O bafafá em torno do novo filme do Coringa (que não é do Coringa - dá pra entender, certo?)


Andei pensando com meus botões ultimamente sobre a situação problemática do universo DC nos cinemas e como essa trajetória foi repleta de tropeços justificados por más decisões criativas, eu percebi que a DC, muito além do pretendido universo compartilhado que teve O Homem de Aço como precursor, não vinha carregando polêmicas acercas de seus filmes desde Batman VS. Superman (até então o mais controverso). São os casos das duas "aberraptações" do Batman dirigidas pelo Joel Schumacher, o horrendo e desconexo Mulher-Gato protagonizado pela Halle Berry, o meio-quente e meio-frio Superman: O Retorno (que certamente não foi poupado de críticas em relação à direção de Bryan Singer e a performance de Brandon Routh no manto do herói), o filme do Lanterna Verde com Ryan Reynolds no papel principal (que nem preciso adjetivar, você já deve saber ou imaginar o que penso heheh) e o já citado O Homem de Aço que eu defenderei até a minha morte (não tô brincando), mas que também foi bastante alvejado de comentários negativos pela roupagem atribuída por Zack Snyder com sua visão "realista" ao personagem, e não posso esquecer do massacrado Esquadrão Suicida lançado em 2016.

O longa do Coringa começou a dividir opiniões bem antes de entrar no circuito comercial, o que ilustra perfeitamente a polêmica em si que o conjunto dessa obra está gerando em todos os fãs e inflamando debates em diversos fóruns especializados. O diretor Todd Phillips já proferiu várias declarações e mesmo com gente careca de saber que o filme é uma história de origem do maior expoente da galeria de vilões do Batman numa abordagem puramente realista e fora de uma interação com um mundo de super-heróis existentes, ainda assim não compreendem num todo o que esse filme de fato pode oferecer, tanto para o bem quanto para o mal, só que na minha perspectiva a fanbase apenas enxerga essa parte má da coisa pela simples verdade do filme ser completamente infiel às HQs, sobretudo à origem do vilão mostrada no clássico A Piada Mortal (a graphic novel de Alan Moore que honestamente não achei essa coisa abrilhantada que muitos veem na época em que li - por scan em um site qualquer, não minto =P) origem esta muito desejada que fosse adaptada à esta versão interpretada pelo Joaquin Phoenix, ator massivamente elogiado (só pelos trailers fica nítido que o cara se entregou de corpo e alma ao papel e a expectativa de que sua atuação honre a encarnação imbatível do Heath Ledger é imensa) e já apontado como forte candidato ao Oscar. Não são nas escolhas de roteiro do filme que vejo o problema e sim no seu título. Phoenix disse que se dependesse dele o filme nem se chamaria assim, poderia ser intitulado simplesmente Arthur (nome do protagonista no filme), afinal ele se posicionou contra a inclusão de referências dos quadrinhos, sendo um filme totalmente original sobre um comediante fracassado que enfrenta rejeição social, problemas pessoais e acometido por uma série de fatores que o desestabilizam mentalmente. O Coringa, em síntese, é uma figura demonstrativa de desordem psicológica e não apenas um supervilão como qualquer outro combatido pelo Batman, ele é extraordinário como elemento antagonista.

Esse background do personagem traz muita disposição para conceber uma história mais calcada nesse lado atormentado e de perturbação mental, fazendo mais referências filosóficas, não necessariamente literais, do que quadrinhescas. O Coringa possibilita se aventurar nessa vibração de realidade cruel para compor um enredo de cabo à rabo e 100% focado nos aspectos mundanos que orbitam o personagem e o tornam quem ele é. Certa vez li um interessante comentário que dizia ser Gotham, metaforicamente, o tonel de ácido que corrói a humanidade de Arthur Fleck, pois ele lida com as porradas da vida numa sucessão de dias ruins que vão matando sua sanidade ao passo que o reduz a um palhaço lunático, psicótico e com vontade de explodir todo mundo. Apesar do filme se agarrar à proposta realista, eu particularmente acharia melhor que o título fosse alterado, até porque está mais do que provado que a equipe por trás da produção não quer similaridades com o personagem dos quadrinhos, muito embora se baseie nele, mesmo que superficialmente, o que é meio contraditório pois o filme é distribuído por um selo alternativo da DC/Warner e tem detalhes que lembram o Coringa que conhecemos (esse Coringa do Phoenix ainda não conhecemos direito) e que é oriundo dos quadrinhos, portanto eles não podem querer se afastar inteiramente de onde o personagem nasceu com o filme tendo esse título e negando inspirações só para dizer que é um filme de viés mais artístico e distanciado de exemplares que não passam em festivais de cinema super-requintados (e nem são aplaudidos por 8 minutos - eu ainda descreio que isso aconteceu com esse filme). Faz parecer que eles desejam que o público afaste a visão habitual do personagem e encarem o longa como uma trama desvencilhada. Só que não dá! Não vai funcionar com todo mundo, impossível funcionar, vai haver fã que não fará separação e vai reclamar aos borbotões.

Definitivamente, não é um filme voltado aos fãs do Coringa, aquele Coringa mesmo. Mas vender o filme com esse título tendo em vista o seu arcabouço narrativo é muita pretensão. Um outro porém é que a indignação dos fãs xiitas não é justa. O filme se chamar Coringa é tão errado quanto fazer uma crítica precipitada porque a produção se recusa a tratar o filme como uma história de origem do personagem que eles utilizavam de base. E é isso que o Coringa deste filme aparenta ser: uma base, uma camada rasa, um verniz sobre um personagem diferente que possui características daqueeele Coringa. Provavelmente uma grande parte do público leigo vai ficar mais perdida que cego em tiroteio, mas em contrapartida os fãs que estão tacando pedras antecipadamente podem acabar gostando do trabalho como cinematografia de caráter não-hollywoodiano e não exatamente como filme baseado num vilão do Batman (o que ele também é, o meu ponto é que intitular o filme como Coringa é equivocado pelo forte apelo que esse nome tem entre os fãs, sejam os equilibrados ou os mais fervorosos que não aceitam uma adaptação diferenciada). Brightburn, por exemplo, é basicamente um filme do Superman com outro nome que apresenta uma faceta invertida do maior super-herói de todos os tempos (se é o melhor, fica à cargo da subjetividade). O Coringa de Todd Phillips é um palhaço que obscurece sua mente por se vulnerabilizar com as dificuldades da vida. E não necessariamente precisava ser pintado como o Coringa ou algo parecido (com aqueeele Coringa).

Batman VS. Superman foi duplamente desbancado em polêmica e expectativa.

*A imagem acima é propriedade de sue respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://observatoriodocinema.bol.uol.com.br/filmes/2019/09/diretor-revela-que-duracao-de-coringa-poderia-ser-maior

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