Meu cemitério
Reduzindo uma gama de sentimentos e pensamentos a um denso turbilhão de trevas, encontro a porta novamente escancarada. Anjos e demônios travam uma guerra perdida em meu âmago, tendo meu ser como prêmio em uma disputa acirrada e que subsiste desde às tenras épocas.
Eis que um terceiro participante decide intervir no confronto. Um novo adversário? Não. É apenas a interveniente mais fria, neutra e eficaz, balançando sua hipnotizante foice, carregando seu disforme espectro, estando pronta para realizar mais um de seus trabalhos.
Carregue-me morte! Mas, se me permite, devo pedir, antes de mais nada, que me conceda um último desejo.
Você quer testemunhar o fim desta guerra tanto quanto eu. Quer livrar-me desta matéria deteriorada, imperfeita e desprovida de qualquer dignidade ou valor.
Deixe-me eu apanhar os últimos restos de meus profundos sonhos mortos e os enterrar no solo mais úmido e frio que existe.
Traga-me para o livramento eterno, fazendo-me unir aos meus valiosos tesouros enquanto ainda restarem seus últimos suspiros e auras. Joga-los e mante-los em abismos silenciosos, juntamente com as almas gritantes e encarniçadas do mundo que desconheço. Como uma perpétua coleção fúnebre e efêmera.
Somente encontrarei a prova na tua lâmina...
E a resposta a sete palmos abaixo da terra.