Crítica - Brightburn: Filho das Trevas


"Os demônios não vem do inferno abaixo de nós... Não, eles vem do céu." - Luthor, Lex.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Em vez de Smallville, temos Britghburn, também localizada no Kansas. Em vez de Martha e Jonathan Kent, temos Tori e Kyle Breyer. Em vez de Clark Kent, temos Brandon Breyer. Em vez de Superman (ou Superboy), temos um agente do caos mascarado que logo quando desperta seus poderes age como uma força destrutiva que absolutamente ninguém possa ser capaz de frear. Assim configura-se o longa dirigido por David Yarovesky e produzido por James Gunn (por mais que eu tenha criado um ranço medonho desse diretor, não vou cometer a insensatez de usar a polêmica em que se envolveu para descontar pontos do filme, independente disso seus trabalhos na Marvel Studios são meritosos de reconhecimento - não conheço outras produções que tenha trabalhado anteriormente), além de ser roteirizado pelo primo e pelo irmão dele, Mark e Brian Gunn, respectivamente. A obra vem com a intenção de desconstruir a figura do Homem de Aço, reimaginando a origem do kryptoniano sob um verniz sombrio (eu adoraria que o Zack Snyder topasse dirigi-lo ou mesmo uma sequência, mas certamente haveriam muitas piadinhas infames de haters dizendo que em matéria de desconstrução do Superman, por conta do tom, ele não precisaria se esforçar ou que estaria no filme certo cuja proposta é apresentar uma visão errada do herói quando anteriormente estava no filme "errado" trazendo um "conceito errado" - sim, discordo plenamente dos absurdos que os fãs mais puristas proferem contra o filme de 2013 que fertilizou o terreno para o hoje moribundo UEDC).

A parte prelúdica do filme não precisava do aceleramento que teve, foi uma coisa menos que resumida, principalmente em relação à queda da nave na fazenda dos Breyer onde eles acolhem o bebê alienígena como seu filho "legítimo", em contrapartida à passagem de tempo através de vídeos da infância do garoto onde mostra-se agindo como uma criança sem distúrbios aparentes de comportamento, ou seja, uma criança que brinca tranquila e respeita os pais (tão quietinho que parece nunca ter levado umas palmadinhas pois não é possível que haja uma criança que resista a uma travessura - eu mesmo, por exemplo, geralmente não era o que pode-se classificar como "pivete endiabrado", mas tinha lá os meus impulsos arteiros =P). Porém, com a chegada da puberdade, aos 12 anos, Brandon dá sinais incomuns de um pré-adolescente nessa louca e turbulenta fase e a maneira gradual como o enredo vai conduzindo essas mudanças de relacionamento familiar é tão segura quanto a direção de Yarovesky. Se fosse apenas metaforizar a puberdade numa abordagem aplicada ao horror e seus elementos sobrenaturais, tudo bem. Mas chupinhar a mitologia do Superman me pareceu mais muleta narrativa do que propriamente um alicerce para desvirtuação dos conceitos que gravitam em torno do personagem. As semelhanças gritantes (a nave armazenada no celeiro, a sensação de deslocamento por ser especial, a visão de calor etc), pelo menos com a encarnação mais recente interpretada por Henry Cavill na perspectiva de Snyder, não chegam a incomodar, não mais do que a execução daquilo que o filme intenciona a nos fazer absorver. A pegada terrorífica pouco extrai de si mesma para oferecer, salvo um ou dois sustos espontâneos (na primeira vez que Tori procura por Brandon no celeiro e ele surge de repente assustando-a de brincadeira e no pesadelo de Kyle com o bebê demoníaco), o que é compensado no horror que traz uma brutalidade intensa nas mortes (virei o rosto com a mãe da Caytlin removendo o estilhaço de vidro que cravou no seu olho), com destaque para o tio do moleque, Noah, que tem sua mandíbula desprendida no acidente que Brandon causa por vingança (só por levar um sermão) numa altura que o capetinha precisa do motivo mais banal para praticar suas atrocidades.

Uma dúvida interessante fica no ar relacionada à própria criação de Brandon - que além das alterações comportamentais, produz desenhos bizarros e bem explícitos na mensagem e guarda fotos de órgãos e de modelos de lingerie - que poderiam justificar racionalmente essa manifestação disruptiva e não acredito que somente a voz emitida pela nave tenha sido um fator agravante e isolado para endemonia-lo (pelas convulsões que ele sofre dá a impressão de que ele está num processo de possessão). Será que ele não foi mimado demais? A mãe, Tori (Elizabeth Banks), nutre um grande carinho e o ama incondicionalmente, um amor materno que não se abala nem no momento em que fica diante do menino com sua natureza totalmente aflorada, mas soube (demorou para cair na real) que precisava fazer o necessário (fiquei numa torcida nervosa por ela segurando aquele pedaço afiado da nave, pensando "Mata logo essa desgraça!"). Tori foi sem dúvidas o porto seguro (como toda mãe é para com seu filho) que restava para Brandon recobrar o controle, serviu como a última esperança após a morte de Kyle (fulminado pela visão de calor) que agiu com extrema burrice ao levar o filho para uma viagem de caça na floresta para mata-lo com um tiro na cabeça (criou um ser alienígena com superpoderes na sua casa e vê chance de sucesso em se livrar dele com um disparo de arma de fogo, isso que é plano brilhante ¬_¬). OK, a Tori não encarou a situação com tanta inteligência também, reagia com negação a qualquer associação de Brandon com as mortes de Erica, mãe da Caitlyn (a colega de classe que escapou de um assédio e da morte), e de Noah (sobrando a tia, Merilee, que é psicóloga da escola e seria a próxima vítima antes de Noah) e mesmo com evidências cristalinas de que o garoto não é inocente coisa nenhuma, ela insiste no contrário. Amor de mãe é uma coisa, negar provas para proteger o filho delinquente é outra.

A oposição que a problemático do Brandon gera no casal soa bem natural (não sei como ela ou ele não levantou hipótese de separação/divórcio), ambos tomam para si suas verdades com Tori defendendo o filho nem que apareça a validação mais incontestável dos crimes que ele cometeu e Kyle disposto com a ideia de detê-lo de alguma forma em vista do perigo que as habilidades dele representam somado à personalidade agressiva. Novamente no que tange ao terror, a trama se contém bastante e não abre brechas para desdobramentos mais impactantes, mas a performance de Jackson A, Dunn coloca seu personagem adequável em listas de crianças perigosas e assustadoras do cinema. O que faltou foi apenas assustar mesmo.

Considerações finais:

Construído num roteiro firme e que não demande muito da percepção, Brightburn: Filho das Trevas tem simplicidade bem ilustrada na sua condução, porém mira na ficção científica e no terror acertando um só de raspão e o outro quase no alvo. Entendo o objetivo que havia por trás (pretensioso, embora seja uma boa ideia), mas o resultado teria sido positivamente diferente se o fizessem caminhar com suas próprias pernas, adotando um estilo mais calcado no sobrenatural.

PS1: Seria um tremendo clichê transformar o Brandon numa criança receptora de uma entidade maligna, claro. Por isso eu acharia melhor que ele fosse o mal em si vindo de uma outra dimensão (não necessariamente o inferno).

PS2: A nave do Brandon tem umas luzinhas vermelhas piscantes... Só eu que achei isso meio "Xou da Xuxa"? (=P).

PS3: O Noah e a Marilee são os melhores tios. Dão um rifle pro sobrinho em pleno aniversário de 12 anos dele.

PS4: A Tori viu de relance o símbolo que o Brandon desenhava (e que desenha em cada cena de crime), dava pra ver antes dele fechar o caderno bem rápido. Não entendi a surpresa dela quando olhou as páginas com os desenhos retratando os assassinatos e o destino que deveria cumprir depois que o xerife mostrou o mesmo símbolo nos locais em que Erica e Noah morreram. Ela devia estar convencida e não espantada, mas até compreendo que isso tenha a ver com a negação do óbvio.

PS5: Brandon arrasaria de sucesso numa festinha de Halloween, pelo menos até alguém zoar a fantasia dele...

PS6: Das variantes distorcidas do Superman, prefiro a de Injustice e a versão de A Foice e o Martelo, porque esse daí...

PS6: Esse filme é a coisa mais próxima de um filme do Superman que tivemos após a Warner engavetar o personagem.

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://filmeseetc.com.br/brightburn-filho-das-trevas-terror-produzido-por-james-gunn-ganha-trailer-final-assustador/

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