Frank - O Caçador #39: "Ataque de Animal (é o que sempre dizem)"
Reserva florestal de Danverous City
Cinco estudantes da turma de Línguas Estrangeiras da universidade marcaram de se encontrar numa casa no meio da floresta para curtirem as tão sonhadas férias que o recesso de meado do ano trazia. Na primeira noite de estadia, resolveram quem ficaria com a suíte no papel, papel ou tesouro entre Nicolas e Gwen contra Logan e Thelma. Nate preferiu um quartinho separado e modesto, não fugindo à regra do seu jeito meio "lobo solitário" de ser, embora tivesse bastante afinidade com as garotas, em especial Gwen, por quem nutria um interesse amoroso tipicamente nunca externado. A dupla vencedora fora Nicolas e Gwen, para o desgosto de Nate que não dissera nada e foi para o seu quarto assim que terminaram.
O que representava uma sorte tremenda para Nicolas que procurava satisfazer seu apetite sexual com Gwen desde o primeiro minuto que a conhecera. Logan e Thelma dormiram juntos no outro quarto, um virado de costas para o outro para impedirem um possível flerte. Num dado momento, o rapaz gorducho pegou seu óculos e foi saciar sua sede na cozinha, sem acordar Thelma - também usava óculos grandes e seu atributo de maior destaque eram os cabelos pretos cacheados e volumosos. Mas ao passar pelo quarto de Nicolas e Gwen escutou sussurros e parou no corredor colando seu ouvido à porta. Sorriu sacanamente imaginando as loucuras que aconteciam do outro lado. Porém, a porta se entreabriu rangendo até que abrira totalmente fazendo Logan cair para dentro do quarto, gerando alto constrangimento para o casal.
- Opa, quarto errado, amigo! - disse Nicolas, quase pulando da cama, cobrindo sua áreas íntimas com o lençol - Acho que você esqueceu de ler o cartaz sobre as regras de privacidade. Fica bem ali perto da porta da sala. Vê se arranja óculos novos.
- Calma, Nick, dá um tempo. - disse Gwen, o cabelo loiro e meio curto desarrumado - Ele não fez por mal. Enganos acontecem.
- Só pra título de curiosidade, eu tava indo pra cozinha, não voltando. - confessou Logan, ajeitando seus óculos - E o Nate vai adorar saber da diversão que ele tá perdendo.
- Peraí, cê tava ouvindo a gente... - disse Nicolas que olhou nervoso para Gwen. Voltou-se para Logan - Não rolou nada, cai fora.
- O Nate?! Não vai me dizer que... Ah sim, é exatamente isso que quer dizer.
- Diz pra ele que o peixe que ele queria fisgar caiu noutra rede. - disse Nicolas, zombeteiro - Se manda.
Logan recuou, um tanto intimidado já que Nicolas tinha um porte físico invejável que remetia à lembranças tortuosas de valentões do mesmo naipe. Fechou a porta devagar. Gwen jogou o travesseiro em Nicolas, irritada.
- Seu babaca. Não devia ter mandado ele embora assim. Eu não sei onde eu tava com a cabeça.
- Tá descontando em mim por que? Ele que invadiu nosso espaço. Vai desistir de mim e se atirar pros braços do coitadinho do Nate pra afagar o coraçãozinho dele que sofre porque não ganha a atenção que ele acha merecer de você? - disse Nicolas, estourando a paciência de Gwen.
- Quer saber? Vou me juntar ao Logan. Beber uma água. Não me espere voltar pra continuarmos a nossa primeira vez arruinada. - disse ele, saindo da cama com seu roupão de seda rosa.
- Vai lá. Quem sabe ele te deixa molhadinha. - provocou Nicolas. Gwen virou-se antes de abrir a porta.
- Quer ser superado por um rival nas preliminares? Isso pode acontecer.
A garota fechara a porta com força, indo diretamente à cozinha. Mas aproximando-se pelo escuro corredor, parou no meio do caminho ouvindo gritos apavorados de Logan. Uma tremedeira decorrente do medo e do nervosismo dominou seus músculos. Na ponta dos pés, vagarosamente, Gwen chegava à cozinha, após os gritos de Logan cessarem, tentando olhar escondida na parede. Não arriscaria acender a luz. Andou mais uns passos depois de ver a porta que dava para o quintal estar aberta, deixando a luz azulada do luar invadir um pouco do cômodo. Parou novamente quando sentiu algo na sola dos pés. Não era água. Com ajuda do pouco da luz lunar, pôde constatar que era sangue. Tapou a boca com as duas mãos para não gritar.
Um som que podia ser compreendido auditivamente como "bau" nos passos que seu emissor dava. Virou lentamente o rosto para a sua esquerda e sua face ganhou um aspecto de terrificação ainda maior. O grito finalmente havia saído ao ver aqueles olhos brancos e redondos na escuridão acima de uma bocarra animalesca com presas que pareciam brilhar de tão alvas e uma língua com forte tom de vermelho. A criatura abriu mais sua mandíbula saltando das trevas para cima de Gwen.
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CAPÍTULO 39: ATAQUE DE ANIMAL (É O QUE SEMPRE DIZEM)
Departamento Policial de Danverous City
Ernest havia chamado Frank e Carrie para convence-los a ajudarem-o num assunto que ele classificava como urgente. Seus dois melhores funcionários, segundo a visão do diretor, se encontravam lado à lado nas cadeiras frente à mesa de trabalho dele que, com os cotovelos apoiados nela, pensava numa maneira de descrever a situação sem que os frustrasse ou desmotivasse.
- E então, diretor, qual é a tremenda barra pesada que o senhor tá vivendo pra querer nossa ajuda? - pergunta Frank - Não é sobre sua campanha, certo? Olha se for, a gente pode angariar mais votos...
- Frank, deixa ele explicar o problema. - disse Carrie, antevendo o que o chefe diria - Não deve ser nada tão grave.
- Errado Wood. - corrigiu Ernest, sério - É desmoralizante pra um candidato líder nas intenções de voto.
- Ou o senhor fala logo ou a Carrie vai ter um surto psicótico com tanto mistério. - disse Frank, zoando a curiosidade excessiva da amiga. Carrie o olhou estreitamente com um sorrisinho irônico.
- Eu não chegaria tão longe, por mais que eu odeie quando a pessoa fica delongando sem parar. O que não é o seu caso, diretor. Mas de qualquer forma é melhor contar, tá nos deixando... meio nervosos. - segurou a barra da sua saia com as duas mãos suadas, movimento que Frank percebeu e o fez conter uma risadinha.
- Eu preciso de vocês pra... fortalecerem minha campanha.
- É disso que eu tava falando. Conseguir eleitores pro senhor. - disse Frank.
- Vocês pensam que é fácil levar à cabo estratégias eleitoreiras? Vejam-se na minha pele, coloquem-se no meu lugar, pelo menos. Posso ter disparado nas pesquisas, mas me falta atitude pra me promover.
- O que nos segura que façamos? - perguntou Carrie.
- Pretendo marcar para amanhã um adesivaço e panfletagem pela principal avenida de Danverous City. Com vocês na linha de frente, é claro.
- Ficar entregando panfletos e colando adesivos nos carros e nas casas... - disse Frank, nitidamente indisposto com a ideia - Ahn, diretor, foi mal, mas é que... A gente tem coisa mais importante pra fazer.
Ernest bateu na mesa, enfurecido. Carrie tomou um leve susto com a reação.
- Mais importante que a campanha promissora do chefe de vocês rumo à prefeitura desta cidade que precisa encontrar novos rumos pra avançar como metrópole?! Hein? Vou ser trocado por monstros e pesquisas?
- Não é bem assim, o que Frank tentou dizer foi que de repente pode surgir um caso sobrenatural de emergência. As ocorrências normais são imprevisíveis. As paranormais, então... nem se fala. - disse Carrie.
- Podemos dar uma resposta definitiva no final do dia? - perguntou Frank.
- Sim. Não vou pressiona-los quando há realmente muito trabalho a ser feito com relação à você, Frank. Considerando a possível intervenção do segundo emprego do superintendente Hoeckler na sua alçada.
- Tem esse detalhe também. - afirmou Frank, lembrando da ameaça constante da Fundação ESP.
- Frank, saca só aqui. - disse Carrie, visualizando no celular - Na reserva florestal daqui da cidade. Um grupo de 5 amigos foi atacado durante a noite por um suposto animal selvagem que invadiu a cabana. Dois deles desapareceram. Rastros de sangue foram encontrados na cozinha onde a primeira teria sido arrastada pela fera. Está em muitos portais de notícias. Quer ir lá dar uma verificadinha?
Ernest levantou uma sobrancelha para Frank.
- Esses casos de ataques selvagens nunca são o que parecem.
- Espero que tenha sido apenas um urso. - disse Ernest - Assim, quem sabe, você arranja mais tempo para decidir se vai me ajudar ou deixar seu amigão aqui sem nada para se divulgar por aí. Ou vou ter que oferecer um certo incentivo?
- Tá querendo dizer... um aumento? - perguntou Frank, ligeiramente interessado.
- Não pode nos comprar só pra alavancar sua campanha numa panfletagem de apenas duas pessoas. - contestou Carrie.
- O tempo urge e estou refém dessa falta de pessoal, meus melhores agentes de publicidade ainda não estão contratados. - justificou Ernest, parecendo nervoso - Portanto, diria que vocês são o meu improviso.
- Entendi. - disse Frank, mais confortável ante a proposta - Mas a recompensa é aumento mesmo?
- Essa sua empolgação me obriga a repensar na ideia. É pela amizade ou pelo dinheiro. Escolham.
Frank e Carrie se entreolharam, seus pensamentos bem correspondentes.
- Tudo bem, tô satisfeita com minha renda mensal. - declarou Carrie, dando de ombros.
- Idem. - disse Frank, vendo-se sem saída - A gente quebra esse galho de graça. A amizade em primeiro.
O sorriso fechado de Ernest provava seu regozijo com a decisão.
- Nunca duvidei do bom senso de vocês, ainda bem que não tenho empregados cabeças de bagre que só pensam no ganho fácil. Vai lá, Frank, pega esse bicho carniceiro e invasor de propriedades.
- Te ligo de lá, Carrie. - avisou Frank, levantando-se - Até mais, diretor.
Carrie esperou Frank ir embora para aproveitar um instantinho a sós com Ernest em virtude de um assunto particular.
- Wood, também está dispensada.
- Hoje eu me recuso a sair quando mandar.
- O que deu em você? - perguntou Ernest, franzindo o cenho.
- Temos que falar seriamente sobre... a nova legista. Acho que há algo errado nela, uma energia ruim...
- Desculpe, mas eu me recuso a aguentar mais uma das suas cismas contra funcionárias novas. Não sei que tipo de suspeita sobre Lilian você tem, mas não espero que seja reforçada com evidências que a desabonem, afinal ela iniciou semana passada. Todos são boas pessoas até que se provem o contrário. Se desiludir é uma consequência da boa-fé e inocência.
Carrie assentiu, dando-se por vencida.
- Eu realmente espero, do fundo do meu coração, que tenha acertado. - disse ela, logo se levantando para se retirar da sala.
***
Reserva florestal de Danverous City
Estacionando o carro à alguns metros de distância da cabana, Frank avistou o guarda florestal reunido com Nicolas, Nate e Thelma na varanda. A conversa foi interrompida com a chegada inesperada do detetive.
- Olá, bom dia. - disse Frank, cumprimentando o guarda com um aperto de mãos - Soube que essa casa foi possivelmente invadida por um animal selvagem. Eu sou o agente Frank Montgrow, do DPDC. - falando convictamente, exibindo seu distintivo prateado, algo que aguardava deveras para voltar a fazer.
- Morgan, guarda noturno da reserva. - disse ele, um rapaz forte, moreno e com barba por fazer usando uniforme marrom claro que incluía um chapéu e uma bermuda - Deve ter sabido de antemão dos indícios de sangue. Eu já fiz uma varredura completa com a polícia, mas se ver uma chance de resgate dos supostos sobreviventes... fique à vontade, a floresta é sua.
- Olhem aí, mais um federal na jogada. - disse Nicolas aos demais - Como se nossas férias já não estivessem destruídas o suficiente...
- Aí amigo. - disse Frank, aproximando-se do trio - Meu chefe considerou a importância desse caso como prestação de serviço facultativa, então eu tô aqui como voluntário porque os indícios me levam a acreditar que é do meu interesse. Se não gostaram, só lamento. A propósito, quem são as vítimas?
- Foi mal, mas vamos entrar mudos e sairmos calados de qualquer interrogatório que fizerem. - disse Thelma. Nate parecia o menos apto a seguir com a rejeição - Não identificamos ninguém pra polícia.
- Acho bom vocês cooperarem. - advertiu Morgan - Tiveram sorte por não estarem aqui na hora que a polícia checava a cozinha. Eles podem voltar ainda hoje. Querem responder por desacato à autoridade?
- Vai se ferrar, quem pediu sua opinião? - disse Nicolas, ríspido.
- Calma aí, ô nervosinho. - disse Frank, não gostando da descompostura - Eu perguntar só dessa vez, senão... - retirou do bolso do sobretudo seu celular - ... peço pra um equipe do DPDC dar uma passadinha. O que vai ser? Lei do silêncio ou esclarecimento?
Nate tomara coragem para atender á exigência.
- Acontece que... queremos resolver tudo por nossa conta. A Gwen e o Logan podem estar vivos.
- Seu filho da mãe. - disse Nicolas, resmungando baixinho, passando a mão no rosto.
- São esses os nomes, né? Vocês chegaram a cruzar a floresta pra procura-los?
- A ideia de ligar pra polícia foi do Nick. - disse Thelma de má vontade - Nate e eu nos embrenhamos na mata pra achar qualquer pista que nos levasse à eles e... Encontrei o Logan.
- Vivo ou morto? - questionou Frank.
- Estava vivo, mas estava com a perna esquerda sangrando muito... Ele fez um último esforço pra me falar do que tinha visto, a coisa que o atacou... Fugiu pela porta da cozinha, quase rastejando. Eu não contei isso pra vocês... - disse Thelma, abalada - Acho que ele morreu pela perda de sangue. E logo quando iria descrever o monstro que levou a Gwen.
- E quanto à Gwen?
Thelma fez que não com a cabeça, quase chorando.
- Logan disse que o viu segurando ela pela boca como um brinquedinho de borracha.
- Por que não nos contou antes? - perguntou Nate.
- Quis dar esperanças. - respondeu ela, desconsolada. Retirou os óculos para enxugar as lágrimas.
- É bem mais provável que seja um urso. - especulou Morgan - Geralmente os que povoam as redondezas se alimentam à noite, tem vários com esse hábito. É do feitio deles invadir casas.
- Eles sabiam o que viram. - disse Thelma - Não vem querer minimizar a situação, tá legal?
- Ser realista agora virou minimizar? Perfeita a sua lógica. - ironizou o guarda.
- Pode continuar insistindo nessa narrativa de ataque animal, não ligo pro que um simples guarda diz.
- Não quero discussão perto de mim. - disse Frank acalmando os ânimos - Ouçam vocês: Eu vou assumir a investigação, quer vocês queiram ou não, gostem ou não. Morgan falou que tem ursos perambulando na floresta, não deveria ser estranho que agissem assim quando sentissem cheiro de carne fresca.
- Mas Logan deu a entender que foi uma criatura com uma fome acima do normal... - disse Thelma.
- Ursos não costumam ser mais... indiscretos? - perguntou Nate.
- Esse é o X da questão. - disse Thelma - Por que um animal comum agiria tão sorrateiramente como se soubesse usar a escuridão ao seu favor? Até parece que ele planejou cada passo até aqui.
- A Gwen tinha saído pra beber água com o Logan - disse Nick, finalmente revelando - , depois escutei ela gritar. Tudo que achamos foi o piso da cozinha sujo de sangue. Eles não foram acompanhados, Gwen saiu do quarto depois que brigamos porque o idiota do Logan foi pego ouvindo nossa conversa.
- Pára com isso, Nick. O Logan não tá aqui pra se defender. - disse Nate.
- E você cala a boca, seu esquisitão do cacete. - revidou Nick - Tinha que abrir o bico, hein, seu mané.
- Quem lamenta somos nós. - disse Thelma - É nossa palavra contra a sua.
- Sem acordo, então? Que seja. - disse Frank - Vão se arrepender de quererem competir comigo.
***
Atendendo a um telefonema de Carrie, o detetive afastou-se da cabana para conversar numa área em que a interferência no sinal não fosse tão acentuada. No mesmo tempo chegava outro carro, uma picape vermelha. Do veículo saíra um homem truculento, caucasiano e calvo, direcionando-se para onde Morgan e os três universitários estavam. Frank tentou ignorar a chegada e voltou a focar na ligação para Carrie que o tinha chamado umas três vezes.
- Ah, oi Carrie. Desculpa a demora pra falar... Me distraí aqui com um aparente novo elemento da história. - disse ele, ora olhando para um canto, ora olhando para o senhor - Dei uma palavrinha com os amigos das vítimas. Levei esporro de um deles, mas preferi manter minha autoridade do que deixar três pessoas indefesas cuidarem de tudo sozinhos sem saber com o que estão lidando.
- Hum, então os calourinhos querem te despachar, é? Mostra pra eles quem é que manda.
- Já fiz isso, só que se fizeram de teimosos por acharem que a única vítima que não comprovaram ter morrido ainda está viva. Um se chamava Logan, ele morreu de hemorragia na frente de uma das colegas, a Thelma, que entrou na mata junto com os outros pra procura-los. A outra é Gwen, parece que é namorada do marrentão que me afrontou, o Nick. Acreditam piamente que ela esteja viva. O único que parece honesto o bastante pra colaborar, e menos otimista também com o resgate, é o Nate.
- Vai ter que colocar essas três criaturas insubordinadas na rédea curta se não quiser mais sangue derramado. E o guarda florestal?
- Sim, o Morgan tá comigo nessa, vou combinar de dormir na cabana dele já que o trio parada dura não vai aceitar minha proteção. - disse Frank, novamente observando o homem que havia chegado.
- Frank, escuta só: Pesquisei algumas possíveis lendas que circulam pela reserva e apenas uma delas bate vagamente com as evidências dos ataques. - disse Carrie, vidrada no seu monitor - Um ser que anda por locais escuros e livres de muita claridade. Aliás, a luz é a principal fraqueza dele.
- Vulnerável à luz?! Tá me parecendo cópia do Devorador.
- E não é. Os que trombaram com o monstrengo e sobreviveram para contar o nomeiam de Bauk. A origem desse nome tem a ver com o som de seus passos que são ouvidos como "bau". Além disso, tem uma conexão xamânica muito poderosa que determinou sua criação.
- Xamãs... Tá ficando interessante... e mais sinistro, obviamente.
- Conta-se que ele originalmente foi um xamã que renegou aos seus congêneres para interesses que não visavam a proteção da floresta. Em resposta à traição, o líder xamã o transformou numa criatura sedenta por sangue e carne que vagaria pela floresta somente à noite. Mas após a morte dos xamãs, o Bauk ganhou uma utilidade à eles, passando de traidor para seguro de vida.
- Como assim "seguro de vida" se já tinham ido pra cova?
- Maneira de dizer, claro. O lance que explica isso é que o Bauk passou a servir como um amuleto vivo para afastar os espíritos malignos que perturbassem a paz dos espíritos dos xamãs. Mas para que sejam efetivamente protegidos, o Bauk deve se alimentar de pessoas no que o líder xamã estabeleceu como "temporada da ceia". Tô lendo isso num site ultra-confiável, pra ressaltar, não num bloguinho qualquer.
- Quanto tempo dura exatamente essa ceia sangrenta?
- No máximo, 10 dias dentro do verão. Adivinha em que estação estamos...
- OK, Carrie, valeu pelos acréscimos. Preciso ir logo saber quem é aquele cara porque vou explodir de curiosidade. Tchau. - disse Frank, logo encerrando a chamada. Foi direto para a cabana, mas no meio do trajeto Morgan vinha ao seu encontro aparentando irritação. Enquanto isso, o homem entrava na casa junto aos universitários - Ei, o que foi? Que cara é essa?
- Meu chefe quer esse urso virando tapete na sala dele senão meu emprego tá por um fio. - revelou Morgan - Topa ir comigo hoje à noite pra uma caçada?
- Eu estive pensando em dormir na sua cabana, porque os jovenzinhos ali não me querem por perto.
- Tudo bem, fechado, você é meu convidado. Na verdade, você já pode ir pra lá.
- Não, ainda vou ficar apreciando a natureza, encher um pouco a barriga, tirar uma sonequinha. Lá pela tardinha, ou mesmo à noite, a gente se encontra. - disse Frank. Morgan assentiu, concordante.
***
No cair da noite, Atticus seguia por uma calçada de concreto à procura de um endereço, olhando para as casas. O jovem esper estava trajado com calças moletom pretas, tênis de marca e camisa cinza com mangas longas. Tais roupas foram surrupiadas de um mendigo que encontrou num beco e que naquela hora não podia denunciar um furto, mesmo que estivesse vivo. Encontrou a residência e sorriu consigo mesmo.
Fora até lá e bateu na porta. Uma mulher de vestido vermelho e branco e usando avental atendeu-o.
- Olá, mamãe. - disse Atticus, emocionado, os olhos heterocrômicos arregalados e marejando.
A mulher sentiu um nó na garganta. As lágrimas vieram instantâneas.
- Atticus... - disse num tom choroso, quase pondo a mão na boca - É você mesmo? O que faz fora do...
- Eles me deram alta. - respondeu ele rapidamente - Estou curado, mãe. Finalmente sou normal.
- E quando você foi um estranho pra nós? Vem cá. - disse ela, abraçando-o.
- Papai chamava a mim e o Romam de aberração. - disse Atticus, meio ressentido.
- O Romam, diferente de você, sempre levava na esportiva. Por que não aprende com ele? - disse a mãe, quase rindo - Tenho que te falar... Ele desapareceu há um mês. - o pai adotivo de Atticus apareceu na sala e parou para encarar o filho estupefato - Veja David, nosso filho voltou. Atticus foi liberado e garantiu que se sente bem.
Ele fez que sim com a cabeça, dando um sorriso tímido.
- Meus parabéns. Seja muito bem-vindo de volta. Eu sabia que você conseguiria.
- David... Ele não ganha um abraço? - perguntou a mãe, contrariada com a inércia emocional do pai.
David foi até Atticus, logo o abraçando forte junto com sua esposa. Após o momento em família, o esper foi ao seu quarto e parara no centro. Fechou os olhos e manifestou um poder telepático que se expandiu absurdamente. "Para cada esper que estiver recebendo este contato... Por favor, considere retornar ao meu chamado para a luta. Uma luta de todos nós. Vai haver uma guerra que pode nos condenar à extinção. Cedo ou tarde nossas existências não serão mais nenhum segredo. Me encontrem no seguinte endereço."
Forneceu o endereço do local reservado para a reunião entre espers que se veriam ameaçados por uma iminente perseguição aos seus poderes. Atticus reabriu os olhos e sorriu confiante.
***
Acomodando-se na casa de Morgan, Frank sentou-se no sofá meio rasgado relaxando os ombros. Ficou reparando em algumas pinturas emolduradas nas paredes, figuras de símbolos que lhe remetiam a algo ligeiramente familiar. "Nada contra ele curtir tatuagens tribais, mas... Em quadros?", pensou Frank, julgando incomum. Seu celular vibara indicando ser uma nova mensagem de Carrie.
A assistente enviara a imagem de um objeto em formato losangular e de madeira com um símbolo talhado. No texto dizia: "Passei as últimas horas garimpando fotos de qualquer coisa que envolvesse os xamãs da reserva florestal e o único achado foi este. É um totem xamânico legítimo que é passado de geração à geração e quem o usa torna-se um domador do Bauk. Uma pergunta que não quer calar: Por que Morgan não esteve vigiando a casa sabendo que ursos ou outros animais selvagens poderiam invadir sendo que ele patrulha 24 horas?". A questão permeou a mente de Frank por uns bons minutos até Morgan chegar inesperadamente. Frank levantou-se depressa, guardando o celular.
- E aí, Morgan, tava fazendo o quê? - perguntou forçando um sorriso amigável.
- Continuei minha conversa com meu chefe, ele não dá o braço a torcer de jeito nenhum. Eu voltei apenas pra ver se você estaria aqui à vontade. Esqueci de avisar que o lado de fora é melhor do que o de dentro.
- Tá legal, já estive em quartos de hotéis piores que o seu cafofo. - disse Frank de bom-humor - Sem querer ofender.
- Não, eu tenho que concordar. - respondeu Morgan achando engraçado - Mas é assim que fui acostumado a levar a vida nesses últimos anos. Se me der licença, vou dar uma olhada na cabana, ver se aqueles teimosos não aprontaram uma pra sair atrás de matar o monstro.
- Você agora acha que é um monstro? - indagou Frank. A pergunta soou capciosa para Morgan.
- Tenho uma pergunta melhor: Você quer acreditar que seja um monstro? Ainda aposto no urso. - disse ele, logo virando as costas para sair - Até mais. Liga a TV, tem sinal a cabo. - fechara a porta.
- Mas e a nossa caçada? - indagou Frank, pouco importando saber já que ele havia ido embora. Explorou a casa indo até um quartinho. Remexeu nas gavetas da cômoda, em todas elas, jogando peças de roupas para fora na frenética busca por qualquer coisa que assemelhasse-se ao totem xamânico. A procura durou mais do que gostaria, levando-o a bagunçar mais do que deveria. Pegou uma caixinha com detalhes brilhantes e abriu-a. Sua visão fixou-se no artefato.
- Caramba, às vezes tenho impressão de que a Carrie tem um dom sobrenatural pra levantar as suspeitas certas. - disse Frank, surpreendido ao achar o totem ligado a um cordão preto - Ah Morgan... Cê não vai sair dessa impune não. - correu para a sala a fim de sair da casa, porém ao puxar a maçaneta viu que Morgan tinha se preparado para aquele cenário - Filho da puta, me trancou por fora. - voltou para o quarto e visualizou as janelas e abriu uma delas, logo pulando para fora.
Enquanto isso, Thelma e Nate, munidos de lanternas e mochilas com kits de primeiros-socorros, já estavam se aventurando na floresta imergida no breu da noite que em algumas partes era derrotado pelo clarão da lua cheia. Nicolas, lutando contra a sonolência, ficara como guardião da casa até que retornassem - com ou sem Gwen. Frank chegara à casa com seu carro e estacionou quase no mesmo local de quando veio pela manhã. Correra para a varanda e bateu forte na porta com a mão direita.
- Quem tá batendo aí? - perguntou Nick com sua rispidez. Abriu quase acertando a cabeça de Frank com um taco de beisebol - Ah, é o federalzinho de sobretudo. Por que não falou que era você? Eu podia ter te botado pra dormir.
- Olha cara, agora não tô afim de dar satisfação pra ti. Cadê seus amigos?
Nick desviou o olhar e baixou a cabeça, cerrando os dentes.
- Fala logo! Cadê eles? - perguntou Frank, enfurecido, agarrando-o pela camisa.
- Foram pra mata... tentar achar a toca do monstro.
- E o Morgan? Passou por aqui?
- Não vi ele desde de manhã.
- Era de se esperar. - disse Frank, em seguida virando-se para ir no encalço da dupla, mas foi impedido por Nick que o pegou pelo ombro. O detetive fora ágil em pegar a mão do rapaz e aperta-la para que sentisse uma dor que o fizesse desistir de enfrenta-lo - Ou você me deixa ir ou quebro esses dedos.
Nick tentou revidar com um soco, mas Frank desviou o rosto e contra-atacou com um forte cruzado de esquerda bem no nariz, derrubando-o no chão.
- Eu quis te impedir pro seu bem, cara! - justificou-se Nick, sofrendo com o sangramento nasal.
- Queria o quê? Ação e reação, seu idiota! - repreendeu Frank - Eu podia te prender por agressão.
- Diz o policial que me socou quase despedaçando meu nariz. - retrucou Nick, levantando-se e estancando a hemorragia.
- Você me tocar daquele jeito não foi o método mais civilizado pra me convencer a não ir atrás dos seus amigos. - contra-argumentou Frank - Pensando bem, talvez o melhor plano que podemos traçar é nos unindo. Vamos pra dentro, tem umas paradas bem cabulosas pra te falar. E é bom você confiar em mim.
***
O carro de Morgan estacionou perto de uma gruta. O guarda descera do veículo robusto, esquadrinhando ao redor para não detectar outras presenças além da sua. Entrando na gruta, ligou sua lanterna, caminhando para além da onde a luz lunar alcançava. Apontou o facho para Gwen que estava deitada amarrada com uma mordaça entre os dentes. A jovem gemia implorando para ser liberta.
Morgan chiou pedindo silêncio.
- Faremos um passeio de volta pra cabana. - disse agachando-se - Vai rever seus amigos... pena que não por tempo o bastante pra transar com um deles.
O Bauk estava próximo, rosnando ferozmente e roçando suas garras no solo. Morgan exibiu o totem retirando-o por baixo de sua camisa.
- Calma amigão. Seu jantar logo estará servido. Sabe aquela casa que você invadiu ontem? Vai pra lá e me espera chegar. Se tiver alguém, devore. Não saia antes de mim, espere. - disse Morgan fazendo Gwen querer gritar, mas o pano na boca abafava - E quanto a você, loirinha... - passou seus dedos pelo rosto branco dela - Vem comigo. - desamarrara-a e a carregara nos braços para fora da gruta.
Na cabana, Frank pediu que Nick ligasse para Thelma ou Nate.
- Não tá dando certo com a Thelma, desligou o celular. Vou tentar com o Nate.
Frank aguardava que a ligação funcionasse. Os dois estavam na cozinha de luzes apagadas.
- Peraí, tá chamando... Nate? Nenhum sinal do monstro ou da Gwen? Não? Beleza, se escondam em qualquer canto. O detetive Montgow e eu vamos bolar uma estratégia pra atrair o monstro. Sim, é um monstro de fato! O detetive não é um federal comum, ele trabalha caçando coisas que matam fazendo parecer atos de animais comuns. Não acredito que vou dizer isso, mas... Esquece a Gwen, cara. Repassa pra Thelma e... - a interferência cortara a ligação - Que merda, o sinal já era.
- Muito bem, o plano requer uma bolsa de sangue e uma isca pra conduzir o Bauk à luz do sol.
- Ainda são 3 e meia. Vai se deixar perseguir por ele pela floresta até amanhecer? E se você ficar perdido?
- Eu tinha pensado nisso antes, por isso recorri ao mapa da reserva que o Morgan me emprestou. Tem um morro bem alto à 3 quilômetros daqui. E então, não temos nada pra improvisar um recipiente?
- Eu me ofereço como isca. - disse Nick, corajoso - Você fica aqui e pode dar amassar a cara do guarda.
- Não, eu que serei a isca. Quer ser o herói do dia pra impressionar sua garota caso ela esteja viva?
Nick suspirou pesadamente, não enxergando oura saída.
- A Thelma guardou umas bolsas de soro fisiológico na geladeira. Vou pegar uma e esvaziar.
Ao passo que Nick cumpria sua função, o carro de Morgan seguia por uma estrada de terra. Frank cortava a palma da sua mão para derramar na bolsa, pressionando o corte. Nick virava o rosto sentindo-se enjoado.
Enchida a bolsa, Nick a deixara aberta para que o odor do sangue atraísse o Bauk por todo o caminho. Ruídos de vidro estilhaçando alertaram os dois. O Bauk entrava na casa às escuras, salivando e rosnando. Sua ótima visão em preto e branco complementava seu excelente faro.
- Como vai carregar a bolsa sem o risco de cair? - peguntou Nick.
- Bem pensado. Mas ficamos sem tempo pra arranjar uma corda e amarra-la nas minhas costas.
- Eu procuro a corda e você tenta... sei lá, atrasar ele. - disse Nick, amedrontado.
- Vai logo, ligeiro e avexado. - disse Frank correndo para a sala. Ele balançou o totem na frente da fera.
- Aí está você. O brinquedinho do seu dono tá comigo.
- Tá redondamente enganado, Frank. - disse Morgan vindo pelos fundos segurando Gwen pelo braço. Mostrou seu totem, o autêntico - Por que acha que tranquei você lá?
- Devia saber... A coisa só obedece a você porque... é um descendente de xamã. E a droga do totem verdadeiro tava com você o tempo todo. Pôs o falso lá na esperança de que eu fosse roubar pensando que te forçaria a confessar seu envolvimento quando quisesse recupera-lo. E pelo que vejo, quer trazer um banquete pro seu bichinho de estimação né? Hoje não vai rolar.
- Ah vai sim. A ceia precisa ser levada adiante até o fim. Não vou desapontar meus ancestrais porque você é um policial durão que vai tentar me servir de obstáculo. Conheço caras como você. E odeio.
- Frank! - disse Nick chegando na sala - Gwen! - o detetive barrou para que não se aproximasse - Seu miserável, solta ela!
- Cadê a bolsa? - perguntou Frank em tom baixo.
- Peguei a corda, deixei lá. Faz alguma coisa... Ele vai mandar esse bicho horroroso matar a Gwen.
- Larga ela, Morgan. - exigiu Frank. O guarda o fizera, jogando-a no chão.
- Ataca ela. - disse Morgan, ordenando ao Bauk que a devorasse. A criatura fixou seus olhos brancos em Gwen e avançara com suas patas arranhando o chão de madeira. Gwen soltou um grito de pavor e se afastava rapidamente arrastando-se para trás. Frank voou para cima de Morgan iniciando uma troca de socos violenta. Morgan desferiu uma cotovelada no rosto de Frank. Mas o detetive conseguiu agarrar o cordão com o totem genuíno e o arrancou do pescoço do guarda. Nick jogara uma cadeira sobre o Bauk, mas a mesma partiu-se em pedaços. Vendo que Frank tentava destruir o totem tendo em vista ser o único meio de romper a conexão entre Morgan e o Bauk, ele pensara friamente num ritmo acelerado.
Morgan foi derrubado sobre uma mesa de vidro por Frank. Nick pegara uma caixa de fósforos perto da lareira e acendeu um, logo jogando-o.
- Frank, me dá! - pediu Nick. Frank jogou o totem para o rapaz que o lançou para o fogo consumi-lo.
Antes que as presas do Bauk tocassem o rosto de Gwen que já aceitava seu destino final, a criatura virou o rosto para onde Morgan jazia com dores dos golpes que levara de Frank.
O Bauk avançou contra Morgan e Frank saíra da frente. Os dentes da fera cravaram no corpo do guarda, fazendo sangue espirrar no teto e na parede. Nick fora até Gwen para fugir com ela e evitar assistir mais daquela carnificina feroz. Frank se dirigiu à cozinha e amarrou a bolsa de sangue que ficou presa ao seu peito, mantendo-a aberta. Assim que o Bauk terminou sua refeição, mirou sua atenção em Frank que se expunha à ele tranquilamente na intenção de chama-lo.
- Ei, chifrudo! Quer apostar uma corrida? - desafiou Frank, logo correndo para fora da casa. Nick e Gwen foram para o outro lado aguardando que Frank retornasse inteiro. O cheiro ferroso do sangue ensandecia o Bauk que velozmente corria atrás de Frank pelo caminho que dava para o morro. O detetive podia entrever o céu clareando no horizonte.
Quando sentiu o solo ficar mais íngreme, percebeu que estaria muito próximo. Naquela altura, o Bauk podia pular sobre ele para abocanha-lo numa única mordida. Os primeiros raios do sol nasciam. Alcançando o topo do morro, Frank parou virado para o Bauk.
- Vem tranquilo! - gritou ele. O monstro deu um rugido feral como resposta. No instante que ganhou proximidade fatal para retalhar a carne de Frank, o detetive pulara para o lado esquerdo, mas levando um arranhão grave no braço que fez um rasgo no sobretudo. Com isso, o Bauk não sentiu mais o chão sob suas patas dado o pulou que executou e a luz solar penetrou na sua pele, fazendo-o explodindo em cinzas negras que se dissiparam. Frank protegeu seu rosto das cinzas que caíam e desapareciam no ar - Toma essa. - disse, exausto, tocando no braço ferido e vendo um bom volume de sangue na mão - Não tinha como sair sem umas marcas...
***
Por volta das 8 horas, Frank estava sendo tratado por Thelma que enfaixava seu braço arranhado tendo anteriormente cauterizado a ferida profunda. O detetive recebeu a ajuda sentado num tronco cortado de árvore e sentia-se com menos dor do quando retornou do morro.
- Nossa, obrigado. - disse ele, movendo o braço - Vai se tornar uma médica de responsa.
- Por mais que eu odiasse você interferir na nossa missão.. que, na verdade, era toda sua... eu não ia ignorar pra deixa-lo morrer voltando do jeito que voltou. Nos deu um belo susto, pensamos que tinha levado uma mordida feia com todo quele sangue pingando e talvez morreria da mesma forma que o Logan. Até o Nick ficou preocupado.
- Formamos uma dupla e tanto no fim das contas. Se não fosse por ele, a Gwen tinha virado jantar.
- O Nick também foi um herói? - perguntou Nate, chegando perto - Isso eu pagaria pra ver.
- Ele conta os detalhes pra vocês logo mais. - disse Frank, levantando-se e desarregaçando a manga da camisa branca - Lembrei de um compromisso marcado pra hoje. Tá quase em cima da hora.
O proprietário da cabana viera até Frank com uma postura de contentamento.
- Detetive, já tá de saída? Não vá sem que eu o agradeça. - estendeu a mão para Frank que retribuiu com um aperto - É lamentável que tenhamos perdido o Morgan, mas sua coragem evitou uma chacina que mancharia o histórico de segurança do território, jogaria meu nome na lama.
- Agradeço o apoio. O bicho era um trem desgovernado.
- Eu sei que não se tratava de um urso coisa nenhuma. - disparou o dono, surpreendendo Frank, Thelma e Nate - Conheço bem a história primitiva dessa floresta. O buraco é bem mais embaixo. Então seja lá o que tenha feito para livrar a floresta desse mal, sou eternamente grato à você.
Thelma e Nate entreolharam-se cientes de que o proprietário tinha uma noção das lendas sobrenaturais e, mais do que isso, acreditava nelas. Frank foi ao seu carro, mas virou o rosto para Nick que estava junto de Gwen ainda amparando-a. O rapaz notara-o indo embora e levantou a mão dando um joinha. Frank devolveu do mesmo modo com um meneio de cabeça em aprovação. De volta à estrada para regressar à metrópole, Frank ligou para Carrie querendo saber do evento em apoio à campanha de Ernest. O medo de estar atrasado para a tarefa lhe assaltou a tranquilidade de ter o braço sarado.
- Carrie, me diz que você ainda não tá na rua entregando os panfletos sem mim.
- Ainda tô me arrumando. Vai começar daqui à duas horas. Não sei se dará tempo pra você vir preparado. E olha o que aconteceu: O diretor fechou contrato com uma equipe de publicitários e um mutirão de voluntários está vindo se juntar a nós. Mas não pense que isso rolou da noite pro dia...
- Ah sim, caímos como patinhos no blefe dele. Não sei porque não fico surpreso.
- E é tarde demais pra cairmos fora. Aceitamos de bom grado... Mesmo enganados.
- O que não fazemos pelos amigos, né?
- Frank, desculpa mudar de assunto assim de repente, mas... tô vendo aqui agora uma informação que saiu há pouco nos jornais. "Paciente catatônico desaparece sem vestígios". Na mesma noite do sumiço, dois enfermeiros, um médico e dois policiais foram achados mortos. Isso foi há uma semana. Vou te passar a imagem de capa da matéria, foi capturada de uma câmera de segurança que flagrou o paciente fugitivo. Tchau, nos vemos lá.
- Tá, a gente se encontra depois. Falou. - disse Frank, desligando. Esperou o envio da imagem que não demorou mais que dois minutos. Ao vislumbrar, reconheceu imediatamente pela fisionomia do indivíduo fora do hospital mesmo com a resolução não muito boa - Eu não posso acreditar... - disse ele, estarrecido - É o Atticus.
-x-
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://www.zona33.com.br/2014/06/10-monstros-sinistros.html
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