Frank - O Caçador #66: "Sorrisos Sangrentos"

Bastante tarde da noite, uma mulher de cabelos castanhos corria desesperadamente por uma rua deserta carregando uma bolsa de couro. Desviou para um beco e foi seguindo pelo labirinto de becos que ficavam mais apertados à medida que se avançava. Ela arriscou uma olhada para trás, porém bateu com a cara numa cerca de arame metalizado e caíra no chão molhado pelas chuvas. Tentou levantar-se, mas já sentira que ele se movimentava pelos prédios, pulando de um em um. 

Quando se levantou, pensou em correr de volta, mas não deu mais três passos. O vampiro pulou ao chão bem à frente dela como se tivesse voado. A mulher retirou um spray de pimenta da bolsa e borrifou na cara do vampiro careca que mostrava as presas pontudas e afiadas como se estivesse sorrindo. Os olhos dele não sofreram nenhum mínimo ardor com o spray e ele continuou aproximando-se de sua vítima. 

Como último recurso, ela sacou uma arma da sua bolsa e disparou quatro vezes, todos esses tiros ineficazes deixando apenas buracos no corpo do vampiro que pulou sobre ela. A moça já se encontrava com as costas no limite do caminho, isto é, encostada na cerca. Aflita, ela gritou vendo de perto as presas do vampiro que abriu bem sua boca para vomitar um líquido vermelho parecido com sangue que derramou sobre a boca dela e no rosto. Mais tiros foram disparados, estes vindos de trás. O vampiro naquela vez sentiu dores e olhou para trás mantendo sua face "sorridente" para a pessoa que atirou. 

Ninguém mais, ninguém menos que Natasha, a caçadora de vampiros britânica. Ela assoprou a fumaça do cano de sua arma e preparou-se para enfrentar o vampiro no mano à mano. Natasha reparou na mulher com o rosto encharcado de sangue enquanto desferia socos e chutes no vampiro, mas não permitiu se distrair. O socou com o punho direito três vezes usando um soco-inglês de prata, causando algumas feridas no rosto do vampiro que resolveu fugir quase tropeçando para outro beco. Natasha olhou para a mulher rapidamente, mas focou-se em capturar seu alvo correndo freneticamente. 

O vampiro não sabia para qual lado seguir, então pensou em colocar impulso nas pernas para pular sobre um prédio, mas um tiro na cabeça destruiu sua oportunidade. Um facão vinha na sua direção e cortou sua cabeça num movimento ágil e firme. O corpo caiu gorgolejando sangue do pescoço decepado e a cabeça rolou pelo chão deixando um rastro sangrento. O executor não era ninguém menos que Frank, aproximando-se do corpo do vampiro e da cabeça saboreando a vitória. 

- Finalmente abati o vampiro turista. - disse ele - Decapitação foi um ótimo teste, pensei que não fosse funcionar. E mesmo morta essa praga ainda mantém o sorrisinho escroto. 

- Frank? - indagou Natasha próxima ao início do beco tendo testemunhado a ação do detetive. 

- Natasha? - indagou Frank, franzindo o cenho ao virar-se para ela. 

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CAPÍTULO 66: SORRISOS SANGRENTOS

Os dois caçadores entreolhavam-se surpresos com a coincidência que novamente os unia para um caso em comum. 

- Meio que aconteceu de novo, né? Nós dois... outra vez nos esbarrando num caso vampiresco. - disse Frank bem-humorado. Virou-se para o vampiro caído e chutara a cabeça dele que bate numa parede - Gol de placa, sanguessuga desgraçado. 

- Isso foi pra me impressionar? - perguntou Natasha com um sorrisinho brincalhão aproximando-se. 

- Não, digamos que... eu ando numa vibração turbulenta que tá me fazendo pegar pesado com os monstros. - disse Frank - Problemas maiores. Gigantescos, aliás. E aí, como estão as coisas lá na Terra da Rainha? E o seu irmão, o Mike?

- As coisas... andam complicadas. - disse a caçadora, pouco à vontade para detalhar - Eu tô em turnê mundial com a minha banda, tenho show marcado aqui e veio muito a calhar já que persigo esse vampiro há meses. Te devo uma por quebrar meu galho. O sorridente aí tinha viagem agendada pra Danverous City. Na verdade, a espécie inteira dele está migrando pra cá. 

- Pois é, claramente ele não é dos vampiros de olhinhos azuis... A mandíbula dele parece que se alarga... 

- É um Catacano. Nunca tinha ouvido falar? 

- Meu pai só encarou uma única espécie de vampiro na carreira toda, não seria diferente comigo. 

- Isso porque os Catacanos são extremamente raros. - disse Natasha olhando-o séria - Mas atualmente estão se agrupando por uma razão especial. Espera... - virou-se para o caminho de onde viera. 

- O que foi? Tem mais um desses vampiros espreitando? 

- Não, quando o vi atacando uma mulher pensei ter a salvado. - disse Natasha direcionando-se ao beco onde a mulher havia sido vitimada pelo Catacano. Frank a seguiu - Mas cheguei tarde, ele já tinha feito seu trabalho. 

- Dá pra ser mais precisa? Uma espécie distinta do vampiro comum, então seu modus operandi também é.

- Estava caçando esse vampiro e não descobriu como ele age? 

- O máximo que eu tive de informação foi que um vampiro de sorriso largo andava fazendo vítimas nesse bairro. - respondeu Frank caminhando à direita de Natasha, entre a fumaça que saía dos bueiros, rumo ao beco - Tinha por mim que fosse mais um vampirinho da noite que não vive sem o colar. 

- O Catacano infecta a vítima sem necessitar de suas presas. - explicou Natasha. Ambos finalmente dobraram para o beco em questão - Ali, ela tava bem ali. - disse ela, apontando para a cerca onde não estava mais a moça - Era de se esperar que tivesse fugido. Devia ter sido mais ágil, me atrasei. 

- Calma, não se culpa por não ter conseguido salvar ela, mas me fala direito esse lance do vampiro sorrisinho não transformar ninguém com mordidas. Todo vampiro que se preze usa os dentes. 

- Quando quer infectar vítimas, o Catacano antes morde um vampiro da noite, mas não exatamente se alimentam dele como uma fonte principal de sustento, eles gostam do sangue humano, mas na intenção de criarem mais da sua espécie não recorrem primeiramente a uma pessoa aleatória que vê na rua. 

- Um vampiro... que se alimenta de outros vampiros. Era só o que faltava. - disse Frank, estranhando. 

- Se alimentam deles pra vomitarem o sangue nas vítimas que escolhem transformar. - disse Natasha, preocupada com a mulher que não pôde salvar do destino sangrento - O que aconteceu com a moça que aquele Catacano atacou. Até pensei em deixa-lo fugir pra ajuda-la, mas... me toquei que é impossível. É uma das piores frustrações desse trabalho. 

- Você tá diante do especialista em desencanto sobre salvar todo mundo. Na ausência de uma cura, não haveria outra escolha senão descer o facão, principalmente se estivesse entregue à sede de sangue. 

- Tem razão. - disse Natasha compreendendo-o, mas mantendo seu desalento - Se eu baixasse minha guarda como jamais fiz na minha vida inteira de caçadora, eu te daria o poder de separar minha cabeça do pescoço. Permitiria que eu fizesse o mesmo com você? E se fôssemos nós dois ao mesmo tempo? Mataríamos um ao outro?

Frank desviou lentamente o olhar para o "nada" com a cabeça um tanto baixa não expressando muita disposição para conversar a respeito de uma hipótese tão assustadora em relação a um trabalho de dupla.

- Olha, Natasha, acho que não é a melhor hora da gente discutir essa possibilidade. Vamos só nos concentrar em desvendar a trama desses Catacanos. Tá afim de fazer uma visitinha no DPDC? A sua fã número um tá louquinha pra te rever. - disse Frank amenizando o clima - Você veio a pé ou na sua motoca envenenada?

- Economizei combustível esticando as pernas. - disse ela dando um sorriso fechado - Vamos, também quero matar saudades. 

                                                                             ***

Departamento Policial de Danverous City

Frank bateu na porta da sala particular de Carrie. A assistente demorou um pouco pra atender. 

- Frank, isso é hora de você voltar? Tô quase no fim do expediente... - cortou a frase ficando boquiaberta ao ver o detetive ao lado da caça-vampiro - Alguém me segura, perdi o equilíbrio... 

- Opa, se é pra dar uma mãozinha, tô bem aqui pra evitar você de cair com tudo no chão desmaiando. - disse Frank. 

Carrie quase chegou a dar pulinhos de alegria revendo Natasha diante dela. A abraçou fortemente. 

- Vão entrando. - disse ela, fechando a porta com empolgação - O que traz minha musa do rock de volta a esta cidade sem futuro? Tenho certeza que é muito mais que um show de turnê. É álbum novo? 

- Vampiro novo. - disse Frank.

- Álbum novo também. - complementou Natasha - Mas a caça de vampiros é a prioridade. 

- Ah lembrei agora, o Frank tinha saído pra caçar um vampiro que muitas testemunhas disseram ter um sorriso de orelha a orelha. Coincidentemente vocês se encontraram e acabaram com a raça dele, não foi? Ah, a propósito, tenho que dizer: seu cabelo continua maravilhoso, você não mudou nadinha.  

- Obrigada. O Frank deu conta do recado. - disse Natasha encostando-se na mesa - Os problemas que temos pra resolver são praticamente os mesmos da primeira vez que fizemos um crossover. Tá lembrado?

- Nós impedimos que aquela vampira oxigenada se tornasse a baronesa dos vampiros. Qual era o nome dela mesmo?

- Ivana. - relembrou Natasha - Depois de Brazileus, os candidatos potenciais foram aparecendo numa frequência maior sem precedentes. Nos últimos seis meses vinha travando batalhas bem intensas. Mas por enquanto as joias continuam seguras e enquanto o inimigo atual não souber onde estão é menos sufoco pra dois caçadores aplacarem o novo exército que anda se formando nas sombras para as pessoas normais, mas bem debaixo dos nossos narizes. 

- Quer dizer então que os Catacanos estão querendo uma fatia do bolo? - perguntou Frank. 

- De fato. Receio que nessa altura já não sejam mais tão raros. Estão se proliferando rápido e com ajuda de um líder que fontes seguras me garantiram que tá disposto a se tornar um novo barão mandando empregados criarem mais da espécie e ao mesmo tempo trazendo para ele mais sangue de vampiro pra que se fortaleça exatamente como Ivana fez. 

- Não tô entendendo nada e vocês sabem o quanto adoro ficar boiando na história. - disse Carrie. 

- Esses vampiros sorridentes chupam sangue de vampiros comuns pra vomitarem nas vítimas e assim consegue transforma-las. - disse Frank - Se eu entendi bem, eles vão se alternando entre beber sangue humano, beber sangue de vampiro e fazer vítimas pra infectar. Mas se ele morde uma pessoa... ela simplesmente morre? 

- Quando estão com sede por sangue humano, mordem até sugarem a última gota. Alternância de ataques é parte do plano, mas estão priorizando o sangue de vampiro para levarem ao chefe que segundo me contaram se chama Leafault. 

- Peraí, com quem você obteve as informações? - questionou Frank - Acredite ou não, de caçador atuante na cidade só restou eu. 

- Sério? Eu sempre pensei que Danverous City fosse o lar de muitos caçadores. - disse Natasha, surpresa - Mas respondendo sua pergunta: Meus colegas de banda fizeram isso por mim. 

- Os integrantes da banda sabem que você é caçadora?! Não brinca. - disse Carrie, atônita. 

- Foi mesmo, eles se misturaram entrando numa festinha rave privada e lá ouviram tudo que eu gostaria de saber. - declarou Natasha, confiante - Leafault é dono de uma casa noturna e tem recebido muito sangue de vampiro pra sua dieta especial. Pra completar a transição, ele almeja um sangue muito mais nutritivo. 

- Deusa do rock, eu te agradeceria se fosse um pouquinho mais direta. - disse Carrie.

- Existem vampiros descendentes da família da qual surgiu o primeiro barão vampírico. Um deles vive aqui em na cidade, inclusive. Nem precisamos derrotar Leafault diretamente, basta irmos à casa do herdeiro de sangue real e fazermos o serviço. - disse Natasha expondo seu plano estratégico despreocupadamente. 

- Gostei porque dá ideia de nos poupar. Mas tem a incerteza sobre o quanto esse Leafault tá forte. Se ele tiver enchido o tanque, vai saber se já não pegou o vampirinho de sangue azul. - disse Frank. 

- Se Leafault o tivesse na palma da mão nesse exato momento, os Catacanos certamente não estariam mais nas ruas atacando gente pra derramar sangue de vampiro da noite, isso seria desnecessário com o plano concluído. - contrapôs Natasha - O que ele tentaria fazer depois seria localizar as joias do poder. 

- Então é isso? Mais um trabalho de dupla? - perguntou Frank aproximando-se dela não muito certo de que a resposta fosse sim - É que por um instante lembrei que você podia ter ficado chateado quando sumi sem mais nem menos ano passado. 

- Ah é, nossa última parceria que foi contra aquelas pessoas possuídas por fantasmas. Eu não me arrependo, nem guardo ressentimento. Acho que Carrie e eu teremos muito papo pra colocar em dia. 

- Pode crer. - disse Carrie, entusiasmada - Mas me digam: Trabalho conjunto outra vez?

- Sem dúvidas. - disse Natasha para Frank que retribuiu com um sorrisinho de satisfação. 

                                                                           ***

No dia seguinte, Leafault, um vampiro que tinha aparência jovial com cabelos castanhos claros meio espetados para frente e vestindo com um terno preto desabotoado, em sua casa noturna preparava um drink de sangue para si mesmo aguardando pacientemente boas ou más notícias que seus subalternos lhe trariam em breve. 

Levou o copo cheio à sua boca para virar num único gole, mas foi bruscamente interrompido. 

- Chefe, chefe! - disse um dos Catacanos servis à ele vindo correndo. 

Leafault virou-se para ele com expressão de raiva limpando a boca. 

- O que é? Não viu que eu tava ocupado saboreando esse delicioso combo de O positivo e B negativo? 

- Desculpa estragar seu momento, mas é que... tem uma notícia séria que tá viralizando sem freio.  

- Alguma outra espécie tão marginalizada quanto a nossa entrou no páreo? 

- Muito pior. - disse o vampiro esboçando preocupação - Asseguraram pra mim que há uma caçadora de vampiros que tem matado muitos de nós nesses últimos dias. Começo a achar que ela sabe muito mais do nosso plano do que deveria.

Leafault considerou partir para um movimento que originalmente estava fora do planejamento inicial.

- Emita o aviso pra todo mundo: Está autorizada a captura de Clayton Cambridge para agora. Vai! 

- Mas já, senhor? - questionou o vampiro. 

- Meus instintos falam, meus instintos mandam. Sequestrar Clayton era o que eu devia ter ordenado a fazerem desde que chegamos. Vamos drenar cada gota do sangue dele enquanto a próxima remessa não vem. 

- Daí estocamos pro gran finale. - completou o vampiro com um sorriso de canto - Genial. 

O Catacano se direcionou à saída a largos passos para comunicar aos demais integrantes da facção. 

Leafault bebeu mais um gole do combo sangrento numa tranquilidade que denotava muita confiança. 

                                                                              ***

O sedã prata de Frank parou em frente à casa de Clayton que possuía um portão de madeira entre dois muros com cercas elétricas em espiral. Em paralelo, o vampiro de sangue real refrescava-se na sua piscina deitado sobre uma boia. 

- Vai ser meio dureza subir nesse muro com essa cerca mesmo desligada. - disse Frank observando. 

- Ou podemos entrar pela porta da frente. - disse Natasha - É um único vampiro que nos levou até aqui, não um ninho. 

- Mas não ele não é membro da privilegiada família real? Pode ter colocado uns guardas, além de provavelmente ele ser mais forte que um vampiro comum. Tem certeza que quer arriscar? 

- Frank, a gente topou fazer essa junto pra enfrentar os riscos ao invés de fugir deles. O que tá havendo com você? Te conheço não faz tanto anos, nem tivemos muitos encontros, mas ainda assim eu sei que não faz seu estilo ficar refém das incertezas, parar pra refletir se as possibilidades estão ou não a nosso favor, você é mais do tipo que mergulha de cabeça. Foi o que eu disse ontem sobre... você sabe. 

Frank novamente mostrou-se resistente em enveredar a conversa para aquele assunto incômodo. 

- Estamos perdendo tempo. Tomara que o vampirada do Leafault não tenha vindo busca-lo. - disse ele. 

Ambos desceram do veículo. Natasha aplicou um chute habilidoso na porta dupla de madeira que abriu-se deixando à vista a espaçosa área gramada repleta de ornamentos e um belo jardim. 

- Os dias de ostentação desse cara acabaram. - disse Frank, pegando sua lâmina de prata afiada. 

- Façamos o seguinte: Você fica de guarda ali perto dos fundos da casa. Eu vou pelo outro lado olhar pelas janelas. Parece estranho, mas seguir por fora estando armada traz mais segurança. - falou Natasha.

- Concordo. Além do mais, podem ter alarmes detectores de movimento dentro da casa. - disse Frank. 

- Pois é, vamos lá. - disse a caça-vampiro indo na frente em passos rápidos, porém cautelosos. Frank seguiu por uma outra direção rumando aos fundos da casa e não passaria do alpendre para vigiar.

Após escutar um barulho relativamente alto com sua super-audição, o qual deduziu vir do portão, Clayton secava-se com a toalha e logo vestiu-se com uma camisa branca e bermuda azul. Foi verificar indo para o interior de sua ampla casa, mas Natasha viera correndo com o facão tentando desferir golpes contra ele que esquivava-se agilmente da lâmina. 

- Quem é você? - perguntou ele. 

- A última coisa que você verá! - disse Natasha não desistindo de executar um golpe decepador. 

Clayton deixou de lado a defensiva ao dar um giro a fim de aplicar um chute na caçadora que a fez recuar e aproveitou para fugir superveloz. Natasha entrou na casa para persegui-lo, porém acabou pisando num botão instalado no piso que acionava um sistema de segurança anti-caçador. Basicamente consistia em alto-falantes acoplados nas paredes do corredor entre a cozinha e os quartos do primeiro andar que produziam uma frequência sonora de vários decibéis acima do que o ouvido humano suporta.

Natasha tapou os ouvidos largando seu facão e caiu no chão com os joelhos dobrados gritando com a dor latejando nos canais auditivos. Ela arrastou-se encostada na parede para ultrapassar o obstáculo, mas viu que seria impossível alcançar Clayton, depositando esperanças em Frank. O detetive viu um grupo entrar pela frente, logo indo avisar Natasha, mas a encontrou vulnerável no corredor. Ao se aproximar, foi também atingido pelas ondas sonoras, cerrando os dentes e fechando os olhos. 

- Frank! - gritou Natasha. 

O detetive sacou uma pistola do bolso do sobretudo e atirou diversas vezes contra um dos alto-falantes, depois noutro, depois noutro... até que finalmente pôde andar sem que seus ouvidos fossem torturados.

- Cacete, depois dessa... acho que vou marcar uma visitinha no otorrino. - disse Frank, recompondo-se. 

- O Clayton tava na piscina... - disse Natasha, levantando-se - Ele escapou. Se você veio até aqui... 

- É porque tem uns carinhas duvidosos lá fora. - disse Frank - Vamos nessa atrás do sangue azul. 

- Espera! É perigoso correr nesse piso, esse sistema de segurança pode estar em qualquer lugar. 

Ouviram passos vindos da sala. Cinco vampiros Catacanos mostravam suas presas com seus "sorrisos".

- São eles. - disse Frank - Ou procuramos o sangue azul ou partimos pra cima dos sorrisinhos. 

O quinteto vampírico enviado por Leafault vasculhava a sala. 

- Apareça de onde você estiver, playboyzinho. - disse um Catacano negro com cabelos de dreadlocks. 

- É, tá sem saída, irmão. - disse outro com cabelos pretos um pouco compridos e lisos. 

- Sem saída quem tá são vocês, panacas! - disse Frank vindo junto de Natasha. 

Um embate violento começara. Natasha alternava entre chutes e golpes com o facão para tentar acertar o pescoço do seu oponente e Frank foi derrubado por dois deles que pularam em cima do detetive que os socou forte, mas perdera o facão. Um estava prestes a vomitar o sangue vampírico sobre ele, mas o detetive dera duas cabeçadas brutas e em seguida um chute na barriga para afasta-lo. Outros dois fugiram para encontrar Clayton. Frank logo o agarrou pela gola da camisa e rapidamente desceu o facão sobre o pescoço do vampiro, algumas gotinhas de sangue respingando no seu rosto. Natasha empurrara seu adversário contra uma estante cheia de objetos de vidro e logo deu um pulo em segundos para desferir um chute potente contra o tórax dele. Por fim, a caçadora fizera o corte horizontal habilidosamente. 

- Boa. - elogiou Frank que foi agarrado por trás pelo Catacano que havia socado e ameaçava morde-lo. 

- Não, Frank! - disse Natasha, alarmada. O detetive dava cabeçadas para trás para faze-lo desprender, mas não surtia efeito. As presas do Catacano quase se aproximavam do pescoço de Frank quando Natasha sacou uma pistola disparando uma bala de prata contra a testa do vampiro que soltara-o. 

Frank aproveitou para dar um golpe vertical que partiu brutalmente a cabeça do vampiro e depois finalizou-o com a decapitação. Depressa eles foram atrás dos Catacanos que fugiram do combate indo procurar Clayton. Passaram por todos os quartos e nenhum vestígio. Foram para o corredor dos fundos onde acharam marcas de sangue no piso.

Frank agachou-se tocando numa delas e analisou a consistência e a cor. 

- É sangue de vampiro noturno. - constatou ele logo olhando para a caçadora - Levaram o mauricinho.

- E ainda fizeram um lanchinho, pelo visto. - disse Natasha, desapontada consigo mesma. 

Era tempo para a elaboração de um novo plano que inusitadamente os levaria a resgatar um vampiro.

                                                                               ***

Departamento Policial de Danverous City

Frank e Natasha foram à sala de Carrie com a decepção estampada nos seus rostos. 

- Ué, que caras são essas? - perguntou ela, tirando os olhos do monitor - Ah não, não vão me dizer...

- A vaca foi pro brejo. - disse Frank, sentando-se na cadeira à frente da mesa - Chegamos lá e o sangue azul ainda tava em casa, mas parece que os capangas do Leafault adivinharam que iríamos naquele exato horário pra invadirem. 

- E conseguiram raptar Clayton. - disse Natasha - Eu não podia deixar o Frank lidando com três Catacanos sozinho pra impedir os outros dois que saíram na frente pra cumprir a missão. 

- Ou seja, vamos ter que... fazer um resgate como plano B. - declarou Frak não escondendo o desgosto - Salvar um vampiro de ser esvaziado. O que me consola é poder mata-lo depois, vai lavar minha alma. Eu pego o Clayton e a Natasha cuida do Leafault. 

- Nossa, a gente criou mesmo uma sincronia perfeita. - disse Natasha com uma expressão de satisfação - Porque foi precisamente esse plano B que fui elaborando no caminho de volta. Por um instante fiquei temerosa e frustrada pela possibilidade do Leafault nessa altura do campeonato precisar unicamente do sangue real. Mas depois pensei bem, mais otimista, e considerei que ele só quis dar uma agilizada. 

- Eu nunca imaginei que eu fosse tão previsível. - disse Frank. 

- Vê pelo lado bom, ao menos vocês tiveram uma mesma ideia porque formam uma excelente dupla marcada por felizes coincidências. - disse Carrie - Mas e o seu show? - perguntou à Natasha - Cadê os ingressos grátis? 

- Carrie... - disse Frank, o cenho franzido, desaprovando a atitude dela. 

- O show? Bem, ele já era. - disparou a caça-vampiro. Carrie estremeceu na cadeira reagindo mal. 

- Como é? Mas por que? Não seria pra daqui há alguns dias? 

- Na realidade seria hoje. - respondeu ela, calma - Na casa noturna do Leafault. 

Frank e Carrie arquearam as sobrancelhas exprimindo suas reações de surpresa. 

- Ah saquei, você quis nos surpreendente esse tempo todo. Mas tô com uma dúvida: Sabia que o cara que te contratou é um vampiro? Ou só soube depois que seus amigos te deram a informação? 

- Digamos que... "esqueci" - fez aspas com os dedos - de mencionar que eles se infiltraram na festinha rave lá na Inglaterra, o que facilitou investigar os Catacanos a ponto de seguir Leafault e sua gangue até aqui. Eles pagaram uma grana alta pela compra da casa pra servir como ponto de encontro de vampiros da noite, Catacanos e vítimas. - retirou do bolso da calça seu celular - Vou ligar pra assessoria e cancelar o show. - digitou o número de telefone fixo da casa noturna e esperou atender. 

- O único show da turnê aqui na cidade foi arruinado. - disse Carrie, tristonha - Malditos vampiros! 

- Olá, eu gostaria de falar com o senhor Leafault Bragandor. Ocupado? Está bem. Pode repassar um recado? Aqui é a Natasha, da banda Darkside, eu queria cancelar o show que combinamos pra madrugada de hoje pra amanhã. - fez uma pausa - Imprevistos acontecem. Ótimo, obrigada. - desligou.

- Espero que o Leafault não esteja ocupado chupando o sangue do mauricinho. - disse Frank - Eu vou te perguntar novamente: Tem certeza de que quer arriscar? 

- E você tem certeza de que quer amarelar? Não esquenta com o que eu disse, não vai acontecer. 

- O que foi dito pro Frank que vocês não querem dizer pra mim? - perguntou Carrie. 

- Uma chance em um milhão da gente ser encurralado na guarda baixa e ganharmos dentinhos de vampiro. - disse Frank, levantando-se - Já peguei vampirismo como se pega gripe, não vai rolar com mordidinha no pescoço. 

Natasha fizera uma expressão que parecia um misto de espanto com dúvida. 

- O quê? Você se tornou um vampiro? 

- Por uma noite apenas. Já sarei e... bem... 

- Longa história. - disse Carrie para Natasha - Depois ele te conta sobre esse dia bizarro. 

- Muito bem, tudo fechadão pra nossa festinha. - disse Frank - Vamos tirar o sorrisinho da cara do Leafault. 

                                                                               ***

Eram duas da manhã e o público da casa noturna composto por vampiros da noite e Catacanos gerava um clima de impaciência e indignação. Muitas vaias foram soltadas para a banda de abertura no palco que tocava há mais de duas horas e nada do show principal começar. Os integrantes saíam do palco na correria após serem hostilizados com arremessos de garrafas e cadeiras. Leafault subia ao palco para contemporizar. Ao se aproximar do microfone, segurou com seu reflexo sobre-humano a última garrafa jogada. Virou-a de cabeça para baixo para ver se sobrava um restinho de cerveja, mas só caíram gotas.

Após largar a garrafa, o vampiro aproximou sua boca ao microfone fazendo um barulho agudo que não incomodou os vampiros já que eram tolerantes a frequências de vibração acima da média. Deu uns tapinhas no microfone e pigarreou para apresentar ao público raivoso a justificativa da ausência da banda Darkside. 

- É com imenso pesar que informo à vocês de que o show da Darkside... foi cancelado de última hora. - disse ele logo recebendo uma enxurrada de vaias e xingamentos - Mas... é com grande orgulho que digo à vocês que um espetáculo vai acontecer. Não musical, mas vai agradar uma boa parcela do plateia. 

Leafault discursava focando seus olhos em vampiros específicos. Vampiros estes da sua própria gangue.

- O show não pode parar. Ou melhor, o verdadeiro show... começa agora! - bradou ele, mostrando suas presas crescidas e seu sorriso largo de Catacano. Os vampiros da noite foram tomados pelos Catacanos que os agarraram mordendo seus pescoços ardorosamente como animais transformando o espaço num festival de ataques sanguessugas. Os Catacanos que terminavam de beber largavam suas vítimas ao chão. Porém, uma visita surpresa chegara com as portas da casa abrindo-se lentamente. Uma lâmina veio girando verticalmente e acertou a testa de um Catacano que caiu enfraquecido. Alvoroçados, os vampiros da noite que enfrentaram seus agressores fugiram com um alarde dado por uma Catacano. 

- A caçadora! - gritou a vampira de estilo punk e gótico e saiu em disparada para as saídas alternativas. 

Natasha entrou destemida segurando dois facões e sendo encarada pelos capangas de Leafault. 

- E aí? Qual de vocês quer ser o primeiro? - perguntou ela, emanando uma tranquilidade plena. 

Leafault, ainda no palco, estreitou os olhos para estudar a face de Natasha, a reconhecendo em seguida.

- Não pode ser... - disse ele, sorrindo maleficamente - Diz que tô sonhando. - deu uma risada - A célebre vocalista da Darkside é a intrépida caçadora de vampiros! Natasha Rockwell! Que prazer recebê-la! 

- O prazer é todinho meu. - disse Natasha indicando desprezo na expressão - Os seus empregadinhos vão ficar aí parados? Sendo assim, eu começo. - falou ela, avançando contra os vampiros movendo suas duas lâminas contra eles intercalando com chutes para afastar o excesso que a cercava impedindo que ela se concentrasse nos vampiros que alvejava com os facões. Leafault assistia maravilhado à performance da caçadora decepando as cabeças do seus servos como um ninja cortando frutas e legumes.

Enquanto isso, Frank andava por um corredor no segundo andar e foi abordado por dois Catacanos que rapidamente tentaram investir contra ele exibindo seus sorrisos infames e largos. Munido de uma única lâmina, Frank lutou contra ambos dando cotoveladas e socos com a mão esquerda. Usou o antebraço direito para colocar um deles contra à parede, passando o facão à mão esquerda. Antes que o outro que havia sido derrubado se reerguesse, Frank cortara a cabeça do que imobilizou e logo virou-se para ele parando a lâmina que ficou a centímetros do pescoço. O Catacano ficou congelado tamanha sua tensão.

- Prometo te deixar com a cabeça no lugar se me disser onde enfiaram o vampiro de sangue real. 

- Pega. - disse o Catacano com a mão direita tremendo ao entregar a chave da sala - Tá no corredor à esquerda, última porta. Agora mostra que é um homem de palavra e não um filho da mãe. 

Frank vagarosamente afastava o facão após receber a chave, fitando o vampiro com desconfiança. 

Mas logo que virou as costas, o Catacano aproveitou a brecha e avançou em Frank pretendendo cravar as presas no pescoço do detetive. Mas ele logo se virou já esperando aquele golpe traiçoeiro e decapitou-o. 

- Tava crente que eu cair na pose de animal dócil. Se ferrou, otário. - disse Frank, mostrando-se mais esperto. 

Paralelamente, Natasha limpava um facão com um pano. Leafault descera do palco olhando o mar de cabeças separadas de seus corpos que quase preencheu o espaço da plateia. 

- Admito que fez jus às minhas expectativas. 

- Que tal superar essas expectativas sentindo na pele o que eles sentiram? Tô pronta pra mais um round.

Leafault gargalhou de modo que Natasha estranhasse a postura despreocupada dele. 

- Ah, querida Natasha... Você é prodigiosa, valente e não brinca em serviço, mas acho que pecou num ponto em especial. - disse Leafault sacando um isqueiro e acendeu-o - Não levou em conta as variáveis.

O vampiro jogou o isqueiro sobre garrafas no chão com bebida derramada e o fogo brotou, instantaneamente acionando o alarme de incêndio. Mas em vez de água, chovia literalmente... sangue. 

Lambuzando-se do sangue passando a língua nos lábios e com a cabeça erguida, Leafault deliciava-se. 

- É sangue... O que significa isso? - perguntou Natasha. 

- Não tá óbvio pra você? Então deixa te explicar: Nós resolvemos apressar o sequestro do Clayton não subestimando você. Mas olha a virada: Você nos subestimou! Eu já tenho sangue suficiente pra minha transição completa e sabíamos que você viria uma hora, cedo ou tarde. Tivemos a brilhante ideia de substituir a água do sistema anti-incêndio pelo sangue real do Clayton pra que eu te esmagasse no momento certo. 

Natasha não esboçava mais daquela bravura confiante de início. Leafault avançou contra ela em supervelocidade, empurrando-a fortemente contra uma coluna fazendo-a sentir sua força ampliada. 

Quanto à Frank, o detetive libertava Clayton das amarras e o carregou para fora da sala. 

- Por que a merda de um caçador tá me salvando? 

- Eu gostaria de entender... porque eu tô salvando a merda de um vampiro. - retrucou Frank. 

- Podia me matar ali mesmo... - disse Clayton, fraco - Tirando proveito da minha desidratação. 

- Quanto mais longe você estiver desse lugar, melhor. - disse Frank - Ainda deve haver uma porrada de vampiro sorridente pra aparecer e pegar mais do seu sangue. 

- Tarde demais. - disse Clayton contrariando Frank - Leafault já tem a medida certa do que tirou de mim.

- O quê? Quer dizer que... ele já bebeu do seu sangue? 

- Eu não sei, mas extraíram tanto que me deixou fraco, desidratado... Eu preciso de sangue. 

- Sai pra lá. - disse Frank apontando o facão para Clayton que cambaleava. O detetive recuava para uma janela de vidro cujo tamanho se equiparava ao da parede. O detetive olhou para trás, vendo os primeiros raios de sol no horizonte. Arrancou de Clayton o colar com a pedra que o protegia da luz solar. 

As presas de Clayton cresceram e ele avançou para um ataque direto, mas Frank, finalmente tirando proveito da desorientação causada pela fraqueza, saiu da frente da janela para permitir que o vampiro atravessasse-a estilhaçando o vidro. Clauton caía e ao mesmo tempo gritava enquanto seu corpo queimava desintegrando-se até sua massa de cinzas impactar no chão soltando brasas pelo ar. 

O detetive correu para se juntar à Natasha que sofria uma tremenda desvantagem ao se ferir com os socos desferidos por Leafault numa rapidez ainda maior. A caçadora foi jogada como um brinquedo ao chão e Leafault pegou uma barra de ferro com uma ponta afiada para empala-la. Natasha arrastou-se, tentando alcançar seu facão. 

O rosto da caçadora estava com hematomas sangrando. O Catacano estava prestes a enfiar a barra no corpo de Natasha quando uma bala acertou sua cabeça. 

Frank estava ali para atrasa-lo e disposto a auxiliar a caça-vampiro naquela situação desfavorável. 

- Mais outro! - disse Leafault tirando a bala de prata atrás da sua cabeça - Você é o quê? Namoradinho dela? Não, tem mais cara de ser o pai dela. Dois caçadores não dão nem pro cheiro perante ao futuro barão vampírico nutrido de doses cavalares de sangue vampiro e humano! Se vocês mostrarem rendição agora, se tiverem o mínimo de juízo, os deixo viver. 

Natasha pegara duas pequenas adagas do seu cinto e levantou-se cravando-as nos dois olhos de Leafault. Em seguida, a caçadora apanhou seu facão e golpeou o pescoço do vampiro que berrava de dor, mas a lâmina travou não fazendo um corte decapitante de primeira. Na segunda vez, cortou pela metade tendo um trabalho para retirar a lâmina. Frank se aproximou, virando Leafault para ele e logo dando o último golpe que enfim cortou a cabeça efetivamente. 

- E o Clayton? - perguntou Natasha. 

- Coloquei ele pra pegar um banho de sol.  

Natasha deu uma risadinha leve e rápida. 

- Vencemos? - indagou Frank. 

- Vencemos. - disse Natasha, erguendo a mão direita para bater na do detetive como um sinal de "toca aqui". 

                                                                               ***

Em frente ao DPDC, Natasha despedia-se de Frank e Carrie ainda no início da manhã poucas horas depois de derrotarem Leafault. A caçadora e o detetive haviam voltado ao prédio para esperarem um táxi que a levasse ao aeroporto. 

- Ao menos dessa vez é uma despedida feita direito. - disse Frank. 

- Ah para, Frank, falando assim dá a impressão de que tá dizendo adeus. - disse Carrie continuando desanimada pela falta de shows da Darkside no país - É uma pena, lastimável aliás... que você não fará nenhum show na América. Mas o que importa é vocês terem compartilhado mais uma vitória. 

- É mais um candidato a barão riscado da lista. - disse Natasha - Mas não é o fim. No que me diz respeito, tá muito longe de acabar. O posto de barão vampírico é extremamente disputado, sempre vai haver um potencial enquanto houver vampiros pelo mundo. Desculpa, será que falei alto demais?

- Que nada, a Carrie e eu de vez em quando passamos pelas pessoas comentando alguns casos e ninguém para pra nos escutar. - disse Frank - Só que medimos nossos tons. Nunca se sabe, né?

Carrie fez que sim com a cabeça dando um sorriso fechado, superando a decepção de não ir ao show. 

- Controlem suas línguas. - aconselhou Natasha - Bem, vou indo. Frank, novamente foi uma honra contar com você.

- Tamo junto. - disse Frank dando uma piscadela com um joinha para ela - Vê se aparece no chat ou manda um e-mail. 

- Pode deixar. E tem mais uma coisinha. Digo, duas coisinhas. - disse ela retirando algo do bolso do seu casaco preto de couro - Tcharam. - mostrou duas passagens para Inglaterra - Nem tudo está perdido. 

- Não acredito... - disse Carrie perplexa - Comprou passagens pra nós?! 

- Eu não sei se devo aceitar... - disse Frank sorrindo desajeitadamente. 

- Estarão de férias no período de festas, né? Que tal se divertirem no maior reduto de vampiros do mundo?

- Será um imenso prazer. - disse Carrie pegando a passagem como um troféu - Não pelos vampiros, claro. 

- A Carrie tá mais que decidida. Eu, por outro lado, vou pensar no assunto. Acontece que tô metido numa treta sobrenatural gigantesca, pra variar, e meu inimigo nº 1 da vez tá armando um plano cabuloso num nível estratosférico.

- Permita-me corrigir: A estratosfera é apenas a segunda camada da atmosfera. - disse Carrie - Portanto, se quisermos dimensionar a coisa usando as camadas, eu diria que a situação é num nível exosférico.

- Eu já sabia dessa, foi só maneira de dizer, sabichona. - disse Frank em tom de brincadeira. 

- É tão grave assim? - perguntou Natasha, curiosa. 

- Olha, renderia um filmão de ficção científica com direito a Oscar em todas categorias. 

- Posso viver com essa curiosidade. - disse Natasha. O táxi vinha se aproximando, encostando na calçada. A caçadora entrou no veículo e acenou para Frank e Carrie enquanto o vidro subia. 

- Eu queria tanto retribuir de alguma forma. - disse Carrie observando o carro se distanciar. 

- Acho que nossa consideração é o suficiente pra ela. - afirmou Frank. 

- Mas e sua escolha? Não quero ir pra Inglaterra sozinha. Não me faça penar pra te convencer como da primeira vez. 

- Dentro de alguns dias, dou a resposta. Bora lá pegar no batente? Hoje é dia de café expresso pra aliviar a sonolência. - disse o detetive indo junto de Carrie para entrar no prédio e bocejou longamente.

                                                                               ***

Utah, Novo México

Na noite daquele mesmo dia, Virginia caminhava pela rua deserta na qual situava-se o apartamento onde morava. O vento esvoaçava seu longo casaco azul arrastando folhas secas e lixos. A luz de um poste começou a piscar tremendo.

Virginia olhou para trás virando rápido, a visão atenta ao seu redor. Não queria se sentir paranoica com a perseguição que temia estar sofrendo. A tremedeira da luz do poste cessou e ela tornou a caminhar. Continuou dando olhadas à sua volta ao subir a escadinha que levava à entrada principal do prédio. 

Após ela entrar, uma figura soturna saía de um beco próximo ao poste cuja luz piscava. 

O ESP-47, a infame réplica de Frank, observava o apartamento de onde uma luz amarela acendeu-se. Era a moradia de Virginia e pôde ver a silhueta dela passando. 

- Talvez eu deva esperar um pouco mais. - disse ele, piscando seus olhos que mostraram-se vermelhos e com as pupilas crescidas. 

                                                                               -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem: Cena do filme 30 Dias de Noite

*Imagem retirada de: https://darkside.blog.br/6-curiosidades-vampirescas-sobre-o-filme-30-dias-de-noite/

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