Crítica - A Maldição da Casa Winchester


Os "delírios" do luto bem justificados. 

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Eu sinto que já passei da fase de ser facilmente seduzido pela clichê frase estampada em muitos materiais promocionais de filmes de terror, a famigerada "Baseado em fatos reais". A mansão Winchester se coloca como uma das locações com maior abundância abrigada para se colher os recursos de um excelente filme do gênero. Não foi bem assim, como já era de se esperar. Afinal, o longa dos irmãos Spierig não foge à nova (quase velha) "regra" enviesada para filmes de terror atuais ou no estilo atual de produção especificamente. Em outras palavras, a plasticidade do terror é uma marca muito sintomática nessa produção assim como em diversas outras. Nada assusta como deveria ou como o espectador realmente deseja uma vez criada a imersão pelo suspense. Poderia ter seguido um caminho diferente de modo benéfico antes fosse noutra época.

Mas a coisa toda funciona em parte. Na trama, um psiquiatra atormentado pela morte de sua esposa, Ruby, passa a consumir drogas e fazer um harém na sua casa (prostitutas?) até o dia em que ele recebe o convite para a nada convidativa casa da família Winchester, famosa por uma companhia fabricante de armas de fogo, na qual a herdeira Sarah Winchester, após as mortes de seu marido e filho, relata avistamentos de espíritos (precisamente dos que foram mortos pelos rifles da empresa) na casa que está em imparável construção. O enredo é progressivo em lançar as revelações em momentos apropriados, mas o que se vê por trás delas é a construção de uma atmosfera extremamente trivial. Particularmente não conheço muito das lendas que circulam sobre a casa, então não sei se a dramatização gozou de liberdades criativas que certamente eu não pude detectar - o resumo ao final do filme oferece apenas uma base rasa da inspiração. Nada mais que o típico terror com casa mal-assombrada. Mas tem seus diferenciais satisfatórios. Pequenos, porém satisfatórios.

Cheguei a acreditar que Eric (o psiquiatra) via as aparições decorrente do uso das drogas e tudo não passavam de meras alucinações. Ainda bem que a narrativa não se prendeu numa espécie de estica-puxa do caso não passar de um delírio por parte de Sarah criando questionamentos do que seria real ou ilusão passando por contrapontos óbvios sem chegar a nenhum consenso, ficaria absurdamente cansativo e a trama pouco andaria, então felizmente não tem dessa frescura de incertezas e o longa se afirma veementemente como sobrenatural puro. Na verdade, isso já é visível no prólogo com Henry, filho de Marion, parente de Sarah, possuído pelo espírito considerado mais ameaçador da casa, automaticamente descartando a hipótese de justificativa das aparições virem das drogas de Eric. Gosto quando o suspense é desenhado com o reforço da ausência de trilha sonora e ele é feito de uma variação meio tímida, mas ao menos é feito com impulso de surpreender. E consegue (aleluia). Cada susto levado foi genuíno que me deixou atordoado por fora porém contente por dentro. Não tem aqueles jump scares genéricos, as surpresas ocorrem o mais inesperadamente possível, apesar de nada que arranque o ar do espectador, não tem "reinvenção da roda pretensiosa" - o que só prejudicaria.

Os espíritos comandam a construção interminável usando a própria Sarah Winchester como ponte, mas não exatamente possuída e sim enviando pensamentos enquanto a mesma fica num transe esboçando planos arquitetônicos dos novos cômodos da casa para abrigar cada uma das almas. Há uma certa divisão, pelo visto, em relação aos espíritos como se fosse grupos diferentes, existem os bonzinhos (acredito), os raivosos porém menos inofensivos e os mais terríveis. E toda casa mal-assombrada que se preze tem que ter o ingrediente essencial - contudo, nem sempre de grande necessidade - que é o espírito vingativo. A partir do momento que isso é elucidado, muita da sustentação do filme é subtraída drasticamente. Acaba se rendendo ao clichê do clichê. A mansão Winchester é famosa por ser assombrada por espíritos malévolos, é inevitável não mudar esse cerne para adaptação, mas começo a crer que não foram tomadas as devidas liberdades para gerar uma fuga e não cair numa mesmice já vista à exaustão em anos. Não é questão de ser "diferentão" e sim de mostrar que pode explorar um clichê sem fazê-lo parecer um pastiche. O filme escapa por um triz do caráter genérico de assombrações em casas luxuosas e mesmo assim não se desprende de amarras conceituais trabalhadas por inúmeras outras produções do gênero. Sarah e Eric lutam, dentre alguns momentos destacantes que valem a pena (como a possessão de Sarah e é sério... deu um medinho, aquela voz distorcida tem poder ainda mais vinda de uma senhora trajada de preto e com aspecto sinistro por si só o_o), contra Benjamin Block, um soldado confederado da Guerra Civil Americana que perdeu seus dois irmãos para fuzis Winchester e sedento de vingança chacinou a todos os funcionários ligados à empresa até que foi morto a tiros pela polícia (e estava disposto a isso pelo que pareceu e a tranquilidade que exalava). Mas como a vingança nunca é plena e mata a alma e a envenena, Ben não descansa e quer acabar com a vida de Sarah e de todos na casa. Por isso Sarah foi obrigada a ordenar que construíssem uma réplica da sala de armas Winchester onde ele foi morto. Nisso a trama se fecha e uma corrida pela vida tem início. A solução miraculosa (leia-se: forçada) foi Eric utilizar a bala que quase o matou e tinha guardado como uma lembrança por ter sido baleado por um rifle Winchester e seu nome constava na lista de Sarah que registrava o número de mortos.

Há até mesmo um espaço reservado para o arco pessoal de Eric sobre a sua esposa, Ruby, que aparece esclarecendo a história e preenchendo a lacuna ao afirmar que seu diagnóstico de sanidade foi um engano e o matou antes de se matar com o mesmo rifle Winchester. Dá a impressão do personagem ter voltado ao passado. A climatização desse terceiro ato é boa demais para o desenvolvimento ao qual ele foi submetido. Incapacitaram o seguimento seguro de antes para se reduzir ao velho embate de pessoa inocente alvejada por espírito maligno sem expressar nada que o afaste de comparações com outras apostas desse sub-gênero do terror. Fora isso, a cenografia de época é esplendorosa e a montagem também é prezada com muito cuidado dando a atraente sensação de balanceamento. Mas como já disse: Clichê se valendo de clichê.

Considerações finais:

A Maldição da Casa Winchester não tenta ser um novo "O Exorcista" embora também não tente ser um longa com decisões ousadas o bastante para não posto no mesmo balaio onde pertencem muitas embromações travestidas de terror intimidante e que faça ser temido. Os elementos técnicos são de aplaudir de pé, ainda que os efeitos "sobrenaturais" sejam o elo fraco dessa corrente. De fato, tem um suspense que estimula a focar no exato ponto onde o filme te pegará no susto (o que não se repete muitas vezes por uma aparente falta de mais disposição de alternativas). O problema mesmo são execuções que não permitem ele ser mais do que foi quase que obrigatoriamente capacitado a ser.

PS1: O terremoto que destrói alguns cômodos inacabados da casa foi real, aconteceu em 1906 (não sei se o período dito no filme - narração em off de Eric ao final quando ele decreta a sanidade de Sarah após ter sua mente aberta pela experiência paranormal - ser entre os dias 12 e 19 de Abril daquele ano bate com as informações verídicas do material-base).

PS2: Me ficou a dúvida se o terremoto foi provocado pela força sobrenatural ou mera coincidência.

PS3: Achei que ia rolar um plot twist da Sarah como uma mentora aos espíritos ou possuída por uma entidade qualquer por quando ela entra em cena da primeira vez o ambiente se transforma pela sua presença sombria naquelas vestes lúgubres (com destaque ao véu) não inspirando confiança.

PS4: O lance supersticioso são só os 13 pregos usados para trancar os espíritos nos seus quartos. O que demonstrou ser um fracasso, pois como provou o desfecho nenhuma alma ali reside em paz.

PS5: Seria um sexto estágio do luto acreditar que é visitado pelo espírito da pessoa que perdeu ou atormentado por espíritos que estão ligados a algum sentimento de culpa até sucumbir a uma eventual loucura?

NOTA: 7,5 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://tommo.com.br/5-curiosidades-sobre-maldicao-da-casa-winchester/

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