Crítica - A Bruxa na Janela


Drama familiar sobrepujando a premissa.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

No meu conhecimento, eu creio que todo filme que abraça a proposta do terror como sua força motriz tem a obrigação de se preencher com uma atmosfera sombria que corresponda às suas escolhas narrativas independentemente do grau em que ela está mais situado. Uma das mais sentidas faltas deste filme de caráter B (e põe B nisso!) é exatamente isso, algo que confirme que ali existe uma ameaça que colocará as vidas dos personagens em extremo risco. Mas o que a tal "bruxa" pode fazer? Geralmente não exijo do filme algumas colheres de chá, mas se não especifica pontos importantes me resta a teorizar e chegar às minhas próprias conclusões, ainda que não seja tão difícil assim.

A trama segue um pai e um filho - Simon e Finn, respectivamente - que migram para uma casa no campo que precisa ser reformada (não é propriamente uma mudança). Simon aproveitou para levar o filho como seu auxiliar nas tarefas por conta das dificuldades de relacionamento com a mãe. Daí em diante você já sabe o que esperar tendo o plot do filme estabelecido pela sinopse. Um vizinho chamado Louis (não sei se dá pra considerar como tal morando a 400 metros de distância) conta a respeito da antiga moradora da casa e a tragédia envolvendo um cortador de feno como arma de uma carnificina supostamente provocada por ela. A "bruxa" chama-se Lydia e sua morte, sob forte especulação, pode ter decorrido de um ataque cardíaco. Lydia tinha o hábito de sentar-se na sua cadeira em frente à janela e observar a rua (um comportamento esperado de uma vizinha pra lá de fofoqueira =P) e assim foi encontrada morta.

É possível ignorar numa boa as poucas semelhanças físicas entre Simon e seu filho chato (que pelo visto nasceu abençoado com Nutella, Ovomaltine e mertiolate que não arde). Parecem ser de etnias diferentes. É normal alguns filhos não herdarem tantas características parecidas, mas aqui isso foi meio que extrapolado, completamente irrealista até para um filme de terror. Lydia obviamente é a entidade concebida pelo roteiro para expulsar e atazanar os personagens. No tocante à ela, o trabalho de maquiagem está bem caprichado, porém o aproveitamento do espectador é drasticamente reduzido nos parcos momentos de sustos. Num filme de terror a ameaça, seja ela qual for, também precisa de um toque protagonístico em prol do seu destaque como obstáculo implacável. Lydia não recebeu nem mais e nem menos do que uma coadjuvação esdrúxula. O seu ínfimo papel, contudo, não traz compensação à trama mais rasa que um pires. O drama predominou. As discussões sobre os rumos dessa família conturbada, na verdade, se fizeram os condutores do enredo.

Além disso, há tomadas um pouco longas demais para paisagens à luz do dia e ao céu azul com um sol brilhante e nuvens estonteantes. São cortes que destoam do tom que o longa, a priori, deveria ter adotado para construir substancialmente o seu viés de terror. Todo esse ar de primavera-outono descontou e muito das sensações potenciais de causar frios consecutivos na espinha - o que de nada adiantaria se o contexto permanecesse inalterado. Alguns lances interessantes que curti foram Finn, deitado na cama, acreditando estar conversando com seu pai que levantou-se mais cedo, mas ele não estava no quarto e sim fora trabalhando na reforma, uma ilusão atiçada por Lydia que talvez seja mesmo uma bruxa sendo que causou alucinações em Simon do tipo "falha na matrix" (até eu fiquei confuso nesse instante) depois que ele insiste teimosamente em prosseguir nas obras - que segundo Louis a tornavam mais forte, então na minha interpretação Lydia alimentava sua fúria assassina de espírito maligno a cada progresso na construção. E outro ponto bacana foi Simon (com uma expressão de puro cagaço hahaha) conversar com seu filho pelo telefone... enquanto o seu filho estava sentando ao seu lado após descer do ônibus e desistir de retornar para a casa da mãe. Mas Finn já havia voltado. Então quem estava do lado de Simon? Nem preciso responder. A forma que o Fake Finn vira o pescoço para Simon quando a ligação é terminada entrega de bandeja. Porém, este foi um dos escassos momentos em que Lydia demonstra sua selvageria fantasmagórica (expulsando o coitado de novo) e do qual é necessário fazer bom proveito. Ademais, a duração do filme é uma agente dupla para o bem e para o mal: faz você desejar que o filme acabe logo e é curta para uma trama carente de exploração.

Considerações finais:

Se você é ruim de quebrar a cabeça com filmes de terror mais sofisticados, A Bruxa na Janela é a opção indicada na pedida perfeita. Mas falando como espectador exigente do gênero, o longa abre convenientemente maior espaço à trama de apoio centrada em Simon, Finn e Bev (a mãe) por ser claramente incapaz de sustentar aquilo que era para ser seu carro-chefe e movimentar o enredo de maneira mais engajada e audaciosa o bastante para não sair como um exemplar clichê de casa mal-assombrada. Nem isso ele consegue haja vista que o terror de fato acabou como o menor dos interesses.

PS1: O texto é enfadonhamente preguiçoso. Os diálogos proporcionam cansaço absurdo.

PS2: Finn odeia bonecos por acha-los infantis, mas dorme com um ursinho felpudo. Qual será a idade desse moleque?

PS3: Era mais fácil um asteroide cair do que o Simon terminar a casa com a Lydia importunando.

PS4: Senti uma alfinetada no Trump quando a Bev está dando seu chilique pra cima do Simon na hora em que fala "Só estou tentando manter ele seguro e estou sozinha nessa! Lutando contra a internet, balas perdidas, os garotos ruins de outras pessoas, o planeta morrendo, e pra completar esse Presidente!". Desnecessário, não?

PS5: Ironia do destino Simon ter morrido ao lado de Lydia provavelmente da mesma causa que ela. Os remédios que tomava era para controlar a doença descrita como um "buraco" no coração. Eu devia ter sacado isso antes.

NOTA: 4,0 - RUIM

Veria de novo? Não. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://cinepop.com.br/bruxa-assombra-casa-no-primeiro-poster-do-terror-a-bruxa-na-janela-179605

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