Crítica - Obsessão


Unidas pela carência afetiva.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Sem que percebamos, podemos inocentemente estar à mercê de um perigo oculto somente no ato de realizar uma boa ação, como por exemplo devolver um pertence que encontrou largado e esquecido. Não basta a própria ingenuidade ou a boa índole, é preciso ser muito desvencilhado da realidade para acreditar que pessoas como Greta Hideg (Isabelle Hupert, numa atuação fenomenal) não existam por aí sob máscaras "inquebráveis" fingindo comportamentos afetuosos e amigáveis para confortar a presa diante da sua presença e procurando se aproximar ao máximo para não transparecer uma aura ameaçadora. Mas até onde sei, o psicopata não consegue manter o disfarce até certo ponto. Principalmente quando sua vítima faz descobertas a respeito da natureza da pessoa que tanto confiou e achou ser alguém de compostura pacata. A isca (como bem exemplificada na imagem - é um anzol segurando uma das muitas bolsas iguais de Greta) deixada pela vilã atrai caças muito fáceis como Frances McCullen (Chloe Grace Moretz), até porque ninguém ignoraria, sobretudo mulheres, uma bolsa daquela aparência sofisticada. Se fosse com Erica, a amiga brincalhona de Frances (e também alívio cômico bem esporádico), certamente não havia devolução, e no caso de alguém mais esperto logo de primeira sacaria a estranheza de uma bolsa com propriedades importantes simples e facilmente abandonada por mero esquecimento num metrô.

Não que a protagonista cometeu uma tremenda burrice, só foi ingênua demais para não pensar no quanto aquilo parecia fora de uma lógica realista. Talvez o luto pela perda da mãe tenha potencializado tal fragilidade, como se nos recônditos de sua alma uma coisa lhe dizia para seguir aquele caminho rumo ao superficial preenchimento de uma lacuna familiar que por coincidência ajudaria à antagonista a superar seu próprio luto em relação à filha - a qual ela diz estar morando na França, uma grande mentira desvendada por Frances no contato com uma mulher ligada à Nicola, filha de Greta, que lhe revela o suicídio da garota e que ela jamais esteve noutro país. A psicopatia de Greta é interessante, ela usa de um modus operandi duvidoso para gerar aproximação, num toque persuasivo incrivelmente eficaz, com pessoas que sabem que aquele contato não deve necessariamente ir tão longe para desenvolver uma amizade íntima e frutífera, afinal de contas é apenas para devolver a merda de uma bolsa "esquecida" e é vida que segue depois disso, portanto a circunstância originada para engatar o plano ardiloso de Greta é falível para que a vítima permaneça até o final da mesma forma que começou. Mas gentileza incentiva gentileza né? E Greta não está nem aí se suas intenções não funcionarão de acordo com o que teoricamente deseja, independente do desconforto da vítima ela persegue incansável, ainda mais com Frances que recusou ficar mais tempo no jantar para ir embora após descobrir as outras bolsas guardadas no armário com números de telefone e nomes das pessoas que caíram na teia dessa aranha peçonhenta. A propósito, eu achei que Frances saber disso pouco antes dos primeiros trinta minutos foi relativamente cedo, dava para esticar um pouquinho em prol do impacto da reação dela.

A progressão da perseguição doentia de Greta é envolvente (de constantemente enviar mensagens, arruinar a vida profissional de Frances, ficar no encalço da sua melhor amiga e até dopa-la com uma droga que causa vertigem para sequestra-la), dá expectativa para prestarmos atenção na capacidade da vilã em manter a companhia de Frances a todo custo - tratando-a como uma criança, deixando-a em cárcere privado e obrigando-a a aprender piano e falar húngaro (ela é uma mãezona de ouro mesmo né? Só quer proteger sua "cria" =P) -, de vermos a extensão do seu desespero para cometer as atrocidades que estiverem ao seu alcance. Tudo iniciou com uma amizade grudenta e inofensiva, passando para a fase mais stalker da Greta e culminando na "onipresença" da vila que aparecia e desaparecia em cada lugar feito uma assombração. Como uma boa psicopata, Greta recebe a visita do detetive Brian, contratado pelo pai de Frances (o único não diretamente envolvido na situação), com o qual ela tem um relacionamento meio difícil, e segue seu jogo de dissimulação, cortesia forçada e astúcia ao enveredar por assuntos incompatíveis com o objetivo da visita e aumentar o som para abafar os constantes barulhos de Frances se debatendo amarrada e amordaçada na cama a fim de chamar a atenção do investigador.

O espectador que não levar Erica a sério em boa parte da película pode se arrepender disso (natural, até porque ela ficou toda oferecidinha pro cara que trouxe os lírios brancos mandados por Greta à Frances - lindas flores enviadas por uma mulher que não é flor que se cheire). Pois ela representa um delicioso plot twist para salvar Frances das condições degradantes impostas por Greta. De uma inteligência que eu realmente não esperava, pra ser sincero. Erica se dirige à casa de Greta disfarçada para devolver a bolsa e envenena seu café. Magistral da parte dela, isso que é amiga de verdade. Entretanto, o filme bem que poderia ter mesclado um caráter mais brutal com o já estabelecido clima de "thriller" psicológico para engrandecer a tensão.

Considerações finais:

Obsessão (Greta, no original) é provido de um roteiro que deixa seus intérpretes à vontade para encarnar suas respectivas figuras, em especial Chloe Grace Moretz que retrata a impotência de um refém da psicopatia movida pela busca de atenuar sua solidão. Se ficou devendo, com certeza foi na perda de oportunidade para intensificar o conflito ao limite que preferisse.

PS1: Frances e Erica combinam de chamar a polícia no final após prenderem Greta na caixa com uma fechadura improvisada (miniatura da torre Eiffel). Isso aí, ótimo plano, eles vão acreditar que duas jovens enfrentaram uma psicopata e a trancaram numa caixa, nem vão parar na delegacia...

PS2: Solicitar a polícia foi duplamente imprudente nesse filme. Primeiro no restaurante chique onde Frances trabalha, onde Greta fica observando-a fixamente e como o policial afirmou ela estava em local público e não iria obstruir esse direito de todo cidadão, então Frances deveria apenas ignora-la . E segundo, eu já comentei acima, mas complemento: Elas estariam livres de problemas com a justiça podendo até chamar os policiais para passar um pente fino no lugar, mas fugindo de lá assim que denunciassem Greta anonimamente. E se Greta saísse da caixa antes dos policiais chegarem, ela manipularia a situação para culpabilizar as duas amigas, as descreveria, prestaria depoimento etc. Nas duas situações, o ideal seria Frances sair de Manhattan e recomeçar sua vida querendo ou não. Esse seria um bom ponto de partida para uma sequência...

PS3: O lance do chiclete foi premeditado. Creio que é um dos sinais esboçados por psicopatas em geral, quando percebem que seu poder de ludibriar e subjugar a vítima está enfraquecendo, apelam para a implicância e/ou a violência, verbal ou física, e não descansam até que esteja novamente nas suas mãos (acho que tenho futuro na psiquiatria hahahaha).

PS4: Sempre suspeite de quem utiliza em excesso o adjetivo "querido (a)" (Ma Cherie, no caso da Greta, uma húngara que quer pagar de francesa, coisa de psicopata mesmo, fingir ser o que não é).

PS5: Frances podia ter escolhido coisas mais pesadas para colocar sobre a caixa, mas preferiu a mini Torre Eiffel ¬¬

NOTA: 8,0 - BOM 

Veria de novo? Sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://pipocanamadrugada.com.br/site/isabelle-huppert-persegue-chloe-grace-moretz-trailer-obsessao/

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