Crítica - As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras


O dilema existencial dos quelônios (que, claro, ficou em milionésimo plano).

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Nenhum outro filme, creio eu, me estafou tanto com uma má vontade para redigir uma crítica quanto essa sequência do longa do quarteto mutante mais amado da cultura pop lançada em 2014 (cuja review você pode dar uma lida clicando aqui). Na primeira conferida, em 2017 (às vésperas de perder minha TV à cabo, ainda bem que aproveitei =P), devo ter cochilado umas cinco vezes e o meu veredito ao término dessa cansativa experiência não foi lá dos melhores, muito embora, pegando a comparação lamentosa com Transformers (os Bayformers pra deixar claro) logo nesse primeiro parágrafo, tal desagrado não tenha se equiparado ao que senti vendo o segundo filme da saga dos robozões (isto anos depois do lançamento quando finalmente tomei jeito pra analisar com uma criticidade mais aguçada). Mas a "atmosfera Michael Bay" impera neste longa dando a parecer que era ele que estava no posto de comando gritando "Corta!" e "Ação!" e não o (pra mim desconhecido) Dave Green - que assumiu o lugar de Johnnatan Liesbman não fazendo grande diferença exatamente pela mão pesadona do Bay que encabeçou a produção do filme juntamente à mais quatro pessoas, mas ao longo de toda a aventura sentimos o espírito do trucidador da franquia dos Autobots e Decepticons pairar intensamente na paleta de cores (ultra-nítida) e nos enquadramentos, além do ritmo do enredo e sobretudo das cenas de ação (o ponto de maior investimento e priorização).

O adicional de qualidade nos efeitos apresenta-se em contraste ao roteiro inchado demais para caber em 112 minutos na esperança de que no produto final a maioria dos personagens esteja bem desenvolvida e estabelecida, principalmente no que tange aos vilões. Baxter Stockman (Tyler Perry) desde o início não sinalizava indicativos de um vilão capaz de usar sua tecnologia hiper-avançada no meio de um plano hiper-mirabolante para enfrentar diretamente as tartarugas, não passando de um capacho do Destruidor (qual era mesmo o plano dele no primeiro filme?), liberto da prisão a mando do próprio Stockman para consolidar uma parceria visando o potencial do mutagênico, para explorar a substância que dá características animais à humanos (e características humanas para animais - vide os discípulos de Mestre Splinter). No começo do imbróglio, o Destruidor (Brian Tee) é tragado por um portal que Stockman abriu com seu dispositivo teletransportador e se depara com um ser de outra dimensão chamado Krang (captura de movimentos por Brad Garrett), um alienígena super-inteligente que parece uma goma de chiclete mastigada, cuspida e jogada em algum esgoto contendo lixo nuclear que o fez adquirir tentáculos, olhos, boca, sapiência e aumentar de tamanho. A ambição do cérebro vivo é invadir a Terra através de uma máquina deixada por ele há anos na Terra com duas peças de um total de três na posse de Stockman e Destruidor. Se houve uma sensação tida na primeira olhada e retornou na segunda vez, foi a de bagunça tresloucada. Até nas cenas mais "calminhas" com as tartarugas percebe-se uma afobação predominante e quase ininterrupta. Em outras palavras, o longa tem muito fôlego sobrando para ação e, contudo, se asfixia no enredo pretenso demais em atender à demanda fulcral de uma sequência (e qual outro elemento do cânone do quarteto para proporcionar a grandiosidade requerida senão o alienígena cor-de-rosa?).

Eu não me opus totalmente à ideia de introduzir o Krang (por mais bizarro que o vilão seja), mas pela escala que compreende sua ameaça me soa mais favorável reserva-lo para um terceiro filme, enquanto no segundo focassem no flerte vilanesco entre Baxter Stockman e o Destruidor (com seu exército do Clã do Pé) para depois eles entrarem num arranca-rabo até as tartarugas darem conta de separar a briga e acabar com os dois. Mas daí enfiaram o alienígena na bagaça para montar sua geringonça (o Technodrome) que sai do portal aberto pela dupla "dinâmica" após o terceiro e último componente do dispositivo trazido em segurança por outra dupla (este de fato dinâmica), os delinquentes Rocksteady (o rinoceronte) e Bebop (o javali com um moicano de cor diferentinha) que dão uma passadinha no Brasil (leia-se Cataratas do Iguaçu) para obtê-la. Ambos tem um ar cômico digno da franquia Bayformers, aquele humor idiota que causa mais constrangimento que risadas, mas até que eles não ficaram tão insuportáveis. Os quatro irmãos estão mais dispostos em tela, enchidos de CGI claramente avançado com relação ao filme anterior, realmente fulgurantes e um tantinho mais críveis graças à eficiente captura de movimentos. Porém, durante as interações, parecem que vão cantar uma música de rap a qualquer momento, uma impressão dada pelos trejeitos marrentos e descolados, sem contar as estaturas de aparentemente 1,90m - uma proporção supostamente variável em diversas cenas -, um aspecto não tocado na review do primeiro filme (o Raphael, por exemplo, não deveria ser um pouco mais baixinho que o Leonardo e Donatello o mais alto da equipe?). Michelangelo é o melhor transmissor de diversão com suas piadocas e estripulias, de fato fazendo jus ao membro atrapalhado e inexperiente (uma das razões para Leonardo preferir levar Donatello para uma investigação ao invés dele e Raphael, os mais irresponsáveis).

Dos auxiliares humanos, Casey Jones se destaca pelas habilidades com o taco de hóquei (o vemos com a máscara uma única vez), especialmente contra Rocksteady e Bebop, e o Stephen Amell (Arrow) soube incorporar o personagem numa interpretação no limite do razoável (acima disso seria milagre), mas na expressividade facial continua devendo (riso involuntário na hora que ele se apresenta à April O'Neil dizendo seu nome com aquele sorrisinho boboca). Prosseguindo sobre esse pequeno grupo de suporte, temos Mikaela Banes... Digo, April O'Neil (Megan Fox) agindo perigosamente na sua profissão jornalística (repórter fuxiqueira e mestra dos disfarces), tamanha é sua curiosidade que lhe garante um incrível acesso ao laboratório do Stockman chegando a flagrar o exato instante da transformação de Rocksteady e Bebop e ainda roubando um frasco com amostra do mutagênico na maior audácia. A despeito da atuação da Megan Fox, a personagem estimula torcermos para que escape dos maus bocados em que se mete ao lado de Casey Jones (seu não-par romântico sugestionado). E o parceiro cinegrafista de O'Neil, Vern Fenwick, o cara que ganhou a chave da cidade, novamente dá sua contribuição para as tartarugas, não ficando muito relegado à figuração (nem lembrava desse cara) ao contrário da filha do Destruidor, a Karai, que passou pela câmera e sinto que não a vi (já queimaram uma oportunidade de usa-la num terceiro filme mais calcado no ninjutsu e com conflitos pessoais marcados por um retorno do Destruidor, uma coisa bem pé no chão).

Sobre o dilema existencial que apontei na frase de introdução: Perderam chances de aprofundar um pouco mais essa escolha árdua dos quelônios, fortemente divididos para aceitarem-se como mutantes ou tornarem-se humanos com o mutagênico (uma dádiva da substância que Leonardo decide manter secreta de Raphael e Michelangelo, o que não dá certo e gera uma racha na equipe) e enfim saírem à vontade dos esgotos para revelarem-se à civilização (isso quase aconteceu ao final do primeiro filme), além de desenvolver um embate feroz entre Leonardo e Raphael nessa divergência, questionando qual dos dois teria um papel mais efetivo de líder (mas sabemos que Raphael e sua impulsividade colocariam muita coisa a perder se capitaneasse o grupo, pois é a liderança disciplinada de Leonardo que põe o quarteto nos trilhos). Devido ao ínfimo aproveitamento dessa questão, o título Fora das Sombras é empobrecido de substância. O que não surpreende nada, visto que é um filme com o nome de Michael Bay creditado na ficha técnica (eu sei, saturou essa minha implicância, eu gosto pra caramba de Armageddon) e dependente de uma ação hiperativamente exagerada para manter os olhos atentos na tela, não importa o quão chafurdaria ela seja - mas é uma chafurdaria que ao menos não sofre de treme-treme constante.

Considerações finais:

Infelizmente não foi com As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras que os quelônios mutantes receberam um filme com orçamento gordo à altura. Dotado de um enredo com estrutura que faz conexões efetivas para o desenrolar dos acontecimentos, o longa mantém praticamente tudo do antecessor: o nível de qualidade narrativa, o modo como as tartarugas se portam, o clima de Transformers e até mesmo o excesso de efeitos. É tipo um chiclete que você já mascou uma vez, gostou um pouquinho, mas não lembrava o sabor e quando "mata a saudade" joga fora pra esquecer do sabor de novo.

PS1: Essa sequência devia pautar com mais significado a indecisão das tartarugas de se expor ao mundo à luz do dia.

PS2: Cadeia predatória de vilões: Baxter Stockman traído por Destruidor que foi traído por Krang.

PS3: Um calor da moléstia nessa parte que filmaram no Brasil? O Michelangelo conheceria o autêntico e inigualável se viessem pro Nordeste.

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://cinepop.com.br/as-tartarugas-ninja-2-video-mostra-detalhes-da-cena-filmada-no-brasil-121112

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