Crítica - PéPequeno


Ouse questionar.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Uma das criaturas míticas que mais renderam debates, especulações e iniciativas para fins confirmatórios é a pauta desta animação que não é da Disney, nem da Pixar e nem da Dreamworks mas que merece uma conferida sem desconfiança por advir de um estúdio diferente num sentido de popularidade no mercado cinematográfico das animações. Produzido pela Warner Group Animation, o filme apresenta uma inversão de incredulidade na correlação entre os dois povos. Os Ietis retratados convivem numa sociedade fortemente agarrada à crenças que dão viés fantasioso a fenômenos comuns como o amanhecer por exemplo. Assim como os humanos, os nem tão abomináveis homens das neves atribuem explicações de coisas a princípio "inexplicáveis" à figuras imaginárias. Eu não vou abrir nenhuma crítica à religiões e crenças diversas aqui.

O ponto é que o paralelo estabelecido tem uma execução progressivamente muito satisfatória. No drama conflitual em destaque, Migo é um Ieti como todos os outros que crê fielmente nos "mandamentos" talhados nas pedras pelo Guardião da Pedra (suposto como o antagonista principal à determinada altura), mas que se depara frontalmente com uma das confrontações às crendices do seu povo que é a existência de um ser humano (um cara que sobrevive à queda do seu avião, especificamente) ou, como denominam, um pé pequeno. Mas como alguém que normalmente passaria numa experiência de corroboração da sua tese, eis que as provas, movidas pela conveniência roteirística, somem num evento em cadeia iniciado por um bode e Migo é descreditado por seus pares. Acontece de eventualmente você não dispor de evidências suficientes que alicercem os argumentos. Numa comunidade extremamente apegada às visões que adotaram na incessante busca por compreensão do mundo, a decisão previsível diante da insistência de Migo foi seu banimento.

A montagem do enredo é cuidadosa de modo a instigar a curiosidade natural de seguir no afã de descobrir o que vem pela frente, uma sensação deliciosa que apenas um roteiro escrito de mão cheia pode oferecer. Obviamente que Migo não ficaria um bom tempo refletindo sobre sua atitude em ir na contramão dos ensinamentos do Guardião da Pedra acerca dos conhecimentos passados ao mesmo tempo que frustrado em não ser lançado como pedra num estilingue pra bater o cocuruto no gongo antes do sol nascer para fazer o "caracol" acordar (como se detivessem um poder acima dos "deuses"). A primeira grande reviravolta se dá quando Migo percebe não estar sozinho na contra-crença. Meechee, seu interesse romântico, lidera um clube secreto de "cientistas" que se opõem as convicções da sociedade Ieti. E como ironia pouca é bobagem, a Ieti ainda é filha do Guardião da Pedra. O grupo forma uma boa sintonia de carisma entre eles e para com o espectador. A inserção do alpinista Percy Patterson ajuda a enriquecer os desdobramentos e resoluções desse conflito.

O ferrenho e irredutível Guardião da Pedra escondia um segredo pra lá de cabeludo. Temos aqui o maior plot twist do longa (me deixou com cara de besta). Outro elemento acertado numa boa e oportuna hora (até os três números musicais não soam deslocados ou fora do tempo adequado). Uma revisitação ao passado é feita numa história contada pelo Guardião da Pedra à Migo em relação às divergências entre Ietis e humanos numa dinâmica de caça e caçador remetendo aos tempos pré-históricos. Segundo o líder do povo, tudo foi ocultado para proteger a comunidade do perigo que os humanos representavam porque eles eram egoístas, violentos, intolerantes e blá blá blá. Mas será que o Guardião da Pedra tinha boas intenções desde o início? É justificável criar um cenário de ignorância coletiva por uma boa causa? Na verdade, o maior ignorante disso tudo é o próprio Guardião da Pedra que impôs seu ponto de vista fechado à todos usando da sua influência e não se tocou que os tempos mudam e com ele os seres vivos que são parte da natureza também acompanham essa mudança. O medo é um poderoso fomentador da insipiência.

Considerações finais:

PéPequeno mereceria uma boa indicação ao Oscar na categoria de melhor roteiro. Toda a abordagem em torno do vínculo homem e criatura tão ávidos na descoberta do que parecia inalcançável com as doses de comicidade bem divertidas é o que torna a animação um prato cheio para reflexões e risadas num equilíbrio perfeito. Não dá pra ficar com o pé atrás.

PS1: A carência paternal do Thorp (filho do Guardião da Pedra e irmão de Meechee) bem como sua falsa postura de machão lhe rende um aspecto de bom alívio cômico mesmo em décimo escalão.

PS2: Dos momentos musicais, o que achei menos bacana foi o do Percy implorando para sua parceria de trabalho, Brenda, vestir uma fantasia mequetrefe de Ieti para tapear o público do programa.

PS3: Em contrapartida, a música cantada por Meechee foi encantadora. "É o desejo de saber e nisso mal não há..."

PS4: E quem sustentam os mamutes? O equivalente a: E quem criou Deus? O chato é o Migo, durante sua protagonização musical, querendo manter cimentado na mente das crianças os preceitos das pedras.

PS5: A explicação das nuvens da montanha não serem nuvens autênticas e sim vapor criados pelas máquinas de pedra não passou de uma parte que veio adicionar sem necessariamente para razoabilidade.

PS6: Que lindo final feliz de reconciliação entre dois mundos tão distantes e agora próximos para um recomeço de coexistência enterrando os tempos amargos de guerra. Parabéns à dupla protagonista (Migo e Percy).

NOTA: 10,0 - EXCELENTE 

Veria de novo? Com certeza. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para lustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://radiomixfm.com.br/pre-estreia-do-filme-pe-pequeno/

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