Crítica - Power Rangers: O Filme

O lado ruim da memória afetiva.

AVISO: A crítica abaixo contém desilusão. 

Os heróis coloridos estrelaram seu primeiro longa-metragem no ano de 1995 e como não disponho de informações acerca de orçamento, produção, bilheteria, entre outros aspectos à parte do conjunto narrativo, portanto expresso logo nesse primeiro parágrafo o que achei dessa empreitada da Saban numa perspectiva crítica. É inescapável pra qualquer série de TV (desenho ou live-action) ganhar um filme sem que o mesmo incorpore um espírito de trama estendida de um episódio. Não é nem um pouco diferente com os rangers (na dublagem PT-BR, Alfa pronuncia a palavra como alguém que não sabe nem o básico de inglês x_x) e nesta revisão, encarada sob a visão de um adulto chato outrora uma criança que se maravilhava com qualquer tranqueira na TV e achava épico, pude sentir o tempo voando enquanto a "história" desenrolava. Com todo o respeito ao veneradores de Mighty Morphin, mas... esse filme consegue ser um desastre até mesmo para o próprio seriado. A criança interior perdeu o espaço hoje, então o dominante aqui é o crítico chatonildo e inescrupuloso.

O vilão criado exclusivamente para o longa é Ivan Ooze, um ser tirânico que fora selado numa cápsula há 6.000 anos acidentalmente desenterrada por operários de construção. Devo reconhecer que o início do filme traz uma divertida sequência com a equipe num dos seus hobbys, praticando um esporte radical numa competição, mas conforme o enredo avança percebemos uma gradual queda no roteiro e olha que de Power Rangers não devemos exigir nada além do minimamente aceitável. Tommy e Kimberly roubam a cena como um casalzinho sugerido, deixando o resto da turma (Aisha, Billy, Adam e Rocky) amargando um baixo destaque. No final a união faz a força, como sempre, os rangers reabastecidos de poder trabalhando numa boa sinergia. Mas existem alguns questionamentos envolvendo a falta de competência do roteiro: Se Zordon estava moribundo após o ataque de Ivan Ooze (antagonista de tons cômicos, tal qual Rita Repulsa) ao Centro de Comando e a condição dele fez com que os rangers perdessem completamente seus poderes, como ainda sobrava resquícios de energia suficientes para teletransportarem-se ao planeta Pheados na busca pela nova fonte de energia? Eles adquiriram um novo poder, o ninjetti, mas é presumível que não fizesse nenhuma diferença contra os vilões em relação aos antigos poderes, então serviu apenas para reviver Zordon? E por que não fizeram isso antes de confrontarem os Éctormorficos de Ivan? Afinal a cidade é destruída num dia e reconstruída magicamente no outro, então não havia com o que se preocupar (hahaha). E outra: Que plano tosco é esse do Ivan? Pra que diabos ele precisava escravizar os pais (!) de toda a Alameda dos Anjos e carregar Scorpitan e Hornitor de gosma roxa se ELE MESMO poderia fazer isso sozinho?

Além disso, só tem umas três cenas de lutas e pode-se dizer que tudo ocorreu rápido demais lá pelo primeiro ato antes dos rangers partirem à Pheados, principalmente a invasão de Ooze ao Centro de Comando. O segundo ato é dedicado ao encorajamento renovado dos rangers numa jornada que pra não parecer ridiculamente fácil jogaram uns guerreiros-gárgulas, guardiões do Templo Ninjetti,  temos então o último momento de combate corpo-a-corpo enfrentado pelos personagens que supostamente foram ao tal planeta trocar seis por meia dúzia - apenas diferenciando-se nos zords. E o terceiro e último ato é o descambo total. A batalha derradeira é de fazer desejar ter desvisto. Especulo que o orçamento do longa foi aproximadamente o mesmo que o da série regular, mas para impedir que as coisas parecessem igualadas à própria série, tiveram a ideia de inserir os zords em CGI mequetrefe. Tudo bem, 1995, tecnologia nesse sentido andando a passos de formiguinha, só que devemos lembrar que Power Rangers é um produto derivado de um tokusatsu que geralmente utiliza maquetes, robôs de brinquedo e outros itens para improvisar sem nenhuma preocupação de soar crível ou não, mas mesmo assim creio que os fãs reclamariam menos (muito menos!) caso optassem pelos zords orgânicos e não parecendo feitos de gelatina e assim nos poupariam da vergonha alheia. Quiseram construir um clímax "épico" e resultou num confronto levado ao espaço inteiramente sem-graça e efêmero (o que significa que a derrota de Ivan Ooze foi porca de tão simples - lançado direto a um cometa x_x). Os uniformes, por outro lado, estão lindíssimos, poderiam ser fixos na série.

Considerações finais: 

Sabe aquele filme que passava de vez em quando na Sessão da Tarde e você só pegava as duas últimas partes e se encantava alimentando uma vontade de assisti-lo inteiro num DVD alugado pra não ter que esperar passar de novo na TV? Power Rangers: O Filme é a síntese de uma lembrança que não condiz com a real natureza. Lembrança esta que a nostalgia de infância torna poderosa, mas inevitavelmente perde sua "magia" com o crescer e amadurecer de uma mente aberta a novas camadas de análise. Pena que nenhuma outra produtora na época interessou-se em lançar algo melhor.

PS1: Dulcia para o Adam (que no segundo parágrafo não deu pra colocar em preto): "É um sapo. Que quando se beija, vira príncipe." Ou ela estava sem ideia para descrever o espírito do animal ou isso foi uma cantada.

PS2: É sempre assim, a galera prefere lutar humanamente e só depois "lembrar" de morfar. Aliás, nem era de toda necessidade, os lacaios de Ivan Ooze podiam ser empurrados com força na parede que voltavam a ser gosma ¬¬.

PS3: E por que Dulcia transforma-se numa coruja após dar os animais sagrados aos rangers???

PS4: Ivan Ooze com sua fusão medonha ao Hornitor e o Megazord feioso e sem rosto coroam a galhofada no terço final num espetáculo de CGI nível comercial do Dollynho.

NOTA: 5,0 - RUIM 

Veria de novo? Não. 

*A imagem é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.itu.com.br/cinema/noticia/novo-filme-dos-power-rangers-e-anunciado-pela-lionsgate-20140507