Rostos Falsos



      A noite com o luar mais brilhante de todos os dias enfim se iniciava naquele dia especialmente festivo para Elizabeth. A bela filha do prefeito da cidade era uma linda figura enaltecida por sua nítida beleza, como era dia de festa não poderia recusar-se a ir, pois foi convidada a pedido de seu pai, que não aceitava "não" como resposta. A bela Elizabeth estava em frente ao espelho maquiando-se exageradamente para se aparentar mais bonita entre os convidados da festa, que na verdade era um baile de máscaras.
      A moça maquiava-se e ajeitava seus longos cabelos loiros. Após se prontificar por completo, ela se olhava fixamente no espelho. Estava nervosa, pois não conhecia nenhum dos amigos que seu pai convidou. Um nervosismo seguido de uma relutância com a qual ela podia controlar, olhava para o espelho como se quisesse entrar dentro dele e descobrir um mundo novo em que ela não pudesse desconfiar de ninguém... um lugar onde a confiança seria recíproca... mas esse lugar, para ela, estava muito distante, ou seria apenas um sonho? Depois de alguns minutos de reflexão, Elizabeth se levantou da cadeira em que estava sentada e desistiu de continuar alimentando sua desconfiança a qual naquele momento ela julgava-a sem sentido.
      Guardou com cuidado seu estojo de maquiagem no seu criado-mudo, conferiu o vestido rosa - que sua mãe lhe dera de presente - para ver se não há nenhum dano. pegou sua tiara, colocou-a na cabeça e se dirigiu até  porta.
      Chegando à sala de estar bastante espaçosa, Elizabeth estranhava a aparência dos convidados ali presentes. Não era bem a aparência, o estranhamento de Elizabeth estava diretamente ligado ao formato inusitado das máscaras que os convidados possuíam. Não eram aquelas máscaras semelhantes às que se usam no carnaval, eram máscaras que tomavam o rosto inteiro, todas eram iguais, brancas e com semblantes sérios. Todos dançavam ao som de blues e jazz romântico que tocava de forma leve no baile, tudo acontecendo de maneira lenta e normal. Isso incomodava Elizabeth, que no momento em que já se via no meio da multidão de mascarados, percebia que havia algo errado no meio daquela festa aparentemente serena e calma. Em uma iniciativa corajosa, ela decide se manifestar dando a seguinte ordem:
- Parem a música!

       Os convidados, instantaneamente, viraram suas atenções para a bela figura de Elizabeth. A música havia parado devido ao tom de voz que Elizabeth usou para dar a sua ordem e também pelo caráter inesperado da ordem. Um breve silêncio se instalara no cômodo naquele momento. Elizabeth olhava furiosa para os convidados, um olhar de desconfiança que surpreendia a todos. A menina, desde pequena, já havia tido fama de desconfiada, chegava ao ápice da paranoia tentando achar as respostas para suas perguntas e um sentido para suas deduções equivocadas.
        O pai da menina, o tão estimado prefeito, se mostrara insatisfeito com o atrevimento de sua filha diante de tantas pessoas de superior posição social. Indignado com o comportamento de sua filha, ele perguntou a ela lhe cobrando explicações?
- Elizabeth! Qual o motivo deste seu comportamento tão vulgar?
A moça não se mostrou disposta a responder o pai, apenas fez um pedido:
- Papai... quero que tire essa máscara.
- Ma... mas porquê filha? Estamos num baile de máscaras, seria deselegante da minha parte fazer o que está me pedindo. - disse o homem com uma desculpa para não retirar a máscara.
- Então eu estou sendo deselegante, já que eu sou a única que não está usando máscara aqui. - disse Elizabeth em tom grosseiro.
- Você não compreende filha...
- Como assim não compreendo!? Organizou esse baile por um propósito desconhecido por mim. E antes que me pergunte, sim, eu estou desconfiada de todos aqui presentes. Acho estranho a forma como estão agindo, parecem até que estão sem vida. - disse a moça, olhando para todos e deixando-os constrangidos.
- Me desculpem, por favor, meus companheiros. Eu não estou reconhecendo a minha filha, ela está exaltada e...
- Pára pai! Chega de se esconder! Você e esses outros estão... estão me assustando com essas máscaras.
- Então está bem... se estas máscaras lhe dão uma sensação de horror, não me resta outra saída a não ser tirar a minha. - disse o prefeito atendendo o pedido anterior da filha.
       Assim que tirou a máscara o prefeito surpreendeu negativamente a sua filha, apresentando uma face vazia, sem nada. Nem boca, olhos ou nariz pôde-se ver no rosto do prefeito. Os convidados também tiraram suas máscaras e Elizabeth ficou imóvel de tanto horror, pois eles também apresentavam suas faces completamente vazias. A moça sentiu necessidade de pedir explicações:
- O que significa isso?
- Nada de perguntas filha. O motivo deste baile é apenas um: sugar a sua alma, para que se torne um de nós.
       Elizabeth não hesitou em correr para a porta de entrada e sair daquela casa. Durante a sua fuga, ela chorava lamentando pela desilusão que acabara de sofrer. Adentrou em uma densa e sombria floresta, mas parou de correr assim que notou a presença de uma figura alta vestindo um terno preto e sem rosto. Não quis perder tempo tentando achar a resposta por aquele ser estar ali, simplesmente continuou a correr livremente pela floresta. Elizabeth já estava desiludida, as pessoas nunca foram verdadeiras com ela, sempre se escondiam por trás de uma máscara.

Comentários

  1. Esse foi o melhor que você escreveu até agora. Ele não foi do tipo que a gente advinha, a gente simplesmente lê. Você dançou um lindo blues romântico com as palavras e harmonizou-se como criador e criatura com sua história, a ponto de manipula-la com a ousadia de misturar Slender e crítica social na última mensagem.
    Prós: Simplesmente seu melhor trabalho até aqui.
    Contras: Nenhum, foi perfeito.
    Nota: 10

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    Respostas
    1. Obrigado pelo elogio, achei que sua crítica seria o contrário (sério, eu tenho medo de suas críticas kkkk). Fico muito feliz que tenha gostado do conto :)

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