Contos do Corvo #3


Era cerca de meia-noite. O corvo observara atentamente o coveiro executar sua tarefa, tranquilamente - enterrando alguns corpos de animais. Em uma tentativa de quebrar o silêncio, bem como o tédio irritável, a ave resolveu ter a ideia que acabaria com aquele monótono clima: contar uma nova história.

- Ah, não. Lá vem você com suas histórias pra boi dormir. - reclamou o coveiro, nem um pouco afim de ouvir algo "novo".

- Não lembra do nosso acordo? - perguntou o corvo, aproveitando-se do fato de o coveiro ter memória a curto-prazo.

- Que acordo? Do que você tá falando?

- Você disse que ouviria minhas histórias por inteiro se caso elas o interessassem até o fim. Caso contrário, você me abandonaria aqui e como eu odeio falar sozinho e deixar uma história incompleta, nós dois sairíamos perdendo.

- Não me faça rir. Eu não perco nada deixando de ouvir suas baboseiras. - afirmou o coveiro meio que aos risos, largando a enxada, e pronto para encerrar o expediente.

- Tem certeza? A propósito, onde está aquela garotinha?

- Não sei. Talvez ela não venha hoje. Ainda deve estar sofrendo pela perda.

- Você não vai embora, vai? - perguntou o corvo, preocupando-se pelo fim do dia de trabalho do coveiro.

- Mas é claro que sim. O que mais eu faria aqui, além de suportar sua presença?

- Ora, ouvir mais uma história, é claro. É uma pena ela não estar aqui, mas vou contar mesmo assim, quer você queira ou não. Na verdade, foi algo repassado para mim de outro corvo de meu bando. Um caso intrigante envolvendo uma linda mulher bem-sucedida... e um homem misterioso.

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                                                                    O OBSERVADOR 

Claire era uma renomada promotora, que morava em Ohio, nos EUA. Em um grupo de conversas pela internet, numa época em que as preocupações em relação ao trabalho estavam escassas, ela conhecera alguém por quem se interessou de imediato. Muitos papos se seguiram nos dias seguintes, e ambos começavam a ficar cada vez mais íntimos à medida que as conversas se estendiam por horas a fio. Um encontro pessoal foi marcado, o que foi previsível para os dois.

Entretanto, um suposto imprevisto foi relatado pelo tal homem, que afirmara estar com alguns problemas pessoais, fazendo Claire perder duas horas de sua vida em uma praça pouco movimentada. Meio aborrecida pela desculpa do novo amigo, ela caminhou a passos lentos em direção ao ponto de ônibus, sentindo um imenso frio apesar de estar vestindo um casaco aconchegante.

Uma sensação incômoda lhe afligiu durante todo o trajeto. Não temeu nada ruim logo ao chegar em casa, suspirando de alívio. Claire sofria de uma fobia em relação à morar sozinha. Sempre trancando todas as portas e janelas, deixando a cerca elétrica ligada e com pequenas armadilhas espalhadas pelos cômodos. Mesmo estando aparentemente precavida, ela não se sentia totalmente segura. Nas noites que tal fobia começou a se manifestar, a mesma sofria com pesadelos, nos quais algo maligno a perseguia. Não entendia o que aquilo significava, mas sempre achou estranho o fato de tal sonho se repetir, até mesmo mais de uma vez em uma única noite.

No dia seguinte àquela noite em que ocorreria o encontro, Claire, como de costume, verificou sua caixa de correios. O de sempre: contas a pagar. Porém, havia uma carta que destoava das demais. Um tanto amassada e menor do que as outras. Nela estava escrito: "Obrigado por me enviar as fotos. Você é linda, como eu imaginei. Sou eu, o Bruce, do chat. Desculpe novamente por ontem. O que acha de marcarmos uma nova data pra nos encontrarmos?"

Emocionada pelo elogio, ela foi correndo para o computador verificar se ele estava online. Normalmente, ambos se comunicavam no começo da manhã, entre as 05 e 07 da manhã. Ao acessar a sala de bate-papo, Claire se assustara com o que vira. A conta de Bruce, misteriosamente, foi deletada.

- Não faz sentido. Ele havia me dito que iria alterar a foto do perfil. - disse ela, em tom baixo, enquanto movimentava suas pupilas rapidamente tentando encontrar uma explicação para aquilo.

Todos os amigos virtuais de Bruce também tiveram suas contas excluídas, sem uma razão aparente. Aquele era o dia de folga de Claire. Ela, sem praticamente nada para fazer, ligou a TV, mas ainda fortemente intrigada. Percebeu algo na janela próxima à porta. Um papel dobrado ao meio preso à janela. Ao tira-lo, o leu atentamente: "Olá Claire, sou eu de novo, o Bruce. Pode parecer estranho pra você... mas acontece que você não sai da minha mente. Nossa, como você é linda. Mas acho que este pijama rosa não lhe cai bem."

Claire vestia um pijama cor-de-rosa naquele momento. Milhões de questões formaram-se em sua cabeça. Um olhar de estranheza, seguido de uma sobrancelha franzida, fizeram parte de sua expressão. Jogou fora o bilhete e voltou ao seu programa. Provavelmente achava que Bruce estava fazendo uma espécie de brincadeira, já que Claire havia lhe relatado seus gostos e manias. Algumas horas depois, vegetando no sofá, sentiu fome. Foi até à cozinha e abriu a geladeira. Mas antes que pudesse abrir a porta, surpreendera-se com mais um bilhete, este estando preso ao imã.

Estava escrito: "Nem tente fazer isso. Não parece estar com fome. Que tal voltar para o sofá enquanto aprecio seu lindo rosto?"

Claire, enraivecida, amassou o papel e logo presumiu que alguém estivesse dentro da casa, vigiando-a de alguma forma.

- Quem está aí? Alguém? - perguntou ela, olhando para a escada.

Enquanto estava prestes a subir as escadas para ir ao seu quarto, Claire notou mais um bilhete, preso na porta do armário, onde ficavam guardados objetos de jardinagem.

Dizia: "Eu não gosto que fique insistindo em me procurar. Imagino que está bem confusa."

O desespero subiu-lhe à cabeça de instantâneo ao largar subitamente o papel com o tremer de suas mãos, tendo que ficar imóvel para refletir sobre o que significava tudo aquilo.

- Ai, meu deus, o que tá havendo aqui? - perguntou ela, olhando ao seu redor.

Pensou ser alguém roubando a sua casa. Porém, não explicava a origem dos bilhetes. Claire correu para telefonar para a polícia, em um ato desesperado, temendo uma possível emboscada.

- Droga, atende!!

Mais um bilhete fora visto. Estava no pé da mesa onde estava o telefone. Claire o largou no chão para pegar o papel e ler a mensagem.

"Ops, acho que a linha foi cortada. O que acha de tentar o celular? Por favor, não grite, gosto mais da sua voz quando ela é suave."

Claire percebeu a tomada do telefone desconectada. A promotora não viu outra chance, a não ser pegar o seu celular, que estava no quarto. No entanto, a porta mantinha-se trancada. Ela chutou inúmeras vezes, mas não havia dado em nada.

Outro bilhete. Colado na parede, perto da porta.

"Que peninha. Minhas sugestões acabaram. Peço novamente: volte para o sofá, para o seu bem!"

Sua única saída, naquele instante, era o quintal. A porta, infelizmente, estava trancada. Mais um bilhete encontrado no chão.

"Não fui eu. Foi você quem trancou. E agora?"

- Seu maldito! Acha que sou uma peça para seu joguinho estúpido? Se eu te encontrar, eu juro que vou te matar! - esbravejou Claire, exaltada pela tensão criada pelo homem misterioso.

Um bilhete na mesa da cozinha. Claire, já cansada daquilo, leu-o mesmo assim.

"Será maravilhoso quando tivermos nossos filhos. Você é minha, Claire. Desde o dia em que a vi pela primeira vez, eu senti que seríamos felizes. Mas como não quer colaborar, vou tomar uma decisão, por nós."

- Bruce? É você quem tá aí? - gritou Claire, correndo pela casa, tentando arranjar alguma forma de entender aquela situação.

Havia um porão na casa de Claire. Lá ela encontrou uma pistola e a carregou fortemente. Manteve-se atenta, segurando a arma com as duas mãos.

- Será que vou ter que escrever um bilhete para me comunicar com você? Espertinho...

Já na sala, pisara em um novo bilhete, visto no tapete.

"Não é necessário. Ah, e por que gosta do Bruce?"

Claire lançou um pequeno grito de pavor. A campainha havia tocado, o que fez Claire se assustar e esconder a arma em um lugar totalmente imperceptível.

Tentando recompor a sua expressão natural, ela abriu a porta.

Na verdade, era somente mais um bilhete, em cima do tapete com os dizeres "Bem-vindo".

"Advinha só quem chegou. Não fique com essa cara. Vamos, olhe para trás, vai ver quem eu sou. Só é uma pena você ter guardado a arma.", dizia a mensagem.

Claire gritou ao sair correndo para fora da casa. Entre tropeços e gritos de socorro, a bela moça ansiava por uma ajuda rápida.

Sua vizinha, Abigail, a encontrou em um estado de completo desespero e se ofereceu a ajudar.

- Por favor, liga pra polícia. Acho que tem alguém na minha casa! - disse Claire, aos choros e soluços.

- Nossa, calma. Que estranho, sua casa foi sempre tão segura.

- Mas ligue, eu tenho certeza que há... alguém.

A polícia chegara em pouco tempo. Toda a casa foi vasculhada minuciosamente, mas absolutamente ninguém foi encontrado. Mesmo com a confirmação, Claire se recusava a aceitar e jurava que poderia haver alguém. Nenhum invasor, nem mesmo objetos como explosivos, armas e facas sujas de sangue foram encontrados. Apenas bilhetes espalhados.

Alguns policiais verificaram o computador de Claire, na busca de achar alguém com quem ela tenha se relacionado via internet e que talvez pudesse estar por trás dos escritos encontrados. O que muitos investigadores atuais chamam de Stalker.

Não demorou para que achassem a rede social pela qual Claire conversava com Bruce e outros amigos feitos por lá. Todos eles espantaram-se subitamente ao verem os nomes dos que estavam logados, os que tiveram suas contas excluídas e outros que estavam off.

- Meu deus, olha só isso, Ed. Eu lembro de todos eles. - disse um policial.

- Nossa... se estiver pensando o mesmo que eu, é melhor a gente dar o fora daqui.

Um policial que estava na porta do quarto de Claire, esperando seus colegas terminarem a busca, recebeu um aviso importante.

- Ei, Jim. Diga à promotora que não frequente mais este site e que estas pessoas com as quais ela conversava estão mortas há vários anos."


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