A peça que não falta
"Você não nasceu para viver junto deles".
"Você não deve se curvar à eles".
"Você não é igual à eles".
Palavras que transbordam da mente, para depois o silêncio as liquefazer e jorrarem nos olhos o manancial frio e amargo das lágrimas ou nos profundos danos da pele para derramar a cachoeira escarlate e fervente.
Jurei à mim mesmo que nunca me rebaixaria a ponto de pegar um dos cacos espalhados e expurgar esta alma que não passa de uma peça de um quebra-cabeças que não existe em nenhum outro lugar.
"Mas pra quê se mortificar estando no inferno? Não faz sentido!", ela diz à mim.
Anestesiei minha dores, mas certas feridas ainda lancinam meu corpo.
Podem usar os cacos que espalhei para magoa-las e abri-las ainda mais, não passam de corrompedores e imundos, com o único intuito de abrir todas as portas que deveriam se manter trancadas.
Tentem enquanto ainda lhe restam forças. A dormência tomou conta deste fraco receptáculo de uma alma que não merece estar nele.
"Então, por que sentir dor?".
Na verdade não sinto mais nada, as frustrações tornaram-se indolores. O quebra-cabeças do qual eu deveria fazer parte é imaginário, fugaz nos meus sonhos mais loucos e fantasioso nas minhas memórias criadas.
Fui trazido a esta vida... Não sirvo para ela... Como peça impertinente não devo ser visto, não devo ser acolhido, não devo viver e nem sofrer... não devo me encaixar.