Capuz Vermelho #60: "O Candidato Honesto"


As presas gotejando saliva pareciam moverem-se com os rosnados contínuos. Cada passo à frente de Cérbero era uma razão para dois em recuo enquanto vítima. A serpente na ponta da cauda balançava exibindo sua língua e abrindo sua boca peçonhenta. Hector não parecia medir coragem. Preferiu sacar uma adaga do sobretudo do que confiar nos atributos mágicos de Pandora. A bruxa se alvoroçou com a escolha insana do caçador, olhando reprovativamente.

- Enlouqueceu de vez? Estamos diante da fera mais hostil do submundo. Devo para-lo.

- Não vai ser louca de tentar parar à ele. E muito menos à mim. - retrucou Hector, preparado, manejando bem o cabo da lâmina - Fique logo atrás e não reclame se soar autoritário.

- Disso não tenho queixa, cansei de acatar ordens de quem não me valoriza. - disse ela, temerosa - Ele vai avançar... Caso morra, não perderei tempo em procurar sua alma vagando por aí.

- O que vai fazer? Fugir outra vez? - indagou ele, andando uns passos de lado.

- Agora é a hora em que menos devemos discutir. Minha magia seria capaz de atrasa-lo, mas com sorte apenas um de nós teria chance de passar. Que droga. Você nem pode se transformar! Como espera derrota-lo com uma arma dessa? Se tá disposto, vai em frente. Só cuidado com a saliva.

- O que tem a baba desse monstro? - perguntou Hector, intencionando atacar primeiro.

- Basta uma gota penetrando na pele... para um veneno se espalhar pelo corpo. Apodrecendo-o.

Cérbero investira inesperadamente contra Hector, dando um pulo. O caçador foi derrubado e tentava agoniadamente barrar os dentes daquela fera ensandecida. Pandora estava entregue ao desespero.

Hector desferiu um corte no tórax do cão e chutou uma das cabeças. Levantou-se agilmente e se pôs atrás, quase como se quisesse montar nele, tentando domar as três cabeças. A faca enorme ajudou a cortar com esforço ao menos uma das cabeças. Mas a serpente-cauda enroscou-se no pescoço do caçador. Cérbero debatia-se violentamente em dor. Já Hector sentia saudades de respirar. Se não largasse o cão, a serpente não o largaria. Seu rosto envermelhou-se intensamente.

- Não... Não! - disse Pandora, inquieta, resolvendo lançar uma onda psíquica contra Cérbero. Hector se libertou aproveitando a vulnerabilidade da fera. A mão da bruxa tremia, mas sua bravura estava sólida. O cão infernal rolava e girava não suportando a descarga. Hector sofria o mesmo.

A bruxa lançou uma nova onda com as duas mãos empurrando Cérbero para a beira do precipício. Hector levantou-se, resistindo à onda e chutara o cão penhasco abaixo. Mas não sem ter sua calça mordida para arrasa-lo junto. Pandora o segurou forte enquanto Cérbero rasgava a terra com suas garras para subir de volta. Por fim, conseguiu desprende-lo e o guardião da cidadela dos demônios deslizou até perder o equilíbrio e cair definitivamente.

- Tem algo errado... - disse Hector, meio fragilizado. Olhou para sua mão esquerda onde havia uma mancha negra crescendo visivelmente - Você bem que avisou. Mas não tínhamos saída...

- Verdade. Se eu ficasse e deixasse você ir... talvez não sobreviveria pra nos mandar de volta. Acharemos o antídoto. Vem. - disse Pandora, ajudando-o - Consegue andar?

- Não tão rápido, mas posso. - disse ele, sentindo-se mal pelo veneno correndo em seu sangue - Onde exatamente vamos achar o remédio? Até lá minha pele vai degenerar toda...

- Manter a calma, é o que faremos. Só... confia em mim. O que pode salva-lo... está além da cidadela. Conheço o lugar perfeitamente. Fica perto de mim, não sai... OK?

- Não vou decepcionar a Rosie. - disse Hector, saindo na frente num caminhar trôpego - Mesmo que recuse ser salva.

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CAPÍTULO 60: O CANDIDATO HONESTO

Londres

O local escolhido para a demonstração da proposta central da campanha política de Eprham fora um abatedouro clandestino desativado há 8 anos. Belphegor não gostava que dirigissem-lhe a palavra chamando-o pelo nome real, portanto todos passariam a se referir a sua figura com a identidade humana adotada. Os magos da Caosfera entravam logo atrás do líder truculento ostentando um caro terno cinzento. O candidato observava o lugar com interesse.

- A sensação de frescor em dar o pontapé inicial... - disse Eprham, animado - ... realmente não tem preço. - virou-se para o grupo - Eu sinceramente me desculpo por ter feito mistério à todos vocês em relação ao meu verdadeiro propósito com essa pocilga indicada por Derek. Sem ofensas, mas... olhem pra isso, a imundície, isso precisa ser corrigido o quanto antes. Ninguém trabalhará nessas condições.

- Não é minha intenção questionar sua autoridade, milorde. Porém... - disse um descontente mago do caos - Ao que nos parece, compartilhou informações privilegiadas com o Derek. Ele é o líder, embora não seja diferente de nós. Essa posição não confere algo acima da nossa representação ao governo.

Eprham deu uma risadinha comedida.

- Vejo que estão bastante atentos à minha relação com Derek. Ele me sugeriu de bom grado, só isso. Mas não vou admitir que nenhum de vocês palpite nas decisões que partirem do seu líder, especialmente as que vierem de mim. - assumira um tom severo - Aqui mesmo será a oficina do projeto OSD, abreviação para Organismo Super-Desenvolvido. Simples demais até para a mídia.

- O Derek sabia disso também? - perguntou outro mago - Por que nós não.

- Vamos perder tempo discutindo o quão fundo é meu envolvimento com a campanha? - Derek enfezou-se na hora - Além do mais, temos trabalho a fazer ainda hoje, então canalizem a energia dessa revolta ou inveja no foco. O cadáver não vai se incinerar sozinho. - voltou-se para Eprham - Muito bem, grande mestre, estamos esperando. O progresso começa nos pequenos passos.

- E com certeza subiremos a escada degrau por degrau. - disse Ephram, logo estalando os dedos duas vezes para alguém que se direcionava ao grupo saindo de um canto opaco e trazendo a caixa de Pandora.

- Isso é... inacreditável. - disse Derek, espantado com a caixa reconstituída - Mas como, afinal?

- Aproveitei a reunião de vocês para roubar um dos seus magos e com a ajuda fundamental de um dos meus demônios puderam remodelar a caixa através da formidável magia do caos. - disse Ephram - De pedaço em pedaço, cada parte foi restaurada. Me agradeçam, pois tem o que precisam para forçar a dona original a uma negociação irresistível, eu garanto. Agora sim vamos ao teste.

O demônio, sob o disfarce de um homem de rosto magro e com longos cabelos molhados em gelo penteados para trás e usando vestes negras., entregara a caixa ao soberano infernal.

Um rato que passava por ali perto tivera seu rabo pisado pelo pé direito de Eprham. Pegou o roedor e o pusera dentro da caixa cuidadosamente. Os ornamentos em relevo da caixa emitiram brilhos amarelados enfraquecidos, mas a mesma vibrava o que fazia Ephram segura-la firmemente. Em seguida, abrira-a, soltando o rato, mas não o pôs no chão.

- De alguma forma, conheço bem as propriedades incríveis dessa caixa. - disse Ephram, sorrindo de maneira sádica olhando para o rato que se debatia. Apertou o corpo do animal o mais forte que podia - Estão notando? Não importa o quanto eu aumente minha força, ele não expressa dor. - apertou muito mais forte - Resiste a uma força que quebraria uma coluna vertebral humana. A magia da caixa detém a chave para fazermos do sonho do progresso num verdadeiro milagre.

As faces impressionadas e curiosas dos magos não deixavam mentir. O experimento foi um absoluto sucesso.

                                                                                   ***

No Tártaro, Rosie andarilhava sem rumo ao lado de seu prestativo acompanhante - um jovem britânico de cabelo castanho curto e olhos verdes - que a viu cair no barranco durante a fuga de uma das criaturas macabras do submundo.

- Desde quando está aqui? - indagou ela - Aliás, de que forma veio parar aqui? Digo... Ah, me desculpa, sou péssima em puxar conversa, ainda mais estando nesse total inferno infinito.

- Por mim tudo bem. - disse ele, quase rindo - Já me acostumei ao cheiro de enxofre, da lama, das entranhas do lago da perdição... que não é um nome oficial. Foi lá onde eu caí. A propósito, me chamo Leo. Foi mal, indelicadeza minha não falar meu nome antes.

- Não tem problema nenhum se apresentar tarde. Mas e então... O que é esse tal lago da perdição?

- Não traz perigo algum para as almas que entram no Tártaro após a morte. O problema é quando são pessoas vivas e o odor das águas se estende à quilômetros. Daqui podemos senti-lo como se estivéssemos próximos do lago. Como morremos, não somos afetados.

- É o cúmulo do absurdo uma pessoa viva querer pisar no Tártaro pra visita-lo. Quem faria isso?

- Algum praticante de magia demoníaca, talvez. Há uma casta de magos que conseguem...

- Magos do caos? - chutou Rosie, olhando-o.

- Nunca ouvi falar. - respondeu Leo, franzindo o cenho - Se existem, pode ser. O nome indica bem.

- Faz parecer que é grave o lance da alma viva em contato com o lago. O que acontece?

- Não o chamei de lago da perdição a toa. - disse Leo, sério - Tudo só tende a piorar a cada vez que você sua noção de tempo vai se esvaindo, tanto pra mortos como pra vivos. Não sentir cansaço, fome, sede ou sono... uma compensação pequena demais perto do sofrimento... eterno. Eu me adaptei fácil. Sabendo que meu pecado era indesculpável. Mas voltando ao lago... os vivos permanecem vivos, só não do mesmo jeito. Pior que tive o azar de testemunhar alguém virando uma coisa abominável.

- Quer dizer... que pessoas vivas não escapam ilesas daqui e o odor da água...

- É uma maldição, Rosie. - disse Leo, parando a caminhada - Os monstros que resultam desse contato... são selvagens, hostis e persistentes, nem os demônios os suportam. Gosto de chama-los de bastardos. São duros de matar, mas obedecem a um líder e sempre recuam feito cães adestrados com o som de um chifre improvisado como berrante. - fez uma pausa, encarando-a fixamente.

- Bem, você conseguiu me deixar assustada com essa cara. Leo, se tem algo a contar, não esconda.

- Não tenho segredos que não posso me obrigar a enterrar. Então serei honesto. Eu sinto duas presenças... duas presenças vivas aqui. E tenho quase certeza que tem a ver com você.

A jovem engoliu em seco atormentada pelas milhares de possibilidades que abarrotavam sua mente.

                                                                                ***

A chama do cálice se elevou numa pequena explosão dentro do cômodo onde estavam alguns magos do caos reunidos para acompanhar o feitiço rastreador para localizar a posição de Pandora.

O mago abrira os olhos subitamente. Ficou em silêncio por um tempinho olhando seus colegas numa expressão neutra. Derek descruzou os braços sentindo uma enorme impaciência.

- Você encontrou ou não? Responda. - pediu severamente.

- Sinto muito, senhor. A desgraçada... sumiu do mapa. É menos que uma agulha no palheiro.

Num acesso de fúria, o líder derrubara um criado-mudo e logo foi se direcionando ao subserviente.

- Ordeno que tente novamente, pela última vez. Temos uma negociação inescapável.

- Mas nossa magia jamais falha. Comprovei que está certo. - insistiu ele - Ou então...

- Sugestões? Estou aberto a qualquer uma. Desde que seja viável para não nos custar o tempo que perdemos com essas tentativas inúteis. Você rastreou Pandora e também o cadáver?

- Posso supor que o corpo esteja selado com magia bloqueadora de feitiço localizador. Mas quanto à Pandora... ela também está fora do radar. Se refugiu no esconderijo? E como podemos quebrar o feitiço de selamento à distância? Chefe, melhor esquecermos...

Dizer aquilo foi um erro que estourou o pavio de Derek. O líder pegou-o pela gola da roupa.

- Esquecer?! Desistir?! Você tinha uma ideia a manifestar. Diga agora ou te despacho da pior forma.

- Um feitiço... que dê visibilidade aos pontos cegos deixados pela magia do caos com o selamento. Pra isso é necessária a energia mística de uma bruxa nível ômega atuando em conjunto com a nossa.

- Ah entendi. - disse Derek, soltando-o - Superarmos o bloqueio que protege o corpo. Está certo. - assentiu para ele e à todos os outros - Eu mesmo dou conta.

- Negativo, filho. - disse Hamilton, entrando na sala, com sua presença intocável e altiva, para a total surpresa dos demais magos que o reverenciavam-o - Esqueceu a quem pertence o direito de dar as cartas? Não vou permitir que desgastem suas energias indo atrás de um lixo putrificado.

- Mas pai... Preciso que entenda perfeitamente. - disse Derek, aproximando-se - A vida de Rosie Campbell, a existência dela... representa a todos uma ameaça, especialmente ao nosso senhor.

- Nosso senhor tem problemas mais urgentes a tratar. - retrucou o comandante da sede britânica da Caosfera - A sua preocupação se a garota vive ou morre é dispensável. Afinal, ela já nos foi útil. Que outra possibilidade assustadora visualiza pra justificar um plano de impedir uma ressurreição?

- Não sabemos onde Pandora está. Mas Hector, numa teoria extremamente confiável, está com ela. Juntos conseguirão tirar a alma de Rosie. Por isso chamarei uma bruxa que nos ajude a quebrar a barreira que não permite ver claramente a localização. Não é aconselhável subestima-los, eu sei disso.

- Basta! - esbravejou Hamilton contra o filho - A prioridade é clara: Impulsionar nosso senhor à adoração das massas conforme sua agenda política ir progredindo e conquistar mais atração. Tente desobedecer e verá do que sou capaz pra faze-lo andar na linha que eu traço pra você.

A impotência de Derek diante do pai o envergonhava aos companheiros.

- Sim, pai. Não vou mais contestar. Os objetivos do nosso senhor vem primeiro. - aceitara ele.

                                                                             ***

Uma coletiva de imprensa ocorria em frente ao prédio do parlamento britânico no qual oficializou sua candidatura. Um numeroso grupo de repórteres veio além de fotógrafos. Eprham incomodou-se um pouco com os flashes incessantes, mas disfarçou voltando sua atenção para os entrevistadores efusivamente prontos para respostas.

- Existe uma data oficial para realização do primeiro comício? - perguntou uma repórter.

- Em pleno início de campanha, muitos planos ainda sequer estão em fase inicial. Mas abri uma exceção para nossa principal aposta em prol do âmbito militar. A chamo de Organismo Super-Desenvolvido. A semente de uma nova geração de combatentes de guerra. Infelizmente não posso fornecer maiores detalhes, por ora. Porém, já adianto que nosso projeto visa revolucionar o setor tecnológico num salto não de anos, mas de décadas à frente do nosso tormentoso tempo. - deu um fechado sorriso - Próxima pergunta? Não se acanhem, estou a toda disposição, vou ouvir todos que puder.

Os repórteres se empolgaram para dar prosseguimento.

- O que de fato o motivou a prestar serviços na carreira política numa época turbulenta que vivemos?

- Sou um filantropo de ideias avançadas e ambiciosas. Tudo pelo qual me inspiro é visando inspirar o mundo a evoluir junto. Mas não posso erradicar todos os problemas, ninguém nessa vida é capaz de tal façanha e nem sou presunçoso de aparentar que desejo algo tão utópico. De nada vale sentar no trono para governar se o trono é que governa você.

A declaração arrancou vários aplausos. No meio da multidão estava Lester, de passagem pela cidade, nem um pouco convencido da desenvoltura de Lankester ante ao povo. Balançou a cabeça devagar negativamente.

- Pagando de bom samaritano. São todos iguais, não salva um.

Eis que no meio de parte mais aglomerada, o caçador estrategista avistou Adam trajando vestes comuns e sociais - casaco verde-pântano por cima de uma camisa branca e calças pretas - e deu passos bem largos na direção do amigo sem titubear. Passou por algumas pessoas para chegar nele.

- Ei, Adam! Aqui. - disse ele, entusiasmado - E aí, cara. Esteve sumido desde nossa última missão. O que foi que houve pra você ter desaparecido assim, quase do nada?

- Oi Lester. - Adam denotava pouca animação no reencontro - Ahn, eu... Tenho lidado com problemas.

Lester levantou uma sobrancelha, estranhando o comportamento.

- Cara, somos amigos de muitos anos... Pode se abrir à vontade, estamos em público, mas... E daí? Vamos ignorar o que esse falso pagador de promessas tá cacarejando e focar na gente. Tá tudo bem?

- É claro, não é nada demais. Eu só... Me sinto com a cabeça carregada de pensamentos. Você sabe... o motivo pelo qual me isolei nos montes do Himalaia. Transbordar todas as impurezas da mente através do treinamento físico. Lá tinha um monge... que deu orientações pro meu crescimento.

- Sim... Eu, a Êmina, a Rosie e até mesmo o Hector, desculpa tocar no nome dele... Todo mundo sabe disso. Você falou exatamente isso pra mim dois dias antes de irmos pro QG do Exército. Eu lembro.

- Foi mesmo? Todas as palavras iguais?

- Exato. Já deu pra perceber que o seu problema é mais do que só raiva e rancor. Tá afetando a memória. Daqui uns dias você nem lembra mais de como é e tem que se olhar no espelho toda hora.

- Na verdade... começo a achar que não é na aparência que vou esquecer de mim mesmo.

- Por que tá dizendo isso? Só fiz um comentário jogado, não leva a sério. - disse Lester, confuso.

- Você não entende, Lester. - disse ele, tocando-o nos ombros - Eu preciso de ajuda. Mas é tarde.

- Tarde pra quê? Assim você me apavora. O que tá acontecendo com você? - questionou Lester, preocupado - Olha, tô vendo que mais uns meses no Himalaia vão te fazer bem. Volta pra lá, se recupera, depois conta sua experiência, boa ou ruim, realizada ou fracassada, estaremos ouvindo. Estaremos com você sempre. - disse ele, preparando-se para ir - Foi bom te ver de novo, amigo. - apertaram as mãos.

- Você também. - disse Adam, os olhos tristonhos. Quando Lester estava numa certa distância, o rádio-transmissor dado por Derek vibrava indicando uma chamada. Relutou em atender.

- Estou na escuta. - disse Adam. De repente, um som agudo atravessou seus ouvidos vindo do aparelho fazendo o caçador cerrar os dentes e apertar os olhos. Logo recobrou a calma, mas formando uma expressão dura e sisuda, numa mudança brusca, diferente de como estava com Lester - É você Derek? Qual a ordem? - desceu a escadaria de concreto, afastando-se da multidão.

- Agora sim o Adam que conheço. - disse Derek - O seu tom de voz quando atendeu estava meio... sereno demais pro meu gosto, diria que de alguém que... está com medo. Então, me preparei para abastecer sua mente com mais uma carga de frequência indutora neural. Preciso de um favorzinho.

                                                                             ***

Pandora e Hector prosseguiam numa caminhada estável pelo Tártaro na busca por uma cura para o veneno de Cérbero. Mas no caçador insistia a dúvida para a área onde realmente o antídoto estava.

- Bem, chegamos à floresta dos hecantôquiros. - disse Pandora - Não queremos ter o azar de topar com eles.

- Pra onde estamos indo? - perguntou Hector - Não vá tão rápido... - caíra tropeçando.

Pandora voltou-se à ele indo ajuda-lo, mas o caçador recusou-se.

- Acho bom deixar esse orgulho em segundo plano perto da sua vontade de querer salvar Rosie. - disparou ela - Essa trilha nos leva direto a um córrego cuja água tem efeitos medicinais.

- Ironia da sua parte... - disse Hector, levantando-se - Ou posso estar delirando. A mancha já cobriu toda a minha mão, deve estar se espalhando pelo meu braço...

- É sério. Seria estúpida de mentir nessa altura? Temos que ser pragmáticos e ágeis se quisermos impedir que Derek e os outros magos achem o corpo da Rosie e o queimem antes de eu conjurar o feitiço de reconexão astral. Vamos, temos que continuar. O córrego é profano, mas tem sua parte sagrada, nunca antes alcançadas pelas criaturas que habitam essa área.

- E o que são esses pilares? - perguntou Hector, tocando numa das estruturas duras.

- Não são pilares. Ossos de hecatônquiros. - fez uma pausa olhando ao redor - Devorados por outros hecatônquiros.

- Agora o nome do lugar faz total sentido. De um jeito mórbido.

Alguns tremores os deixaram alertados ao máximo.

- Essa não. - disse Pandora dirigindo sua visão para cima - Hector... espero que consiga correr o mais rápido que seus limites permitirem. - recuara - Eles estão vindo... Vamos, depressa!

Ambos deram início a uma corrida desesperada pela "floresta". Hector parou um pouco para reaver o fôlego e acabou vislumbrando a silhueta de um hecatônquiro iluminada por uma relâmpago vermelho. Aquele monstro colossal e robusto tinha aproximadamente 200 metros de alturas.

- O que tá esperando, Hector? Ser jantado por eles? Vem logo! - chamou Pandora, aflitivamente.

Desceram o morro por onde seguiriam ao córrego, visível uns metros abaixo. Hector, no entanto, rolou após um tropeço. A bruxa do caos prontamente veio levanta-lo, desta vez com ele aceitando.

- São lentos demais pra chegarem até aqui... - disse ela - Mas por via das dúvidas, tínhamos que agilizar. A gente tá perto. Eles não podem ser capazes de provocar um deslizamento de terra.

- Eles desistem facilmente das presas?

- Só se é comido por um hecantôquiro se quiser, mas é tão fácil escapar uma vez encurralado. Na abstinência, aderem ao canibalismo, geralmente moderam para não se auto-extinguirem.

As águas do córrego eram surpreendentemente límpidas para um lugar dantesco como o Tartáro.

- Beba. - disse Pandora agachada próxima à ele - Não hesite. Hector, você não tem escolha. O seu estado tá piorando. Confia em mim. De qualquer forma, é pela Rosie... Então salve-se por ela.

O caçador assumira o entendimento e ofegava com seu suor frio molhando o pescoço. Tossira umas gotas de sangue. Reuniu um pouco da água nas mãos juntas e levou à boca, finalmente bebendo. Tomara mais um pouco.

Os tremores voltaram, mas menos intensos. A redução da mancha em Hector fez abrir um sorriso na bruxa. O efeito da água fora instantâneo para Hector recuperar-se imediatamente.

- Se sente melhor?

- Definitivamente... me sinto pronto pra seguirmos o próximo curso. - disse ele, revigorado.

                                                                              ***

- De onde veio esse barulho? - indagou Rosie junto a Leo numa zona aleatória. Tentou detectar a origem do som olhando as pedras altas que os cercavam - Não sei se minhas adagas funcionam...

- Qualquer coisa pode servir de arma mesmo que dê errado. - disse o rapaz - Fica tranquila, espera eles surgirem...

- Tem uns gravetos bem pontudos largados, pega um pra você. - idealizou ela, sacando uma adaga.

- Não, hoje vou dispensar. Falhei um monte de vezes tentando. A resistência deles é ilimitada.

- Então te empresto uma adaga.

Os três bastardos apareceram rapidamente saindo por detrás das rochas. Seres humanoides cobertos de farrapos sujos costurados. Apresentavam uma coloração preta na pele e arcada dentária saliente com a gengiva superior à mostra. Rosie se pôs na frente de Leo.

- Mudança de plano. Fica bem atrás de mim. - disse ela, encarando-os com a adaga em punho.

- É uma luta desnecessária, Rosie. - avisara Leo, encostando numa pedra - A grande semelhança entre nós e eles é a falta de cansaço. Nosso único meio é fugir.

- Fugir de uma briga? Olha, não faço ideia do que isso significa. - dissera Rosie, logo em seguida avançando contra os bastardos os socando e chutando. Tentou desferir um corte da sua adaga num deles, mas recebeu um golpe na barriga que as fez larga-la. A jovem revidou com um belo chute no queixo, depois dando uma cotovelada noutro que tentou pega-la na guarda baixa. O terceiro veio tentando dar socos que Rosie esquivava-se e defendia-se com maestria. A criatura levara dois cruzados, esquerda e direita, e um chute no tórax que o mandou direto para uma rocha.

- Rosie... - disse Leo, estupefato - Tenho que admitir que isso foi... incrível. Parabéns, você é uma excelente guerreira, só que... - repentinamente ele foi acometido por uma dor de cabeça torturante, gemendo e grunhindo de dor.

- Leo, o que foi? - perguntou Rosie. No entanto, os bastardos reergueram-se e um deles envolveu o braço no pescoço para um mata-leão do qual ela soube evitar pegando o braço e o jogando para frente e depois o chutando na barriga aproveitando que estava caído. Os outros dois atacaram depois.

Concentrar-se na luta e ao mesmo tempo em Leo era uma tarefa que exigia a exclusão de um para favorecer o outro. Com isso, seu desempenho caía e os bastardos se divertiam com a vantagem.

- Leo! - gritou ela, sendo abatida pela dupla de bastardos. O que fora derrubado voltou como se não tivesse sofrido danos. O rapaz estava tendo visões sombrias protagonizadas por Rosie lutando ferozmente contra um criatura certamente mais forte fisicamente. Ao término da premonição, constatou que o perigo emitia uma proporção muito maior.

Rosie os empurrava fortemente, mas nada parava os golpes duros que continuavam mandando. Um grande machado veio até eles, batendo em cada um dos bastardos e os derrubando como numa sequência pré-programada. A arma voltou para a mão de seu portador tal qual um bumerangue. Rosie levantou virando o rosto com mechas do cabelo na frente para o ser responsável pela interrupção. Mas fora em Leo que o choque tinha sido mais profundo. Um minotauro corpulento e com um dos chifres com a ponta quebrada apontava o machado para Rosie.

- Ah, então deve ser você o chefe que os manda baterem em retirada. - disse ela - Só mandou três dos seus, mas... mesmo sabendo que é inútil lutar por nunca se cansar... eu ainda quero, fico sedenta por lutar incansavelmente. Eu não quero parar.

- Não, Rosie. Me escuta. - disse Leo, amedrontado pela presença do monstro - Continuar lutando é perigoso demais, você corre um grave risco! O melhor a fazermos é nós batermos em retirada, agora.

- Sem essa, não vou perder mais nenhuma chance. - disse Rosie - Minhas adagas com certeza não vão feri-lo, então me resta recorrer aos meus punhos e bater nesse monstro até que meus dedos sangrem.

- Esse é o problema, Rosie! O Tártaro está mexendo com sua mente, aproveitando uma brecha para usar seu espírito de luta, a sua coragem, contra você mesma... corrompendo a sua alma!

- Como você sabe? - perguntou ela, aborrecida.

- É o que vai acontecer... se lutar contra ele. - fez uma pausa, fazendo um contato visual para convence-la a abandonar a ideia - Por favor, vai prejudicar a si mesma a troco de nada.

- Eu sei o que essa ferida significa... - disse Rosie, reparando no corte no abdômen do minotauro, obviamente decorrente de uma espada - Você é o minotauro que Teseu matou no labirinto da ilha de Creta. Esse ferimento é de uma espada usada pelo herói que conseguiu sair vivo.

- Rosie... Seja racional, vamos embora, talvez ele nem veio com intenção de lutar, mas sim afugentar os bastardos, ele ficou em posição de combate...

- Cala a boca! Eu posso acabar com ele, não vou negar meus instintos pra me acovardar. Pra mim chega! - disse ela, fervorosa, correndo para ir de encontro a uma batalha furiosa contra o minotauro.

- Não! - gritara Leo, extremamente desesperado com a tragédia que poderia vir a acontecer.

                                                                                  CONTINUA...

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: http://arcanoteca.blogspot.com/2015/12/mitologia-grega-rios-mitologicos.html

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