Contos do Corvo #12



Ainda que se mantivesse relutante, lá estava o coveiro, de pé em frente à lápide na qual o corvo estava em cima. Parecia pensativo... hipnotizado por algum devaneio profundo. A ave notara seu estranho comportamento e inclinou a cabeça para um lado, estranhando.

- Algum problema? - perguntou ele, surpreendentemente preocupado.

O coveiro mal o escutou.

- Ah sim! - disse ele, animado. - Está esperando que eu conte uma outra história! Não é?

Nenhuma resposta. O corvo ficara constrangido por não receber atenção.

A menina chegara apressadamente, quase correndo.

- Olá senhor coveiro! - passou por ele, sem perceber seu estado.

- Você acaba de falar com o vento. - brincou o corvo. - O velho virou estátua.

A menina virara-se para ele e franziu as sobrancelhas. Balançou levemente a mão diante do rosto enrugado do homem.

Logo ela deu um sorriso malicioso, dando-se conta do que realmente era.

- Ele estava assim quando você chegou? - perguntou ela, fingindo surpresa.

- Bem... sim. - respondeu ele, sem jeito.

A menina tornou a dar uma risada arrepiante.

- Qual é a graça? Por acaso você também é de ignorar os outros?

- Na verdade... - ela fez uma pausa com um suspense. - ... o que está bem aqui na nossa frente não passa de... uma estátua.

- Sério? - indagou o corvo, parecendo aborrecido.

- Pois é, acho que ele pregou uma peça em você. Também me enganou direitinho. Acho que ele quem deve ter esculpido. - disse ela, tocando na escultura.

- Velho maldito! - bradou o corvo, com raiva. - Muito bem, sem mais delongas. Pronta para a história de hoje?

- Ainda pergunta? - disse ela sorrindo.

- Foi durante minha longa temporada naquele país... Uma nova e intrigante atração arrancava os olhares curiosos daquelas pessoas...

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                                                             O TEATRO DE SOMBRAS


Aconteceu no Iowa, mais precisamente em Iowa City. Eu passei a agir como um stalker de seres humanos quando aquilo passou a chamar minha atenção, mais do que nunca. Diferentemente de qualquer outro espetáculo, aquele era brilhantemente secreto... e tenebroso.

Antes mesmo que eu percebesse, já me pegava observando aqueles cinco jovens - duas garotas e três rapazes - pela janela mais alta daquele galpão abandonado e largado as baratas. Pareciam ser universitários, e incrivelmente ávidos pelo desconhecido. Era assim todas as noites: Eles chegavam devagar, provavelmente temendo que algo estivesse à espreita, depois se sentavam diante de uma parede toda arranhada e suja... e em seguida iniciava-se o sinistro show.

A luz da lua iluminava exatamente - e convenientemente - aquela parede. Era uma apresentação no mínimo estranha, despretensiosa, sem intenção de transmitir uma mensagem ou um sentido. As sombras se materializavam com seres mal-feitos e chifrudos, andando sorrateiramente em direção a uma silhueta humana deitada... para depois mostrarem suas enormes garras e trucidar aquela pessoa.

Ouvia-se sussurros, intercalados com gritos guturais daqueles seres... principalmente da vítima humana. Os espectadores, pelo menos no sétimo dia, não pareciam tão surpresos quanto eu esperava. À medida que as noites foram passando, os shows tornavam-se mais aterrorizantes, violentos e com um tom mais elevado dos gritos. Era como se estivessem assistindo a um filme de terror gratuitamente.

Os seres - que, obviamente, eram demônios. - adquiriram formas mais... digamos, realistas, ora parecendo animalescas, ora parecendo humanoides. E os gritos apavorados das vítimas sempre alteravam-se a cada dia. Eram sessões de assassinatos diferentes.

No entanto, eis que chegou o oitavo dia.

Ao final da apresentação, o demônio - o único que se mostrou naquela noite - por fim ganhara traços mais "humanos", virando-se para os espectadores... que já recuavam sentindo que algo certamente estava errado. Um deles tentou convence-los a irem embora dali e jamais voltarem.

Eu não fiquei até o final, pois àquela altura eu já estava entediado e já pensava que o final seria o mesmo apesar de parecer bem diferente dos dias anteriores. Mas enquanto eu voava de volta, escutei gritos abafados... vindo de lá. Eu rapidamente conheci os tons. Eram eles.

Vi um segurança que cuidava da vigilância de um prédio próximo, ele corria para ver o que havia se passado. Tudo o que ele encontrou não passou de vários rastros de sangue pelo chão, que se cruzavam, como se uma chacina macabra tivesse ocorrido.

A polícia chegou meia hora depois e, após uma busca por todo o galpão e proximidades, não encontrou nada que sugerisse a presença de um suposto criminoso que fosse autor daquele banho sangrento. Porém, o vigia relatou as autoridades que, ao entrar no local, sentiu um embrulho no estômago, seguido de arrepios contínuos. Sentiu-se, sobretudo, ameaçado por algo que ele especulou estar se escondendo naquele galpão.

A última que viu de relance, foi uma sombra chifruda... parecendo que o observava. No dia seguinte, sabendo que a polícia não acreditaria em nada do que dissesse sobre a parte surreal da história, ele contactou especialistas no assunto. Alguns demonólogos vieram até lá, e deram uma olhada no aspecto do local.

A conclusão do relatório foi que algum tipo de entidade obscura residia naquele lugar e que talvez aquilo fosse o motivo pelo qual o galpão jamais era alugado ou comprado, nem apareciam pessoas interessadas, elas simplesmente passavam longe dali, segundo o vigia. 

Os cinco jovens foram dados como mortos ou desaparecidos... Mas os demonólogos expressaram uma explicação que foi ainda mais além.

Que o "show" nada mais era que uma forma daqueles seres de atraírem suas presas... e as transformarem como parte do espetáculo. 



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