Frank - O Caçador #37: "A Fundação"


INÍCIO 4ª TEMPORADA

O silêncio de Frank durou mais do que Hoeckler poderia imaginar mesmo que fosse um seco e direto "não". O detetive olhou de esguelha para a porta num pensamento imprudente de pegar o carro, dirigir e não olhar para trás, uma fuga de casa apenas com a roupa do corpo que logo mais tornaria-se uma fuga do país para recomeçar a vida mudando de endereço, de vida e até nome. Mas assumiu que aquela era uma situação que não valeria abrir mão de todo o legado de caçador que jurou cumprir até a morte. 

- Frank, esqueça a ideia de sair por aquela porta correndo feito um demônio fugindo de uma cruz. - disse Hoeckler, atento - Não que o considere refém. 

- Ah, então o senhor percebeu... - disse Frank, nervoso - Olha, está enganado, longe de mim tomar essa atitude. Só que... eu não posso dizer sim pra alguém que não foi honesto comigo por cinco anos de trabalho duro, aturando reclamações e divergências, e ainda por cima quer que eu me associe à essa mesma coisa escondida a bem mais do que sete chaves. Foi mal, não vai rolar. É osso falar isso pra alguém abertamente sem ser o diretor ou a Carrie, mas eu tenho um legado a zelar. É a jornada solitária de qualquer caçador. E ainda que de vez em quando precisemos uns dos outros pra unir nossas forças, não muda o fato de que... estamos todos inevitavelmente... sozinhos. 

- Que bom ouvir você proferir um discurso tão elegante, é a primeira vez. - disse Hoeckler, levantando-se e levando sua mão esquerda para sua maleta que estava na mesinha guardando o laptop - Nem todos os caçadores são uns trogloditas. Mas estou desapontado que recuse um convite para uma ascensão de nível. 

- Acho que não fui muito claro. Se o pessoal dessa fundação tava mesmo me vigiando, colhendo dados de tudo que eu fazia, não era pro senhor ficar desapontado e sim já estar ciente de que eu me viro melhor com meus próprios meios, métodos e estratégias. Caçador é pra ser livre. Se é pra voar mais alto, que seja com seus próprios recursos, sem depender de empresa ou sei lá mais o quê no controle. 

- Mas você é um empregado. - disse Hoeckler, seu tom soando rudemente enfático para Frank - É contraditório demais dispensar um serviço que vai aprimorar uma parte do seu trabalho enquanto você permanece noutra mantendo a fachada que você está acostumado a mostrar. 

- Tá querendo dizer... que tô de volta ao DPDC? 

- É o que veremos. - disse Hoeckler, sacando uma seringa e cravando-a no pescoço de Frank. A agulha fincou bem na artéria carótida. O detetive cambaleou pressionando a mão esquerda sobre o furo. 

- Que merda é essa? Que negócio é esse... que o senhor injetou em mim? 

- Um amnésico classe C, ideal para o desafio instigante que vou propor à você agora. - disse Hoeckler, tranquilo como se não tivesse cometido um golpe baixo e covarde - Já passeou pelas verdejantes florestas do distrito de Ylon? Há mais do que belezas naturais lá. Há coisas horrendas. Uma delas é exatamente aquilo que a mantém protegida e tão bonita para se contemplar e respirar um ar puro.

- Amnésico? - indagou Frank, olhando-o com o cenho franzido - Tá me oferecendo trabalho, mas quer apagar minha memória? Que raio de plano é esse do senhor? Tô sentindo que esse plano não cheira nada bem.

- Eu não sou o vilão da jogada, Frank. Entenda de uma vez por todas: Você é especial, necessita de subir mais degraus, superar limites de conhecimento que nenhum outro caçador na face da Terra terá a oportunidade privilegiada de romper. Tenho certeza de que vai, de um jeito ou de outro. - disse Hoeckler, seguro de si - Bem, a substância que lhe injetei surtirá efeito após 28 horas. Nesse ínterim quero que capture um ogro do pântano, um letal protetor da natureza que transita os arredores do seu habitat sempre à espreita quando um visitante invasivo adentra seu território para causar problemas. 

- Tá me desafiando, né? Escolheu a pessoa certa. Agora dá pra ver... porque o diretor te odeia. É um chantagista, babaca, pé no saco. 

- Mais respeito, ainda sou seu chefe-geral. Digo, continuarei sendo uma vez que cumpra a sua missão. Boa sorte. Até mais. - disse Hoeckler, logo saindo da casa levando a maleta com o laptop - E não ligue pra mim. Ah, por que ligaria? Provavelmente não estará lembrando mesmo. - fechara a porta dando um sorriso malicioso para Frank que viu-se mais sozinho e desamparado do que nunca. 

"Essa coisa vai fazer efeito dentro de pouco tempo... Tenho que agir logo... puxar o carro!", pensou ele, caminhando meio trôpego para sair de sua casa. A picada da agulha ainda doía fortemente no local. 

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CAPÍTULO 37: A FUNDAÇÃO

O sedã prata de Frank rasgava o breu da madrugada pela estrada a toda velocidade. O trajeto para Ylon levaria cerca de 3 horas, sendo possível chegar ao destino quando o sol estivesse alvorando. Tentou insistentemente ligar para Carrie, mas depois de muitos toques resolveu desistir e jogou o celular no banco do carona, concentrando-se totalmente na direção. Suas mãos tremiam de nervosismo ao volante.

- Calma, Frank... Você não vai ter um treco aqui. Olhos abertos. Coragem. - disse a si mesmo. 

As três horas passaram e Frank cruzou a fronteira dobrando por uma estrada de terra meio esburacada. Avistou uma placa frente a uma cabana grande, o que logo lhe indicou como sendo uma pousada. Porém, os faróis do seu carro piscaram e o marcador de combustível beirava ao zero. Parou o carro e suspirou pesadamente. O pisca-pisca dos faróis parecia incessante. Tomado pela fúria, Frank descontou no volante, batendo com as mãos abertas para extravasar a raiva que sentia de ter descoberto que seu segredo nunca realmente ter estado entre três pessoas da sua convivência profissional. Fechou os olhos, encostando a cabeça na parte superior do banco, respirando com mais calma. "Não vou esquecer de nada. Vai que seja só um blefe. Ou a merda de um placebo que ele espera que funcione em mim". 

Saiu do carro, fuzilando os faróis com o olhar, novamente dominado pela raiva. Porém, a explicação estava bem diante de seus olhos, surgindo repentinamente. Frank olhou incrédulo para a mulher de calças jeans e blusa branca parada à sua frente com uma expressão de zombaria. 

- Parece que o tanque esvaziou. - disse Lilith. 

- E parece que você tá afim de tomar uma balaço na cabeça vindo até à mim toda confiante. Cai fora daqui, demônia. Não vou abrir as pernas pra você como o Fred fez. E por falar nele... Ele matou o Malvus, mas... existia uma consequência sobre usar o tridente contra ele. 

- Não foi você!? Inesperado. Perdi a aposta com alguns demônios idiotas que deserdaram. 

- O Fred foi levado embora... por causa de uma regra do tridente que faz com que o exterminador do diabo se torne o sucessor dele lá no andar de baixo. Sabia dessa palhaçada o tempo todo, né? 

- Honestamente... não. - disse Lilith, parecendo um pouco surpresa - Mas seus amiguinhos anjos sim, claro. Por que acha que foi designado para matar somente o nefilim? Duas razões: O tridente vira fumaça junto e essa regra implacável. É como fazer um contrato sem olhar as letrinhas pequeninas no final da folha. E além disso, o Fred me fez um favor, penso em retribuir.

- Ah não... outra mancada daquele teimoso. - disse Frank, passando a mão no rosto. 

- Ele fez a gentileza de me soltar de uma prisão mística que os lacaios do Malvus criaram pra mim acreditando que vocês o venceriam e com isso eu me tornaria a legítima sucessora. 

- Malvus te prendeu e o Fred te soltou?! Putz... 

- Tenho uma dívida de gratidão a pagar. Até porque... sinto que ele reprime certos sentimentos mais afetuosos por mim. Vou coloca-lo bem aqui... - disse, tocando a palma da sua mão esquerda com o dedo indicador da direita exibindo uma expressão canalha - ... e o submundo finalmente terá governantes de fibra. Você perdeu um irmão, eu ganhei um rei. 

Lilith desaparecera que mal Frank percebeu. O detetive, exausto, olhara para a pousada com fachada de madeira que estava mais clara devido aos primeiros feixes de luz solar que despontavam no horizonte. 

                                                                                   ***

Sede da Fundação ESP - Localização secreta

Voltando da casa de Frank, Hoeckler passava pelos vários corredores de paredes com revestimento de mogno, dobrando para a esquerda e direita até finalmente chegar ao laboratório do Dr. Damon Cloud que ficara encarregado de observar a mais nova cobaia experimental da organização. O superintendente do DPDC ocupava um dos mais altos cargos de chefia. 

"Nasci para liderar. Servir era o que tangia apenas aos meus pais, professores e ao exército, mas é coisa do passado. E o passado está morto. Sou um homem de futuro... aliás, do futuro.", pensava ele. 

- Progressos? - indagou Hoeckler entrando na sala. 

- Não tivemos resultados tão significativos assim nas últimas quatro horas, esperava bem mais considerando o peixe enorme que vocês pescaram. - disse Damon, um rapaz com uma aparência de nerd cientista potencializada pelo rosto branco e magro e os óculos grandes de armação preta, até mesmo no modo um pouco retraído de se portar. Ele observava o sujeito pela enorme janela de vidro. 

- Ele reagiu conforme esperávamos aos supressores. - disse Hoeckler, aproximando-se para dar uma olhada - Resistiu como um guerreiro, mas aumentamos a frequência e ele tombou quase inerte. - virou o rosto para Damon - Sinais vitais estáveis? Pulso, respiração, frequência cardíaca? 

- Felizmente, até agora, ele não apresentou nenhuma amostra de efeito colateral ao fluido estabilizador corporal. Senhor, ahn... desculpe, mas... eu sei que sou pago pra não questionar nada do vai além do meu status... 

- Então não pergunte, Damon. - disparou Hoeckler, duro. 

- S-sim, senhor. Err... Vou programar a sonda de sucção energética. Mas preciso rever algumas variáveis. E se ele tiver qualquer efeito adverso que o leve à morte? Arriscar a vida de uma criatura como essa seria um desperdício... de anos, talvez décadas, de estudos avançados. Eu não quero que ele acorde no meio do processo e nos fulmine com sua luz. 

- Não confia nas maravilhas da nossa tecnologia? A experiência que conduziremos hoje vai fazer com que transcendamos muitos níveis à frente do que costumávamos usar. - disse Hoeckler, otimista, não tirando os olhos do sujeito - Me avise se o ESP-5411 demonstrar qualquer traço de rejeição. Nesse caso mandarei uma equipe de contenção munida de mais supressores. 

- Aí interrompemos a experiência e ninguém morre, certo? 

- Provavelmente. - disse Hoeckler, parecendo desdenhar da pergunta. O sujeito ESP-5411 não era ninguém menos que Adrael desacordado e preso à uma câmara enchida de um líquido azul que borbulhava. 

Ao sair do laboratório, Hoeckler verificava seu celular e viu que um arquivo havia sido enviado há poucos minutos. Anteriormente à visita-surpresa na cada de Frank, ele ordenou que um funcionário baixasse todos os dados de pesquisa do computador de Carrie através de um programa que ele mesmo criou para ter acesso a todos os rastros que assistentes, policiais e agentes especiais deixavam na internet. Abrindo o arquivo, deparou-se com a lista quilométrica de registros. Parou especificamente em um que tinha os dizeres "hospital psiquiátrico e manicômio Waverly Houston". 

Ele pensou um pouco e lembrou que a localização foi descoberta como sendo o confinamento do esper-X, no caso Atticus. A pesquisa foi realizada 3 dias antes. Depois, umas horas depois, foi pesquisado o orfanato Estrela do Amanhã. Sabia que na ficha de Atticus mencionava o antigo terreno onde havia a instituição na qual ele e seu irmão, Roman, viveram como órfãos antes do incêndio. "Não é possível... O maldito do Frank teve contato com o esper-X.", pensou. 

Passou um telefonema rápido para um funcionário. 

- Dodger, é o Hoeckler. Quero que vigie o radar o tempo inteiro, o esper-X mudou sua posição geográfica. Pra onde ele teria se encaminhado é o que devemos saber nas próximas horas. Melhor dizendo, eu acredito que ele nos dará um sinal muito em breve. - disse ele com um sorrisinho de canto.

                                                                                ***

Na pousada, Frank cumprimentou a recepcionista com um "bom dia" meio desanimado, um tom que ela percebeu de cara e devolveu uma expressão desconfiada contida. A mulher de belos cabelos lisos castanhos com mechas laterais ocultando parte da testa tentou sorrir ignorando o semblante do detetive.

- Bom dia, senhor... Eu posso ajuda-lo? 

- É mais do que ajuda. - disse Frank, sorrindo nervosamente - Um milagre. Mas não vem ao caso, são probleminhas pessoais. Quanto tá custando a estadia pra um dia? 

- Um único dia? Meio estranho, ninguém costuma vir só de passagem pra Ylon. Bem, são 80 dólares. 

- Ah, OK, vou pegar umas coisas lá no carro. 

A moça pigarreou forte como se estivesse irritada. 

- Pagamento adiantado. Normas da casa. - disse ela, apontando para a placa que continha a regra escrita.

- Deixa eu só... Ah essa não... - disse Frank revirando os bolsos do sobretudo - Não faço ideia de onde deixei a carteira, que dro... - parou de tatear quando sentiu algo sólido dentro de um dos bolsos internos e enfiou a mão retirando a carteira - Ah, aqui está. - retirou o dinheiro e entregou-o - Como se chama aqui? Essa região... 

A recepcionista a encarou de modo suspeito, mas retendo um sorriso. 

- Ylon, senhor. Aqui está o recibo. Boa estadia. 

Graças ao amnésico, mal passava pela cabeça de Frank no momento, mas ele sempre guardava sua carteira no mesmo bolso. Chegando no quarto, sentou-sena beirada da cama e procurou o número de Carrie, mas parecia não manusear corretamente o celular, demorando para achar a lista de contatos. 

- Carrie, tá acordada? 

- Que pergunta mais idiota... - a assistente soava sonolenta - Obrigada por ser meu despertador hoje, Frank. Estou louca pra saber do que rolou na igreja entre você, o Fred e o Malvus. 

- Escuta, presta bem atenção: Caí numa arapuca daquelas. Sobre o Malvus... O Fred foi quem enfiou o tridente no desgraçado, mas... 

- Mas...? Frank, você tá careca de saber que detesto quando você pára no meio....

- Eu não sei. Carrie, eu não sei o que aconteceu. O Fred sumiu, foi sugado por um buraco... não sei porque, não consigo lembrar... Enfim, vou pro mais importante logo antes que eu realmente esqueça: O superintendente Hoeckler tava na minha casa assim que eu cheguei. 

- O quê?! - disse Carrie, levantando-se subitamente da cama - Pra quê? O que ele queria com você?

- Não foi nada sobre minha permanência no DPDC... Olha, fica longe dele, ele é perigoso, me revelou que sabe da minha vida de caçador, vigia meus passos desde o início e trabalha pra uma fundação chamada ESP que tem interesse nos monstros. E como desgraça pouca é bobagem, o filho da mãe me injetou uma droga que vai apagar minha memória aos poucos. Ele me desafiou a caçar um... um... 

- Ah não, mau indício. Que golpe mais... traiçoeiro. Eu já não gostava daquele jeitinho arrogante dele...

- Um ogro! - falou Frank dando um susto em Carrie - É isso! Ele quer que eu cace um ogro aqui em... em... - apertou os olhos fechando-os num esforço para recordar - ... em Ylon! 

- Você está em Ylon? - perguntou Carrie pegando seu laptop - Monstros e outras aberrações paranormais por aí residem mais nas florestas. E ogros... - pesquisara - ... segundo as lendas locais moram nas áreas mais distantes e pantanosas. Saem à noite, mas você não vai lembrar de nada, nem do que foi fazer aí, pelo menos não sem um truque pra retardar o avanço da droga no seu cérebro.

- O que você quer eu eu faça? Minha memória tá deletando de grão em grão. Só tenho 28 horas, segundo ele. 

- Frank, o cérebro humano é o melhor computador que existe. Tudo que precisa fazer é um backup. Pega uma caderneta ou um bloco de notas, se tiver, e anota tudo o que você viu, ouviu ou falou, como se fosse um diário. 

- Diário? Que coisa mais de... menininha. Acho que tenho um bloquinho no porta-luvas.

- Ótimo, faz assim. Insira quantos detalhes puder. Você ainda lembra como é o alfabeto, né?

- Por enquanto, ainda não tô com déficit de alfabetização. Será que no cair a noite já vou ter esquecido até de... quem eu sou, meu trabalho, minha trajetória de caçador, de mastigar, de engolir, de respirar...

- Calma, Frank! - disse Carrie, impaciente com a ansiedade cada vez mais elevada do detetive - Assim que escurece, os ogros saem para caçar alimento, mas são protegidos por um espírito chamado Leshy. 

- O que diabos exatamente seria um Leshy? Parece nome de cachorro...

- Ele foi cultuado pelos eslavos há séculos. O protetor de florestas, animais e de seus servos, obviamente os ogros. 

- Então tenho que enfrentar dois monstros. Será uma noite memorável. 

- Você enfrentou dois no natal passado. E o Leshy não é uma criatura física, falei que é um espírito, uma manifestação incorpórea que controla a natureza, ou seja, ele é a floresta. 

- Não bastasse um Shrek pra caçar, vou ter que driblar o segurança dele. 

- Ei, anota isso também: Faça uma trilha com migalhas de pão ou bolinhas de papel do bloquinho para não se perder. 

- Carrie, acho que você não considerou uma possibilidade fatídica. - disse Frank, estreitando os olhos, muito menos esperançoso com o plano - E se eu esquecer do bloquinho e das anotações? Como é que fica? 

- Ai, tem esse pormenor também... - disse ela, o tom de desalento - Já sei: Depois que escrever tudo, você irá dormir, certo? Então deixa o bloquinho pertinho de você e quando acordar, caso se pergunte "o que é isso aqui?", você pega e relê, dessa forma pode ser que as lembranças do momento que você escreveu retornem e dificilmente você se esquece de saber ler e escrever. Ah... - soltou um suspiro pela boca - Isso tá me desgastando mentalmente em plena manhã. 

- Valeu de coração, Carrie. Eu perdi a conta de quantas vezes já te agradeci por essa sua genialidade. 

- Ah pára, tá me fazendo ficar vermelha, como em todas as vezes que elogia meu super-cérebro. 

- Não Carrie, eu realmente perdi a conta. - soltou Frank, fazendo a expressão de Carrie retornar ao desânimo. 

Após encerrar a chamada com Carrie, o detetive fora ao seu carro procurar o bloco de notas passando uns bons minutos mexendo nas coisas. Encontrou-o no porta-luvas, as folhas meio amareladas, e entrara no carro para iniciar a escrita pegando uma caneta. Escreveu rápida e ininterruptamente sobre as vivências que era capaz de rememorar naquela altura, tanto da sua infância quanto da época que tornou-se um caçador, mencionando o legado Montgrow e o quão importante significava travando uma luta contra o efeito cada vez mais avançado do amnésico. A mão direita do detetive estava meio dolorida depois que terminara. Saiu do carro com o bloquinho na mão, voltando à pousada e para seu quarto. Jogou-se de costas na cama, dando uma expirada longa com a boca tentando relaxar os músculos carentes de descanso. De barriga para cima, fechou os olhos para dormir, o bloquinho à sua esquerda e o celular à direita programado para desperta-lo às 19 horas. Seria uma longa dormida recompensadora de uma forma e desvantajosa de outra. 

                                                                                  ***

O sono de Frank durou um pouco mais do que ele previra. O som do despertador o acordou bruscamente e tocava fazia mais de 12 minutos desde o horário ajustado. Frank jogara o celular no chão numa reação de terror. Ainda assim o toque não cessou. Olhou para o bloquinho, mas resolveu primeiro acabar com o barulho irritante. 

- Que tranqueira é essa aí? - disse, levantando-se e aproximando-se com cautela ao celular - E onde é que eu tô? - olhou em volta. Certamente não reconhecia mais o formato de um aparelho telefônico moderno. Pegara o celular com os dedos polegar e indicador da mão direita como se fosse um objeto tóxico - Será que é uma bomba-relógio? - virou para conferir a tela e viu as opções "reajustar alarme" e "desativar alarme" - Desativar, claro. - apertou. O ruído parou num instante e ele respirou aliviado. Voltou sua atenção para o bloquinho, indo verificar os escritos - Eu escrevi isso tudo? - sequer reconhecia a própria caligrafia - "Tenho que caçar um ogro do pântano antes que minha memória seja apagada por uma droga que o superintendente Hoeckler me injetou no pescoço." - tocou nos dois lados do pescoço e sentiu um buraquinho no lado esquerdo.  - "Mas o espírito Leshy pode me matar se eu ferir o ogro, pois ele o protege de todos os invasores da floresta que causam desastres naturais." - continuou lendo mais das anotações - "Eu escrevi pra lembrar de tudo que eventualmente vou esquecer daqui à algumas horas". - leu mais outra - "Esse é você, Frank, sua letra, suas memórias, a sua cruel vida." 

Ao menos não havia tornado-se analfabeto. 

- 28 horas... Então me restam apenas... - procurou um relógio na parede, não o achando e recorreu ao celular. Fizera as contas de cabeça, mas sua mente travava. Já não sabia fazer uma simples contagem - É, sem dúvida, tô com pouquíssimo tempo. Era ruim em matemática na escola, agora que ferrou de vez.

Saiu para a floresta sentindo que estava para cumprir uma obrigação inadiável na qual era inadmissível desculpar falhas. 

- Eu caço, mato e pesquiso sobre monstros. Eu caço, mato e pesquiso monstros. Eu caço, ma... Ah! Pra quê tô repetindo isso? De que adianta se minha memória tá indo pro ralo? - reclamou Frank, percorrendo a floresta sombria - Onde é que fica o maldito pântano? Peraí, o que é um pântano? 

Sua andança foi interrompida foi um barulho seco e alto. Olhou para trás lentamente, os olhos se dilatando num face que construía puro horror. Devido à perda da coragem para enfrentar os perigos, Frank se lançou numa corrida entre a vida e a morte imaginado se tratar do ogro que escutou seus passos e vinha torna-lo sua presa. Parou para retomar o fôlego, se apoiando numa árvore e fitou a as folhagens entre a escuridão atrás dele. Arfando, teve a impressão de que o despistou. 

- Essa foi por pouco hein... Seja lá o que for, desistiu. Não, tem algo errado... O que eu tô fazendo num lugar desses? 

Os ruídos ressoaram nos seus ouvidos e ele virou-se num reflexo, quase num susto. Mas o que viu não durou nem um segundo. Um robusto porrete desceu sobre sua cabeça, golpeando-o fortemente. Frank ficara inconsciente caindo no solo úmido repleto de folhas secas. Mal sabia que estava nas proximidades do pântano, tendo cruzado o caminho do seu mais proeminente habitante. 

                                                                                 ***

Parecia que a dor de cabeça anteriormente curada com umas boas horas de sono voltava mais excruciante, como agulhadas nas têmporas, ao longo do despertar vagaroso de Frank que desenturvava a visão diante do ambiente em que se encontrava. Ouvia barulhos de objetos sendo mexidos e um vulto de um ser grande no tamanho se esclarecia. 

- Mas onde é que... - sua voz soou estranhamente baixa até para ele, indicativo de que o golpe foi tremendo - Ai... que puta dor de cabeça... - queixou-se, colocando a mão no ponto onde foi agredido. 

O ogro virou-se para seu prisioneiro que estava encarcerado numa jaula de madeira presa a um gancho no teto e que balançava desconfortavelmente. A criatura tinha feições similares a um de troll reconhecível nos contos épicos de fantasia e jogos eletrônicos, além de uma pele esverdeada como os musgos do pântano. No rosto viam-se furúnculos, um avantajado "nariz de batata", olhos ferozes e uma boca larga com um dente da fileira inferior saliente. As vestes do ogro - um colete, calças e botas - pareciam feitas de couro de diversos animais, possivelmente gado, já que eles também rondavam pastos e se esgueiravam nas fazendas para sacrificar bois e vacas quando a comida na floresta estava escassa. 

- Aí, cabeçudo! - disse Frank, chamando-o - Bem, você talvez não entende patavinas do que tô falando... Mas dane-se, eu não vou ser seu jantar. Espera um pouco aí... Eu tô lembrando. Eu estava caçando você sob demanda daquele cretino do superintendente Hoeckler. Acho que aquela porretada veio a calhar. 

As palavras de Frank podiam ser totalmente incompreensíveis que mesmo assim estimulou o ogro a agir com hostilidade. O grandão balançou a jaula segurando nas grades, rosnando furiosamente, soltando uns respingos de saliva em Frank. 

- Tá, pára com isso, já entendi, seu bicho feio! A presa não tem permissão pra falar. Sabia que essa jaula tá meio apertada? Não sou qualquer animal. Na verdade, tô me sentindo imbecil tentando comunicação com um ogro irracional. 

O ogro acalmou-se mais ao perceber que o detetive se encolhia num canto da jaula. Logo depois, saíra de casa levando o porrete para mais uma caçada. A jaula ainda balançava e Frank ficou centímetros com costelas humanas penduradas com sangue ainda gotejando. Afastou-se pelo cheiro forte de carne apodrecida que empesteava. 

- Tem fechadura... Cadê a chave? O verdinho não é tão selvagem assim quanto eu pensava. 

A sorte aparentava estar ao seu lado. A chave estava pendurada por um ferro cravado na parede bem próxima aonde a jaula podia alcançar se Frank balançasse para pega-la. 

- Ora, ora... - disse ele, pensando rapidamente no que fazer - No três... antes que ele volte de mãos vazias e mais faminto... - preparou-se para balançar a jaula - Um... Dois... Três. - aplicou o movimento e a jaula foi para trás numa boa distância., mas ao se direcionar para frente não se aproximou o bastante da chave com sua mão esticada ao máximo - De novo... - repetiu o movimento, esforçando para aumentar o balanço. Outra vez falhara - Foi quase. - novamente tentou, desta vez com força aumentada. Sua maior preocupação era a jaula acabar saindo do gancho que a mantinha oscilando - Lá vai. 

Esticando seus dedos no limite, Frank tocara na chave, agarrando-a firmemente para não escorregar. A jaula balançou para trás abruptamente. O detetive tomou cuidado para a chave não escapar das mãos. 

Introduziu a chave na fechadura, girando-a no sentido correto, por fim sagrando-se liberto. Abriu a porta da jaula e pulou, depois indo diretamente quando de repente o ogro adentrava. 

- Sujou. - disse Frank, encarando o homenzarrão verde e gordo bem mais alto que ele. O ogro soltou um grunhido de fúria, ameaçando atacar Frank com o porrete, mas o detetive abaixou-se e aproveitou uma brecha no meio das pernas do monstros e se arrastou para fugir. O ogro rugira estrondosamente, virando-se para correr atrás da sua caça. 

Frank correu freneticamente até parar e lembrar-se de que deveria utilizar uma arma para intimida-lo. 

- Merda, tem que estar... - disse ele, revirando nos bolsos. Viu a figura parruda se avizinhando como um animal louco para agarrar a presa com os dentes e jamais solta-la - Que bom... Tinha pensado ter esquecido de trazer. Tava comigo direto. - puxou a trava e mirou no ogro - Toma essa, verdão! 

O tiro acertara o porrete e Frank teve a impressão de que ele se defendeu. Disparou novamente, a bala, desta vez, atingindo o braço esquerdo com o ogro já à poucos metros. Porém, recordou-se do aviso de Carrie a respeito de Leshy. 

- Ah essa não... Feri um servo da tal entidade. - disse Frank, arrependendo-se do ato e vendo o gro cambalear sentindo dor - Ei! Vem cá... - estalou os dedos - Quer me pegar? Ainda sou carne fresca?

O detetive reiniciou a corrida desesperada, entretanto não teve a sensação de que um perseguidor feroz vinha no seu encalço. Pelo contrário, tinha um perseguidor maior. Raízes grossas brotavam do solo e cresciam como serpentes visando atacar Frank que correu ciente de que Leshy manifestava-se em vingança pelo mal o invasor causou ao um súdito seu. 

As raízes moviam-se rapidamente, superando a velocidade que Frank tomara, a qual foi drasticamente reduzida quando mais duas raízes vinham da direção em que corria, cercando-o. O detetive parou, olhando para os dois lados, desesperado por não haver saída. O remexer das folhas transmitia a ilusão de que poderia ser o vento, mas Frank sabia que tratava-se de Leshy evocando sua cólera. O corpo do detetive foi envolvido pelas raízes. As que vieram por trás imobilizaram suas pernas, as outras que o encurralaram fecharam-se no torso e na cabeça. Frank gemeu de dor com os dentes cerrados ao sentir aqueles tentáculos de madeira pressionando seu corpo e sua cabeça intencionando esmaga-los. Por último, sugiram cipós de ambos os lados, vindos de árvores de copas altas, que se enrolaram nos pulsos do detetive e tentavam puxar os braços como se quisessem arranca-los. 

O ogro retornara, o que Frank logo imaginou ser sua sentença de morte. Era válido pensar que Leshy permitisse a um servo executar um golpe de misericórdia. Porém, essa expectativa não foi cumprida. O braço do ogro não existia um ferimento profundo expelindo sangue. O tiro de Frank passou de raspão, deixando um arranhão superficial. A demonstração de dor da criatura se devia mais pela falta de habituação com ataques daquele tipo que lesionassem sua pele, afinal nenhum outro animal se emparelhava a ponto de causar um único dano, ou seja, o ogro mostrava-se imbatível contra todos. 

Portanto, razão nenhuma teria para deixar que seu protetor, basicamente um deus na visão dele, eliminasse sua presa. Frank se livrava das raízes e dos cipós após ouvir o ogro exprimir balbucios num tipo de linguagem particularmente comunicável à Leshy que traduzida diante da salvação poderia significar "Deixei-o em paz, não fui gravemente ferido, então não corro risco de vida". Frank caiu no chão feito um boneco, sentindo múltiplas dores pelo corpo. O ogro virou-o de barriga para cima com o seu porrete e vendo que estava de olhos fechados deu um rugido que o fez tomar um baita susto. 

- Seu... filho da mãe. - disse Frank, levantando-se - Eu tava só me recompondo, não fingindo de morto. O que você é? Nunca vi um monstro assim... antes? - se perguntou, não lembrando mais do que passou nos últimos minutos. 

Inesperadamente uma rede de nylon preto caiu sobre o ogro que resistia tentando se desvencilhar. Sem entender praticamente nada, Frank ouviu um som barulhento, mas ligeiramente familiar e olhou para cima. Um colossal helicóptero com dois conjuntos de asas rotativas sobrevoava fazendo balançar as folhas das árvores. Uma escada de corda caíra e através da mesma desceram quatro homens, um deles Hoeckler que pôs os pés no chão primeiro. Os soldados da ESP cuidavam dos procedimentos práticos de contenção do ogro, ações padronizadas para criaturas semelhantes à ele. 

- O que tá rolando aqui? - perguntou Frank. Hoeckler não quis conversa e tratou de injetar o antídoto do amnésico no pescoço do detetive. Frank reagiu dolorosamente. Abrindo os olhos, finalmente entendeu.

- Como se sente, Frank? Sabe quanto são 2 +2? 

- Vai se ferrar. - retrucou, relembrando de absolutamente tudo. 

 - Olha a língua, ainda sou seu maior chefe. - afirmou Hoeckler. 

- Não vem que não tem, ainda dispenso o convite pra participar do seu clubinho chique de caça-monstros. - disse Frank que logo olhou para o ogro rosnando angustiado dentro da rede - O que vão fazer com o troféu de vocês? 

- Encarcera-lo e disseca-lo, literal e figurativamente. 

- Sabia que podiam ter feito todo esse trabalho sem minha ajuda? Tudo não passou de um teste, né?

- Se saiu brilhante, devo confessar. Não são muitos caçadores em perfeitas condições físicas e mentais que escapam vivos de um desses. - apontou para o ogro atrás dele com o polegar. 

- Eu quase fui desmembrado que nem um brinquedo. Sair vivo desse caso não faz de mim especial. 

- Tenho dados estatísticos. Você é singular. 

- Enfia essas estatísticas no seu rabo. Não quero mais olhar na tua cara por umas boas semanas, ouviu bem? Você me traiu. - repreendeu Frank, apontando o dedo indicador no rosto de Hoeckler. 

- Eu te dei um mérito! - defendeu-se Hoeckler. - Aliás, devolvi seu mérito. - retirou uma chave do bolso e entregou-a à Frank - Tome. A chave da sua sala. Se quiser matar a saudade, ainda dá tempo. 

- A coisa que você injetou em mim agora há pouco... é mesmo um antídoto?

- É desagradável vê-lo duvidar quando você já comprovou a reposta. 

- Quero ter 100% de certeza, por mais que eu não confie mais em você. 

- Sim, Frank. É um antídoto que age de modo instantâneo, a anulação do efeito não dura 1 segundo. 

Frank fez que sim devagar com a cabeça fitando o superintendente com uma face duramente séria. 

- Agora se me dá licença... Temos que ir logo senão a força da natureza retalia contra nós. 

Hoeckler virou as costas, direcionando-se para o helicóptero. O ogro foi levado na rede segurada por uma corda resistente fora da aeronave por todo o caminho até a sede da ESP. Frank olhara para a pequena chave na palma da sua mão direita. 

                                                                                ***

Na sede da ESP, o processo de drenagem pela sonda energética estava na etapa inicial. O mecanismo se resumia a um tubo hiht-ech de metal com um cano de uma finura que o assemelhava a uma agulha. O corpo de Adrael foi perfurado e Damon ativou a máquina empurrando uma alavanca para aumentar os níveis de energia que sustentavam o funcionamento. Uma energia branca e brilhante era sugada atravessando o tubo e subindo para um armazenamento hermeticamente fechado que ficava acima da sala. No entanto, as instabilidades davam seus sinais, preocupando Damon que tentava fazer o que seu alcance técnico lhe capacitava. Adrael parecia despertar na câmara. O centurião abriu os olhos que fumegaram numa luz branca, gerando um pulso de vibração oriundo do seu corpo que destruiu a câmara e o laboratório. A janela de vidro se estilhaçou em mil caquinhos que voaram para dentro do recinto. Damon foi arremessado para o fundo da sala. 

Hoeckler chegara para acompanhar a experiência, mas se deparou com o caos de fogo e faíscas salpicando para todos os lados. Entrou na sala procurando proteger-se com os braços dos pedaços de teto que caíam e as faíscas por toda parte. Visualizou um corpo imóvel jogado ao chão, o qual constatou ser de Damon que derramou uma boa quantidade de sangue de um ferimento na cabeça e provavelmente morreu de concussão. O jovem cientista estava falecido de olhos abertos. 

Atônito, Hoeckler não sabia como processar a cena horrenda. Isso piorou quando virou-se para o lado da sala de contenção. Adrael flutuava, seu corpo resplandecendo em luz sobrenatural. Veio até Hoeckler, os olhos brilhando. Pegou-o pelo pescoço, expressando furiosamente sua insatisfação. 

- Se não fosse pelo código de conduta que jurei honrar... todos da sua laia estariam aniquilados. 

- Tenha piedade. - suplicou Hoeckler, aterrorizado, a voz trêmula. 

- Eu nunca tirei uma vida humana antes. Não vai querer tornar isso realidade se tentar de novo. 

O anjo desapareceu, consequentemente largando Hoeckler ao chão encarando absorto os estragos ao seu redor. 

                                                                                  ***

Departamento Policial de Danverous City

Abrindo a porta da sua sala, Frank viu-e mergulhado no puro breu. Porém, a estranheza durou pouquíssimo. As luzes se acenderam repentinamente junto a um estouro de papel picado. 

- Meu aniversário foi há dois meses. - disse Frank, sorrindo ao contemplar policiais e outros funcionários do DPDC reunidos na celebração de seu retorno saudando-o com palmas calorosas. Bexigas e uma faixa escrita "Bem-vindo de volta, Frank"com tinta azul pregada na parede onde ficava a janela, atrás da mesa - Olha, eu não lido muito bem com festinhas assim de surpresa... 

- Anda, vem, larga de frescura infantil. - disse Carrie, andando até ele. Pegara nas mãos dele - Escrevi naquela faixa o que eu e essa galera aqui estava ansiosa pra dizer. - sorriu entusiasmada. 

- Exatamente, Frank. - disse Ernest indo felicita-lo. Tocou-o no ombro - Só existe um alguém nesse mundo capaz de ocupar esta sala dignamente. Levei três anos pra me convencer. Bem-vindo de volta, amigo.

Frank reprimiu um marejar de olhos pois era a primeira vez que foi chamado de amigo pelo seu chefe. 

- Eu sugeri que fôssemos discutir um certo assunto delicado. Apenas nós três. Como nos velhos tempos. - disse Carrie. 

- O senhor já tá por dentro da bomba? - perguntou Frank, pasmo. 

- Carrie me repassou de modo que eu tomasse a dimensão da crise oculta que estamos para enfrentar a partir de hoje. Por enquanto, fingimos que tudo está no seu pleno normal. Na frente do dito cujo, lógico. 

- OK. - disse Frank, desfazendo-se da seriedade para retomar a alegria - Agora só falta cantarem "ele é o bom companheiro"! - deu uma risada. O detetive fora cumprimentar os outros policiais recebendo tapinhas nas costas e mensagens positivas. Todos ali presentes estavam animados com o retorno após a colheita de assinaturas a favor e contra ser suspensa. 

                                                                                    ***

Enquanto a comemoração pela readmissão de Frank ocorria, Atticus não estava tendo uma noite muito tranquila no hospital em que estava internado. Seu coma estava prestes a terminar. O sonho que trazia imagens variadas avisava-o disso. Uma sequência horripilante envolvendo gritos de guerra, mortes e pessoas erguendo cartazes em confrontos violentos contra homens de escudo e armados. 

Uma luz verde piscou de três olhos inumanos e o fez acordar sobressaltado. Os aparelhos e o sistema elétrico tiveram pane. Dois enfermeiros se aproximavam do quarto com lanternas e ao entrarem surpreenderam-se por não verem Atticus na cama. O esper surgiu detrás deles com uma face psicótica, os olhos heterocrômicos pulsando de raiva. Levantou de leve sua mão direita e fechou-a. Os dois enfermeiros tiveram suas cabeças explodidas fazendo sangue e pedaços elevarem-se ao teto. 

Saindo do quarto, Atticus encontro outro obstáculo, um médico que estava de plantão.

- Rapaz, o que faz fora do seu quarto? Espera, sei quem você é... O catatônico. Mas por que...

Atticus entortou a cabeça num movimento que ao mesmo tempo quebrou o pescoço do médico. 

Mais uma barreira: dois policiais que sacaram suas armas ao testemunharem o esper assassinar o médico com sua mente. Atticus abriu a mão direita para manifestar um poder fenomenal. O policial da esquerda caiu de joelhos, espasmando como se estivesse à beira de convulsão. O outro ficara horrorizado, não sabendo como agir. Atticus extraía sangue do policial, vaporizando-o e fazendo sair pelos poros até modificar as propriedades moleculares como uma transmutação de uma substância à outra. Deu origem a uma matéria sólida e metálica de formato esférico. Dividiu-a em duas esferas pequenas e as atirou telecineticamente para atravessa-las nas cabeças dos policiais, logo depois quebrando as vidraças as portas que separavam os corredores. Sua caminhada para a entrada do hospital não consistiu em mais empecilhos.

A brisa fria da noite passava pela roupa azul hospitalar do esper que regojizou com a própria conquista. 

- Finalmente... a liberdade. - disse Atticus pela primeira vez em muito tempo formando um sorriso. 

                                                                                -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.


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