Crítica - Homem-Aranha no Aranhaverso
O significado de ser Homem-Aranha.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Vejo uma grande parcela de gente dizendo convictamente que trata-se do melhor filme do amigão da vizinhança. Calma lá. Não vou entrar em comparações ao longo desta crítica, seja da minha opinião com a de outras ou deste filme com precedentes lançados. Eu afirmaria diferente: É o melhor no formato de animação. Pronto, acho que isso basta para não gerar briguinhas infantis entre fãs, pois dizer que é o melhor do Homem-Aranha que aportou na mídia cinematográfica é o mais puro exagero. As pessoas não consideram as distinções técnicas dos formatos e vai colocando tudo num mesmo balaio. Não é assim que funciona. E pra ser honesto, o reinado de Homem-Aranha 2 permanece intocável (para o live-action, logicamente). É uma simplérrima questão de separar as coisas (acho que eu vou ser mentalmente chamado de chato por algum leitor gasparzinho que não concordar com tal visão). Mas chega de delongar, vamos logo de review.
O longa apresenta Miles Morales, também conhecido como o Homem-Aranha do Universo Ultimate, como o protagonista (ainda que a narrativa no geral não seja apenas sobre sua experiência aracnídea e heroica) em descobrimento tanto como adolescente quanto como o herói que o destino lhe força a se tornar (mesmo que pareça absurdamente conveniente a aranha radioativa picar logo ele quando o mesmo estava junto de seu tio, Aaron, grafitando uma parede, mas enfim...). No drama de transicionar para Homem-Aranha e as escolhas, responsabilidades e custos que vem com esse poder, nada melhor do que ter por perto alguns correlatos interdimensionais para entende-lo, certo? É imprescindível na adolescência a presença de alguém que compreenda seus dissabores e a benção de Miles é estar envolvido em circunstâncias que possibilitem isso como forma de alinha-lo à sua sina de Homem-Aranha substituto (o Peter Parker de seu universo morrer pelas mãos - literalmente - do Rei do Crime foi um tanto chocante pra mim). E mais importante que isso: substituto à altura.
Não sei se a história é baseada em alguma HQ, mas o estilo quadrinesco que predomina guarda uma identificação muito mais entrelaçada com as páginas coloridas do que outras versões animadas, o filme joga elementos como onomatopeias e retângulos de pensamento e interrupções para temporariamente reverter a animação para o natural desenho de quadrinhos, isso que determina o grande charme da animação e a faz merecedora de aplausos por honrar tão bem as raízes do personagem (o ótimo cameo de Stan Lee entra como bônus fazendo uma singela homenagem - não-póstuma, afinal o longa foi produzido bem antes do falecimento do quadrinista). Para todo grande herói sempre haverá uma grande perda. Wilson Fisk na função de vilão principal faz sentido pois embora seja uma ameaça humana é capaz de dar trabalho pro herói aracnídeo, como se ele fosse o "Bane" do Homem-Aranha pela vantagem física e que corresponde muito a um dos "mandamentos" de ser um Homem-Aranha a respeito de persistir em levantar não importando quantas vezes caia (o que também serve para as batalhas travadas no emocional, pertinente ao que concerne a transformação do indivíduo neste herói - tirando o Porco-Aranha heheh). A perda de Miles acabou sendo seu tio Aaron ou Gatuno (outro choque pra mim), o mercenário (sua máscara parece inspirada no Deadpool) a serviço de Fisk que coaduna com uma cientista, Olivia Octavius (filha de ninguém menos que Otto Octavius, o Dr. Octopus) um plano de mexer com as realidades paralelas através de uma geringonça gigantesca chamada de colisor (se tiver mais umas duas ou três palavras na denominação, saiba que não gravei, não ligo muito pra esses detalhes científicos de física quântica e o diabo a quatro, quero mais saber é como a bagaça vai terminar) para resolver seu conflito pessoal e para que sua ambição possua lógica razoável.
Só acho que as apresentações dos outros Aranhas (Peni Parker, a versão anime, o Homem-Aranha Noir, a versão pulp, e o Peter Porker/Porco-Aranha, a versão toonforce) não precisavam serem tão abruptas e em simultâneo (na casa de Peter Parker, mas precisamente numa "Spider-Caverna"), mas o companheirismo desse time (especialmente com relação à Miles e o Peter Parker mais velho, deprimido e com uma barriga de cerveja - naquela vibe divertida de mestre e pupilo) foi bastante progressivo em prol da evolução de Miles. O universo de Gwen Stacy é um "upside down" já que ela perde seu melhor amigo, Peter Parker e torna-se a Mulher-Aranha (ou Spider-Gwen para os puristas, afinal de contas o codinome Mulher-Aranha originalmente pertence à Jessica Drew - a esquecida do churrasco nesse filme). Um outro ponto bacana são os efeitos colaterais das presenças dos Aranhas alternativos num só universo e todos corriam risco de serem desintegrados subatomicamente caso não voltassem pros seus respectivos mundos, elevando o senso de ameaça.
No tocante à animação, o maior aspecto elogiado pelos críticos, eu de início havia estranhado, na primeira e súbita impressão me parecia stop-motion, mas na conferida total percebi o motivo pelo qual aclamaram tanto a qualidade e realmente devo dizer que está uma primorosa união de 2D e 3D. A única queixa que manifesto é relacionada à ação: muito tresloucada a ponto de obrigar um cansativo esforço para pegar cada detalhe, esquadrinhar bem para acompanhar tudo direitinho. No confronto derradeiro com o Rei do Crime isso felizmente amenizada, apesar do show meio psicodélico das reações do colisor nessa luta para consertar uma bagunça que veio a calhar para um personagem promissor.
Considerações finais:
Homem-Aranha no Aranhaverso é uma ode ao que o personagem representa tanto dentro do próprio escopo quanto direcionado aos fãs das histórias. É o que significa ser Homem-Aranha: Ser derrubado incontáveis vezes para sempre se reerguer perante às adversidades. Nesse sentido, todos podem ser "Homem-Aranha" de diferentes formas, mas no mesmo espírito de luta que esses personagens, embora tão diferentes, compartilham independente das fronteiras.
PS1: Sacanagem dar um cubo mágico pro Aranha Noir hahahahaha.
PS2: E esta cena pós-créditos que eu mal tinha entendido mas já considerava pacas? Hilário terem usado a piada da série de 1967 com os clones apontando um pro outro. Miguel O'Hara (Aranha 2099) tem que protagonizar a sequência, de fato.
NOTA: 9,0 - ÓTIMO
Veria de novo? Com certeza.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://revistacrescer.globo.com/Diversao/Filmes-e-TV/noticia/2019/01/5-motivos-para-assistir-homem-aranha-no-aranhaverso-com-familia.html
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