Contos do Corvo #1


- Como devemos acreditar que você presenciou o que vai nos dizer? - perguntou o coveiro, desconfiado.

- Vocês vivem em um tédio insuportável quase que todos os dias. Estou fazendo um favor à vocês. - justificou o corvo.

- Acho que tem razão. Quer saber? Pra mim não importa se são lendas, casos reais ou qualquer outra coisa. Se me entreter, já será bem-vindo. - conformou-se o coveiro.

- Era isso que eu gostaria de ouvir. Atenção, os dois. A estória a seguir trata-se de um caso meio bizarro... enfim, vocês julgarão se é ou não da forma como acho.

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                                                           O MÉDICO E O MONSTRO 

Em uma de minhas muitas viagens pelo mundo afora, sem me socializar com bandos, estive morando em uma árvore alta, próxima à uma praça bastante movimentada. Num certo dia, passei a seguir a vida de um renomado cirurgião, chamado Derrick Mayne. Conhecidamente ele realizava façanhas incríveis ao salvar vidas e ganhar créditos por boa parte delas, mesmo quando este trabalhava em conjunto com outros de sua área. Eu o achei estranho á primeira vista. Aquele jeito meio travado de andar, aquela "cara de pôquer" e as vestimentas, eram o que me atraiu... para persegui-lo.

Ele tinha família e amigos. Aparentemente vivia uma vida entediante, mas feliz de certo modo. Dois meses passaram-se. Sua vida continuava a mesma. Pelo menos até descobrir a grande notícia do ano. Sua esposa lhe informara sobre sua terceira gravidez. Em paralelo às congratulações ao casal pela chegada do novo bebê, algo terrível ocorria naquela então pacata cidade.

Em um depósito abandonado foram encontrados inúmeros corpos mutilados, trucidados e estripados. Nenhuma ferramenta foi encontrada. O local servia como "abatedouro humano", mas constatou-se que em boa parte dos corpos, além das mutilações, haviam partes unidas, ou seja, passaram por experiências criminosamente bizarras.

Nove meses passaram-se. Mais conquistas para Derrick, e uma delas a "milagrosa" cirurgia que o mesmo fez sozinho em um paciente com problemas de visão. Seus métodos eram conhecidos por serem fora do comum, o que decerto impressionava a equipe. Muitos ficavam intrigados, queriam muito saber o segredo para tamanha precisão e originalidade ao realizar cirurgias. Derrick manteve suas palavras no abismo do silêncio.

E enfim nascera sua filha. Não muito bonita, na minha opinião. Mas horrorosa para seu pai. Não tendo a mesma sorte que as outras duas crianças, o terceiro bebê nasceu com deficiências. Derrick enlouqueceu de desespero. Sua esposa tentava acalma-lo, afirmando que conseguiriam uma cirurgia para o bebê o mais rápido possível.

No entanto, a pressa lhe motivou a fazer do seu jeito. Em uma noite de tempestade, no porão de sua casa, Derrick foi ousado ao colocar sua filha recém-nascida em uma mesa de ferro suja de sangue e com uma podridão de revirar o estômago. Ela havia nascido com uma terceira perna, próxima ao umbigo, e os olhos em posições erradas, em diagonal. A experiência foi iniciada. Mas o fracasso o atormentou a ponto de tira-lhe completamente o sono naquela noite.

O resultado foi indescritível. O médico descarregou sua raiva atirando objetos contra as paredes, não admitia fracassos e aquele, por sinal, foi o seu primeiro em 20 anos de carreira. Não viu outra alternativa, a não ser jogar sua filha, afetada pela experiência, em um latão de lixo. Ao voltar para casa, não reconheceu-se no espelho. Conseguia ver uma faceta demoníaca em seu reflexo. Uma faceta que não via há dias...

Após sua esposa lhe perguntar, com muito entusiasmo, onde está a pequena nova membra da família, um grupo de policiais invadira a casa. Instantaneamente, algemas foram colocadas nos pulsos de Derrick. O médico enraivecido pelo fracasso foi acusado de sequestro, homicídio e cárcere privado. Um trauma para a família. Mas uma dúvida para Derrick.

Foi revelado, em um interrogatório, que alguém invadiu sua casa e encontrou ferramentas sujas de sangue e as forneceu à polícia. As digitais nos objetos eram de Derrick. Logo associaram ao caso do depósito abandonado e das vítimas que foram cirurgicamente usadas como cobaias e transformadas em aberrações.

Por pagamento de fiança de um amigo que testemunhara a seu favor, Derrick foi solto. Sua contradição gritante sobre o normal e o bizarro era seu pior demônio interior. Só havia um trabalho a ser feito, antes de saciar novamente seu desejo. Ele friamente assassinou a família e os colocou em um freezer.

A lógica de Derrick era de que, se livrando da família, seus planos poderiam ocorrer sem contratempos, e como sua acusação foi retirada após uma mentira bem elaborada, não havia com o que se preocupar.

A sombria dualidade foi revelada enquanto ele olhava para aquele freezer.

Ele disse, com um prazer doentio e insano:

"Agora sim posso ver que a família está toda reunida... para sempre." 


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