Crítica - Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha
Não existem planos ruins, existem planos ótimos com consequências imprevistas.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Continuando exatamente de onde o primeiro filme havia encerrado, o ar episódico fica cada vez mais pesado, o que não chega a virar um entrave para acompanhar a produção como uma série de filmes. É aquela típica sequência que esboça traços de um filme do meio dentro da narrativa que não sofre quebras com passagens temporais e que segue linear e diretamente no curso dos eventos. Ratifico meu parecer desfavorável ao Godzilla dessa trilogia. Não que o foco intensivo nos humanos seja o culpado pelo aproveitamento pífio ao lagartão, mas sim pela composição visual, mesmo com o requinte espetacular da animação, e infelizmente esse problema permanece e não mostra sinais de melhora. O monstro é atraído para uma armadilha geniosa após despertar de uma soneca. E eu continuo estranhando a inserção de alienígenas.
Mas enfim, ao menos uma parte deles tem papel fundamental para a realização do grande plano de destruir Godzilla de uma vez por todas. A dupla de Bilosaludos entra numa divergência tensa com Haruo, o capitão da tripulação da Aratrum, a respeito da necessidade de exterminar Godzilla humanamente, método ao qual os idealizadores da armadilha se opõem fortemente. A redescoberta do nanometal, um material do MechaGodzilla encontrado numa instalação desativada, para ser utilizada como fraqueza ao kaiju (como visto nas pontas das flechas dos nativos na luta contra as serpentes do lago), ajuda a colocar a divisão de perspectivas posicionada para um confronto moral do que fazer ao certo. Antes disso, há um contato direto com uma nova civilização, chamada Houtua, partindo da continuidade da cena pós-créditos com Haruo acordando numa cabana após ser curado com um pózinho laranja que parece glitter. Gostei da abordagem da armada anti-Godzilla frente aos nativos evoluídos e descendentes de humanos num choque de realidades que deixa uma sutil inversão de quem são os aliens e os habitantes naturais (os humanos seriam os "aliens", no caso) é bastante interessante essa dinâmica.
Em seguida, os Houtua perdem o foco logo depois que o grupo de combate acha a tal cidade do MechaGodzilla utilizada para o local onde o monstro deverá ser derrubado fazendo entrar noutra discussão densa de como derrota-lo definitivamente, mas o diálogo afiado mantém-se. O chato foi terem dado um espacinho de destaque para a songamonga da Yuko na interação com Haruo que desde o primeiro filme dava como óbvia a iminência de um romance. A menina tascou um beijo no rapaz. Se conheciam há algum tempo, mas pela poucas vezes em que os vimos juntos em cena, o ato soou impulsivo e pouco natural. Não bastasse isso, o roteiro dá de presente um drama climatizando uma possível morte da garota que transtorna Haruo posteriormente ao fracasso necessário do plano (os Bilosaludos merecem morrer pelo egoísmo e falta de empatia por preferirem fundir-se seus corpos ao nanometal, por que é conveniente dado que não são afetados, para facilitarem as coisas e ainda impõem os riscos a Haruo e Yuko, basicamente dizendo que vencer Godzilla como humanos só acarretará em prejuízos contínuos). No ato final, Godzilla não empolga com sua imobilidade. Apenas o ameaçador sopro atômico cumpre para alguma emoção proporcionada. É duro tentar se conformar. O largatão parece uma montanha viva.
Além disso, Godzilla é inexpressivo no seu tom de ameaça (mal dá pra ver os olhos da criatura). Evidente que o plano, por mais que parecesse infalível e engenhoso, seria um tremendo fiasco, tendo Godzilla causado mais danos severos e muita destruição desenfreada. O clímax tem sua força concentrada no dilema sobre o qual Haruo está atormentado. Os Bilosaludos tiveram o fim merecido. Mas um monstro do porte de Godzilla mereceria uma execução mais inspirada e que fizesse jus ao seu poder destrutivo. Me alivio com a qualidade irretocável da animação muito bem firmada.
Considerações finais:
Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha praticamente torna-se despachável pelo seu roteiro pouco movimentado na maior parte do tempo. Provado está que o kaiju retratado não provoca olhares atenciosos, bastando um único vislumbre para sentir o mais puro tédio. Pra compensar, os personagens humanos ganham camadas mais atraentes com toda a discussão do que é sensato para dar fim ao lagartão que, a bem da verdade, não passa de ferramenta de conflito sem primazia.
PS1: Boa sacada roteirística para conseguirem diferenciar as garotas nativas gêmeas (Miana e Maina - eu sinceramente não sei qual delas salvou o Haruo e qual atacou o grupo sobrevivente =P).
PS2: Queria ter visto um pouco mais dos Servuns, parecem pterodáctilos mutantes.
PS3: Tirando o sopro atômico, Godzilla é apenas um organismo de massa pesada que arrasta seu corpo duro. Sem isso, a escala de ameaça cai vertiginosamente, até mesmo à uma cidade grande.
PS4: A revelação do pós-créditos (retornando a uma cena anterior onde Metphis compartilhou uma informação com Haruo falando no ouvido - o que é curioso visto que os dois estavam a sós) aviva esperanças para uma terceira parte épica.
Só vem, Rei Ghidorah! Mal conheço esse dragão e já considero pacas!
NOTA: 6,0 - REGULAR
Veria de novo? Provavelmente não.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://anmtv.xpg.com.br/godzilla-cidade-no-limiar-da-batalha-estreia-na-netflix/
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