Crítica - St. Agatha


Não precisa pagar para entrar, somente rezar para sair.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Eu não vou mentir: tem certas vezes que eu bato o olho num cartaz ou pôster de um filme de terror há pouco tempo lançado e sem muita projeção de marketing, já logo me cresce a desconfiança súbita de que por mais interessado que eu possa estar, no fundo suspeito que tô entrando numa roubada. É, gasparzinhos, fica a dica: nunca julgue um filme por imagens de divulgação ou sucesso comercial. St. Agatha foi lançado em 14 de Fevereiro deste ano e certamente ele não chama tanta atenção como outras franquias famosas de terror, a principal e mais notória delas atualmente sendo o universo de Invocação do Mal que conta com 7 filmes (incluso o terceiro filme do casal Warren que chegará aos cinemas em 11 de Setembro de 2020 - mal posso esperar!). Passei por cima da hesitação e sinceramente digo que terminei a experiência meio embargado, tomado por uma emoção que não esperava que esse filme incitasse tanto. Pode-se dizer que ele "calou minha boca" - entre aspas mesmo, porque eu não disse oralmente que tinha medo de ser um trash de merda que consumiria 90 minutos da minha noite de sábado. No encargo da direção, o nome é Darren Lynn Bousman, responsável por filmes da prestigiada franquia Jogos Mortais (do segundo ao quarto), coisa que descobri só depois, não presto atenção na ficha técnica antes de apertar o play, são informações que geralmente pego após assistir (vou mudar isso).

O longa passa-se na década de 1950 (mais precisamente em Outubro de 1957) e ambienta-se numa cidade pequena da Georgia onde uma jovem gestante chamada Mary (posteriormente obrigada a mudar seu nome para Agatha - a chamarei assim daqui pro final) busca refúgio, após um evento trágico na sua vida envolvendo um marido violento, num "convento" (entre muitas aspas, muitas mesmo) que a acolhe para que as freiras deem conforto e comodidade quando ela finalmente dar à luz. No entanto, à medida que sua rotina segue, ela vai descobrindo a real essência do lugar que só é religioso na fachada. Segredos obscuros vêm à tona e Agatha (identidade que ela assume sob coação das freiras e da perversa madre superiora que justifica a mudança pela impureza e indignidade de carregar o nome da mãe de Cristo dada a petulância dela por questionar) se vê num cárcere privado e refém de mulheres que afirmam-se devotadas à obra de Deus mas que se submetem às regras e diretrizes psicopáticas e sádicas da madre (que mulher do meu ódio!). E por falar nela, jamais antes senti tanto asco e repúdio por um vilão ou vilã (palmas para a atriz!). Ela praticamente dá abrigo às grávidas para torna-las suas escravas, além de apresenta-las à doadores que visitam o convento para escolher qual mãe cederá seu filho para a adoção, pois cada mulher que se dirige até lá sabe que não tem como criar sozinha um bebê. Tem um truque de enganação eficaz voltado aos aspectos de terror, fazendo o espectador acreditar que o buraco é bem mais abaixo. O rosto visto nas brechas do teto por uma das colegas de quarto de Agatha é uma de muitas alucinações provocadas pelas pílulas "vitaminadas" (tudo e absolutamente em prol da saúde do bebê. Como são boazinhas essas freiras, não?). Os pesadelos de Agatha também, não é a toa que ela passa a fingir tomar as pílulas escondendo debaixo do colchão.

Em matéria de terror psicológico, sua verdadeira competência ao invés dos clichês sobrenaturais, o longa forneceu mais do que presumivelmente o faria caso não nadasse contra a corrente, o que até dissipou da mente a ideia prévia de que seria oportunismo espertinho para pegar carona no sucesso de A Freira. Na cena de Agatha sendo aprisionada no caixão (da qual o prólogo nos preparou, não sei pra quê, com um pedacinho dos constantes gritos de socorro da personagem) me passou pela cabeça um ritual demoníaco de possessão. É incrível como a crença teimosa no sobrenatural introduzido é desafiada. Foram consecutivos enganos sobre a proposta de fato. A princípio soa como se o roteiro tivesse sofrido alterações no meio das filmagens, mas o entendimento logo vem para mostrar que as coisas fazem sentido e provando que os monstros são de carne e ossos humanos. A arrogância da madre é enfurecedora e por outro lado dá efervescência para que a sensação de perigo paire sobre cada canto que Agatha estiver nas suas tentativas de fuga (assumindo liderança ante as demais colegas de quarto). Chegou a tal ponto que não queria mais saber de sobrenaturalidades sugeridas, apenas que Agatha escapasse com vida junto a seu bebê. A angustiante cena de seu parto auxiliado pela empregada Paula (temporariamente convencida a ajuda-la numa altura crítica do campeonato resumida pela madre desmascarada e oprimida pelas suas ex-subordinadas) é um desses momentos genuinamente desconfortáveis e inquietantes, dentre outros bem nojentos (uma das freiras cuspindo comida mastigada na boca de Agatha - urgh! - no seu confinamento no caixão que era aberto todos os dias para ver se a coitada tinha aceitado chamar-se Agatha dali em diante) e bem sangrentos (Sarah cortando a própria língua com uma tesoura! O_O) que constroem a tensão adequada para igualar seu temor ao das vítimas.

Considerações finais:

St. Agatha não é aquele terror de primeira ou horror de primeira que vale 100% um ingresso de cinema, mas sabe manobrar suas direções não apelando para conveniências absurdas no intuito de facilitar a vida da sofrida protagonista (e tem os flashbacks que quebrantam excessivamente a história, mesmo tão necessários para compreensão da situação atual de Agatha). O horror tem função máxima, decorado com detalhes técnicos e práticos que promovem convencimento. A noção dada é a de que um paraíso muito atrativo pode disfarçar astutamente um inferno horroroso e inescapável.

PS1: Agatha podia ter testado a madre para ver o quão longe ela iria simplesmente desobedecendo a ordem para telefonar para a polícia na obrigação de falar tudo que sabe (a morte do seu namorado pelas freiras) e acabar tachada de louca (afinal, quem desconfiaria que mulheres virtuosas, bondosas e dedicadas à obra de Deus são uma organização criminosa que elimina pessoas inocentes, escraviza mulheres grávidas e lucra com a venda dos bebês à revelia das mães?).

PS2: Pensando bem, talvez o hospício fosse um destino melhor do que passar a gravidez humilhada por um bando de ordinárias disfarçadas de freiras. Eu ainda tô passando raiva com aquela madre, sério.

PS3: O policial não devia abrir a merda daquele caixão e libertar a madre psicopata (ainda que ignorante quanto à isso). O que ela vai fazer? Vingança? Virar satanista e ser mais criminosa do que já é? Se bem que o final da Agatha não foi além do que poderia, mas me conformo com a morte das freiras envenenadas com a ajuda de Sarah (elas mereceram por aceitarem grana fácil para traírem sua superiora e não tinham de sair impunes nem disso e nem do crime maior que participaram).

NOTA: 8,0 - BOM 

Veria de novo? Sim (ou talvez não, por conta das cenas fortes e da agonia real que elas dão).

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.pophorror.com/wp-content/uploads/2019/02/St-Agatha-feature-image-656x330.jpg

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