Crítica - Scooby-Doo: O Filme


Bem-intencionado, porém não efetivo o bastante.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

A evolução ágil das tecnologias abriu novas portas para que possibilidades anteriormente inviáveis no cinema pudessem finalmente receber alguma exploração. O clássico desenho da Hanna-Barbera é um terreno que só os mais corajosos roteiristas poderiam ousar adentrar para fazer a transposição para a mídia cinematográfica de uma maneira corretamente fluída e que não parecesse uma paródia trash. O resultado quase alcançou isso, mas só quase mesmo. O filme esbanja uma identidade própria e tem bem menos um caráter imitador do que aparenta a julgar pelas imagens e pôsteres. Aqui o roteiro apresentou uma premissa que vai além do que um fã da série animada normalmente esperaria. Ou pelo menos surpreenderia o fã que nunca imaginou a turma enveredando por outras dinâmicas. Na aventura o quinteto passa a perceber alguns detalhes incômodos no trabalho em equipe, sobretudo relacionado à Fred, ele que é o líder sempre inabalável e inventivo com suas armadilhas "geniais" é o grande alvo de reclamações (da Velma, aliás, que não é apenas o cérebro, é a alma desse grupo, sem seu raciocínio e intuição investigativa não existe mistério resolvido) já que nunca deixa de receber o crédito pelo sucesso das missões, ofuscando os demais. A desavença culmina na separação, deixando Salsicha e Scooby sozinhos (e o pior é que Daphne, Velma e Fred parecem não se importar em abandona-los - tadinho do Scooby).

É tipo quando a banda atinge determinada popularidade e os membros começam a se estranhar por diferentes motivos e quando um decreta saída os outros seguem no embalo. Boa ideia terem apostado nesse caminho para a turma, o plot, por mais clichezão que seja, de faze-los descobrir que eles são mais fortes juntos do que separados tem um desenvolvimento sólido que emana o objetivo de torna-lo o principal mote. O fraco dos quatro certamente é Scooby estando em perigo e para salvar o cão de um sacrifício por ser a alma mais pura a ser absorvida pelo vilão (Emile Mondavarious - numa interpretação mediana de Rowan Atkinson do qual não se consegue desvencilhar jamais a figura do seu personagem mais icônico haha) que deseja um exército de monstros zanzando no mundo pelos próximos dez mil anos. Inicialmente o mistério concentra-se nas dúvidas acerca do comportamento dos turistas do parque Spooky Island (para o qual, dois anos depois do rompimento de laços, o quinteto viaja após receberem convites solicitados para investigar) que parecem agir estranho, levantando a hipótese, suscitada por Mondavarious, de uma praga alastrando-se entre as pessoas que na verdade estavam possuídas por uns demônios bem feiosinhos e que são vulneráveis à luz solar (solução mais que fácil pra despacha-los da trama hihihi). E nesse ponto eu atento para o que enxergo como um problema: O longa vai exatamente na contramão de um grande aspecto da série original que são os monstros na verdade tratarem-se de pessoas fantasiadas que utilizam o disfarce para praticarem suas maldades visando um fim específico que no fim das contas lhe convenha. Isso colocava em questionamento o sobrenatural existir ou não (pelo menos não esqueceram do ceticismo de Velma). É uma coisa que permeou a série desde seus primórdios, não que elementos paranormais não possam existir e servirem, mas era um algo a mais benéfico pro conjunto geral desse lance dos monstros revelarem-se como pessoas de objetivos malignos e egoístas.

As diferenças boas só terminam no que se refere à treta da equipe que pra resolver o mistério até chegam a competir entre si (Velma querendo provar-se a mais útil, Fred com seu narcisismo típico e Daphne cansada de ser a donzela em apuros). Pra começar, Scooby-Loo nem deveria ser uma adição necessária, o carisma do personagem nos desenhos não tinha a menor comparação com o de seu tio e não sei onde é quem viram de decisão criativa na inserção dele como a mente sórdida por trás do "brilhante" plano vingativo (contra a gangue Scooby que o largou na estrada porque ele foi burro demais em dar uma condição que o desfavorecesse se achando o melhor detetive) que teria êxito graças a um artefato em formato de pirâmide (surpreendentemente achado por Daphne - até que enfim tinha visto ela fazer algo que preste =P) chamado Daemon Ritus com funcionalidade para sugar todas as almas (ou protoplasmas) do caldeirão, consequentemente transformando o baixinho numa versão endiabrada e com esteroides. O foco está na aventura e na ação que ela pode proporcionar ao invés das indagações quanto ao verdadeiro culpado (o desenho nos instigava a adivinhar pelos suspeitos).

Nas atuações, lamento pela interpretação de Matthew Lilard como Salsicha e seus trejeitos exagerados, ao menos teve boa química com o Scooby de CGI revolucionário para a época (o longínquo ano de 2002) mas que atualmente é qualidade de série de TV de baixo orçamento. As outras tiveram performances aceitáveis, o que deu ruim de fato foi na caracterização aproximada até demais dos visuais clássicos (o echarpe do Fred mais exposto ficaria ridículo no live-action, ao meu ver, a menos que o filme se ambientasse nos anos 1960). De fidelidade positiva sobrou a (apagadinha) Máquina de Mistérios.

Considerações finais:

Scooby-Doo: O Filme executa uma reimaginação dentro do que minimamente é esperado, contendo interpretações que remetem bem às contrapartes do desenho (Salsicha só pecou no afetação forçada), entretanto faz um desvio questionável para abraçar a aventura como sua principal e única via em detrimento do mistério do jeito que o original costuma realizar.

PS1: A cena da troca de almas é realmente tão engraçada quanto eu lembro (1 pra mim e 0 pra memória afetiva).

PS2: A voz BR do Salsicha não encaixou muito bem no ator, provando que até na dublagem aquilo que funciona no desenho pode não funcionar também no live-action.

PS3: A escalação da Sarah Michelle Gellar para o papel de Daphne foi espertinha por parte da produção. Anos antes ela interpretou uma subversão do arquétipo da loira que sempre se dá mal nos filmes de terror num programa (série de TV) que tinha um time de personagens intitulado "Scooby-Gang" e no filme do Scooby-Doo traz uma Daphne encorajada a confrontar seus medos e que ainda dá um show de artes marciais que lembrou justamente a tal personagem da série que contrariava a função de mocinha em perigo. Coincidência? Eu acho que não.

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.vix.com/pt/cinema/540715/atores-de-scooby-doo-mudaram-muito-veja-como-eles-estao-hoje-em-dia

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