando mais baixo - Preguei uma peça nela. 

Ruídos foram ouvidos vindos do quarto do filho de Francine. O detetive se encaminhou até lá, sacando sua arma munida com balas contendo sal grosso. Chutou a porta com a arma em riste e flagrara Suzanna colocando as mãos dentro do berço. No entanto, ela descobrira que não pegou o bebê e sim alguns brinquedos cobertos pelo pano branco para engana-la. Suzanna soltara um urro cavernoso para eles.

Frank disparou contra ela, mas por estranhamente as balas com sal não pareciam surtir o efeito esperado. Suzanna o arremessou com telecinesia contra um guarda-roupas. O detetive se reergueu para usar os punhos, mas o fantasma agarrou seu braço direito e intencionou quebra-lo virando-o. Mas logo o fantasma levou um golpe na cabeça por Francine que jogara um cesto de plástico nela. 

- Boa pegadinha. - disse Frank saindo do quarto com Francine. Ambos corriam pelo corredor até retornarem à sala onde as luzes acenderam-se num festival de pisca-pisca - Só que ela deixou ela muito irritada. - falou ele preocupando-se. Vasos e porta-retratos foram arremessados pegando nas paredes. 

- Meu quarto é lá em cima, vamos! - disse Francine, aterrorizada - Ah! - assustou-se com um vaso de vidro que atingiu a parede e cujos cacos quase acertaram-na. Frank subiu com ela a escada depressa.

O detetive arrombou a porta, o que consequentemente fizera o bebê chorar.

- Ah essa não... - disse ele, vendo que cometeu um erro. 

Francine foi rapidamente pega-lo para acalma-lo, mas Suzanna tomou a frente aparecendo bem ao lado da cama. 

- Não, não faz isso! Deixa ele em paz, por favor! - gritava ela atordoada. 

Frank mirou a arma nela, mas foi impedido por Francine que tinha medo de que um tiro acertaria o filho.

- Não, não atira! 

Porém, um disparo saio por acidente, atingindo Suzanna que pegara o bebê, mas o jogou como um objeto. Numa pegada ágil, Frank o salvara de espatifar no chão. Porém, Suzanna desapareceu. 

- Não boto fé que ela desistiu. - disse Frank entregando o bebê ainda chorando bastante à Francine - Se me permite, tenho que fazer uma ligação. - o detetive saiu do quarto enquanto Francine acalentava o filho - Tabatha, aqui é o Frank. Prometo te dar uma boa grana.

- São 2 mil. - exigiu ela. 

- Tá fechado... - disse Frank fechando os olhos por uns segundos tamanho seu desgosto - Dois mil, nem mais nem menos. Agora faz o feitiço porque a Suzanna acabou de tentar roubar o bebê de uma mãe que eu tô ajudando e quase chegou a mata-lo parecendo que nem queria mais... Mas espírito corrompido que se preze não joga a toalha fácil. 

- É o seguinte: Há um local de total segurança pra se refugiarem. Uma cabana completamente protegida contra fantasmas. Se não estiverem muito longe, talvez consigam chegar em paz. O feitiço leva um certo tempo. 

- Vindo de uma bruxa de caráter duvidoso, eu arrisco. Me passa o endereço. 

Francine sofria dificuldades de acalmar o filho como se sua angústia fosse partilhada com ele. 

- Francine. - chamou Frank abrindo a porta - A gente vai ter que dar um passeio até um abrigo seguro.

O sedã prata de Frank corria veloz pela estrada que levaria à cabana que Tabatha considerava à prova de manifestações fantasmagóricas e um local mítico. Ao chegarem após o que pareceram horas, Frank desceu do carro abrindo as portas para Francine sair com o filho no colo. Correram para a cabana, entrando ligeiro. Frank encontrou uma tábua média que servia para trancar a porta de madeira. 

- Mas já não estamos seguros? Pra quê trancar? - perguntou Francine. 

- Pra reforçar. - respondeu Frank que recuou uns passos para ficar perto da mãe e do filho - Qual o nome dele?

- Edan. 

- E aí, Edan? Fica calminho que o pesadelo já tá acabando. - disse ele para o bebê. 

A porta sofreu uma batida que os assustou. Suzanna tentava insistentemente arromba-la. 

Frank ficou abraçado com Francine dando amparo emocional à ela que debulhava-se em lágrimas. 

As batidas violentas pareciam não cessar. 

- Calma, uma... amiga minha tá cuidando de afastar esse espírito. - disse Frank - Eu espero. - falou baixinho.

Depois de dois minutos, as batidas pararam, deixando o silêncio reinar. Frank lentamente foi abrir a porta, removendo a tábua. Suzanna não estava visível em parte alguma, indicando que Tabatha havia cumprido o acordo. 

                                                                               ***

Na manhã seguinte, Frank retornara à boate de Tabatha para uma palavra de gratidão. Mas existiam segundas intenções.

- Olha só, quem é vivo sempre aparece. - disse a bruxa feliz ao rever o detetive. 

- Quem se compromete a uma dívida também. - disse ele entregando um envelope com os 2 mil dólares.

Tabatha abrira-o e retirou o dinheiro passando o maço nas narinas sentindo um prazer materialista. 

- Agora que você tá satisfeita e cumpri minha parte... Usa essa grana aí pra pagar a multa. 

- O quê? Do que você tá falando? Que multa? - questionou Tabatha, sua felicidade desmoronando. 

- Atenção, DPDC aqui! - bradou um policial erguendo seu distintivo. Outros vinham correndo atrás dele e se espalharam pela boate - Vasculhem tudo, pente fino geral, andem, andem! Confisquem o que tiver de valor.

- Ma-mas... Que droga tá havendo? Vocês tem um mandado por acaso? 

- É claro que sim, dona. Denúncia por apropriação ilegal. Saberemos mais tarde de que meios escusos você usufruiu pra se proclamar gerente desse pardieiro que será fechado pra sempre, então terá de vir conosco. - disse o policial que chefiava a operação - Obrigado pela colaboração, detetive Montgrow. - apertara a mão de Frank. 

- Foi você, né? Me entregou nas mãos da polícia... depois do que fiz por você, pelas mães dos bebês... 

- Olha bem pra mim. Meu trabalho não é deixar pontas soltas e o seu crime era uma delas. Adeus. 

Frank virou as costas ouvindo uma série de xingamentos por Tabatha. 

Ele deu um sorrisinho debochado ao andar rumo à saída. 

Paralelamente, Leopold fora encarcerado após confirmarem suas ligações com os crimes pelos quais fora acusado e recebeu uma visita nada amistosa... ali dentro. A lâmpada de luz amarela começou a piscar ininterruptamente. Ele levantou-se da sua "cama", amedrontando-se. O pisca-pisca parou com a luz apagada que logo reacendeu. 

- Não... Você não... 

Suzanna aparecera de costas à ele exibindo o buraco terrificante. Olhou por cima do ombro comprofundo ódio e logo virou-se mirando sua mão direita para castra-lo dolorosamente. 

O grito de dor de Leopold ecoou por toda a ala carcerária. 

                                                                                  -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://mystic99blog.wordpress.com/2016/05/02/origins-of-sundel-bolong/

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