Crítica - Homem-Aranha 2
Clássico imortal do sub-gênero.
AVISO: A crítica abaixo contém objetividade por não ser necessário dizer muito a respeito dessa maravilha cinematográfica que merece ocupar os primeiros cinco lugares de qualquer ranking, pelo menos.
Eu jamais vou me esquecer do anseio tormentoso que sofri na época do lançamento da terceira aventura cinematográfica do teioso com altas sensações de nostalgia imperando na minha mente em transição de criança e pré-adolescente sobre a sequência do primeiro longa que até àquela época só havia visto no mesmo ano de estreia num DVD piratex de camelô. Pois é, as trapalhadas do terceiro filme me fizeram lembrar com afeto da grandiosidade narrativa do segundo. Ainda é de se impressionar como as qualidades técnicas e roteirísticas do longa encantam até hoje.
Este é um conto sobre um herói em fase decadente e que precisa urgentemente restaurar sua fé em si mesmo mediante a uma repentina (porém inexplicada) perda de poderes. O mistério de um Homem-Aranha falido de suas especialidades não ter recebido maiores esclarecimentos no enredo pode simplesmente ser desvendado pelo espectador e a teoria mais aceita é a de que foram efeitos psicológicos advindos da dificuldade de conciliamento de duas rotinas tão distintas e igualmente árduas. "A Encruzilhada de Peter Parker", este seria um sub-título perfeito à obra numa síntese do seu drama particular envolvendo infortúnios à primeira vista menores mas claramente retumbantes na prática como a culpa pela morte do tio Ben, os atrasos na faculdade, demissão no trabalho, lidar com Mary Jane se casando sem declarar seus reais sentimentos por ela, as dificuldades financeiras da tia May que os faz se mudarem... São tempos difíceis para o herói aracnídeo sobreviver.
Aliado á trama da fossa de Peter Parker o público é agraciado por uma das melhores atuações vilanescas dos filmes de super-herói com Alfred Molina caracterizado como um obcecado Dr. Octopus que não precisou de um apertado e espalhafatoso traje verde e amarelo para entregar uma interpretação memorável e a despeito da fidelidade visual somos compensados pela ótima construção da rivalidade com o Homem-Aranha rendendo sequências de luta e ação maravilhosamente empolgantes, bem segmentadas e coreografadas (destaques para a luta no banco, na torre e, é claro, o estupendo confronto em cima de um trem em movimento que por extensão traz a icônica batalha de Peter tentando parar o trem com suas teias que lhe trouxe uma consequência inevitável). O background de Otto Octavius pode não ser dos mais densos em comparação ao do protagonista, mas há de se contemplar a boa vontade do ator no papel num contraste com a figura do herói beirando à perfeição - e se não aproximar-se desse nível, com certeza chega a como é feito nos quadrinhos.
Eu tô me derretendo de amores pelo filme, porém cabe destacar uns poucos pontinhos negativos: Algumas cenas desnecessárias e enroladoras (tirando o papo da reconciliação entre Peter e Mary Jane) como a filha do cobrador de aluguel convidando Peter para comer um bolo de chocolate com um copo de leite sem nem disfarçar que teve uma quedinha pelo novo inquilino. Outro contra são as motivações malignas de Octopus serem fruto de estímulos causados pelos tentáculos como se o controlassem (após a fracassada demonstração do trítio para fusão nuclear), mas creio que houve uma mescla com uma certa raiva sentida por Octopus devido ao acidente com o trítio que matou sua esposa levando-o a enveredar pelos caminhos do crime movido pela ganância de concluir sua experiência bem como testar os limites dela. O roteiro faz amarrações inteligentes como a conexão de Harry (louco por vingança) e Octopus fazer com que Peter torne-se um alvo por conta da sua revelada aproximação ao Homem-Aranha ao custo da segurança de Mary Jane que uma vez colocada em risco redesperta os poderes de Homem-Aranha por completo preparando terreno para o espetacular ato final. Os efeitos especiais do trítio ativado demonstram a notável evolução da época nesse campo, um largo salto para a indústria.
Consideração final:
Homem-Aranha 2 é muito mais do que o melhor filme do cabeça-de-teia já produzido até agora. Seu saldo ultra-positivo o coloca como uma das maiores e mais fantásticas obras cinematográficas do sub-gênero que ainda na época permanecia nas engatinhadas para um futuro consolidamento. A sequência brilhantemente dirigida por Sam Raimi contribuiu amplamente para a prosperidade desse futuro. O ápice da trilogia dotado de um sinal "apoteótico" tanto para o que concerne o filme quanto para a situação retratada do herói.
PS1: A cena de Harry prestes a matar o Homem-Aranha com uma adaga comprida tem um ar sombrio que não veremos ser emulado na nova franquia do herói no Universo Cinemático Marvel.
PS2: E aqui tivemos o tabu arrebentado da mocinha descobrindo a identidade do herói. Cena marcante para toda a franquia.
PS3: Este foi o longa do Aranha com um senso de ameaça maior, afinal de contas Nova York correu risco de ser engolida por uma bola geradora de energia fora de controle.
PS4: A regeneração de Octopus nos 45 do segundo tempo não é passível de críticas, até porque algo tinha que acontecer para evitar que os danos fossem mais catastróficos. Foi um sacrifício nobre.
PS5: Como se não bastasse ter acertado em diversos aspectos, o filme ainda abre espaço para heroísmo comum. Impossível desviar os olhos da tela na cena do incêndio.
NOTA: 10,0 - EXCELENTE
Veria de novo? Sempre!
*A imagem acima é propriedade seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://usphw.us/2004-superhero-movie.html
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