Sugador
Quem é você, afinal?
Que espera eu deitar na cama e fechar os olhos até meu corpo e minha mente renderem-se à sonolência que pesa sobre os olhos, inevitavelmente.
Você que supostamente me observa de algum canto extremamente obscuro. Talvez eu passe por você, não importando onde, e lhe atravesse, pois não consigo vê-lo.
Imagino você parado e paciente em sua vigília. Só não entendo algo: Por que escolhestes logo hoje para finalmente atacar minha mente? Frustrado por não tocar meu corpo? Quem é você?
Dava indícios de sua existência e presença na minha vida, mas somente agora resolveu invadir as entranhas do meu subconsciente. Como saístes vivo ou ainda são? Isso aqui é um show de horrores.
Então, como algo aparentemente frágil fisicamente como você duraria mais segundos do que eu consigo me suportar? Será que, de alguma forma, criei você inconscientemente? Será que você quer voltar para casa e tentou fazer aquilo para demonstrar sua raiva por achar que estou o impedindo?
Só tenho uma coisa concreta a seu respeito. Você suga tudo aquilo que vê. Tenta sugar até o último resquício. O que deu em você? Fui ingênuo em achar que só porque age como minha segunda sombra não significa que não possa me machucar ou me torturar.
Nesse tal sonho louco você surgiu perto da porta do banheiro escuro, enquanto eu saía da cozinha e eu parei, amedrontado ao vê-lo pela primeira vez. Não gostou da minha reação? O que esperava que eu fizesse? O abraçasse? Sorrisse? Ou dissesse um alegre "oi"?
Você é um horror. Como pôde achar que eu queria algo assim por perto? As luzes se acenderam rapidamente e depois começaram a piscar incessantemente, deixando sua aparência mais visível, mesmo que por poucos segundos a cada vez que a luz brilhava na intermitência.
Você realmente sabe como você é? Ou talvez a imagem que vi não passasse de uma das muitas que você assume? O que você é? Quem é você?
Um corpo frágil, magro, decrépito, pele azul-acinzentada, braços longos e quase esqueléticos... Esqueci de um detalhe? Ah sim... A cabeça. No formato da de um ser humano normal, mas com um grande buraco no lugar onde seria seu rosto. Olhei diretamente para ele e foi então que você me pegou de jeito, com sua artimanha sórdida.
Quer saber qual foi a sensação? Era como se um enorme abismo arrancasse minha alma pouco à pouco. Como se a areia do vasto deserto que é o meu âmago fosse sendo tirada grão por grão.
Ao olhar para seu "rosto", me vi inerte e vencido por um desespero incomum, tão verdadeiro e absoluto de uma maneira que nunca senti antes.
Você ia tirar tudo de mim... até que acordei, abismado, pensando sobre você ser real. Mas isso é simplesmente comum. Despertar de um sonho pesado e pensar por poucos segundos depois que o mundo explorado é o mesmo no qual você vive, mas é passageiro.
Tentou infligir em mim uma morte lenta e desesperadora o bastante para que você assumisse o controle. Não foi? Não saiu disso com uma vantagem, só expôs sua real natureza. Você pode ser apenas um produto psíquico materializado de forma inconsciente e que escapou ao meu domínio.
Será que eu consigo controla-lo? Se assim o for, poderá ter sido aquele ato de minha vontade?
Quando eu vou vê-lo novamente?
O que você é?
Quem é você?
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Nota do autor: Este conto foi baseado em um sonho que tive há poucos dias no qual tive a impressão de estar diante de uma criatura que me castigava com desespero e pânico e senti como se ela quisesse roubar minha alma. Não foi exatamente a primeira vez, mas anteriormente me ocorreu de forma diferente, um outro cenário, um outro clima, um outro tipo de ser...
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