Nem tudo é o que parece #40


Aconteceu comigo uma experiência de proporcionar um trauma irreversível. Tanto é que depois do coma eu me livrei da carteira de motorista e nunca mais me aproximei de um volante, nem para pedir caronas por medo de estradas escuras e desertas. Não é que tenha dormido ou falado ao celular enquanto dirigia, não foi nenhuma dessas causas banais de acidentes. Sinto que foi um sussurro de outro mundo. Algo me moveu para aquela direção querendo me matar de qualquer jeito.

Voltava de um aniversário de um dos meus colegas de trabalho. Quase uma da manhã. Sem traços de álcool no sangue. Tão lúcido quanto eu esperava estar. Tive a ideia de merda em pegar um atalho para o bairro onde eu morava, onde precisava-se cruzar uma estrada de terra ladeada por um matagal. Era um mal necessário porque levaria mais ou menos uns 30 minutos contra uma hora do caminho habitual. Então, eu continuei seguindo.

Parecia existir só o farol do meu carro como luz no meio de um breu tremendo. Mal dava pra ver a mata dos lados. Foi daí que o rádio ligou sozinho. Com estática fraca, tinha uma voz que dizia de forma sombria: "Não há nada além da estrada..." E ficou repetindo por uns... 10 ou 15 minutos? Não sei... não lembro bem. Estava em todas as frequências, não importava o quanto eu trocasse de estação, mas nada disso se compara em assombroso com o que veio depois.

O farol ficou piscando bem rápido até se apagar completamente e me ver envolvido por uma escuridão sufocante. O rádio desligou na mesma hora.

A voz estava certa. Meu desespero me cegou mais do que o escuro... até enfim não sentir mais as rodas do carro no chão.

Só quando estava caindo os faróis religaram... e o rádio também, emitindo a mesma frase. 

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Emily estava de férias e pensei que aquela fosse uma boa oportunidade de seu insubstituível padastro se aproximar mais dela. A encontrei de surpresa, sentada à mesa da cozinha com um brinquedo que não havia notado antes e nem um pouco normal para uma criança se divertir. Era um daqueles tabuleiros - não faço ideia do nome - que se usa para manter contato com o mundo dos espíritos. Que bobagem hein? Bem, acho que estou tentando processar exatamente o inverso do que pensava. Era comum vê-la assistindo a filmes de terror na TV a cabo, então pensei: "Bom, normal, ela deve ter visto num filme qualquer e gostado e quis brincar como os personagens. Nada demais até aí".

- Olá Emily. O que está fazendo?

- Não sou Emily. Emily não está aqui.

Dei um sorriso brincalhão pra ela, sacando que era só parte da "sessão espiritual". Ela não sorriu de volta quando olhou pra mim. A menininha era uma boa atriz, queria me pegar...

- Ah é? E onde ela se meteu? - fui me aproximando.

- Fizemos uma aposta. - ela respondeu - Disse que ia sobreviver um dia fora do próprio corpo.

Continuei sendo atraído pela brincadeira. Ela mexeu aquele triângulo que serve para passar nas letras até formar a frase. Cruzei os braços, sem leva-la a sério.

- E aí? Ela tá te dizendo alguma coisa? O que é?

- Que Alana tem fotos de você nu nas paredes do quarto.

Eu fiquei tipo: "Como é que é?! Que droga está havendo aqui?". A... Alana era a vizinha... com quem eu estava traindo a mãe da Emily.

Eu quase saí correndo, abismado, porque Emily jamais saberia disso se fosse realmente ela ali. 

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Era um inverno rigoroso, dia de nevasca, sendo assim tive que me enfurnar dentro de casa enquanto ficava esperando meus pais voltarem. Como eu confiava no fato de eles sempre darem um jeito de se sobressaírem nas horas difíceis, eu fiquei... bem, super tranquila, comendo uns biscoitos no sofá vendo TV.

Até que escutei um barulho soando meio "toc-toc", mas não vinha da porta. Entortei a cabeça para ver o que era e vi uma parte de chifres batendo no vidro da janela. Depois o cervo mostrou sua cara me dando um baita susto. Ficamos nos encarando. Ele voltou a bater seus chifres na janela, com mais força daquela vez em diante... o que deixou as coisas meio tensas. Eu pensei: "Será que ele está faminto? Quer um abrigo, talvez?" Mas tinha que admitir que não era um comportamento típico.

Recuando, acabei derrubando um biscoito da tigela, ele foi rolando até a portinhola embaixo da porta, passando pela brecha. Como estava trancada, tive que passar pelo buraco e pegar o biscoito, mas, claro, nem pensar em comer por ter caído, então o daria ao meu gato, o Mogi, que não parava de olhar para a janela. Aliás, para o cervo estranho.

Na hora de pegar a merda do biscoito... acho que fiquei mais pálida que o natural. Nem tinha passado minha cabeça ainda.

Senti uma mão gelada me agarrar e querendo me puxar para fora. O "toc-toc" do cervo batia na porta nesse momento... 

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Tem vezes que meu reflexo no espelho é substituído por imagens de pessoas que nunca conheci, mas só quando passo por ele, bem de relance. Daí você percebe e, chocado, volta para confirmar. O reflexo voltou a ser seu. Já aconteceu com você alguma vez?

Aposto que deve ser bem raro. Ou acontece bastante e as pessoas ignoram e esquecem, ao contrário da frouxa que sou.

É sempre a mesma pessoa. No meu caso, é um homem que, quando passo pelo espelho e o vejo imitando o ritmo dos meus passos, sinto me olhar com uma expressão furiosa pra mim. Está todo sujo de terra, com manchas de sangue nas roupas esfarrapadas e um corte largo, profundo e aberto no abdômen. Deve estar querendo vingança.

O reconheci quando as olhadas rápidas nos espelhos eram só para comprovar se era mesmo real.

O homem que atropelei bêbada e cujo corpo enterrei no barranco onde ele caiu. 

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Era dia dos namorados, eu tinha combinado de espera-la à tarde numa praça que ficava perto de um ponto de ônibus e de lá iríamos a um cinema do shopping e depois a um parque de diversões. Foi difícil explicar à ela o motivo que me forçou a cancelar nossa diversão. Ela ficou preocupada pelo meu jeito atordoado de falar, como se tivesse encarado uma situação de vida ou morte.

Foi na praça mesmo, em plena espera. Parei de contar os minutos quando percebi uma garota de cabelos cacheados ao meu lado desenhando. Nem liguei para o fato dela estar sozinha, só me atentei ao desenho bem legal que ela fazia.

- Você desenha muito bem, sabia? - disse à ela, querendo puxar conversa só pra não sentir o passar do tempo.

- Obrigada. - ela respondeu meio tímida. O desenho era um cara comum e... na hora que ela agradeceu, eu notei ela ficar olhando bem rápido para frente e começar a passar o lápis com força no papel atrás do homem, formando um borrão negro. Por último ela desenhou na sombra mãos e braços finos, meio esqueléticos, que "massageavam" os ombros do homem. - Acabei. - ela disse.

Reparei no tal homem que ela se inspirou. Tinha exatamente a mesma fisionomia do desenho e estava parado próximo de um poste com uma expressão congelada de medo.

Cinco segundos depois, ele sacou uma arma e disparou contra a própria cabeça. 

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Juro por Deus que não o matei! Simplesmente parei o carro no meio daquela estrada escura e completamente deserta porque o ACHEI morto. Não é que eu tenha fugido sem prestar socorro, sem acompanhar nada. Não vou ser punida por um crime que não cometi.

Desci do carro com intuito de ajudar e somente. Verifiquei o pulso: Nada. Ferimentos: Nada. Primeiro imaginei que ele tinha morrido envenenado pela grande quantidade de saliva que ele expelia, mas depois senti o pescoço totalmente quebrado. E não fiz isso! Jamais reagiria a um assalto desse jeito, por mais que eu saiba me defender. Nem tinha arma, pra começar.

Tentei ligar pra emergência, mas o sinal ali era uma bosta e me enfiei no mato pra ver se conseguia em algum ponto ou achasse alguém que me ajudasse.

Quando enfim consegui um sinal razoável, voltei correndo ao mesmo lugar. A ambulância já estava a caminho. Toda aquela extensão era realmente despovoada, nunca me senti tão apavorada estando sozinha no meio do nada.

O corpo ainda estava lá quando voltei... mas meu carro tinha desaparecido. 


FIM... por enquanto! 




*As imagens acima são propriedades de seus respectivos autores e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagens retiradas de: http://macaibaemfoco.blogspot.com.br/2011/06/de-trevo-trevo-mais-uma-vez-me-atrevo.html
                                     http://segundoolharretro.blogspot.com.br/2014/03/tabuleiro-ouija-possessoes-sao-reais.html
                                     http://huntersspnbr.blogspot.com.br/2013/07/a-estrada-para-o-terror.html


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