Crítica - Cadáver


O roteiro devia ir pro incinerador.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

A crise criativa em relação aos longas de terror norte-americanos permanece cavando esse poço sombrio de desinspiração total. Reclamar disso aqui no blog é chover molhado, já faz alguns anos que venho manifestado essa minha insatisfação, não adianta ter que me repetir sobre mais um produto defeituoso referente às diversas vertentes do terror, especialmente o sobrenatural. O gênero dificilmente esboçará sinais de melhora ou inovação no futuro, pois eu entendo que é uma fonte de entretenimento muito suscetível ao desgaste. "Cadáver" é o mais recente exemplar dessa safra insuficiente. Eu sinceramente não queria ter nada a dizer sobre esse filme justamente por ele não dispor de um material que valha a pena explorar tanto do ponto de vista do roteiro quanto do público. Simbolicamente, pode ser visto como representação do status quo do terror com a entidade demoníaca se arrastando e presa a um receptáculo mutilado (uma carcaça degradável).

A impressão que se tem é que existem dois filmes num só. Aliás, um pacote incompleto, considerando que o prólogo mostrando o exorcismo de Hannah Grace mais parece o clímax de um genérico filme tematizado de possessão diabólica e logo em seguida, com o desfecho do pai matando sua filha asfixiada com o travesseiro para acabar com seu sofrimento (a luz da coerência não iluminou a mente do roteirista, pois se a entidade era dominante, Hannah estaria fora de contato por mais que pudesse lutar contra o parasita e assumisse o controle por uns míseros segundos, logo a atitude do pai não deveria ter nenhuma eficácia se a entidade continuava lá), somos apresentados a um longo material extra introduzindo Megan Reed que é admitida à um necrotério no turno noturno após um trauma atormenta-la. O background dramático da personagem é um fiapo que não se desenrola, o filme não dá-se ao trabalho de destrinchar assim como não instiga o espectador a querer saber. Ela trabalhava na polícia e um caso de hesitação em atirar no bandido (que assassinou o parceiro e fugiu) condenou sua carreira a nível psicológico, fazendo-a ficar viciada numas pílulas que sabe-se lá quais efeitos produz (o famoso rivotril, talvez?). Me soa meio irônico que ela tenha sofrido um trauma de um fracasso como policial e resolver superar isso empregada num necrotério e logo durante a madrugada. Uma pessoa nesta condição está perfeitamente bem se acha que aguenta o tranco. Ninguém em plena e sã consciência guarda marcas de um evento traumático e sai procurando uma válvula de escape que promova lembranças vívidas do que motivou a desistência do antigo ofício. Não faço ideia se a pretensão do filme é sair da mesmice do tema. Caso sim, falhou lindamente nisso.

Verdade seja dita: Filme de terror visto à noite dando sonolência não é bom indício. Porque foi a sensação penosa que o enredo proporcionou ao longo da maior parte. Quem se enjoa fácil de jump scare não vai sequer levar um sustinho de leve devido às cenas explicitamente prepararem o espectador para o momento de impacto que gerará a reação, mas não induz ao resultado esperado pela previsibilidade. Em suma, jump scares amadores (na minha experiência, não fiz nem a cadeira balançar, são aqueles sustos ínfimos, de quase nada, isto quando se permite funcionar - se houvesse um medidor de sustos, o filme não renderia mais do que dois tracinhos vermelhos que iam subir e descer rapidamente). A entidade sai da gaveta do necrotério para fazer sua lista de vítimas (a cada vez que mata, uma ferida do corpo regenera-se) e claro que o casalzinho protagonista (Megan e o policial Andrew, seu ex-namorado) sairia sobrevivente. A solução óbvia foi jogar Hannah no incinerador. Mas será que resolveria ao todo? Além disso, perderam a oportunidade de dar significação maior à depressão de Hannah que a ligasse ao demônio que poderia ser uma espécie personificação (uma tremenda bola fora).

Considerações finais:

Cadáver é dotado de uma história incoerente cujo destino mais justo enquanto no papel seria o mesmo da protagonista/entidade (como se o fogo extirpasse um ser sobrenatural do seu hospedeiro x_x) porque não tem a mínima condição de levar um plot desses a sério. Com uma fraca execução dos atributos que todo terror necessita para arrepiar, prender ou fazer virar o rosto numa cena pesada, o filme é vazio e auto-insustentável. O melhor pior filme de não-exorcismo.

PS1: O cara feio com quedinha pela mulher bonita é um clichê expressado pela relação entre o guarda Dave e Megan. Mas se Megan valesse uma aproximação, Andrew não seria ex (a cara de antipática dela levanta suspeita de que ela foi quem estragou a relação, só não sei se por conta do estresse pós-traumático, o longa não esclarece tal detalhe).

PS2: A força que Megan descobriu dentro de si vai colocar todas as moscas em perigo de extinção. E a cadeia alimentar?

PS3: Endoideceram o pai de Hannah para que ele invadisse o necrotério feito um desvariado irracional pra engatar ação. O cara só queria destruir o corpo da filha, mas podia ter pedido com mais educação né?

PS4: Vamos entender o seguinte: Quando o possuído morre, a entidade fica no corpo para assumir suas funções. Não é cagação de regra minha, é a forma mais coerente de se trabalhar a possessão. Porém, no caso de Hannah, quando o pai a sufocou, a entidade estava no comando. Logo não faz sentido Hannah ter morrido se a entidade tinha 100% de controle naquele momento e Hannah era a "co-piloto adormecida". A morte do possuído só pode ser provocada unicamente pela entidade de maneira física, seja torcendo o pescoço até quebrar ou dando múltiplas facadas na barriga.

PS5: Randy (o motorista que transporta os corpos) é aquela pessoa que puxa assunto tagarelando e enchendo suas falas de pormenores desnecessários te dando vontade de manda-la calar a boca de um jeito bem irritado.

PS6: Nem vou criticar o título original e o BR porque já inventei títulos meia-boca pros meus contos.

NOTA: 3,0 - RUIM 

Veria de novo? Não. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilsutrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-248052/fotos/detalhe/?cmediafile=21565376

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