Capuz Vermelho #70: "Jack, o Eletrocutor"


A visão demorava para se ajustar completamente enquanto as pálpebras ficavam mais leves conforme a sonolência reduzia. Os olhos de Hector abriam devagar, não vendo mais que borrões turvos que foram esclarecendo aos poucos. Sabia que estava sentado numa cadeira dura com braços, mas ignorou tal detalhe e apenas ficou interessado em saber onde havia ido parar. Não, interessado soa eufemístico demais. O caçador foi tomado por uma aflição tremenda em busca de descobrir que lugar exalando forte odor de queimado era aquele. À sua frente, Rosie despertava, também sentada numa cadeira idêntica e com cintos de couro imobilizando-a. Só então notara os fios elétricos conectados.

Tanto ele quanto ela estavam presos em cadeiras exclusivas para condenados à pena de morte. O suor descia pingante no rosto do caçador que detestava sentir-se absolutamente confuso. A sala tinha iluminação esverdeada meio precária.

- Rosie. - chamou, sussurrando. Olhou de soslaio, à direita, para dois aparelhos que logo reconheceu serem polígrafos analógicos - Rosie, está acordada? Consegue me ouvir? - elevou a voz.

- O que é isso? Onde estamos? - indagou ela, querendo mover os braços sem poder.

- Obviamente alguém nos armou uma emboscada. - disse Hector - Não tenho dúvidas de que foi...

- Boa noite para a dama... - disse um homem se aproximando - ... e para o cavalheiro. É um prazer finalmente conhece-los. - suas vestes eram chamativas, praticamente uma fantasia de couro preto além da cabeça de abóbora com cortes para formar um rosto com sorriso e olhar malignos, tipicamente como nas celebrações de Halloween - Sintam-se prontos para nossa terapia... chocante. - olhou para Rosie, inclinando-se - Percebo que não está tão letárgica, Rosie. Isso significa que estão indo bem na reconstrução da sua alma. Mas será que chegarão ao fim dessa jornada se passarem pelo meu desafio?

- Espera aí... Como diabos sabe disso? Nossos nomes, nossa situação...

O estranho homem mostrou um dos diários da jovem que arregalou os olhos em total perplexidade.

- Que mal pergunte, mas... Você sofre de amnésia retrógrada?

- Larga isso ou vai se arrepender. - ameaçou Rosie - Chega de mistério, já sabemos quem você é.

- Portanto vamos iniciar nossa sessão. - disse ele, ligando o gerador - Que vença a alma mais honesta.

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CAPÍTULO 70: JACK, O ELETROCUTOR

16 horas antes

Como era impossível portar uma lâmina de prata, tão útil para aquele confronto, e muito menos utilizar luvas para empunha-la já que precisaria transformar-se em licantropo para nivelar as forças e as unhas crescidas rasgariam facilmente, Hector recorria somente à sua força bruta sobrenatural contra aquele felintropo com característica de uma pantera negra. O homem-felino veio numa investida, agarrando-o como um competidor de luta livre e o jogando-o para cima. As costas de Hector bateram no teto forrado e ao descer fora chutado no rosto até chocar-se contra uma mesa de madeira que destroçou-se toda com o impacto. O caçador levantou-se em supervelocidade e no mesmo ritmo avançou contra o oponente desferindo socos e arranhões. O felintropo revidou arranhando o peitoral do caçador que recuou mas em seguida pegara um grosso pedaço da mesa de tamanho conveniente para improvisar como uma estaca e virou na ponta que usaria para empalar o outro.

- Acha mesmo que vai funcionar? Esse é o pior vale-tudo que já lutei. - disse o homem-pantera.

Hector não quis conversa e cravara a "estaca" no peito do felintropo velozmente o empurrando contra uma parede e tentando enfiar mais alguns centímetros, não que ele esperasse atingir em cheio nem que fosse enfraquece-lo. Em resposta, o felintropo concentrou sua força para retirar a estaca numa luta acirrada. Hector forçava como se quisesse dar tempo à Rosie que libertava os seis reféns - três garotas e três rapazes - confinados no porão, sabendo que aquele golpe não deixou o homem-pantera gravemente ferido e a qualquer instante ele se livraria da "estaca" e atacaria novamente. Rosie removia as algemas com uma chave, porém, enquanto soltava o último refém, percebeu um outro escapando pela porta do porão ao invés de esperar cruzarem a outra porta que levava a um recinto secreto e pela qual, segundo uma das vítimas, daria acesso á uma saída pelos fundos.

- Ei, espera! - gritou Rosie - Não é por aí! - o seguiu correndo subindo pela escada.

O felintropo estava quase vencendo o cabo de guerra e já podia-se ver a ponta da "estaca" encharcada de sangue. Hector não aguentara e cedeu, levando uma cabeçada que o derrubou. O rapaz que fugira chegou à sala e deparou-se com o felintropo que estava prestas a estraçalha-lo com suas garras.

Hector reergueu-se depressa, logo vendo uma chapa de ferro oxidado largada no chão. Antes que o felintropo rasgasse a carne do refém impotente, o caçador o atacou nas costas com a chapa, fazendo-o cair e logo depois tacando-a diretamente no pescoço da fera, decepando a cabeça. Um espirro de sangue manchou a chapa e o rosto de Hector que virou a cara enojado. Rosie chegara perguntando se o refém fujão estava bem. A cabeça do felintropo movia-se, gemendo de dor.

- Se me permite... - disse Rosie, sacando uma adaga, pronta para esfaquear a cabeça.

- Não! - disse Hector, voltando ao normal - Temos que aproveitar essa habilidade dos felintropos. Extrair informações dele nesse estado nos oferece poder. Esse caso, pelo que me parece, não está completamente encerrado.

- Ué, mas por que? Os reféns estão sãos e salvos, o agressor está detido, a casa caiu pra ele.

- Podia ter sido o contrário, sabia? Você cuidando do felintropo e eu dos reféns. Muito mais fácil.

- Olha, não é muito seu feitio dar a melhor ideia quando já é tarde demais. Que culpa eu tenho? - disse Rosie, irônica.

- Está bem, sem discussão. - falou Hector - Como não tem linha telefônica nessa casa, verei se tem uma cabine próxima daqui pra chamar o Adam, enquanto isso diga aos reféns que o pesadelo deles acabou.

- E quanto à mim? - perguntou o homem que trajava farrapos e um manto marrom rasgado que obscurecia um pouco seu rosto coberto por bandagens que protegiam suas feridas - Eu não tenho pra onde ir, é sério. Eu sobrevivo em condições sub-humanas há anos.

- Não é um dos convidados da festa à fantasia? - questionou Rosie - Que estranho. O que justifica o felintropo capturar alguém fora da sua preferência? Até onde sabemos, ele atraiu essas vítimas conquistando a confiança delas na festa.

- E se for mentira? - teorizou Hector - Por isso o poupei, arrancaremos a verdade dele. Vamos encarregar o Adam de trazer a cabeça e talvez alguma pista que amplie a investigação.

- Boa ideia. - concordou Rosie - Mereço uma folga após 3 semanas resolvendo casos por causa do baixo combustível e de não termos achado pistas sobre a verdadeira razão de termos vindo até aqui. Como se não bastasse o hotel barato onde ficamos. E eu achando que Bristol era pior.

- Quer vir conosco? - perguntou Hector ao homem - Faremos qualquer coisa para ajuda-lo a encontrar um lar definitivo. Pode se hospedar uns dias, nossa casa é suficiente pra acomoda-lo. De acordo? - quis saber a opinião de Rosie.

- Caridade desse tipo não é muito meu forte, pra ser franca, mas... considere-se bem-vindo desde já.

- Eu nem sei como agradece-los. - disse ele, comovido - Juro não causar nenhum incômodo, apesar da minha aparência bem desagradável. E desculpa por aquilo, fui precipitado achando que as coisas se resolveram.

- Tudo bem, não esquenta. - disse Rosie, logo virando a cabeça viva do felintropo com o pé direito - Nós lidamos quase todos os dias com aparências desagradáveis, como essa daqui. A sua dá pra tolerar. - olhou para o homem-pantera que mostrava os dentes cerrados de fúria - O que foi? O gatinho quer leite?

                                                                              ***

Ao chegarem no Casarão, o homem maltrapilho fora logo entrando e esquadrinhando o interior, aparentemente, para Rosie e Hector, maravilhado com a organização impecável da sala.

- Não se acanhe, sinta-se em casa. - disse Hector, vindo logo atrás, gentilmente sorrindo - E fique à vontade pra escolher um quarto neste andar ou no de cima.

- A propósito, não nos disse seu nome. - falou Rosie, fechando a porta. Hector não recebeu bem o tom que ela usara.

- Me chamo Glenn. - disse o homem, retraído - Mais uma vez: Não quero causar incômodo nenhum. Estou aberto à conversas, mas... quando acharem melhor que eu não permaneça mais, tudo bem.

- Não, de forma alguma. Você poderá ficar o tempo que levarmos para resolver sua situação. - declarou Hector - Muito bem, Glenn, não precisa se sentir acuado. Por que não explora a casa? Vai ajuda-lo a se adaptar ao ambiente.

- Muito obrigado. Aos dois. - disse Glenn, indo na direção do corredor que possuía um quarto vago.

- Vai me desculpar, Hector, mas dar liberdade a um sem-teto sem conhecer o histórico, nem nada...

- Pra começar, ele esteve em cárcere privado, por pouco não foi a refeição de um felintropo. O que deu em você? Ah é, esqueci: Sua humanidade está incompleta. Incrível como dois pedaços fazem tanta diferença.

- O que você quer que eu faça? Nunca fui de contrariar minha intuição.

- Pois essa sua intuição te levou a querer humilhar uma pessoa pobre que você salvou por boa vontade. - disparou Hector, visivelmente aborrecido - O que disse da aparência do Glenn foi injusto.

- Ele não ficou ofendido, foi só uma piada. Vê se para de agir como criança. - rebateu Rosie, contagiada pela chateação.

Em paralelo à discussão que ganhava tonalidades mais alteradas a cada réplica e tréplica, Glenn entrava no quarto de Rosie, observador em praticamente que continha lá dentro. Foi às gavetas da cômoda e na segunda encontrou um livro de capa preta de couro, parecido com um agenda, que na verdade era o primeiro diário de Rosie. Ignorando as vozes exaltadas, começou a ler o conteúdo sentando-se na cama. Virou a folha e seu interesse aumentava quanto mais desrespeitava a privacidade da proprietária daquele documento sagrado para ela. Adam chegou quando os ânimos se tranquilizaram.

- O que houve? Parecem... Estressados. - disse ele, segurando a chave da porta e trazendo uma caixa - Não vão me dizer que...

Hector resolveu interrompê-lo.

- Adam, o que você tro...

- Sim, nós brigamos. - cortou Rosie, cruzando os braços - O Hector cometeu uma estupidez e não quer ser contestado. Só porque um dos reféns demonstrou necessidade, dizendo não ter onde morar e nem família, ele tomou as rédeas e o abrigou aqui para passar uns dias. Devíamos te-lo entregado à polícia assim como todos os outros, não é responsabilidade nossa.

- Isso se chama solidariedade. - replicou Hector - Uma prática que a antiga Rosie compreenderia nessa circunstância. Nós temos mesmo que recuperar sua alma o mais rápido possível.

- E você faz parecer que não dou a mínima pra isso. - disse Rosie, evitando olha-lo.

- Nenhuma pista de algum demônio do pecado? - perguntou Adam.

- Até o momento, nada. - respondeu Hector - Ira e Orgulho são os últimos que sobraram, nunca pensei que fosse tão árduo detecta-los. Podem estar atuando muito discretamente.

- Bem, fiz o que pediram. Trouxe nosso amigo cabeça de pantera e também... - tirou de outra caixa menor três rolos de filme - ... um achado, mas não roubado, do porão daquela casa. Tentei esclarecer isso com nosso prisioneiro, mas disse que só coopera na presença de vocês. Deram alguma coisa pra ele se divertir? Se é que ele pode...

- Não, ele só tá fazendo papel de exigente pra passar uma imagem de durão nas suas últimas horas de vida. - disse Rosie.

- OK, primeiro as fitas, depois o interrogatório. Torçam para que o projetor funcione. - disse Hector, logo virando-se para subir a escada. Adam o acompanhou, deixando as duas caixas no sofá.

- Como sou otimista, vou preparar uma pipoca. Não comecem sem mim. - disse Rosie indo até a cozinha. Glenn andava na ponta dos pés, saindo do corredor. Seus olhos fixaram na caixa maior, a que cotinha a cabeça do felintropo.

                                                                         ***

No segundo quarto do andar de cima, o menos empoeirado, Hector tratou de fechar as cortinas, deixando o lugar um pouco mais escuro para concentrarem-se melhor no conteúdo das fitas. Adam inserira a primeira no projetor. Nos três rolos haviam adesivos retangulares e brancos que constavam as datas de filmagem e todos as gravações subtraídas foram realizadas em curtos intervalos de tempo. Os dois caçadores sentaram-se lado à lado em cadeiras esperando o filme iniciar.

- Esta é datada de 08 de Junho. - conferiu Adam - Falei com alguns vizinhos, nenhum deles disseram ter notado algo suspeito em todo o período em que estas gravações estiveram em poder do felintropo.

- Não ficaria surpreso se existisse um cúmplice. - disse Hector - Afinal, um felintropo selvagem como ele dificilmente registraria em vídeo o sofrimento de suas vítimas. Jogos psicológicos não combina com o estilo deles.

- Veremos qual hipótese ganhará: A sua que aposta num parceiro de crime ou a minha que argumenta sobre o nosso gatinho preto ter devorado outras vítimas, reservando as libertadas para uma outra hora.

- Eu aposto e você argumenta. Não tá meio exagerado isso? - brincou Hector arrancando um sorriso fechado do amigo.

Rosie entrou assim que o filme exibia seus primeiros frames. Ela segurava uma tigela com pipoca e arrastou uma cadeira.

- Disse pra não começarem sem mim. - protestou ela, sentando-se - Estão servidos? Não pus muito sal, gosto mais assim.

- O que acha que estamos fazendo? - perguntou Hector - Nos divertindo numa sessão de cinema?

- Não, obviamente estamos a trabalho. - disse ela, enchendo a mão e levando à boca.

- E trouxe pipoca mesmo ciente de que iríamos assistir algo que passa longe de entretenimento.

- Filmes de terror são entretenimento. E não é todo dia que temos a chance de ver um 100% realista.

- Devem saber que a política de todo cinema é exigir que os espectadores façam silêncio. - disse Adam, claramente querendo evitar uma briga na sua frente - Seria bom aplicar isso aqui e agora.

Hector respondeu com um rosnado enfurecido e voltou-se para as imagens projetadas na parede. A câmera focalizava uma garota cuja fantasia não dava para definir por conta do preto e branco. Ela soluçava num choro intenso enquanto seu submissor aproximava-se e o mesmo acariciou seu rosto molhado a chamando de Lily. De repente, surgiu uma abóbora com cortes que formavam um sorriso e olhos dando um aspecto maléfico à face. Aquilo servia de máscara para o torturador que fazia perguntas e obrigava cada refém a revelar um segredo. Caso uma mentira fosse contada e lida pelo polígrafo, a pessoa levaria um choque de 2000 volts. O próprio maníaco explicara isso como se estivesse apresentando um show para o público.

- Viu só? Ganhei. - disse adam, olhando para Hector com semblante de satisfação - O felintropo não passava de um empregado, esse esquisitão é o manda-chuva. Mas por que um assassino psicopata faria aliança com um monstro? Que vantagem pensou que teria?

- A estranheza desse contexto só vai desaparecer se interrogarmos o felintropo antes do tempo acabar. - disse Hector.

- E quanto tempo de vida sobra pra ele? - perguntou Rosie.

- No máximo, quatro horas. - respondeu o caçador, de maneira fria à ela - Retornamos uma hora e meia. Adam chegou quinze minutos depois. Temos aproximadamente duas horas e mais quinze minutos.

- Não vamos assistir tudo? - indagou Rosie, imaginando que ficaria sozinha - Ou talvez vocês...

- Cuidamos do interrogatório enquanto você continua se divertindo vendo um maníaco atormentar pessoas inocentes as expondo à pressão psicológica. Te mantenho informada. - disse Hector, logo levantando-se da cadeira.

Rosie endureceu a face, sua paciência com o comportamento inflexível do parceiro já estafando.

- Tô cheia disso. - disse ela, largando a tigela de pipoca - Eu estive melhorando a cada pedaço recuperado, a cada demônio morto, mas pra ele ainda sou... aquele monstro obcecado em derramar sangue.

- Ele não pode te julgar, até porque ele também não pôde controlar os instintos quando se transformou pela primeira vez. Mas você precisa dele, na maior parte ele faz o trabalho que a sua consciência não consegue que é direcionar bem suas decisões, não significa que ele deva te controlar.

- Olha, tá bom. Agora você precisa ser o parceiro de caçada dele e não meu psiquiatra.

- Se demorarmos, avisa quando tiver acabado. - disse Adam, finalmente indo ao encontro do amigo na sala de estar. A caixa estava segura, mas nenhum sinal de Glenn foi visto. Adam retirara a tampa da caixa e a cabeça exibiu seus dentes pontiagudos e os olhos felinos amarelos encaravam furiosos - OK, chegou a hora de você ser o X-9. Quem o contratou?

- Nada vai me fazer falar o nome do chefe, mas se querem detalhes... pegaram o cúmplice errado.

- Quem mais está por trás disso? - questionou Hector, rigoroso.

- Falem com Jeremy Varth, mora à duas quadras da minha casa. A relação dele com o chefe é mais íntima, não naquele sentido, estão mais pra irmãos de causa. Eu fui apenas o segurança, um bom segurança.

- Fez um excelente trabalho. Até hoje. - declarou Hector, fitando-o com severidade - Adam, já que ele se recusa a revelar o contratante, não tem outra opção a não ser... nos livrarmos dele e voltarmos à Manchester. Vou avisar à Rosie.

- E o sem-teto? - perguntou Adam, sacando sua pistola.

- Glenn deve estar passeando pela casa, o deixei à vontade, mas garanti pra Rosie que a estadia dele é temporária.

- Deixou um estranho perambulando pela casa? Fica de olho hein. Isso geralmente não acaba bem.

- Fique tranquilo, ele não demonstrou ser problemático, ao menos não até agora. - disse o caçador, virando as costas para subir ao quarto onde Rosie ainda assistia aos filmes horrendos do eletrocutor.

- Eu tenho o direito de morrer naturalmente, seu filho da... - disse o felintropo, tendo a fala cortada pelo disparo da arma de Adam que acertou diretamente na sua testa e atingindo o cérebro, o ponto vulnerável de um felintropo naquela condição.

                                                                             ***

A procura pela residência do, naquela altura, suposto aliado do torturador obsessivo levara mais tempo do que o imaginado, um verdadeiro teste de energia física para Rosie que não aguentava dar passos com suas botas apertadas. Finalmente haviam encontrado após tanto baterem de porta em porta em busca de informações, considerando que o felintropo pudesse ter mentido. Hector tocara a campainha umas três vezes e a demora elevou a impaciência de Rosie.

- Trancas demais pra um lugar aparentemente seguro. - disse ela, ouvindo os ruídos das fechaduras na porta sendo destravadas. A casa de Jeremy tinha envergadura bastante atraente que transparecia segurança.

- Sejamos generosos, ele se filiou a um psicopata que como qualquer outro pode descartar quando não achar mais conveniente. - disse Hector - Natural ele se precaver mesmo numa rua tão pacata.

A porta enfim fora aberta e a figura de Jeremy surgiu, um rapaz de rosto quadrado, cabelo castanho claro partido para um lado e olhos azuis. Ajeitou seu colete verde-pântano por cima da camisa branca.

- Em que posso ajuda-los? - perguntou, deixando a porta encostada na sua esquerda.

- Você é Jeremy Varth? - indagou Hector.

- Depende de quem tá perguntando.

- Sendo direta: Viemos em nome da... - tentou inventar uma desculpa em tempo recorde - ... associação de crimes especiais, nós costumamos lidar com diversas ocorrências, tipo um sequestrador que se diverte com jovens jogando um jogo de perguntas e respostas com cadeiras elétricas e detectores de mentiras.

- Não posso ajuda-los. - disse Jeremy, rapidamente fechando a porta. Hector pusera o pé esquerdo barrando.

- Pro seu próprio bem, é melhor que nos deixe entrar. - avisou o caçador, mostrando que não estava para brincadeiras.

Já no interior da casa, a dupla não atendeu a gentileza de Jeremy em oferecer café, partindo imediatamente para a colheita de informações. O rapaz demonstrava nervosismo nos seus gestos corporais.

- Eu não entendo, nunca ouvi falar de nenhuma associação metida a desvendar crimes hediondos. A polícia britânica está pagando vocês pra me intimar a depor?

- Tá assinado o atestado de culpa. - disse Rosie.

- Somos voluntários, não associados à polícia. - revelou Hector - Ou seja, detetives de livre exercício.

- Isso não existe. E é ilegal. - retrucou Jeremy sorrindo torto e cinicamente.

- Sabemos disso. - disse Rosie - A única pessoa a ser paga por alguém que está aqui é você, no caso.

- Ele não me deu um centavo desde que o libertamos. - disse Jeremy, tomando seriedade - No Halloween do ano passado, eu e dois amigos tivemos a ideia de visitar um cemitério, foi nesse mesmo dia que revelei minhas habilidades pra eles.

- Você é sobrenatural? - questionou Hector.

- Lumen. - disse Jeremy, estalando os dedos. As luzes da sala acenderam-se.

- Um mago. Bem inesperado. - disse Rosie - O que mais aconteceu naquela noite?

- Conjurei um feitiço necromântico sem violarmos uma sepultura. Eu era inexperiente, então... acabei cometendo o erro de ressuscitar um assassino chamado Jack, não o estripador, mas o cara de que vocês ficaram sabendo, obviamente pelo grandalhão que à essa hora deve estar mofando na cadeia.

- Morto. - disse Rosie o deixando surpreso - Na verdade, ele era um felintropo, alguém capaz de...

- Sim, sim, já sei do se trata. Nossos problemas só estavam começando naquela hora. Jack foi condenado à cadeira elétrica em 1912 após uma decisão judicial unânime, foi um assassino em série bem produtivo. Entramos numa aposta de quem sobreviveria a um teste do polígrafo do jeito dele. O vencedor se tornaria parceiro de crime vitalício e aqui estou. Se eu rescindir o contrato, já era.

- Ele não fará nada com você. - afirmou Hector, levantando suspeita em Rosie - Não se receber nossa proteção.

- Ficou louco? Ser escolta de um criminoso menor para impedir um maior é seu grande plano? - protestou Rosie.

- Não seria tão arriscado. - disse Jeremy - Afinal, vou dar uma a festa à fantasia com todo o pessoal da universidade, uma isca perfeita pra ele. A loucura dele é tão grave que ele só prefere vítimas fantasiadas apenas porque foi revivido por alguém que participou de um Hallween, por isso ele usa aquela abóbora na cabeça pra esconder seu rosto horrível. E aí, qual é o lance? Estou dentro.

- Não fica tão animadinho, a gente não vai prometer que você escape. - disse Rosie, contrária à ideia.

- Rosie, veja. É nossa única chance de encurralarmos Jack, além de evitarmos mais vítimas. - falou Hector, virando-se para ela - E com Jeremy colaborando, tenha certeza de que nosso cerco será efetivo. - olhou para o mago com certa autoridade.

                                                                                  ***

A festa tivera início por volta das 21 horas, horário no qual a casa adquiria lotação, não que Jeremy tivesse feito uma estimativa de público por ser um dos mais populares da sua turma. Rosie e Hector preferiram aguardar no lado de fora, vendo os convidados adentrarem com figurinos diversos.

- Oi! - disse um entusiasmado jovem, aparecendo de supetão próximo de Rosie estando caracterizado como Chapeleiro Louco da história de Alice no País das Maravilhas - Será que a chapeuzinho está disponível para ser minha Alice hoje?

- Desculpa, já tenho meu lobo mau. - disse ela, logo olhando para o parceiro com um sorriso nervoso.

- Ah que pena. - lamentou ele que logo vislumbrou Hector - Ué, mas ele não parece estar fantasiado.

- Ahn, eu sou... o caçador da história. - disse ele, a fala rápida - Estamos à espera de um amigo nosso.

- Não era um lenhador? - indagou o jovem, insistente na sua dúvida.

- A versão importa? - disse Rosie querendo espanta-lo.

- Tudo bem, não quero importuna-los. Aceitam refresco? - ofereceu os copos descartáveis enchidos de bebida para ambos que aceitaram gentilmente - Seja como for, o que importa é se divertir, com ou sem fantasia. E você tem estilo. - apontou para Rosie - Vejo vocês lá dentro?

- Pode crer. - respondeu Hector, mentindo e bebendo um gole.

- Fechado. - disse Rosie, fingindo estar aberta ao convite - Tomara que encontre sua Alice. - o rapaz se despediu com júbilo e Rosie revirou os olhos - Saí do colegial há quatro anos e continuo recebendo cantadas medíocres. - bebeu o seu gole.

- Eu iria pedir mais foco na missão da sua parte, mas fiquei curioso sobre como você tratava seus pretendentes. - disse Hector que num instante foi acometido por uma tontura e enturvação na visão - O que... - perdera o equilíbrio, a inconsciência ameaçando apaga-lo. O caçador caíra. Rosie tentou ajuda-lo, porém os efeitos do que quer que estivesse misturado à bebida a afetou na mesma hora e tudo virou um confuso borrão.

- Eu prometi que viria. Não foi? - disse Jeremy, aproximando-se ao sair das sombras, aproveitando que ninguém percebera - Nem precisei gastar magia pra isso. - esfregou as mãos, empolgado - Agora que esse Halloween começa de verdade.

Na sala do eletrocutor, Hector despertou primeiro e chamara por Rosie que acordara, o que aliviou o caçador por uns segundos. O torturador chegava pomposo e disposto para executar seu jogo sádico.

- Que vença a alma mais honesta. - disse Jack, ligando o gerador - Por quem vamos começar? Você, Rosie? Ou você, Hector? Acho que devemos ser mais sucintos, então chega de postergar.

- O meu diário... Como conseguiu rouba-lo? Não, espera... - disse Rosie, juntando as peças - Estivemos naquela casa pra resgatar os reféns que achávamos a princípio serem carne fresca pro felintropo, mas ele não passava de um subordinado seu. Hector adotou um dos reféns, o Glenn.

- Glenn... - disse Jack, seu "rosto" na cabeça de abóbora parecendo bem mais expressivo - Tive trabalho pra inventar um nome convincente e vocês foram tão prestativos... altruístas. Até pensei em desistir, só que não pude evitar.

- Se você se disfarçou entre os reféns, usando os atos do felintropo como chamariz para nos atrair... então devo imaginar quem assumiu seu lugar na tortura com aquelas vítimas. - disse Hector.

- Jeremy. - disse Rosie - Ele não tinha nada a perder obedecendo a um demente assassino.

- Eu me interessei assim que ouvi falar de vocês. - disse Jack - São ótimos detetives. Quero ver se tem compromisso com a verdade. O que tem nesse diário são segredos inconfessáveis dessa donzela.

- A donzela aqui está louca pra te encher de pancada. - intimidou Rosie, o olhar ferrenho.

- Ameaças vazias como essa não funcionam. Vejam vocês. Hector, é bom não forçar muito as estacas, seu organismo fragiliza e uma confusão mental é iminente, portanto... preste muita atenção. Valendo. Matou quatro pessoas?

- Seja mais claro. - pediu Hector, ofegando e não tirando os olhos de Rosie.

- Quatro pessoas mortas, familiares de um amigo seu destroçados por garras de uma fera voraz.

- Eu sei disso. Não é segredo pra nós dois. hector virou lobisomem pela primeira vez e estraçalhou os tios e primos de Edgar, um caçador que ele conhecia, embora não fossem amigos muito íntimos.

- Mas ele contou o que andou fazendo depois disso? Será verdade que segurou os instintos até reencontra-la?

O ponteiro detector de mentiras movia-se. Hector sentia-se na obrigação moral de fechar a lacuna.

- Não. Não pude controlar a fome pelos dois anos. Vitimei mais do que posso contar antes de tira-la daquele hospital.

O polígrafo não emitiu sinais que denotavam a fala do caçador como mentira. Rosie não mentiu para si, estava pasma.

- Sua vez agora, Rosie. - disse Jack - Preciso que um dos dois saía ao menos chamuscado daqui.

Pouco mais de uma hora depois, Adam havia chegado, infiltrando-se na festa fantasiado de mosqueteiro. As indumentárias foram obtidas por Rosie num bazar a tempo de ela e Hector retornarem à Manchester. O caçador passava por entre as pessoas, vasculhando o espaço para detectar alguma presença suspeita ou encontrar uma passagem que o levasse diretamente ao porão. Atordoado pela chance de perder mais tempo, tomou uma decisão ousada e corajosa.

O caçador retirou sua pistola, atirando para cima uma única vez. O estouro retumbante fez vários convidados por perto se retraírem amedrontados, enquanto os mais distantes gritaram em uníssono.

- Atenção, todos vocês! Ouçam atentamente, por favor! Aqui é a polícia britânica, ninguém entra e nem sai até que o assassino que se esconde nesta casa seja capturado! - alardeou ele, encarado por expressões de apreensão.

Deu-se início à uma série de chochinhos entre os convidados, espantados por um policial se misturar à eles disfarçado para pegar um bandido, um monte de conversas paralelas após Adam sair à procura da entrada certa para o local onde Rosie e Hector estavam confinados. Num corredor bem escuro, entreviu o que parecia a porta de um alçapão. Não deu sequer dois passos direito que logo um vaso branco com flores que estava sobre uma mesinha à sua direita voou para atingir sua cabeça, mas o caçador pôde abaixar-se. O objeto despedaçou-se na parede. Era Jeremy que seguiu o caçador depois do seu anúncio fatídico. O mago veio aproximando-se perigosamente, erguendo sua mão esquerda.

- Policial o escambau, você tá junto da chapeuzinho e do caçador... Ou seria o lobo? - tentou lançar sua onda infligidora de dor que fazia qualquer um sentir que a cabeça explodiria. No entanto...

- O que você tá fazendo? - perguntou Adam, munindo-se de sua arma novamente.

- O quê?! Não tá acontecendo nada à você. - disse Jeremy, desentendido com a falha de sua magia sobre Adam - Por que? Por que não posso te subjugar? O que você é? Minha mágica não tem exceções!

- Não pergunta pra mim... embora eu tenha uma ideia do porque. - o caçador lembrou-se de Pandora.

- Não pensa que vai escapar. - disse Jeremy, audaciosamente intencionando agredi-lo fisicamente.

Num movimento exímio, Adam neutralizara o soco do mago e se colocou atrás dele efetuando um mata-leão. O rosto do mago vermelhou tamanha a pressão e sua resistência diminuía conforme Adam apertava.

- É mais simples você me dizer onde estão meus amigos, aí você não sai tão machucado.

- No... no porão! O Jack está lá, jogando com eles... - falava Jeremy com dificuldade - Me larga...

O caçador soltara-o e o virou para sua frente.

- Muito obrigado. - disse ele, logo desferindo um potente soco nocauteante no mago.

No recinto de Jack, o nível do jogo aumentava a cada pergunta. No momento em que Adam enfrentava Jeremy, ambos responderam 8 perguntas sem levar um choque, o que enfurecia Jack, louco para ver um deles sentindo a corrente elétrica.

- Francamente, vocês devem ter sido filhos exemplares na infância! Isso me enoja! - disse ele, colérico - Vamos lá, de novo Rosie, desta vez sua facilidade acabou. Há um ano descreveu no seu diário uma noite tórrida de amor com alguém que reprimia seus sentimentos tanto quanto você, mas na noite em questão se renderam.

Hector a fitou com estranheza.

- O amor que desabrochou entre vocês ultrapassou um limite. Hector, suponho que imagine quem seja.

- Uma hora tinha que saber... - disse Rosie, sofrendo para não mentir - A pessoa a que ele se refere...

- Diga a verdade, somente a verdade e nada além da verdade, Rosie. O tempo está passando. - falou Jack, sua voz tornando-se um sussurro soturno. Hector cravou seu olhar firme no rosto agitado dela.

A jovem mordeu os lábios, atormentada pela obrigação de revelar um fato que a envergonhava.

- É o Adam. - disse, o tom choroso. O polígrafo não sinalizou mentira. Rosie fechou os olhos, derramando lágrimas - Aquele demônio, o Íncubo... tinha tomado a forma dele ao acessar minhas lembranças, foi por isso que o interrompi pra que ele não falasse demais e você desconfiasse.

- Os demônios carregam a mentira como mandamento inquebrável. - disse Jack - Por que não me tornei como eles?

- Faça logo a última pergunta. - disse Hector, cabisbaixo - Não aguento mais...

- Muito bem. A escapatória é impossível para os dois. - fez uma pausa - Hector... Você a ama?

Uns segundos de silêncio passaram como minutos tortuosos para Jack.

- Responda! - esbravejou o maníaco.

- Sim. - disse Hector, a voz baixa. Porém, a cadeira disparou seu apito e o caçador sofreu uma descarga suficiente para parar um coração humano. Rosie ficara meio boquiaberta ao constatar que seu parceiro mentira descaradamente.

Hector cerrou os dentes fortemente ao sentir a eletricidade excruciante atravessar seu corpo.

- Finalmente, minha reação predileta. E você, Rosie? O ama verdadeiramente... ou não?

Antes que um som escapasse da boca de Rosie, o barulho de um arrombamento reverberou. Adam entrava com a arma em riste, mirando em Jack que ao presenciar a intervenção ameaçou ativar a eletricidade da cadeira, contrariando as regras do seu jogo bárbaro. Mas o caçador atirara quatro vezes, fazendo buracos de bala na roupa de couro do desvariado.

Rosie e Hector mal conseguiam olhar um para o outro durante o trabalho de Adam em liberta-los.

                                                                                ***

As luzes das sirenes de polícia iluminavam a fachada da casa de Jeremy que era conduzido pelos policiais algemado e não deixou de reparar em Adam que estava acompanhado de Hector.

- Ainda vou atrás de você, desgraçado. - disse o mago - Vai se arrepender do que fez! Ouviu bem?

- Me avisem quando a fiança for paga. Vou ficar esperando. - disse Adam, tranquilo.

- Adam, obrigado mesmo. - disse Hector sem seu amado sobretudo - E também por dar um jeito no Jeremy, mostrou que sabe remover obstáculos como um ótimo caçador.

- Pois é, de início só quis dar uma prensa nele, mas no calor da emoção... sabe como é, né? Esses últimos dias de alguma forma tem me feito descobrir de novo o lado bom de ser caçador.

- Um lado bom pequeno se comparado ao ruim. - disse Hector que evitou desviar para o assunto espinhoso.

- São ossos do ofício, eu não esqueci de lidar com isso. Mas tem algo me chateando em relação ao nosso... espírito de equipe. Na verdade, eu cansei de sentir que a Legião está quebrada, dá a impressão de que estamos desfalcados mesmo unidos. Você e a Rosie são os pilares desse time e estão agindo como se tudo que foi construído não significasse mais nada.

- Se refere à Legião ou...

- A Legião e vocês dois. Melhor resolver as diferenças, senão... as marcas dessa fase ruim podem se manter depois que Rosie recuperar toda sua alma e provavelmente será pior. E não quero saber o que aconteceu lá pra deixa-la tão zangada.

Hector suspirou lentamente, recebendo um tapinha no ombro por Adam que se direcionava aos policiais que trabalhavam na apuração do caso. Rosie, levando o manto vermelho sobre seu ombro, passara por Hector poucos minutos depois.

- Ei, Rosie. - chamou ele. A jovem parou, indisposta a se virar - Fico feliz que reobteve seu diário...

- Isso aqui? Não passa de uma cópia-reserva para em caso dos verdadeiros sumirem ou forem roubados. O que escrevo nos meus diários fica tão secreto quanto o local onde os guardo. Só uma pena que algumas coisas tiveram que escapulir.

- É sobre isso que gostaria de falar...

- Não, você não quis, você hesitou, dando importância pro meu diário, isso provou que está inseguro.

- Pra confessar sinceramente, não fiquei bravo de você se abrir quanto ao seu caso com o Adam. O instinto falou mais alto que a razão, eu entendo.

- Então tá dizendo que me entreguei sem pensar com clareza? Foi apenas um momento, mas fui razoável do começo ao fim. Se não tem ressentimentos, não precisa culpar nossos instintos.

- E o que quer que eu diga?

- Eu quero que... - disse Rosie, passando as mãos no rosto - ... você fique no banco de trás.

- Isso é ridículo. Prefere dar total confiança pra um aparelho que tem comprovada uma ampla margem de erro?!

- Como se eu precisasse de um treco daqueles pra saber se está ou não sendo honesto. Eu notei pelas suas expressões, o tempo de resposta, os gestos corporais... Acho que cometemos um erro e jogado nas minhas costas pra eu consertar.

- Rosie, não vamos continuar de onde paramos hoje cedo...

- Continuar? Isso você pode esquecer. E não falo só de hoje. - declarou ela, logo dando as costas ao caçador que ficara desolado com o que aquilo significava. Em compensação, a perseverança por reconstituir a alma de Rosie fortaleceu-se e seria tal força que o moveria à reconquista mútua.

                                                                               CONTINUA... 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/conheca-a-lenda-da-abobora-do-halloween-e-aprenda-como-fazer/

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