Crítica - Número 23


Toda paranoia pode ter seu fundo de verdade?

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Uns anos antes já havia visto uma cena desse filme num canal fechado, mas aconteceu que não segui em frente porque me impus uma regra de nunca prosseguir assistindo um filme na TV quando o encontro já na metade ou pouco além disso. E foi até bom decidir isso, visto que o longa dissipa a névoa do mistério em torno do protagonista e sua obsessão patológica pelo número 23 no terço final, então não teria a mínima graça descobrir tudo com poucos minutos faltando para as revelações essenciais, muito embora exista uma previsibilidade medonha quanto à camada mais fina do mistério a qual pode ser descrita pela questão de quem seria o assassino chamado Fingerling - e mais importante: a conexão de sua aventura com a vida do seu leitor - que protagoniza a narrativa do livro que a esposa do personagem de Jim Carrey, Agatha, dá-lhe de presente no dia do seu aniversário. Mas que bela coincidência, não? A mulher presentear o maridão justo com o livro que ele escreveu no passado para se livrar da acusação do crime que cometeu! É justamente essa a peça que faltava para complementar a antecipadamente sabida verdade.

Walter Sparrow (Jim Carrey) é um funcionário do controle de animais que ganha o livro intitulado "número 23" (número do quarto de hotel onde ele se enfurnou após cometer o assassinato de Laura Tollins, mulher que ele namorou e tirou a vida da pobre moça motivado por uma traição com um professor que foi injustamente autuado pelo crime e preso) no seu aniversário e conforme ele avança na sua leitura começa a desenvolver um transtorno paranoide por notar similaridades da trama com eventos da sua vida e principalmente com Fingerling. Imerso no primeiro ato, eu acreditei que poderia se tratar de uma evidência não totalmente esclarecida de universo paralelo ou uma "falha na matrix", mas o desengano ocorre não muito tardio, ou seja, no fim das contas a sinopse estimulou a intuição correta, confirmando o óbvio previsível, a de que Walter era o assassino descrito, o cara lia sua própria história num livro que serviu para desfazer a amnésia provocada pela tentativa de suicídio (cuja nota tornou-se o livro) que lhe causou traumatismo craniano bem antes de conhecer Agatha (com a qual formou uma renovação de vida). Logo a paranoia não existe, pois isso consiste numa ideia aparentemente irreal que o portador do transtorno tenta desesperadamente provar sua veracidade (podendo muito bem achar chifre em cavalo e tomar como pista concreta, é uma doideira que parece interminável), mas não significa que o assunto não seja pertinente ao escopo do filme. Eu "brinquei" disso muitas vezes, associando datas e números com coisas que eu temia/suspeitava e que na minha cabeça fazia sentido estarem interligadas, efetuava diversas somas para chegar a determinado resultado que comprovasse minhas teorias de conspiração. Enquanto a pessoa não achar a resposta decisiva que melhor satisfaça, isso nunca para. O paranoico sente-se constantemente ameaçado por algo que talvez seja um mero devaneio impulsionador de perguntas que ele não tem certeza se vai ou não responder ou se um dia chegará à conclusão, e mesmo assim ele deixa a proporção disso aumentar sem dar-se conta do autoflagelamento psicológico. Da mesma forma que Walter enxergava o número 23 que parecia persegui-lo. Mas neste caso era seu passado gritando para ser lembrado. De toda forma, a vida pregressa pode alcançar o presente de qualquer um. Só que em relação à paranoia, deve-se analisar até que nível as coincidências são coincidências - claro que sem chegar a um grau de loucura que ferra com a mente.

No campo técnico, o filme usa e abusa de uma paleta mais sombria, sobretudo nas cenas que retratam as passagens do livro que também são flashbacks do passado de Walter mas creio que com as diferenças inseridas pelo próprio na narrativa para dar aquela disfarçada. Existem umas cenas de certa tensão como o quase atropelamento do cachorro Ned (essa sim!) e a visita de Walter ao bode expiatório Kyle Flinch (interpretado por Mark Pellegrino, o eterno Lúcifer de Supernatural, quase não o reconheci) na cadeia para arrancar uma confissão do crime. De resto, a performance de Carrey é elogiosa de tão intensa, pelo menos pra mim que nunca antes o viu encarnado num papel dramático.

Considerações finais:

Pra confessar, o principal aspecto que me atraiu para conferir Número 23 foi simplesmente a curiosidade de ver a atuação do Jim Carrey dentro de um enredo sério, porque se dependesse apenas do plot para gerar o interesse certamente não teria sido a mesma coisa. Ridiculamente previsível, mas capaz de render discussões sobre questões numerológicas e até onde coincidências podem indiciar uma conspiração ou se tudo não passa de apenas piração mesmo.

PS1: Na cena que o cão torna-se alvo do Walter, eu pensava: "Não atropela o Ned, seu fi duma égua! Não atropela o Ned!"

PS2: A paranoia te força a expandir as hipóteses para além do contexto pessoal. O número 23 foi ligado até ao atentado de 11 de Setembro de 2001 pelo que pude ver (tinha 09/11/2001 no braço do Walter - não entendo porque nos EUA o mês fica na frente do dia, mas enfim...).

PS3: Jim Carrey mandou apostando nessa vertente, saindo do lugar-comum, entregou uma atuação que convenceu em toda a sua agonia, angústia e insanidade.

PS3: Eu escolhi ver esse filme inteiro com 23 anos. Será que... ???

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Provavelmente não. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVcNRxSU47_ID9CveJsWn7rb_WIkQdPgKBAU7jCgOAoH-xqXYi3WSILNGN_kiC6cptoArwYA3472vv_jL_mFygMiVVBZM_Kj5qQR9XGmi1t8WnQgGrImcZ1Q0u9n0GBu2yMiXXzckrpZFr/s1600/numero23escrevendo.jpg

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