Frank - O Caçador #7: "Noite de Formatura"


Danverous High School 

Um dos interruptores do corredor principal havia sido enfim desligado. Suspirando aliviada por mais um dia de trabalho cumprido, a professora Reene - mulher bem encorpada de uns 30 e poucos anos, cabelos castanho claros amarrados em um coque com uma mecha inclinada para a direita formando uma "sombra" na testa - fechara a porta da sala dos professores, carregando uma pasta amarela com várias provas corrigidas desde o horário de término das aulas, precisamente às 17h30.

Mas algo não se afastava da mente. Enquanto andava, seu pensamento vagueava por desenhos feitos nas carteiras e na lousa da suposta aparição que por dias dera o que falar. Mas nada disso comparava-se ao terror gerado pela morte brutal do zelador, morto atravessado por uma viga de metal. E do professor de Educação Física, morto por desidratação após horas preso na sauna, sendo que a porta, segundo muitos relatos, estava escancarada.

As últimas lâmpadas do corredor piscaram de repente, fazendo Reene erguer seus olhos temorizados atrás de um óculos de alto grau. Mordeu os lábios preenchidos com batom de vermelho forte e tornou a andar, o barulho dos saltos inconvenientes demais para quem esperava sair de seu local de trabalho sem um arranhão, seja lá quem estivesse por trás daqueles atos.

As duas primeiras lâmpadas à frente apagaram-se por completo. Reene estacou, sentindo-se marcada pelas luzes das duas únicas lâmpadas acesas acima dela.

- Alguém? - perguntou ela, arriscando em voz alta, a face tomada pela tensão com as pupilas frenéticas de um lado para o outro. A pasta estava quase escorregando devido ao suor crescente nas mãos. - Por favor... Quem quer que esteja aí, responda.

De repente, a moça sentiu uma presença por detrás dela, virando-se rapidamente.

A figura de um garoto de cabelo meio raspado e rosto meio arredondado com olhar vivo e penetrante vestindo uma conhecida roupa em frangalhos e manchada em sangue. Reene tremeu nas bases, mal aguentando-se conseguindo exprimir uma fala.

O garoto a encarava com uma seriedade nada tranquilizadora. Seriedade que parecia beirar ao ódio.

- Vo-você... - disse Reene, reconhecendo o fardamento do garoto: um uniforme azul escuro por cima de uma camisa branca e gravata vermelha com listras douradas em diagonal. - Não pode ser...

O uniforme da escola de uma época em que seu uso era obrigatório.

A boca de Reene tremeu aberta em horror ao ver o garoto exibir um estilete na mão esquerda com a lâmina sendo destravada até o limite.

- Não é diferente... de nenhum deles. Você falhou com essa escola. - disse o garoto, com cólera na face. De seus canais lacrimais expelia-se um líquido verde bastante escuro e fino, passando com uma linha quase reta nas suas bochechas pálidas.

Reene quis recuar para correr, mas suas pernas pareciam bambas e congeladas ao mesmo tempo.

O garoto rosnara como um cão feroz rapidamente avançando o estilete contra a professora para um corte horizontal.

Vários respingos volumosos de sangue penetraram com força nos armários dos alunos.

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CAPÍTULO 07: NOITE DE FORMATURA

Departamento Policial de Danverous City 

À pouco metros da sala de Carrie, Frank olhou no relógio praticamente ofegando naquela caminhada apressada rumo a um objetivo que não aguentaria mais esperar. Já eram oito e vinte e um da manhã, o que poderia significar que ela estava bem sentada na sua poltrona saboreando um capuccino.

Entrou sem bater, não esperando que se arrependesse depois.

- Muito bem, Carrie, hora pormos a roupa suja pra lav... - interrompeu a frase após fechar a porta e se virar para a figura desconhecida estando à frente do notebook antes pertencido à sua assistente.

Àquela altura, ex-assistente.

O detetive fitou a moça nova com um olhar estático que denotava um certo espanto. Ela abrira um sorriso largo para ele, típico de alguém que desperta feliz numa bela manhã ensolarada, e se levantou para ir cumprimenta-lo.

- Ah, olá, bom dia, deve ser o famoso detetive Montgrow. - disse ela, uma mulher formosa de cabelos meio ondulados cor castanho escuro que caíam sobre os ombros e na testa formava uma franja, além de possuir um rosto branco que transparecia suavidade realçada pelo olhar azul de sobrancelhas finas e não muito arqueadas. Suas vestes consistiam basicamente de um sobretudo marrom curto e desabotoado por cima de uma blusa branca incluindo as calças jeans apertadas com um bom cinto de couro preto e sapatilhas da mesma cor. Estendeu a mão para um nervoso Frank que retribuiu em um aperto trêmulo - Nossa, sua mão está tão gelada - disse ela, rindo de leve -, eu não quero pôr nenhum tipo de pressão logo no meu primeiro dia.

- Não, está tudo bem, me sinto ótimo, eu só não fui avisado de que você... - disse ele, dando uma olhadinha rápida na plaquinha retangular branca levantada na mesa com o nome da nova funcionária - ... de que você, Leslie, tinha substituído a minha outra assistente. - voltou-se para ela - Um pouco antes e depois da virada do ano eu fiquei meio desligado do DPDC, agora sinto que fui um eremita da caverna esse tempo todo. - falou, sorrindo meio brincalhão.

- Pois é, eu sou muito nova por aqui, quando recebi a ligação... - disse Leslie, mal contendo-se de alegria - ... meu coração faltou sair pela boca. Nem imaginava que meu currículo, que era só um no meio de uma montanha, seria fisgado. Mas como está desatualizado, aqui está eu para sanar suas dúvidas. Bem, a Carrie, que é uma ótima pessoa, quis se desligar de você e ser transferida para outro agente por algum motivo que não me diz respeito. A assessoria do diretor me ligou uma semana antes do recesso. - arqueou as sobrancelhas com um sorriso fechado - E olha eu aqui. Até agora não consigo acreditar, participar do ramo investigativo é um dos meus maiores sonhos.

- E estou feliz por ter o realizado. - disse Frank, demonstrando apoio, apesar do choque ainda martelar sua cabeça de forma a induzi-lo a sair correndo dali e tirar satisfações com Carrie - Dá pra ver que você merece. - tocou-a no ombro.

- E dá pra ver que ficou surpreso. - salientou Leslie, sem tirar o sorriso do rosto - É estranho não terem avisado.

- Eu tinha sofrido um acidente antes do recesso e daí que o diretor me deu férias forçadas. - disse Frank, sentindo-se pouco à vontade - A Carrie falou algo sobre mim? Você ouviu alguma coisa?

- Hum... é, tem uma coisa mesmo, um conselho aliás. - disse Leslia, com um dedo no queixo, pensando - Foi na reunião do dia 29. Ela me disse sobre você ser... ahn, digamos, alguém difícil de se lidar, principalmente com relação à teimosia. E sabe o que eu acho de tudo isso?

- Ahn... Sim, o quê? - indagou ele, temendo a resposta.

- Eu acho isso... simplesmente incrível. - disse Leslie, desatando a sorrir por estar orgulhosa de sua conquista pela qual aparentava ter esperado tanto - Sou louca por desafios e saber da boca de alguém como ela que Frank, o detetive mais requisitado do departamento, tem um gênio difícil só me deixou mais empolgada. Sabe, eu tenho um histórico bom demais com relações que fico insatisfeita de nunca divergir com ninguém, nunca estar em desacordo, por mais estranho que pareça.

- Então a Carrie me chamou de teimoso? Bom, isso é verdade, mas não sou tão difícil assim. - declarou Frank, meio pensativo quando ao evento que faltara. - Sou um cara legal, ora.

- Caras legais sempre foram grudentos e maçantes na minha vida. - disparou Leslie, dando de ombros - Espero ver bastante do Frank difícil que ela tanto fez parecer que você é. Não me ache louca, por favor - disse, rindo -, é que acho saudável às vezes termos opiniões diferentes e sabermos definir os limites, isso enriquece a relação e a deixa mais profissional.

- Que bom que você pensa assim. - disse Frank, forçando um sorriso. "Divergência de opiniões quase sempre acaba mal".

Leslie mostrara seus brancos e limpos dentes em um novo sorriso contagiante para o detetive, logo em seguida indo em direção à sua mesa pegar alguns papéis imprimidos para mostra-los.

- Há duas semanas, pouco depois da ressaca do reveillón, a Danverous High School sofreu duas baixas em circunstâncias trágicas. - disse, andando até ele estendendo os papéis - Como sabemos, o ano letivo por lá só termina no fim do mês por causa da...

- Sim, eu sei, a greve do ano passado. - disse Frank, interrompendo-a enquanto olhava o conteúdo - Zelador e dois professores mortos brutalmente. Suspeita de assassinato? Eu não teria tanta certeza. - falou, erguendo o olhar para a nova assistente.

- Acredita também que é um fantasma como alguns alunos estão dizendo? Por favor... - disse ela, franzindo o cenho com um sorriso leve.

- Err, não, quero dizer... - disse Frank, sem saber como portar-se, coçando a parte de trás da cabeça - O que você pensa? Me diz aí a sua teoria.

- A última vítima foi uma professora, ela ficou com um corte bem feio na garganta e segundo a perícia a profundidade indica ter sido feito por uma lâmina de estilete. Que assassino teria força para enfiar uma viga de metal numa pessoa? É o mais surreal. Pra mim pode ser uma espécie de conspiração entre ex-alunos, a escola tem um histórico imenso de estudantes expulsos por causa da onda de bullying que se espalhou por lá ano retrasado.

- Olha, Leslie, vou investigar por minha própria conta. Você cuida dos últimos detalhes dos laudos periciais. Tá legal? - perguntou, dando uma piscadela no olho esquerdo.

- Pode deixar. - disse ela, assentindo firmemente.

- Eu só vou aqui dar uma palavrinha com o diretor e depois vou destrinchar esse negócio. - disse Fraznk, recuando alguns passos até a porta com o polegar direito apontando para trás.

- Será um prazer trabalhar com o senhor. - disse ela, com todo o júbilo.

O detetive limitou-se a apenas dar um fraca risadinha ao abrir a porta para sair.

                                                                                             ***

Na nova sala de Carrie, Frank irrompeu pela porta como um tufão.

- Quer me explicar que papagaiada é essa que você armou pra mim? - questionou ele, enfezado, aproximando dela que estava de costas organizando uma papelada bem volumosa.

Carrie revirou os olhos, suspirando com a boca.

- Já era tempo. Não esperava mesmo um "Feliz Ano Novo".

- Não vem com essa, Carrie. - disse ele, tentando incita-la a vê-lo - Quero você me dizendo a verdade, quero esclarecer esse mal-entendido olho no olho.

- A secretária deve estar sentindo sua falta. - disse ela, propositalmente vaga.

- Como é? O que a Megan tem a ver com isso?

"Ai, seu tolo. Me referi à secretária eletrônica, não à secretária vadia", pensou ela, novamente suspirando em impaciência.

Para a satisfação dele, ela se virara com uma face rígida.

- Quis dizer a secretária eletrônica. Você não fez a última checagem, pelo visto.

- Ei, eu também mandei uma mensagem pra sua. - disse ele, franzindo a testa.

- Que mensagem? - indagou ela, andando ela, levando a papelada para um armário de metal de seis gavetas (duas colunas de três).

- Devia ter feito a sua checagem antes de ter pensado em falar da minha.

- Eu não fiz porque... - disse ela, fazendo suspense ao colocar os papéis em suas devidas pastas - ... eu não ouvi nada. - fechou uma gaveta com força, voltando os olhos sérios para ele - Não tinha obrigação de ouvir nenhuma justificativa depois da vergonha que me fez sentir.

- Espera aí, então você... não, você não teve coragem... - disse Frank, encarando-se com ar de espanto misturado com frustração. - Carrie, porque você fez isso? - perguntou, elevando o tom - Tinha algo importante naquela mensagem que você deveria saber. Me desculpei de verdade nela.

- Então significa que escolheu um péssimo momento pra grava-la. Eu sinto muito. - disse ela, afastando-se do armário e desviando o rosto - Se Frank Montgrow não consegue ser honesto com sua melhor amiga, então não existe nada que ela possa ser obrigada a saber dele.

- Não custava nada ter ouvido. - disse Frank, sentindo-se verdadeiramente decepcionado com Carrie como nunca antes pensaria um dia estar - Você foi imatura.

- Olha, se veio aqui me dar uma lição de moral, está perdendo seu tempo. - disse ela, rebelde - O que foi? A novata não disse a que veio?

- A Leslie parece ser bastante competente, ela já me deu até um caso e mal nos conhecemos. - disse Frank, sem intenção de desistir de convence-la - Mas era você quem devia estar lá. Você completa o meu trabalho de uma maneira única.

- Isso está ficando um pouco estranho... - disse Carrie, insegura - Parece até que somos... Ahn, enfim, esquece. O melhor que você pode fazer agora é enterrar nossa parceria de trabalho no passado. Mas não significa que não possamos mais nos falar por telefone, interagir nas reuniões com o diretor e tudo mais. Você tinha um dever que era valorizar meu trabalho do jeito correto, mas falhou, me fez sentir diminuída como uma simples garota de recados, uma colher de chá para a sua conquista própria pela missão a cumprir. Não me entenda mal, por favor. Ainda me preocupo com você. Ainda é o melhor amigo que já tive. Mas como colega de trabalho você caiu pontos no meu conceito. - encaminhou-se para a porta, abrindo-a e mostrando a saída para o detetive que, emudecido, via-se completamente arrasado - O agente Malcom já está pra chegar. É melhor você ir, tenho mais o que fazer. Te desejo sorte com a novata. De verdade.

Frank permaneceu parado no mesmo ponto por vários segundos, cabisbaixo. Pressionado pela forte presença de Carrie, cedera ao pedido ao andar para sair.

- A propósito, esse Malcom não vai pegar o caso das mortes na escola, vai? - perguntou ele, parando na soleira da porta, sem se virar para ela.

- Os casos que vamos investigar são bem entediantes. Vou sentir saudade de pesquisar paranormalidades. Ano novo. Vida nova.

- Carrie, por favor, como você acha que vou lidar com a Leslie quando as evidências ficarem mais elucidadas? É um caso de fantasma, sem dúvidas, e ela acha isso uma baboseira. Numa das folhas é dito que alguns alunos sentiram a temperatura cair de repente e verem vultos rápidos nos corredores. Não vou ser louco de falar pra ela: "Olha, veja só, descobri que é um fantasma que andou matando os funcionários, encontrei resíduos de ectoplasma".

Carrie mordeu os lábios, assentindo devagar.

- É, parece que será um dia bem complicado. Como será que Frank Montgrow sobrevive sem Carrie Wood? - perguntou ela, deixando a questão no ar, logo fechando a porta com um leve empurrão.

O bater da porta soou como um baque esmagador no coração do detetive que fechou os olhos apertadamente quando a madeira pareceu colidir com o seu rosto.

- Aposto uma grana alta que não dura uma semana.

                                                                                         ***

Danverous High School 

À procura da sala da diretora, Frank perambulava entre os alunos no corredor principal recebendo olhares de curiosidade e desconfiança da maioria dos passavam por ele.

Na diretoria, estava apenas a titular da escola, Donna Leigh, uma mulher negra de cabelo curto quase chanel que vestia uma blusa branca com listas desengonçadas rosas e púrpuras e uma saia marrom claro, sentada à sua mesa de trabalho com seus óculos indispensáveis para leitura.

Ao ouvir Frank educadamente bater no quadrado de vidro da porta e logo depois vê-lo mostrar seu distintivo, levantou-se meio empolgada em passos largos para atende-lo.

- Pode não parecer, mas estava à sua espera. - disse ela, abrindo com simpatia comedida no rosto. - Fui criticada por não solicitar a polícia do bairro. E daí? As causas dessas mortes precisavam de um olhar investigativo mais aprofundado.

- Não querendo me supervalorizar, mas foi uma sábia decisão sua ter me chamado. - disse Frank, entrando devagar - Esse caso é DPDC puro. "E fantasmagórico puro também".

- Com tantas coisas estranhas acontecendo, você até que cai bem no tipo desse caso, fiz bem em chamar o melhor agente. - disse Donna, andando até a sua mesa sem se sentar - E preciso confessar que cumpri uma fração do seu trabalho.

- Como assim? O que a senhora fez pra desvendar essa mistério todo? Ou pelo menos tentar... - perguntou Frank, suspeitoso.

- Interroguei um grupo seleto de alunos que afirmavam, juravam de pés juntos, terem visto sombras e vultos em alguns pontos dias antes do zelador morrer... que descanse em paz. - falou com certo pesar no rosto - Na maioria dos lugares: Nas salas, na quadra, nos corredores, nos banheiros, em qualquer lugar que possa imaginar aqui dentro.

- Apenas dentro? - indagou Frank, curioso.

- Ainda não apuramos mais relatos. Se não me engano, não ouvi mencionarem visões nos arredores. O intrigante é que estes sete alunos são da classe 1-A... péssimas recordações. - ela sorrira desconcertada.

- Ah sim, o massacre do dia 17 foi nessa mesma sala. - relembrou Frank, sentindo encontrar as pontas soltas - A senhora já era diretora nessa época, há 15 anos?

- Eu era coordenadora de uma unidade em Ylon. Herdei essa escola da minha irmã mais velha que morreu recentemente. - respondeu ela, ajeitando o óculos - Tudo virou uma bagunça desenfreada. Estamos em período de provas finais e há alunos faltando em protesto contra o colégio, até lançaram uma petição pela internet com uma meta de 5.000 assinaturas para o governo nos multar e nos punir por irresponsabilidade sendo que as evidências criminais quase não existem. Um absurdo... - disse ela, contendo sua revolta.

- Na noite em que a professora Reene Daine morreu, os seguranças notaram sinais de arrombamento ou de infiltração silenciosa? - questionou Frank, tomando nota.

- Nenhuma suspeita até agora. Estavam nas suas posições e se ouviram algo foi apenas o corpo de Reene caindo ensaguentado no chão. - disse Donna, meio pensativa quanto aquilo, as mãos apoiadas na mesa - Porém, a perícia coletou um material no piso do corredor. Ainda estava fresco, mas não era sangue, tinha uma cor meio preta meio esverdeada... Enfim, muita coisa não bate, isso tudo é uma loucura.

"Se ela soubesse a real as definições de loucura seriam atualizadas", pensou Frank, concentradamente anotando.

- Muito bem. Três pessoas mortas aparentemente por ações criminais. Relatos de vultos e... - estreitou os olhos para ela - ... e também quedas de temperaturas?

- Sim, está nas minhas anotações. - confirmou Donna, assentindo - O ar condicionado está sempre bem ajustado, nunca do nada aparentou defeito ou alterar sua temperatura sozinho. Dizem ter sentido um frio de bater os queixos em plena aula e uma outra coisa que resolvi não levar tão a sério... - disse ela, desviando o rosto como se quisesse ignorar o detalhe irrisório.

- Que outra coisa? Pode falar, cada detalhe agrega à investigação mesmo que seja meio bobo e no fim das contas não faça tanta diferença.

- A teoria de que há um fantasma rondando a escola não agrega em nada, detetive. - revelou Donna, completamente cética a respeito - Imaginação de adolescente. Esses filmes de terror de hoje em dia estão os deixando neuróticos.

- Bom, eu tenho uma assistente que especula ser uma conspiração envolvendo ex-alunos que querem vingança por... sei lá, terem sido reprovados em educação física. - disse Frank, dando de ombros.

- Uma motivação tão patética não cabe numa situação dessas. - opinou Donna, firme em sua perspectiva - Minha suspeita, francamente, está mirada em um aluno presente. Nossa campanha anti-bullying foi desvalorizada pelos próprios idealizadores e os ecos daquela era de terror entre alunos mais frágeis estão voltando.

- Só por curiosidade: Alguém foi mais além nessa teoria. O fantasma ser... um ex-aluno?

- É o que todos eles partilham, por isso as faltas. Acreditam que seja lá quem for pode estar perto de alvejar alunos. Não vou entrar no mérito de discutir uma explicação surreal, quero acreditar se tratar de alguém da 1-A envolvido nisso indiretamente.

- Uma conspiração interna? Pode ser. - disse Frank, escrevendo as últimas linhas. - Tive uma ideia: Será que posso dar uma olhadinha nos arquivos escolares?

- Há um dossiê completo sobre o massacre na biblioteca. Fique à vontade, se acha que pode ter uma correlação. - permitiu Donna. O toque do sinal soou em todo o espaço, fazendo-a virar o rosto para a porta - É uma boa hora.

- Será que todos do grupo da teoria maluca resolveram faltar hoje? - perguntou Frank antes de sair.

- Caso o professor repasse a chamada pra mim e um deles estiver nela, vou leva-lo imediatamente ao senhor. - garantiu a diretora, fazendo que sim com a cabeça, voltando a sentar. - Boa sorte.

- Muito obrigado pela atenção, diretora Leigh. - disse Frank, dando um joinha com um polegar esquerdo à ela ao sair da sala.

- Eu quem agradeço. - disse Donna, com um leve sorriso fechado.

                                                                                          ***

Aproximando-se do banheiro feminino e conversando ao celular, estava Alex, uma garota que só de vislumbrar tinha-se certeza de que era popular entre outras turmas e a sua própria - a má famigerada sala 1-A.

- Tá, eu sei, o Jeremy não vai ser louco de entrar como penetra. - disse ela, abrindo a porta - Ai dele se tiver que enfrentar meus seguranças, e sobre eles você não acreditar: minha mãe rejeitou a proposta deles virem sem camisa com gravatinha borboleta. Isso é comum em garçons, mas até que não seria nada mal ter uns peitorais molhadinhos, são meus 18 anos caramba. - se pôs a frente do espelho passando um batom cor-de-rosa. - Pode deixar. Tá legal, beleza. Só vou matar o próximo tempo e dar um pulo em casa pra tocar de roupa. - guardara o acessório na sua bolsinha branca com alças longas. - Tá, não vou demorar. Tchau. - desligou, logo em seguida guardando o aparelho.

Quando se virou, um baque fez estremecer seu coração que palpitou descompassadamente, logo em seguida fazendo-a recuar um pouco.

- De-de... De onde você veio? - perguntou ela para o garoto que a encarava friamente e vestia um uniforme azul em frangalhos e sujo com manchas de sangue e buracos que pareciam terem sido feito com disparos de uma arma. - Ah não, essa não... - seu semblante foi alterando-se para pavor genuíno. - Vo-você... Fica longe... longe de mim... - quando deu por si, já havia encostado seus quadris na pia.

- Por que? - indagou ele, a voz soturna - Por que menosprezou aquele garoto? Ele só não queria ficar sozinho no baile.

- Tá... Tá falando do Ed? - perguntou Alex, a boca trêmulo mesmo ciente do absurdo que estava acontecendo e difícil de processar - Tinha uma reputação a zelar... ainda tenho. Por favor, não me mata. E-eu pedi desculpas por esse furo no dia seguinte...

- Mentira. - disse ele, demonstrando o seu ódio naquele única palavra. O garoto deu alguns passos.

- É verdade... Por favor, me deixa viver, hoje é meu aniversário...

- Eu não ligo. - disse ele, secamente, balançando de leve a cabeça em um não. - Você é igual à eles. - exibiu uma faca bem afiada que estava escondendo atrás na sua mão esquerda.

Alex fixou o olhar apavorado na lâmina brilhante e ameaçadora, sua tremedeira elevando-se.

- Isso foi há um ano. Não dá pra deixar o passado pra trás?

Ele a fitou por mais alguns segundos, mantendo a faca com a ponta para cima.

- Pra mim ele nunca vai embora. - disse ele, logo depois executando com habilidade um corte veloz e horizontal, da sua direita para sua esquerda, contra garganta de Alex.

Uma de sua colegas, preocupada com a demora, foi à caminho do banheiro.

- Alex, que droga de aplicativo é esse que você... - disse ela, cortando a frase em um grito estridente ao se deparar com o corpo de Alex banhado em um poça sangrenta que destoava da brancura límpida dos pisos em cerâmica e da parede em azulejos. O grito deu lugar a um choro copioso mesclado ao horror em assistir à cena brutal.

A garota ajoelhou-se, com lágrimas tomando o rosto, diante da parede atrás do cadáver, na qual estavam escritas palavras em sangue:

"Eu irei busca-los".

                                                                                                 ***
                                                       
No caminho para voltar ao departamento no meio de uma estrada não muito movimentada, Frank pegara o celular, entrando na lista de contatos alfabeticamente organizada. O segundo nome depois de Amelia, a mãe do detetive, começava com C.

O polegar hesitante chegava a quase tremer.

Afastando o medo, apertou com esperança na base do "venha o que vier".

Levando o aparelho ao ouvido direito, o detetive aguardou pacientemente.

- Por favor, me diz que ligou por engano. - disse Carrie, parecendo irritada.

- Carrie, percebi claramente que é impossível eu resolver um caso desses com a Leslie. Não dá, eu... preciso da sua ajuda, fui no piloto automático, me desculpe. Ou melhor: força do hábito.

- Eu não sou mais sua assistente, não devia estar ligando. - destacou ela, mantendo o tom - Há um rastreador de ligações conectado ao laptop da minha antiga sala, ela vai saber que está me solicitando. Tá mesmo afim de quebrar a confiança dela por você logo no primeiro dia de trabalho?

- Não importa. Esse caso necessita do trabalho da dupla dinâmica Frank e Carrie de qualquer forma. Sei que está tentando me punir com esse seu joguinho...

- Joguinho?! Então minha decepção com seu jeito de lidar com minha serventia não passa de um jogo? Acha que eu tô fingindo? Não vou chutar cachorro morto, Frank. Nós encerramos esse assunto, está acabado entre nós. Quer reconquistar minha confiança, nossa parceria... a troco de quê? Sei que facilito as coisas, mas eu já expliquei os porquês. Esse é meu jeito de punir você. Não vou abrir uma exceção agora... é tarde demais.

- Não, você ainda pode me ajudar, me deixa eu te explicar a história...

- Eu não quero saber mais de nada. - disse ela, categórica - Me deixa em paz. Apaga meu número se não quiser que as coisas compliquem pro seu lado. - desligara prontamente.

Enraivecido, Frank jogara o celular para o banco ao lado. A culpa que sua ex-parceira colocava sobre seus ombros começava a parecer injusta, proporcionando uma vontade de deixar como está ou, mais além, dar um fim na amizade.

O celular tocara para o seu desprazer naquele instante de puro estresse.

- Alô? - disse ele, atendendo depressa.

- Oi, senhor Montgrow, é a Leslie. Só estou ligando para me certificar do andamento da investigação.

- Não me chame de senhor, nem fiz 50 anos ainda. - disse Frank, tentando quebrar todo o clima insuportável criado pela conversa anterior . Leslie rira. - Me chama só de Frank. OK? E as coisas estão caminhando bem, tive acesso exclusivo a um arquivo completo sobre o massacre do dia 17.

- Eu estava agora há pouco pesquisando sobre a tragédia. Moro em Danverous City há quase cinco anos, fiquei bem surpresa ao saber desses fatos terríveis. Mas que bom que mergulhou numa piscina mais funda. Alguma suspeita sobre quem pode ser o responsável?

- Ahn... - o detetive pausou por uns cinco segundos - Até agora nada. Embora haja seja apontada uma correlação ao massacre.

- Que estranho. Tenho a sensação de que... - ela fez uma pausa, meio receosa - ... não sei, não quero ser indelicada, mas tá me parecendo vago demais. O que você extraiu? Tem alguma pista? Quero saber dos detalhes e está relutando em me contar.

- Desculpa, é que... É um caso difícil, essas mortes misteriosas e nem sombra de um culpado... De um modo geral, tudo continua raso. O dossiê apontou a única morte fatal, um garoto chamado Albert da 5ª série, classe B. E eu não sei porque estou dizendo isso a você pois não acredito em fantasmas...

- Senhor Mont... quero dizer, Frank, relaxa. - disse Leslie, suavizando a voz - O que a diretora falou?

- Teoriza que o culpado pode estar dentro e não fora. Talvez um aluno participando de um complô contra a escola. Se não houver uma outra morte nas próximas 24 horas, volto amanhá lá pra ver se um dos que ela interrogou veio e assim quem sabe aprofundar o caso.

- Não pegou endereços desses alunos? Esperar até amanhã é meio desnecessário.

- É uma boa ideia, mas não quero ir tão rápido. Dependendo do andar da carruagem...

- Espera aí, só um minuto... - interrompeu Leslie, o tom elevando-se em urgência. - Acabaram de postar na página oficial do colégio... ai, meu deus, que horror.

- O que foi, Leslie? - perguntou Frank, a voz séria e tensa, tentando equilibrar sua concentração tanto na direção quanto na conversa.

- Vou te enviar a foto, só um segundo. - disse ela, fazendo um mistério que aflorava os nervos de Frank ao limite.

O envio não duraria mais do que 30 segundos, um tempo que pareceria acima da tolerância de ansiedade do detetive naquele momento.

Verificando a caixa de entrada, Frank confirmou a nova mensagem, logo apertando. A imagem o horrorizou até provocar eriçamento nos pelos. "Puta merda...", pensou ele ao fitar a cena sanguinolenta de uma garota morta no chão do banheiro com a garganta profundamente rasgada abaixo de um escrito na parede dizendo "Eu irei busca-los".

Antes que girasse o volante para retornar à escola, Frank teve de fazer uma pergunta à parte.

- Err... Leslie, só uma coisa que eu gostaria de saber. Você por acaso deu uma olhada no rastreamento de chamadas aí no seu computador?

- Eu nem sabia que tinha um. - disparou a assistente, tomando aquilo como novidade - Por que a pergunta?

- Não é nada, só curiosidade mesmo. Nada que seja importante no momento. - disse Frank, desconversando e pisando fundo no acelerador devido à emergência - Liga pra escola e diz que tô à caminho.

- É pra já. - disse ela, logo desligando.

O detetive fizera o carro dar meia volta de forma brusca e apressada a ponto de formar linhas curvas de derrapagem no asfalto. O velocímetro marcava velocidade acima do limite permitido na estrada."Sal grosso: confere. Medidor: confere.", pensou ele, passando a mão direita pelo sobretudo para sentir os objetos essenciais para o caso e certificar de que havia os trazido.

Frank nunca havia esquecido de um dos princípios fundamentais para capturar um fantasma: Ele pode ainda estar propenso a ser visto pouco tempo após cometer um ato maligno.

                                                                                    ***

Uma multidão bloqueava severamente o acesso ao banheiro feminino com o corpo ainda jazido. A poça de sangue estava beirando à secagem com a demora do perícia para o recolhimento.

Um lampejo de sensatez tocou o seu coração ao determinar que erguer o distintivo com voz autoritária poderia de alguma forma deixa-los amedrontados, ainda que suas vestes tenham entregado o jogo para uma boa parte dos alunos muito bem intuitivos. Forçar uma passagem era um erro e um tanto sem necessidade já que a causa da morte estava óbvia.

O detetive recuou alguns passos, afastando-se do mutirão de curiosos e professores desesperados. Donna estava por ali, mas não percebeu a presença de Frank com muita facilidade.

Esbarrou suas costas com um homem bem vestido e engravatado carregando uma maleta preta.

- Desculpa aí, amigo, foi mal. - disse Frank, estudando-o rapidamente. - Quem é você mesmo?

Ele sacara uma insígnia que aos olhos do detetive se mostrou inconfundível.

- Richard Nexton, agente do governo. Recebi ordens explícitas para evacuar esta escola ainda hoje. - disse ele, sem meias palavras. - É a quarta morte em apenas três dias, logo só resta uma saída. É credenciado pelo DPDC, certo?

- Sim, sou. - disse Frank, assentindo meio desconfiado - Olha, não me leve a mal não, é que estou cobrindo esse caso e tentando reunir o máximo de provas possível...

- Tenho uma ordem judicial aqui dentro. - declarou ele, rígido, batendo na maleta - Uma aluna está morta. Qualquer um pode ser o próximo. Interditar esse lugar é o mínimo que podemos fazer para frear esses ataques. Até que o culpado seja encontrado ou se revele, o colégio vai permanecer fechado indeterminadamente. - fez uma pausa, olhando fixamente para Frank - Pode contestar, eu não ligo pra sua opinião, não estou obstruindo o trabalho de ninguém, apenas fazendo o meu que é prevenir e não remediar. Esta escola tem um passado negro que não pode voltar à tona. Será que compreende?

Frank suspirou, rendido.

- Tudo bem, não tenho nenhuma objeção. Pode lacrar a escola. - disse ele, dando uns passos para se retirar - Mas saiba que isso não vai ser o bastante.

- Errado, detetive. Estou o poupando e nos poupando de você nos atrapalhar. Deixe isso com quem realmente está engajado em proteger pessoas de malucos homicidas. Não queremos que a história se repita.

Frank estacou e refletiu profundamente sobre retruca-lo, se segurando para não explodir.

- Disse que não tinha objeções? Então por que parou? Vou complementar o aviso, detetive: O caso, a partir daqui, está em nossas experientes mãos. Se tentar desafiar essa ordem, solicitaremos que o DPDC casse o seu distintivo. Um passo adiante no caso e esse sobretudo vai virar pano de chão. Fique esperto.

Antes que se virasse por completo para falar com a diretora, o agente foi questionado por Frank.

- Essa iniciativa tem aprovação do Conselho de Segurança?

- Total aprovação. Nada que detetives comuns precisem saber. - disse, por fim caminhando.

A frustração de ter o processo de seu trabalho anulado num piscar de olhos só não era pior do que o vazio no peito incitado pelo amargor exagerado de Carrie.

No entanto, algo o tirou daquela imersão negativa em apenas uma olhada.

Uma criança reconhecida parada na soleira da porta e virada de frente para o detetive, com apenas metade direita de sua aparência à mostra. Frank sentiu naquele olhar penetrante uma ira tenebrosa.

- A... Albert? - indagou, em sussurro, o cenho meio franzido.

O garoto uniformizado andou para a esquerda, desaparecendo de vista e mantendo a expressão.

Por instinto, Frank andou em passos rápidos até a sala para verificar.

Ao ver o interior, ninguém estava presente.

"É ele mesmo...", pensou Frank, a sensação de certeza pulsando na mente.

                                                                                      ***

Um pressentimento assombroso não saía da cabeça de Frank enquanto ele descia os largos degraus de uma das escadas curtas de concreto do lado de fora da escola.

- Porcaria de limitação do governo. - reclamou ele, em tom baixo e a expressão mal-humorada - Um engomadinho babaca desses querer ficar de nariz empinado pro meu lado... Era só o que faltava.

Uma voz meio distante o chamou persistentemente, poucos segundos depois chegando aos seus ouvidos e a sua atenção.

- Ei! Ei! Espera aí! - dizia um garoto franzino, cabelo preto curto e meio crespo e usando óculos grandes. Desceu uma escadinha, quase esbarrando num corrimão abaixo - Não vai embora...

Frank parou para olha-lo com estranheza, aguardando o que quer que fosse ser tratado a respeito da fatídica morte de Alex.

Arfando, o rapaz se aproximou do detetive, logo apoiando suas mãos nos joelhos para reaver o ar.

- Tem uma coisa... que preciso te falar, é urgente. - disse ele, em seguida erguendo os olhos estreitados para Frank. O cansaço estimulava sua miopia - Sobre a Alex...

- Peraí, tá insinuando que está a par do caso do fantas... quero dizer...

- Não, você tá certo, é um fantasma. - corrigiu ele, recompondo-se - Vou ser bem direto, deve estar apressado pra ir...

- Não, não, pode desembuchar à vontade, tenho todo o tempo desse mundo já que minha investigação foi anulada por um agente do governo metido a besta. - disse Frank, não abrandando a insatisfação.

- Quer dizer que aquele cara com quem o senhor estava falando tirou você do caso? - perguntou ele, interessado. - Desculpa falar isso, não pude deixar de observar.

- Tudo bem, não tô bravo. - disse Frank, a postura amigável com o garoto - Pois é... Parece que fui chutado do meu próprio serviço. Se isso vai me impedir de ir em frente nesse caso? Não mesmo. Fala aí, o que você sabe, pela sua cara... é algo que vai deixar as coisas bem mais esclarecidas.

- Meu nome é Edward, todo mundo me chama de Ed. - disse ele, meio retraído - A Alex foi morta pelo fantasma do garoto que levou mais tiros no massacre de 15 anos atrás.

- O Albert... - disse Frank, meio que automaticamente.

- Como sabe o nome dele? - perguntou Ed.

- Fiz uma pesquisa autorizada num arquivo específico. - disse Frank, sucinto. - O atirador era uma ex-vítima de bullying nessa escola. Um caso bem parecido aconteceu no Brasil há 6 anos.

- Eu já sabia disso, praticamente moro na biblioteca... - disse Ed, fazendo um leve suspense que precedia uma confissão... - e às vezes me pego lendo coisas secretas. Não me julgue, eu deixo tudo no lugar depois. Não conta pra ninguém tá?

- Ótimo, já que compartilhou um segredo, vou retribuir o favor em dobro. - disse Frank, aproximando-se mais do rejeitado do baile de formatura. - Sou um agente com vida dupla. Caçar monstros e fantasmas é um dos meus hobbys favoritos, mas que nunca deve ser levado como um. Eu vi o Albert na entrada de uma das salas depois que falei com aquele cara...

- Eu o vi também um dia antes da professora Reene morrer. - informou Ed, ficando tenso - Ele matou a Alex porque... ela furou comigo no baile do colegial passado. - lamentou, o olhar baixo - O Albert está punindo qualquer pessoa que magoe ou faça sofrer alguém como eu... um nerd perdedor.

- Para com isso, rapaz, você não é perdedor. - disse Frank, tocando-o no ombro - O que mais sabe a respeito?

- A mensagem que ele escreveu na parede do banheiro... - disse Ed, mal contendo-se - ... é um aviso sinistro. Quando eu disse que o vi anteontem... não foi uma visão super rápida, foi um contato bem próximo. - aquela informação atiçou o detetive - Disse uma mensagem enigmática. Que os escolhidos sentirão a pior dor na pele no mesmo inferno em que ele viveu.

- Escolhidos? Mas pra quê? - indagou Frank, cada vez mais entorpecido de curiosidade.

- Eu não sei. - disse Ed, a voz trêmula - Seja lá o que o Albert ou o demônio ou espírito do mal que está se passando por ele esteja planejando... não é boa coisa.

- Quando se trata de fantasmas vingativos coisa boa mesmo é sal grosso pra se proteger. - atestou Frank, arqueando as sobrancelhas - Ed, fica avisado: O Albert não pode te visitar porque ele está preso à escola, a ligação só pode ser rompida se ele virar um espírito sem rancor. Então nada garante que esse plano dele vá funcionar, porque pela lógica nenhum fantasma possesso de ódio é capaz de inventar um plano mirabolante pra se vingar.

- Ele era conhecido como o garoto mais aplicado da classe. - disparou Ed, confrontando a tentativa de Frank em tranquiliza-lo. - Pode ser capaz de tudo, ele é um fantasma.

- É, mas tem seus limites. - disse Frank, querendo deixa-lo calmo - Meu nome é Frank.

- Seu segredo está seguro comigo, Frank. - disse Ed, assentindo firme para ele, a expressão série num misto de insegurança. - Mas como vai livrar a escola do Albert se tem uma ordem pra não investigar?

O detetive compirmiu os lábios sem nada vindo à mente para driblar um avanço do governo contra seu ofício. Um arriscado e audacioso movimento não estava fora de questão.

- Vou dar o meu jeito. - disse ele, sentindo-se impotente por dentro - Sou de poucos amigos, mas... eles sempre tem um modo de me tirar da lama.

                                                                                         ***

Em um campo de futebol livre completamente deserto, Frank estava diante de seu único porto seguro que acreditava transmitir um conforto.

- Por favor, realmente não posso deixar esse caso passar em branco, quero resolver isso com meus próprios métodos. Não sabia mais a quem recorrer, sinceramente.

Um homem de cabelos e barba grisalhos o fitava com seriedade e um pouco de compadecimento. Atrás dele estava um carro preto exatamente do ano.

- Frank, não passa pela sua cabeça nenhuma ponta de realidade? - perguntou o diretor Duvemport. - A escola é financiada pelo governo, logicamente agentes contratados dele tem permissão judicial para interferir em uma calamidade que envolva qualquer instituição de ensino. Ou seja, obstruíram seu trabalho de forma legal. Em outras palavras, seguir em frente no caso é o mesmo que colocar sua carreira no DPDC em jogo.

- Preciso que converse com o superintendente e depois que ele vá pedir autorização ao Conselho de Segurança. - insistiu Frank.

- Sem chance. A decisão do governo é soberana, isso nunca mudará. - disse Ernest, categórico. - Estou te avisando: Melhor se manter fora da jogada porque se caso meter seu nariz quem vai perder é você, ainda que seja um caso sobrenatural que você já esteja acostumado, vai ter que deixar essa passar, amigo.

A rendição seria um caminho bem confortável. No entanto, a vontade de concluir mais um caso daquela natureza não o deixava sequer considerar a desistência.

- Está bem. - disse ele, fingindo ter concordado - Captei o espírito da coisa. E a coisa tá preta. Obrigado por ter cedido um tempo da sua folga pra vir me socorrer.

- Folga?! - disse Ernest, franzindo o cenho - Mas estou em plenas férias, caso não saiba.

A expressão de Frank se desenhou em espanto absoluto.

- Espera, então não foi o senhor que decretou a transferência da Carrie a pedido dela...

- O quê? Carrie se transferiu? Como assim? - questionou ele, o tom exaltado e curioso. - O que aquela maluca aprontou? Ela não pode sair do departamento, tem um contrato de 10 anos.

- Ah, devia imaginar. - disse Frank estalando os dedos - Foi o superintendente. Ela não ia passar diretamente pelo senhor pois ia contestar a decisão dela. E como o big boss do departamento não vai muito com minha cara, qualquer motivo que ela tenha dado sobre nossa divergência já bastou para ele migra-la a outro agente.

- Vocês brigaram? O que houve? - perguntou Duvemport, preocupado.

- É uma longa história, diretor. - disse Frank aparentando cansaço - Não tô muito disposto pra conversar sobre isso. Liga pra Carrie, se quiser. Ela te conta a versão dela e outro dia falo a minha.

- Outro dia coisa nenhuma. - recusou o chefe, mostrando-se companheiro - Vão fazer as pazes, nem que seja à força.

- Da parte dela não vai ser moleza. - salientou Frank, demonstrando certo desânimo. O celular tocara de supetão, assustando-o de leve. Enfiara a mão no sobretudo para pega-lo, revirando os olhos devido ao estresse causado pela exaustão que sentia nas pernas. Atendera. - Fala aí, Leslie. Qual a nova?

- Um cara chamada Richard... Nexton, se dizendo agente do governo, veio até aqui me entregar um papel aprovado pelo Conselho que torna ilegítima a sua participação no caso, suspendendo a ação da polícia na investigação. Perguntou onde estava o atual chefe gerencial do prédio e o levei até o superintendente que concordou com os termos. Me desculpe. - disse a assistente, sentindo-se mal.

- Ah, filho da pu... - interrompeu a fala para não esbravejar um palavrão que seria referente a Richard. - Tá, tudo bem, não tenho outra escolha. Caio fora do caso, se é para o bem geral da nação.

- Tem... uma notícia nada boa de que precisa saber. - disse Leslie, a voz soando misteriosa - Baixei as fichas escolares com informações pessoais básicas de alguns alunos... e agora há pouco os pais dos mesmos ligaram relatando desaparecimentos.

- Desapareceram?! - soltou Frank, abismado. Ernest apurou a atenção.

- Ao que os pais dizem, todos sumiram sem deixar rastros. - informou Leslie, vidrada no monitor - Esse caso tá tomando uma proporção assustadora. Assassinatos a sangue frio e agora supostos sequestros?! É uma pena ter sido barrado. Aliás, nem devia estar fornecendo essas informações, estou quebrando uma regra prevista no contrato forçado e não me orgulho nem um pouco disso.

Frank se viu mergulhado em pensamentos ao ficar em silêncio na ligação.

"Disse uma mensagem enigmática. Que os escolhidos sentirão a pior dor na pele no mesmo inferno em que ele viveu."

"Escolhidos...", pensou Frank, recordando-se da valiosa informação dada por Ed. "Ai, caramba...".

- Leslie, só pra saber: O governo não fez marcação em mim a ponto de rastrear ligações ou colocar câmeras de segurança na escola, certo?

- Ele não mencionou nada sobre câmeras e rastreamento. - disse ela, pensando em perguntar a razão mas desistindo logo depois - Se tiveram essa ideia, talvez vão colocar em prática só amanhã.

- Valeu, era só isso que eu queria saber. - disse Frank, desligando em seguida. Encarou o diretor por uns segundos que o olhava como se quisesse dizer "você não vai cometer essa loucura". O detetive sorriu fracamente com expressão sem transparecer intimidação - Às vezes precisamos quebrar algumas regras. Sei o que tô fazendo, diretor. Não vou deixar mais sangue ser derramado.

- Você é mesmo um teimoso... - repreendeu Ernest. Baixou um pouco a cabeça, de olhos fechados por um tempo - Vê se toma cuidado, porque juízo, pelo visto, você perdeu completamente. - falou, erguendo um olhar sério e penetrante ao seu solícito empregado.

                                                                                     ***

À alguns quilômetros do colégio... 

Os fios de cabelo preto meio liso daquela mulher estavam ensopados de suor que grudavam no pescoço. O corpo de jovem mulher adulta estava apenas de camisola rosa claro, os pés dela movendo-se pelo colchão bagunçando a coberta à medida que seu desconforto sonífero aumentava.

Apertavam-se os olhos. As cordas vocais produzindo gemidos entrecortados. Os lábios trêmulos. As mãos apertando o lençol branco. E o rosto molhado com gotículas do suor fresco brotando a todo instante. Dentro de sua mente, Albert entrava numa sala de aula cheia, indiferente às vozes murmurantes em conversas paralelas desinteressantes aos seus ouvidos.

Elas pararam assim que o viram chegar. Albert, com uniforme brilhando de limpo, desviou seu olhar frio para a esquerda até se virar para a turma que o observava confusa. O garoto tirou uma caixinha de fósforos do bolso da bermuda de mesma cor do casaco. Os cochichos começaram, progressivos.

Tirando um palito, Albert deu uma última olhada aos alunos. Podia ver a infâmia escancarada em cada um dos rostos. Aproximou a ponta de pólvora a lateral da caixa... riscando-a. A chama brotou.

Por fim, deixou o palito cair de seus dedos. Todos assistiam, em câmera lenta, a ínfima chama ir de encontro ao piso de concreto quadriculado da sala.

- Morram. - disse Albert, em um sussurro lento e sombrio.

Ao tocar o chão, a chama ampliou-se por cada centímetro da sala em milissegundos criando um fogaréu contra os alunos que gritavam em sincronia pelas labaredas ardentes que torravam a carne.

Viera o despertar sobressaltante da mulher. Os olhos arregalados dela fitaram o nada por muitos segundos até recompor sua perspectiva de realidade. O suor quente esfriara. Após finalmente se livrar da visão horrenda, ela se levantara com a respiração ofegante. Com as mãos na frente do rosto e os cotovelos apoiados nas coxas, ela chorou.

Seu pranto foi interrompido por um ruído vindo do seu armário. Era o ranger da porta que se abria vagarosamente. Aos poucos, ela desviava a atenção ao cômodo, afastando devagar as mãos da face.

Pela abertura que se fazia, se via uma escuridão densa.

- Quem está aí? - perguntou ela, se levantando para verificar ao ter tido a impressão ligeira de estar acompanhada. Um passo em proximidade da soleira foi o bastante para parar. - Saia daí agora... - pediu ela, o tom sério na voz.

A resposta veio na forma de uma mão adulta e pálida que irrompeu do escuro agarrando-a pelo braço e puxando-a para dentro em grande velocidade.

                                                                                       ***

Danverous High School; 23h15. 

A câmera do celular de Samantha, a patricinha esnobe e popular do colégio - cabelos de um loiro vivo e usando uma vestido rosa decotado - focava o rosto de Amanda, a típica garota que só tirava notas invejáveis na sala. A mesma sentia-se constrangida pela tentativa de brincadeira. Ajeitando os óculos de armação grande, Amanda se virou para a colega bufando em desconforto.

- O que diabos é isso que você tá fazendo, Samantha? Para, já não basta termos sido abduzidos pra cá sabe-se lá pra qual destino ou por qual razão? - fez uma pausa, fitando a câmera da devassa garota que a olhava com um sorriso um tanto cínico. - Não está com medo?

- Eu tô tentando quebrar o gelo, deixa de ser frouxa. - disse Samantha, persistente - Olha... sabe aquela confissão que me fez um dia desses?

- O que é que tem? - perguntou ela, desinteressada.

- Acho que encontrou sua conselheira de sedução. Como você se sente agora?

Amanda pensara um pouco.

- Hum... Além de apavorada... diria que, sei lá, tenho me sentido carente, necessitando preencher meu coração com amor sincero, um amor que preciso encontrar... Porque eu tô dizendo isso logo pra você? Quer tirar sarro da minha cara? Vai em frente.

- Ô, calma aí, estou sendo gentil porque quero reconforta-la. - justificou-se Samantha - Tem algumas opções aqui mesmo nesta sala...

- Ai, Samantha, volta pra sua cadeira e me deixa em paz. - disse Amanda, indisposta. - Qualquer cosia que eu disser, você vai amanhã espalhar pra sua cambada e fazer piada, não sou tão estúpida.

- Eu prometo dessa vez. - focalizou a câmera em Ed - Está afim do Ed molenga? Hein, hein?

- Ai, você quer me matar de vergonha mesmo...

- Ooou... o Jason. - disse ela, o tom forçadamente animado, focando a filmagem naquele que considerava seu potencial companheiro amoroso, um valentão de corredor que era titular do time de futebol da classe. - E aí? Será que ele vale uma aproximação?

- Eu disse que estava carente, não insana. - retrucou Amanda. - É melhor você voltar pro seu lugar...

- Tá, já que minha companhia é tão dispensável... - disse Samantha, afastando-se decepcionada - Só quis ajudar.

- Você ajudar, Samantha? Conta outra... - disse Pablo, um rapaz de porte atlético e rosto caucasiano atraente. Era considerado o "crush" da maioria das meninas não só da 1-A mas das demais também, fazendo-o ganhar o status de popular entre garotas que sonham com seus príncipes encantados. - Estamos como reféns aqui, vocês dois são os únicos que não tomaram a gravidade da situação. Será que não percebem que isso pode ter tudo a ver com... o fantasma. - mencionou ele, comedido.

- Nós fomos selecionados. - disse Ed, obtendo as atenções - Ele me avisou, devia ter contado à vocês.

- Tá falando do quê, idiota? - perguntou Jason, o tom infame. Pôs a frente do boné para trás. Seu casaco cinza tinha o emblema do time bordado no centro.

- Ele quer fazer um jogo para nos testar. Por que acha que os nomes de vocês dois estão escritos no quadro? - disse Ed, fazendo referência à lousa na qual estavam os nomes de Samatnha e Jason e à frente deles dois traços verticais que simbolizavam pontos. - A escola foi interditada...

- Oh, que novidade. - disse Jason, fazendo mais de suas brincadeiras maldosas. - Viu aí, Samantha? A descoberta brilhante do gênio da classe, Ed molenga. Hahaha!

- É, tá de parabéns. - disse Samatnha, batendo "palmas" com os indicadores lançando uma expressão escarniante à um nervoso Ed. - Já pode ganhar o prêmio Nobel.

- O Nobel não é exatamente para descobertas. - redarguiu Ed, sério.

- E a gente liga pra isso? - indagou Samantha, franzindo o cenho com um sorriso presunçoso.

- Verdade, não damos a mínima pra isso. - complementou Jason. - A gente pode sair daqui a hora que quisermos, mas sempre vale sacanear o Ed molenga pra ver se o tempo passa mais rápido.

O tachado nerd da classe virou o rosto para um lado, grunhindo em raiva e cruzando os braços.

- Cansei de tentar ser bonzinho. Eu odeio vocês.

- Oooooh, olha só que terrível, ele disse que nos odeia... - disse Jason, fazendo beicinho com a boca em comoção descaradamente falsa.

Samantha imitou o movimento do parceiro, logo depois olhando para Ed com um olhar falsamente triste e fazendo com as mãos fechadas movendo-se representando choro.

Jason transformara seu aviãozinho de papel em uma bolinha que, em seguida, jogara certeiramente contra Ed sem nenhum aviso. O garoto levara um susto por ter sido pego de guarda baixa. A dupla de opressores gargalhou ao mesmo tempo. Amanda revirou os olhos, não mentindo para si mesma sobre a pena que sentia pelo colega. Pablo levantou-se, revoltado depois de notar o giz erguer-se sozinho da mesa e traçar duas linhas pequenas e horizontais aos nomes, dando a impressão de estarem para formar quadrados.

- Vocês dois aí, é melhor pararem. Senão vão acertar contas com o fantasma, ele acabou de adicionar mais pontos. - indicou o quadro para ambos.

- Isso é o quê? A forca? - perguntou Samantha, estreitando os olhos, absolutamente sem entender nada. A indagação fez Pablo suspirar pela boca. Ele fazia toda vez que ouvia algo estúpido.

- Essa pergunta foi séria? - disse Amanda, em tom baixo, espantada com a falta de atenção da loira.

- Tô começando a acreditar no Ed, ele pode ter razão. - disse Pablo, saindo em defesa ao amigo que corriqueiramente o protegia das investidas violentas de Jason. - Talvez vocês é quem sejam punidos no final se continuarem a agir dessa maneira desprezível.

- Mas a gente gosta do Ed. - disse Samantha. - Não é Ed molen... quer dizer, Ed legal. - Pablo, o sangue fervendo nas veias, balançava a cabeça em um não de decepção.

Um novo ponto foi adicionado... à Samantha. E uma frase foi escrita no quadro por último.

- Ei, vejam. - disse Amanda, apontando, seu semblante assustado intensificando-se. - É ele...

A frase ditava: "O que tiver maior pontuação está liberado.".

- Hum... Acho que sou eu. - disse Samantha, mal se segurando de felicidade, levantando-se da carteira - Beijinho no ombro pra vocês que ficam. - falou, em tom zombante - Até porque preciso tirar a água do joelho...

Uns dois minutos depois, o companheiro da patricinha se rebelou contra a decisão do sequestrador.

- Ah, qualé! Se ela saiu, também podemos! - reclamou Jason, se levantando com rebeldia - Nenhum fantasma idiota vai me dizer o que fazer...

A fala do bully foi cortada bruscamente por um som alto de "creck". Basicamente de ossos quebrando. O corpo de Jason caíra feito uma estátua no chão.

Pablo, amedrontado, foi verificar o pulso. A confirmação terrificou a todos.

- Está morto. - disse o rapaz, a face lívida - O pescoço dele foi quebrado...

Arquejos de pânico foram dados por Ed e Amanda enquanto uma nova frase era escrita na lousa.

"Fiquem sentados se não quiserem acabar como ele"

O trio permaneceu em seus devidos lugares em obediência verdadeira. O jogo macabro estava apenas no limiar.

                                                                                       ***

A tampa metálica de um duto de ventilação - com brechas verticais e estreitas - caiu com ruído estardalhaçante no piso de granito.

Frank se enraiveceu pelo deslize ao descer de onde vinha se arrastando como uma lagarta na única passagem segura e viável já que romper as faixas amarelas na frente era um ato impensável.

O barulho ainda ecoava nos ouvidos, mas não era pior do que a insegurança gerada pelo silêncio pesante e o vazio do corredor principal. Os interruptores estavam ligados, o que era um sinal evidente da presença obscura que ali montou as bases de seu objetivo.

Em passos vagarosos, o detetive esquadrinhou com os olhos alguns cantos do corredor, de cima à baixo com bastante atenção. Até que pôde, intuitivamente, sentir alguém vir por trás...

- Olá... - disse Samantha, mostrando-se pouco à vontade diante do truculento agente do DPDC que se virou já temendo o pior. Frank suspirou disfarçadamente em alívio. - Será que pode me dizer onde é a saída?

- Você é uma das estudantes que foi raptada, certo? - perguntou ele, suspeitoso.

- Tem que acreditar em mim. Um fantasma nos sequestrou e colocou pressão com um jogo misterioso chamado Noite de Formatura e eu fui solta, não sei porque ... - disse Samantha, exibindo nervosismo - Tô falando sério, por favor, acredite...

- Não, é sério, eu acredito em você. - disse Frank, acalmando-a - Como é mesmo seu nome?

- Sa-Samantha. - respondeu ela, querendo cair em prantos - Tô com muito medo. Não dá pra sair nem pelos fundos?

- Olha, ao que parece, foi tudo lacrado, todas as passagens fáceis estão bloqueadas. - revelou Frank, mostrando apoiador - Mas posso tentar encontrar uma saída alternativa ou arriscar improvisar uma. Você topa esperar alguns minutos?

- Tudo bem, desde que você consiga. - disse ela, comovida, aceitando ir com o detetive a algum lugar onde pudesse manter-se segura do fantasma de Albert.

Ambos se direcionaram à diretoria, cuja porta foi aberta com o velho truque do grampo.

- Muito bem, Samantha - disse ele, sacando um pote com sal grosso e derramando na soleira da porta fechada -, estou me arriscando, mas é por uma boa causa. Com essa barreira de sal, o fantasma não vai chegar até você, então pode ficar de boas que ele nem sequer vai ultrapassar, nem que ele force.

- É, eu sei. - disse ela, deixando uma ponta de estranheza em Frank que ainda mantinha-se de costas depois de terminar a linha - Arde bastante, falo por experiência própria.

Os pelos de Frank eriçaram-se como que por instinto. Ele virou-se devagar, logo tendo sua certeza evidenciada totalmente.

Os olhos de Samantha lacrimejavam um líquido verde escuro parecendo lodo.

"Ectoplasma...", pensou Frank, desesperando-se.

- Esse jogo só acaba quando todos eles morrerem. Mas prefiro começar por você. - disse Albert, revelando-se possuindo o corpo de Samantha. Ergueu uma mão e jogara Frank com telecinesia em direção à uma parede.

- Você quer matar... até mesmo o Ed? - perguntou Frank, tentando se recompor do impacto do seu corpo contra a parede. - Até mesmo alguém que se sente igual à você?

- Com eles eu quis dizer todos os que fazem o perfil de valentões que estudam nesta escola condenada. - disse Albert, chegando perto. - O seu confidente vai sobreviver. Mas posso garantir que aqueles que dedicam tempo de suas vidas miseráveis a machucar outra pessoas deverão morrer.

- Não tem que ser assim, Albert... - disse o detetive, escondendo algo na mão esquerda. - Preciso admitir... que já fui como eles uma vez. Também tive um passado de bullying, não como vítima, mas como praticante.

- Mais uma razão para mata-lo. - disse ele, sibilante.

- Escuta bem... Passei esse tempo achando que seria a forma ideal de extravasar a raiva que eu sentia pela ausência do meu pai. Quando me dei conta do quanto eu estava errado... resolvi parar, e foi aí que valorizei o meu auto-controle. - fez uma pausa, segurando firme o seu trunfo - Eu podia dar umas palestras aqui sobre isso, quem sabe faria uma reversão nos que bancam os valentões ou conscientiza-los que não estão provando nada a não ser suas próprias fraquezas emocionais.

- Isso não muda nada. Você fez! - disse Albert, inflexível, dando mais passos para um próximo golpe.

- É, eu fiz, e me arrependo amargamente disso. - disse Frank, desejando muito reverter a situação com diálogo - Não posso mudar o passado. Mas tudo o que sou e faço no presente me ajuda a esquecer aquela imagem ruim de mim mesmo, me faz sentir regenerado.

- Está confundindo arrependimento com inocência. - acusou Albert, sem facilitar - No fundo você é igual a todos eles. - ergueu a mão para mais uma investida.

Frank mostrara sua cartada que nada mais era que um pouco de sal colocado na palma de sua mão esquerda. Jogara-o contra o corpo de Samantha que emitiu um grito rápido.

O fantasma de Albert se desprendeu rapidamente do corpo da jovem pelas costas, praticamente flutuando no ar por dois segundos, logo desaparecendo como uma projeção ou holograma.

                                                                                     ***

Perambulando pelo corredor, Frank correra em busca dos estudantes confinados na sala 1-A a fim de resgata-los mesmo que fosse atacado inúmeras vezes em impedimento.

As luzes tremeluziram até se apagarem por completo, deixando apenas o luar com fonte de luminosidade. "Pane geral... Essa noite tá cada vez melhor".

Usando a lanterna de seu celular, o detetive reduziu a velocidade mirando nas paredes à procura do número correto da sala. Passou pela sala dos professores... entretanto, um som inconfundível de choro o fez estacar e pensar por um minuto se isso não poderia ser uma armadilha de Albert.

Andou para trás para dar uma olhada no interior. A visão o confundiu por um instante.

- Mas o que... - disse ele, vendo uma mulher vestida com uma camisola rosa sentada no chão encostada na parede em visível pranto. Não hesitou em se dirigir à ela para ajudar. - Ei, ei... Fica calma, sou agente do DPDC.

A mulher ergueu o olhar tristonho ao detetive com o rosto molhado em lágrimas.

- Por que alguém como você se interessaria por esse caso?

Frank emudeceu por alguns segundos, sem saber como explicar de forma a não arruinar o serviço.

- Eu lido com coisas como o Albert. Deve ser a mãe dele, não é?

A mulher fez que sim com a cabeça.

- Me chamo Angela. - disse ela - Fui trazida pra cá de surpresa.

- Então eu estava errado. - disse Frank, agachando-se para ampara-la - Fantasmas como o seu filho não necessariamente se prendem ao lugar onde morreram. Pelo que está dando a entender, o Albert pode se deslocar fora da escola, o que explica o sequestro dos alunos.

- Mas não foi o Albert que me trouxe. - disparou ela, surpreendendo-o - Era a mão de uma pessoa adulta que me levou, mas não vi quem era. Quando cheguei, conversamos, foi como se ele... estivesse na minha frente ressuscitado. Falou que contou com a ajuda de uma amiga.

"Será a professora Reene?", pensou Frank, no limite da desconfiança.

- Ele não citou nomes?

- Não. - respondeu, tremendo - Pra ser sincera... Eu via o Albert todas as noites... nos meus sonhos. Pesadelos recorrentes, na verdade. Eu o assistia matar aquelas crianças de inúmeras formas...

- Isso é comum entre familiares de espíritos. - disse Frank, tocando-a no ombro - Fantasmas cheios de ódio e vingança também podem manipular sonhos, dependendo do quão furiosos estiverem.

- Por favor... se é especialista nisso, precisa salva-lo. - disse Angela, derramando mais lágrimas - Tire meu filho desse inferno particular. Ele tem um plano...

- Sim, já sei qual é. - disse ele, ajudando-a levantar - Exterminar todos os bullys dessa escola. Vou precisar da sua ajuda, esse vai ser o nosso plano para purificar a alma dele. Anda, vem cá... - a pegou pela mão, conduzindo-a até o centro da sala. - Fique parada. - orientou, retirando o pote com sal grosso e despejando até formar um círculo fechado em torno da sofrida mulher.

- Eu não entendo. Purificar o Albert? Isso é possível?

- Se mantenha dentro do círculo. Janelas fechadas, confere. - disse Frank, apontando para elas, depois voltando-se para ela - O sal é repelente de fantasmas. E sim, é comprovadamente possível reverter um espírito maligno, menos quando são controlados por Espectros, mas isso já são outros quinhentos. - tirou de um bolso um papel amassado e dobrado - Olha... - entregou-o à ela - Leia isso em voz alta. Só leia. Eu já volto, tentarei distrai-lo enquanto você faz sua parte.

- Mas...

- Vai ficar tudo bem, Angela. Prometo que ele ficará bem se ler esse recitamento de reversão. - disse Frank, aproximando-se da porta para sair depressa.

- Recitamento? - indagou ela, baixando os olhos para o texto escrito como se fosse um poema.

- Não demoro... - a fala de Frank interrompe-se quando ele fora sugado por uma força invisível que o tirou da sala com um arranco. Angela assustou-se, não conseguindo reprimir um instinto de fuga. Porém, algo nela lhe dizia para confiar inabalavelmente naquele plano.

Quanto à Frank, o detetive acabou indo parar numa das salas próximas à dos professores, suas costas ralando e deslizando no piso até ir parar na parede traseira. Com os dentes cerrados, Frank desconfortou-se com a dor que penetrou fundo na sua coluna e sabia que não teria tempo o bastante para se reerguer e forjar uma luta com Albert.

O fantasma do garoto surgira em um piscar de olhos, exibindo a mesma expressão enfurecida.

Com sua habilidade, fizera as mesas e cadeiras de madeira à sua esquerda e direita voarem contra as paredes à medida em que ganhava proximidade com Frank, sobrando também para os vidros das janelas que estilhaçavam em alto barulho. Uma corrente de vento forte preencheu todo o espaço.

- Albert! - disse Frank, atordoado com a manifestação violenta e quase ficando de pé. - Você tem que parar! Sua mãe... ela sempre esteve orgulhosa de você! Faça por ela, não por aqueles que acha que está protegendo!

- Não posso. - disse ele, o tom sussurrante e soturno de sempre - Não quero. - estendeu o braço direito e abrira a mão incutindo telecinesia para levantar Frank fazendo as costas do detetive roçarem na parede. Depois a fechara. A sensação no caçador foi de que todo o oxigênio estava sendo roubado de seus pulmões, inevitavelmente forçando-o a abrir a boca dada a dificuldade respiratória.

Albert mantinha seu semblante de frieza e perversidade ao assumir a vantagem.

- Rápido... Angela... - dizia Frank, temendo que qualquer minuto poderia ser o último.

A mãe do vingativo garoto brutalmente assassinado há 15 anos preparou-se para finalmente ler.

- Tudo bem... vamos lá. - disse ela, engolindo a saliva - Espírito pérfido que estás cego pelo ódio... Reconheça teu verdadeiro lugar... Engolfado pela luz gloriosa... Que extirpará todo o mal que tu propagas... Para enfim alcançar a eternidade... E ser etéreo como uma força que exala perdão a si e aos que tu afrontas.

Na sala, o detetive a pele gelar imediatamente, mal conseguindo pensar direito.

Uma fagulha luminosa surgira no peito de Albert para o espanto do próprio. A faísca avolumou-se até espalhar-se por toda o corpo como uma luz branca meio azulada claro.

Para a sua alegria, Frank testemunhou o êxito logo quando seu pés tocaram novamente o chão, assistindo Albert ser erguido até o teto. Ele estava tentando gritar, mas a luz silenciava cada palavra carregada de ira e mágoa. Até que, por fim, ela ofuscou-o completamente.

Frank tapava um olho com a mão direita pela forte claridade. "Bom trabalho Angela. Era a pessoa certa para fazer isso.".

A luz reduziu em alto ritmo já no limite. Até desaparecer.

Poucos minutos depois, Angela aparecera na entrada da sala, ávida por saber o que aconteceu.

- O que houve?

- Ele se foi. - disse Frank, ainda reavendo o fôlego recostado na parede já de pé. - Dessa vez pra sempre.

- Pra onde ele foi? - era uma curiosidade normal para um ente querido de um ser sobrenatural como aquele.

- Pra um lugar melhor. - respondeu Frank, sem muita certeza, olhando para cima.

Emocionada, Angela andara até Frank que sentiu-se contagiado pelo clima de pesar gerado pela partida definitiva de uma alma em essência inocente.

Ambos abraçaram-se no meio da sala. Restava apenas libertar os estudantes, recolher o sal na diretoria e escapar sem deixar vestígios.

                                                                                           ***

Noite do dia seguinte... 

O toque da campainha fizera Frank bufar por conta da interrupção que odiava sofrer ainda mais em um jogo de basquete importante televisionado.

Ao abrir a porta, o susto foi tremendo que o coração disparou quase querendo sair pela garganta.

- Já ia dormir? - perguntou Carrie, olhando as vestes do colega.

- Ca-Carrie?! - indagou ele, perplexo - Ahn... não, eu - olhou para a camisa branca que parecia parte de um pijama - ... eu só... é que você nunca viu assim e...

- Tá, não precisa prolongar explicações. - disse ela, aparentando estar menos arisca que da última vez que se falaram - Só vim... me desculpar. - deu de ombros - Ainda sou sua assistente. E você meu melhor amigo. É difícil mudar algo que já se tornou parte de você e se tentar tirar só machuca mais. Quando vi que era impossível, entendi logo que estou onde eu sempre deveria estar. Como sua parceira. Agora estou de volta. - sorrira.

- Err, Carrie, você sabe que definitivamente foi substituída, né? - perguntou Frank, curioso.

- Hum-hum - negou ela, balançando a cabeça - Três palavras: Leslie se mandou.

- O quê? Mas por que ela largou o emprego?

- De repente, uma emergência familiar a obrigou a passar o bastão... de volta pra mim. Ela quis dedicar um tempo à família e como o agente mais remunerado do departamento não podia ficar com vaga de assistente largada às moscas... não deu outra, essa peteca é minha de novo.

- Nossa... - disse Frank, mal sabendo como se portar - Espero que o lance da Leslie não seja grave.

- Eu também espero. - disse ela, sentindo-se um tanto renovada por desvencilhar de um peso nas costas chamado mágoa - Não vai dizer: "Bem de volta, Carrie"?

O detetive rira.

- É, sim. Está convidada a fazer parte da minha vida novamente. Eu realmente achei que nunca mais iríamos nos falar como antes.

- Digo o mesmo. Já passou. Só fazia mal e fingi que não doía pra não parecer fraca. Desculpa.

- Eu também peço desculpas. - disse o detetive, honesto - Estourei com você naquela hora, não vou mentir. - tocou-a forte no ombro - Era para ter considerado aquela possibilidade mesmo que no fim das contas não tivesse a ver com o problema.

A assistente o fitou diretamente nos olhos por uns bons minutos. Depois, balançou rápido a cabeça, como se afastasse um pensamento.

- Enfim, vamos esquecer isso. - olhou para o interior da casa - Tem lugar pra mais um aí?

- Sempre tem. - disse Frank, sorrindo e a permitindo entrar. Fechara a porta que mostrava o número da casa em relevo e dourado: 10.

                                                                                   ***

Confessionário: 

Fantasma - Definição básica deste que vos fala: 

Projeção espiritual da alma de uma pessoa falecida que pode se manifestar e interferir no plano físico e metafísico sendo visível ou não. Fantasmas podem ser maus ou bons. Geralmente pessoas que morrem por causas naturais não podem ser corrompidas ou se compelirem a ficar presas no plano físico. Já as que são assassinadas ou suicidas tem uma propensão de 90% para caírem nas sombras por diversos motivos, sendo a vingança o mais clássico. 

Proteção adequada: Sal Grosso. Eles odeiam. Sabem porquê? O ectoplasma, a substância que só espíritos vingativos produzem, e o sal são como reagentes adversos um ao outro. Uma vez que entra em contato com o sal, o fantasma desaparece temporariamente. Pode servir também para desfazer possessões. Sim, eles se apropriam do corpo da pessoa para se disfarçarem tal como os demônios.  Pense no ectoplasma como o pus de uma infecção grave em um corpo vivo.
Tanto rancor, tanto ódio acumulado acaba materializando, por assim dizer, essa secreção que tem uma coloração verde bem escuro. 

Ah... esqueci que hoje seria o confessionário do caso de ontem... acabei trocando as bolas pensando que hoje era enciclopédia paranormal. Bem, por sorte, o caso girou em torno de um fantasma. Devem se lembrar do massacre brutal na Danverous High School há 15 anos... 

O atirador ainda é dado como foragido. Pode ter se matado na fuga, acho que ninguém nunca vai saber onde o corpo ou que sobrou dele deve estar. O crime foi impulsionado por anos de sofrimento nas mãos de pessoas covardes que se aproveitavam de gente que não sabia se defender. Eu já fui assim antes. Como valentão, do tipo que olha pra um nerd e diz "te pego na saída". Tô falando sério. Mas me curei, por conta própria. Havia um garoto que marcava sempre de aborda-lo na hora do recreio para fazer brincadeiras agressivas. Ele saiu da escola quando entrei na quinta série e àquela altura já tinha parado. Poucos anos depois descobri que ele se matou. Por conta de depressão provocada por bullying na outra escola. Ele nem tinha terminado o Segundo Grau. E se tivesse sido eu o propulsor dessa fatalidade caso continuássemos sendo colegas e eu um valentão? Eu podia ter criado um maníaco psicótico louco para metralhar pessoas ou um depressivo à beira da morte. Eu podia ter sido responsável como motor para mortes de vários inocentes ou de um só. Hoje me orgulho do homem que me tornei, apesar do peso enorme que carrego nessa vida tortuosa de caçador. 

Até o próximo caso. 

                                                                              -x- 


*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://youandyi.blogspot.com.br/2014/11/


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