Crítica - Godzilla (1998)


Jurassizilla.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Uma pérola injustiçada? Diria que um tantinho sim. No auge dos filmes-catástrofes, tais como Twister e Volcano, o diretor Roland Emmerich, perito em destruição de cenários numa escala que sua cinematografia pode oferecer até melhor do que Michel Bay, resolveu surfar numa segunda onda da década de 1990 aproveitando o caráter do personagem-título que decisivamente seria o atrativo perfeito para emular o sucesso da renomada franquia de aventura. Óbvio que estou me referindo à saga de Steven Spielberg e seus répteis clonados selvagens. Na prática, a intenção, creio, não conseguiu mais do que uma associação da parte dos espectadores numa projeção negativa.

Mas o que havia dado de tão errado na visão dos fãs mais xiitas do lagartão, que reverenciam os trashs (incluindo o original japonês de 1954), para renegarem a visão do diretor arrasa-quarteirão? Uma boa série de fatores, devo reconhecer. A começar pela sentida e dolorosa ausência do poderoso sopro atômico, habilidade icônica do Rei dos Monstros, e até cheguei a pensar, na cena do ataque das forças armadas no meio da cidade, que ele de fato lança o golpe quando na verdade ele apenas faz voar com seu urro alguns carros que acabam explodindo dando uma "ilusão" de que o fogo escapou de sua bocarra. Acho válido culpabilizar a restrição orçamentária que afetou profundamente a renderização do monstro e mais gravemente a dos Baby-Zillas - responsáveis por um dos estágios do longa mais precários de identidade conceitual.

Meu precioooosoooo!!!
O Godzilla desta película destruidora (fica ao seu ponto de vista em qual sentido, se for o apreciador veterano das aventuras do lagartão que ficou ou não emburrado com essa releitura) é uma iguana marinha da Polinésia Francesa que sofre rigorosas mutações decorrentes da radiação liberada por testes nucleares no país e ficou um longuíssimo tempo na moita até que no tempo presente do longa ataca um navio japonês e segue trajeto pelo oceano em direção à Nova York. A paleta de cores utilizada fazendo predominar o azul nas cenas noturnas (substanciado pelo clima chuvoso que permeia ao longo do enredo) combinou com o aspecto ameaçador que Godzilla imprime (apenas não entendi porque raios ele se agarra a um prédio para dar seu rugido feroz, isso ficou estranho pra uma cena que deveria apresentar grandiosidade, aquilo era um momento-chave para exibir toda a fúria colossal do monstro), ficando mais visível no clímax quando o monstro enfrenta a sua maior antagonista: a Ponte de Brooklyn (e seus malvados cabos prendedores).

O fim da linha. 
Voltando aos filhotes do Zilla (nomenclatura oficial atribuída pela Toho ao monstro retratado no filme americano para diferenciar com o original - na real, eu acredito que eles detestaram essa versão com todas as suas forças e quiseram desassocia-lo o máximo possível do personagem clássico), a inserção deles acaba meio que prejudicando o clima de propriedade identitária que o filme vinha desenvolvendo até ali. Após a eclosão dos ovos, a sequência de fuga desesperada de humanos curiosos no Madison Square Guarden não passa mais do que a impressão de um Jurassic Park com "velociraptors" encurralando suas vítimas (. Não afirmando que a sequência em si seja brochante, mas com ela o filme perdeu muito da sua "originalidade" no que tange ao roteiro. Foi a saída encontrada para insuflar aos acontecimentos uma carga-extra de perigo e adicionar mais minutos à narrativa. O Godzilla desta versão, ao menos, tem mais flexibilidade.

Parando para pensar, Godzilla não destrói tudo o que sua cauda toca por mal, a radiação apenas deu crescimento anormal à iguana e não inteligência aproximada à dos humanos, ele na verdade está apenas viciado em peixe, não é a toa que destroçou com um navio de pesca no início do filme e posteriormente dá uma passadinha em Nova York para dar uma olhadinha nos preços do Mercado de Pesca de Fulton. O Exército Americano, sempre uma presença garantida nestes filmes do gênero, realiza duas tentativas para captura-lo, objetivando atraí-lo com um banquete de peixe, mas esse primeiro passo dá errado e um bando de soldados ruins de mira, a bordo de helicópteros, o perseguem pela cidade numa boa sequência de ação (fica um pouco melhor se ignorarmos a quantidade de tiros que atinge lares inocentes - exceto o que pegou no topo do edifício Chrysler, do qual o Zilla desviou muito bem). O sucesso da segunda tentativa com torpedos de submarinos não enganaria nem quem estivesse vendo pela primeira vez. A conveniência do Godzilla reaparecer justo após a explosão do Madison Saque Garden para exterminar os filhotes é extrapolante, mas serviu de bom impulso para o monstro se vingar.

O que é um filme de Godzilla sem humanos para teme-lo, afinal? Matthew Broderick (o eterno Ferris Bueller de Curtindo a Vida Adoidado), apesar da sua cara de bobalhão, entrega um protagonista suportável, diferentemente de Maria Pitillo e sua Audrey Timmonds numa clara indisposição com o papel, o que em compensação não reflete negativamente no entrosamento com o Dr. Niko Tatopoulos e o romance dos personagens não interfere na experiência o bastante para fragilizar a atmosfera de calamidade, não chega a ter um foco desmedido. Destaque para a performance de Jean Reno como Philippe Roaché que num determinado momento instiga dúvidas quanto a sua moral, mas foi aliviante perceber que o francês estava do lado dos mocinhos (fez bem em confiscar a fita do repórter paspalho apelidado de "Animal' e que por um milagre - leia-se: roteirismo - sobreviveu a uma pisada do Godzilla no primeiro ataque do lagartão para o seu furo jornalístico imperdível). A solução para derrotar o monstro pode ter sido pra lá de questionável... Mas quer saber? Eu até que me diverti!

Considerações finais:

Eu devo ser chamado de pseudo-fã do Godzilla por não menosprezar essa versão que não aspirou nada menos que ser um exemplar do nível de Jurassic Park, incorporando referências visuais gritantes. Definitivamente não é um longa para fãs do original da Toho chamar o monstro pelo nome, enxergo mais como uma versão aceitável para quem nunca apreciou as raízes do Rei dos Monstros. Simplificando: Quem começou com as trasheiras da Toho vai achar um acinte e quem iniciou com ele irá achar no mínimo OK - claro, sabendo pesar na balança seus prós e contras igualmente super-expostos.

PS1: A namorada - ou esposa, sei lá - do repórter "Animal", Lucy Palotti, desempenha a função da amiga hiperativa - da personagem feminina principal - que tem zero relevância na trama.

PS2: E sobrou um ovo dentre os escombros do Madison Square Garden. Seria o próximo Zilla que duelaria contra os outros monstros conhecidos (Mohtra, Rodan e Rei Guidorah) numa continuação que permaneceu meramente imaginária.

PS3: Não sei bem ao certo se considero uma boa sacada ou não fazer os personagens federem a peixe cru para atiçar o instinto carniceiro dos Baby-Zillas numa pretensão de "imitar" os raptores de JP.

PS4: Ah sim, lembrei! O último descendente do Zilla protagoniza uma série animada que é sequência direta dos eventos do filme. Um dia caço pelas interwebs pra conferir.

PS4: Doze mísseis pra derrubar o lagartão?! Só isso?? O monstro é um animal modificado por radiação nuclear... sendo efetivamente morto através de artefatos bélicos comuns?! Isso não engulo!

PS5: A troca de olhares entre o Zilla e o Matt sugere que o monstro tem um lado feminino aguçado - embora se reproduza assexuadamente. Repetiu-se na despedida mórbida no final.

PS6: O suspense gerado graças ao primeiro ato é coroado com a menção do único sobrevivente do ataque ao navio japonês que sussurra "Gojira" - nome original da criatura.

PS7: Fã dos filmes da Toho VS. Aquela pessoa rara que curte o de 98.

Fã-Toho: O meu Godzilla tem sopro atômico e o seu não! Hahaha!

PR98: Sabe o que o meu tem de melhor e o seu não?

Fã-Toho: O quê? Fala aí, seu poser.

PR98: Ele se move de forma mais flexível, ou seja, muito mais articulado que o seu!

Nem preciso dizer quem venceu né? A pessoa rara é sensata (calma aí, é zoeira, eu também quis ver o sopro atômico nesse filme hein T_T)

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagens retiradas de: https://pausadramatica.com.br/2014/05/27/site-lista-5-coisas-que-o-godzilla-de-1998-fez-melhor-que-o-de-2014/
                                     https://www.dreadcentral.com/editorials/172304/godzilla-98-really-bad/
                                     https://filmschoolrejects.com/godzilla-1998-isnt-as-bad-as-you-remember/

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