Crítica - A Sombra do Batman

Desviando-se de alguns elementos clássicos, mas com sabedoria.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Lançada diretamente para o mercado home video aqui no Brasil, esta séria animada do morcegão, infelizmente, foi relegada ao mais completo desprezo no que se refere à sua transmissão pela TV fechada. O triste fator do cancelamento repentino a coloca como o "The Lost Canvas" das animações da Warner (falando por mim, obviamente) tendo apenas 26 episódios produzidos entre 2013 e 2014. Até bati o olho na thumb de um vídeo no Youtube - durante uma pesquisa básica - questionando se era ou não o pior Batman. Bem, respondendo diretamente: Não é pra tanto.

Há pelo menos duas animações do Batman que ainda não pude conferir (acho que Bravos e Destemidos e o desenho de 2004, acho que vou seguir nessa ordem) então não tenho muita propriedade (ainda) para dar meu veredito de qual seria a animação que mais deixou a desejar até agora. Sombra do Batman, contudo, aproxima-se desse status, mas por pouco obtém a salvação com seu enredo light e bem seguro de seus principais alicerces que se resumem puramente em ação e um texto ágil e competente. Se enviesa mais para atmosferas movimentadas do que para o instinto detetivesco do personagem que, assim como na última franquia bem-sucedida, é um elemento um tanto quanto dispensado (nunca dispensável, embora não funcione como regra geral para um "Bat-verse" engrenar com tudo, há como sobreviver com doses homeopáticas disso).

Entendo essa série basicamente como um início de carreira do Batman no seu segundo ou terceiro ano na cruzada contra o crime de Gotham City cujo design de cenário é bem tonalizado com azul-esverdeado, cinza e branco como as paletas de destaque proporcionando um clima dark apropriado ao que a série se presta a oferecer dentro das suas limitações. E por falar nisso, eu preciso ressaltar o quanto foi incômodo substituir as armas de fogo por pistolas que disparam luzinhas que parecem lasers, escancarando aí a danada da censura, embora não tenha maculado com a experiência.

Tem um segundo incômodo, mas esse me disponho a relevar um pouco que é a ausência de elementos icônicos das HQs. Faltou um Coringa, uma Arlequina, um Charada, tudo isso para dar um gás mais empolgante. Pelo menos o Pinguim foi mencionado e apareceu retratado num daqueles cartazes que oferecem recompensa (do que eu lembro foi isso que entendi na cena). Mas teve Crocodilo (de longe, a performance mais ameaçadora do vilão que já vi), Professor Porco e seu fiel parceiro Senhor Sapo (dupla bastante recorrente), Simon Stagg, Ra's Al Ghul e outros antagonistas, inclusive até alguns que viram a casaca auxiliando o Batman nos episódios finais do arco do Exterminador sendo eles Metamorfo e Morcego Humano. Essas viradas foram executadas de maneira até que pouco forçada.

Agora vem o ponto mais gritante e reverberante de toda a série que sem dúvida nenhuma é a presença de Tatsu Yamashiro (vulgo Katana) como a sidekick do Batman (a partir do episódio 07 ou 08, perdão pela minha memória duvidosa), ou seja, sem Robin na cruzada do herói. Ou ela é a "Robin" desta série, visto que, partindo do pressuposto que é um dos primeiros anos de Bruce Wayne no manto, não há nenhuma menção sequer sobre Dick Grayson, Tim Drake ou Jason Todd (poderia ser qualquer considerando o distanciamento da série com o material-fonte). Fiquei na esperança do mínimo do mínimo, mas... nem isso.

Outra coisa sobre a qual tiveram a coragem de deixar o espectador só na vontade foi a transição de Harvey Dent em Duas Caras. Após o acidente, na reta final, ele sai do hospital parecendo uma múmia jurando vingança contra o Batman e todo aquele papinho repetitivo (e de um teor obsessivo que não mudou nem antes, durante ou depois da explosão) de que o Batman é um vigilante que fere a lei e tudo mais... e mantive minha torcida até o fim para ele remover aquelas faixas e finalmente vermos o rosto de dois lados diferentes... só que não! Novamente tem dedo da censura nisso, tenho quase certeza. Mostrar um cara com um lado do rosto queimado e deformado traumatizaria o público né? Que pena. Ainda sobre a Katana, ele teve um aproveitamento tão equilibrado com o Batman, seja interagindo na sua identidade civil ou no alter-ego vigilante, que é realmente difícil desapegar dela como foi ao término da série que careceu de um cliffhanger (mas acho que aí seria covardia).

Considerações finais: 

A Sombra do Batman (Beware The Batman, no original) é uma série que tem lá o seu charme e soube desenvolver os conflitos introduzidos na medida que ela se propôs a abraçar com uma certa tensão e, como não podia faltar, aquele bom suspense. Ainda que alguns vilões apresentados se repetissem no decorrer da série, dando a impressão de que outras personas clássicas jogadas para dificultar a vida do Batman estivessem sendo suprimidas, algo que reforça esse ar de Batman "principiante" (em campo). Portanto, a animação é recomendada para quem já possui conhecimento relativamente profundo do herói, sendo uma opção de entretenimento pra maratonar num fim de semana todo. Nem melhor e nem pior animação do homem-morcego, apenas diferente e num bom sentido.

PS1: A qualidade da animação fez lembrar imediatamente das Tartarugas Ninjas na série de 2012 (ô nostalgia...).

PS2: A Magpie (que vira fã alucinada do Batman depois de cobiçar o cinto de utilidades) tem um quê de Arlequina.

PS2: E esse Alfred com jeito de Charada (lembra só na abertura pelo chapéu hahah) que parece o Lex Luthor?

NOTA: 8,0 - BOM 

Veria de novo? Sim (mesmo com aquele final cretino do Anarquia jogando um xadrez sozinho cujas peças são os personagens será que todos os acontecimentos não passaram de imaginação?)

*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagens retiradas de: http://anmtv.xpg.com.br/a-sombra-do-batman-3-volume-dvd-brasil/
                                      http://toonami.wikia.com/wiki/File:Alfred.png