Crítica - O Terceiro Olho


"Eu vejo gente morta." - Cole Sear (O Sexto Sentido).

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Basicamente o clássico de M. Night Shyamalan recebeu uma versão que combinou a atmosfera de um filme sobrenatural mais voltado para o povão e a premissa que norteava seu enredo tendo como centro o atormentado garoto protagonista junto ao seu psicólogo (interpretado por Bruce Willis) e inevitavelmente quando o significado do "terceiro olho' vem à tona nesta película oriunda da indonésia é feita a associação direta ao longa de 1999 além de hipótese de que houve uma nada sutil inspiração do roteiro. Não pensei noutra frase de introdução melhor do que essa linha de diálogo pertencente à uma das cenas mais icônicas (tanto é que tornou-se um meme) do gênero suspense do cinema norte-americano que ao menos ainda entrega uma luz de esperança no tocante ao conteúdo do que o terror e suas defasadas fórmulas (laranjas azedas com bagaços chupados e imprestáveis para o consumo). Neste terror estrelado por Jessica Mila e Bianca Hello, a narrativa acompanha duas irmãs, Alia e Abel, que perderam seus pais num acidente de carro e resolvem abandonar a cidade de Bangkok (Tailândia) para voltarem à Jacarta onde mudam-se para uma casa que anteriormente ocupavam quando eram crianças. Porém, Abel começa a fazer alegações que soam absurdas para sua irmã mais velha que não acredita na presença de fantasmas que são vistos frequentemente pela caçula e cogita leva-la ao psiquiatra achando que a irmãzinha é esquizofrênica. Aqui temos os clichês enfadonhos de interação entre a pessoa que vê a assombração (geralmente uma criança) e outra que demonstra ceticismo absoluto dizendo "fantasmas não existem" e/ou "é apenas sua imaginação".

Tais clichês são pequenas amostras do texto extremamente mastigado e didático que atravessa todo o enredo. Por falar em didatismo exagerado, o epicentro desse problema está na personagem Sra. Windu, uma médium e sensitiva (meio bruxa) com a qual Alia e Abel passam a entender as propriedades paranormais ligadas ao terceiro olho, que performou de uma maneira meio robótica como uma máquina pré-programada para dar explicações a torto e a direito até sobre aquilo que nem necessariamente pede para ser elucidado, sobretudo a um público com bagagem pesada em histórias fantasmagóricas seja em leituras (creepypastas, só pra citar o exemplo que vem mais automático na cabeça) ou experiências audiovisuais que funcionam com engrenagens que operam de um jeito bem parecido. Todo o destrinchamento fez da função da personagem cansativa e irritante, chegando a cometer umas redundâncias de revirar os olhos. Para comprovar que Abel diz a verdade, Alia, meio que subestimando Windu, decide que quer ter seu terceiro olho aberto para vislumbrar os espíritos. Windu faz sua mandinga e Alia passa a lidar com o mesmo dom que sua irmã. No entanto, ela não enxerga nada que pareça um fantasma perigoso de início, dando umas olhadinhas pela casa e pronto, o que a irmã disse que viu não era mais que o imaginário dela e reitera sua ideia de leva-la ao psiquiatra (como se fosse somente abrir os olhos e os fantasmas aparecerem dizendo "veja, estamos aqui, me nota por favor", muito embora hajam alguns que anseiam por ajuda dos vivos e tentam chamar atenção).

Quebrando a cara, Alia, após se dar conta de que não conversou com nenhuma menininha cadeirante no hospital que procurou para tratar dos seus hematomas, é perseguida pelos espíritos malignos não importa os lugares por onde passe, experimentando o horror que sua irmã sofria e finalmente colocando-se no lugar dela. O trabalho de maquiagem nas almas sôfregas que tiram o sossego da mocinha se destaca pelos traços estéticos que os equiparam a zumbis, mas nas atuações mostram-se grotescos e ameaçadores como espíritos, daqueles que instigam a botar sebo nas canelas. Jessica Mila, intérprete de Alia, expressa uma linguagem corporal para os momentos do pouco funcional jump scare (mas os fantasmas de olhos brancos brilhantes amedrontam, principalmente no garotinho que brincava de trem, podiam manter esse detalhe nas cenas mais escurinhas) totalmente inconvincente, não transmitindo a intensidade da reação de algo fora da compreensão atentando contra sua vida, no nível que se espera de um participante de pegadinha do Sílvio Santos (sim, eu acho aquelas bagaças tudo armação heheh). Mas nem tudo estava perdido, eis que uma virada surge para impedir que eu cochilasse sentado: a possessão de Alia. O que não apenas trouxe um refresco para a situação envolvendo a interpretação de Jessica Mila, como também injetou mais tensão dramática no enredo. O evento de possessão ocorre posteriormente à descoberta do que levou à trágica morte dos residentes anteriores da casa, especificamente da identidade do assassino. O roteiro foi esperto em aparentar o jardineiro Asep o mais insignificante possível para o desenrolar da trama com o baixo tempo de tela.

A recusa de pagamento do patrão, revoltado por um trabalho malfeito, motivou Asep a tomar a drástica e insana medida pela sua esposa grávida (o salário pagaria a cirurgia) e assassinou o pai, a mãe e o garoto cujos espíritos vagam pela casa. Alia e Abel assistem à cena como se tivessem voltado no tempo (outra mandinga de Windu) e ali foi brecha fácil para um espírito possuir. Abel e Windu correm para salvar uma ensandecida Alia (o ponto mais admirável dos efeitos práticos) depois que fracassam em expulsar o fantasma do seu corpo. É curioso ver o quanto a possessão espiritual é semelhante à demoníaca, na forma que Alia se debate na cama e de falar, dando ares de uma mudança brusca, contudo positiva, tanto de ritmo quanto de clima. A jovem sai correndo com "sangue nos zói" a fim de matar Asep e concretiza a vingança do seu possessor (uma garota literalmente possessa correndo atrás de mim armada com uma tesoura de jardineiro bem afiada era cagaço instantâneo, sem mentira O_O). O intrigante vem a seguir com a transferência do fantasma para Abel que mergulha num "coma" ao invés de sofrer a mesma manifestação da irmã. Para salva-la, o enredo precisou forçar conveniência - arriscada, por sinal - para dar serventia à participação de Devin, namorado de Alia, logo no ato final. O roteiro taca um plot twist de supetão, sem a menor naturalidade, revelando Devin como um fantasma - morto na hora por atropelamento - pois ele precisaria estar acompanhado de Alia para livrar Abel dos fantasmas e desperta-la, além de encontrar sua paz. Acho que me despercebi de alguma coisa porque me ficou a dúvida sobre a única explicação de Windu sobre os fantasmas (inclusive suscitando a questão de fantasmas visíveis ou não à outros) que passou longe do óbvio (aliás, pude entendê-la em partes).

Consideração finais:

O Terceiro Olho (Mata Batin) é um terror genérico do tipo "montanha-russa" que se desencadeia numa subida lenta para em seguida alcançar o topo e por fim arriar numa queda livre da qual, entretanto, sobrevive, mas o "carrinho" trava de repente sem completar o percurso e nisso me refiro ao corte abrupto no final quando Alia e Abel, que não dão por encerrada sua aventura (ou desventura) sobrenatural, vão ao encontro de Mirah, mencionada por Windu, uma maneira um tanto estranha de plantar terreno para sequência. Ser genérico nem sempre é motivo para descredibilizar, não quando chega a entreter de fato.

PS1: A Abel não desgruda do fone nem quando se preocupa ao ver que Alia saiu da cama, ciente de que estão numa casa assombrada, e fica zanzando sem ouvir os gritos da irmã sendo atacada.

PS2: Uma traição bem rasteira da Windu era a reviravolta que aguardei. Às vezes o esperado é até mais aceitável.

PS3: Asep como fantasma é mais digno de risos que sustos, parecia que o ator estava imitando o Taz-Mania.

NOTA: 7,5 - BOM

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://sanguetipob.blogspot.com/2018/10/critica-o-terceiro-olho-mata-batin-2017.html

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