Crítica - Parasyte


Nossos piores demônios não nascem dentro de nós... Eles vem do espaço!

AVISO: A crítica abaixo contém (alguns) SPOILERS. 

Parasyte (Kiseijuu: Sei no Kakuritsu, no original) era mais um desses animes que eu habitualmente enrolava demais para começar a assistir, acho que por um misto de expectativas boas e ruins, mas como há um certo tempo não tenho acompanhado seinens (o último que lembro de ter visto foi Another, em 2014) resolvi dar um voto de confiança generoso que à primeira vista, honestamente, eu não apostava em nada que me fosse agradável a ponto de veredicta-lo (essa palavra existe?) como acima de nota 6 pelo menos. O anime, baseado num mangá do final da década de 1980, teve sua realização feita pelo aclamado estúdio MadHouse (que produziu marcas de peso como Death Note e o remake de HunterXHunter) e sua exibição se deu entre 2014 e 2015 com 24 episódios em temporada única. Feita a introdução (enrolação, aliás), vamos de review que será no mesmo modelo feito sobre a segunda temporada de Assassination Classroom, sem divisão de prós e contras, vou procurar citar o essencial. Pra começar, só digo uma coisa: Quebrei um pouco a cara com esse anime e estou até agora juntando os pedaços.


Sabe a cena desse gif? Pois é... Desse jeitinho mesmo que Parasyte começa. Quase terrorífico. Digno de um filme hollywoodiano com a temática alienígenas. Digo mais: Acreditei um pouco antes de dar o primeiro play que haveriam ao menos alguns lapsos de terror mesclado ao gore cruel e sem pudores ocorridos em batalhas contra parasitas carnívoros que vieram do espaço para se alimentarem da espécie humana. Um deles, por sinal, adentra no corpo do jovem estudante Shinichi Izumi, um nerd sem graça e que qualquer valentão definiria como perdedor, porém, acima de tudo, o protagonista da série e pelo qual ela atribui um respeitável foco do início ao fim. Não é a história dos parasitas e seu papel (permanecido misterioso) no planeta Terra, é a história de sobrevivência do rapaz da "capa" desta crítica cujo "amigo" é um parasita que apenas chega à sua mão direita e não assumindo a cabeça onde se igualaria aos seus "irmãos' parasitas na fome por carne fresca. Shinichi teve muita sorte, mas ela encerra aí. A chegada de Direita (nome super criativo dado por ele ao seu amigo parasita) balança, chacoalha, vira de ponta à cabeça a vida do jovem que vê o seu mundo e sua rotina se alterar drasticamente com o advento dos parasitas e dos quais precisa às vezes fugir e às vezes enfrentar.

Ele é obrigado a aceitar esta realidade selvagem e a partir disso o perigo torna-se praticamente onipresente e, além disso, acompanhamos o crescimento de Izumi com viradas dignas de um bom suspense. Como dito no parágrafo anterior, a trama gira em torno dele e apenas dele, sendo Direita o coadjuvante que cumpre muito bem sua função como organismo parasitário que caga e anda para os humanos mas ainda assim se importa com Shinichi mesmo numa postura egoísta - afinal, a vida dele depende da sobrevivência de Shinichi -, é um personagem com quem dá para criar certa empatia pelo vínculo evolutivo com seu hospedeiro.

Obedecendo o seu gênero mais gritante, o anime firma os pés no chão. A história desenvolve-se à sua maneira sem fugir do que realmente se propõe. Esqueça clichês como invasões alienígenas espalhafatosas ou planos-mestres geniais de algum chefão. Nada disso ocorre. Os parasitas não são minions de alguém maior, pior e mais perigoso. São organismos independentes com um propósito semelhante à humanidade: sobreviver. No entanto, não há resposta clara sobre qual o objetivo geral. Alguns querem coexistir, outros desejam tornar-se uma espécie dominante no topo da cadeia alimentar. Há muitas similaridades entre os dois mundos, pena que não houve tanto aprofundamento quanto a isso e o enfoque de grande proporção é o jogo de sobrevivência que Izumi se envolve antes, durante e após a sua marcante virada principal - era meio óbvio que cedo ou tarde todo esse auê dos parasitas caminhando disfarçados entre humanos chegaria à família dele com um desdobramento tão óbvio quanto que é a retirada de alguém importante da sua vida, no caso a mãe e o resultado acaba sendo inevitável. De qualquer forma, a morte muda as pessoas. Shinichi passa de nerd inseguro e arrasado para alguém que exala uma frieza bem incômoda como consequência do fortalecimento que é uma via de mão dupla: a forma que Direita encontrou para cura-lo do ferimento gravíssimo provocado pelo parasita na Sra. Izumi e a aceitação da morte dela causada pelo próprio filho - que, a despeito de qualquer sentimento, foi o fim correto.

O personagem tem um interesse amoroso que você já aponta dizendo: vai morrer. Satomi Murano é a personagem mais superexposta no núcleo escolar e seu relacionamento com Shinichi passa por oscilações constantes, sobretudo quando ele se torna o fodão que toca o foda-se para tudo (até para um cachorrinho atropelado que ele simplesmente joga na lixeira como se fosse um enterro digno). Ela não tem tanta expressividade, mas serviu como porto seguro a Izumi em vários momentos, basicamente como uma lembrança do quão humano ele precisa ser ainda que voltar a ser o que era antes se mostre impossível diante das circunstâncias nada normais que ele está metido - um grande olho do furacão para o qual Satomi deve ser mantida afastada. É apenas no final que seu previsível papel de donzela ameaçada é posto em prática, mas não à mercê de um parasita.

Outra personagem feminina de grande destaque é Kana Kimishina que possui ligação com um grupo de valentões - os conflitos humanos são bem substanciais - e, principalmente, um dom natural de sentir parasitas, o que deixa aberta uma lacuna narrativa que merecia ser preenchida. Pena - uma grande pena - que ela foi idiotamente trouxa ao se manter cega por uma paixonite pelo Izumi. O desfecho não podia ser mais trágico. Confesso, foi a morte mais sentida por mim.

A ameaça final é Gotou, um super-parasita criado como experimento de Reiko Tamura (a professora do Shinichi!), o elemento feminino de maior importância na série ao meu ver (curti bastante o arco dela com o bebê que eu tinha medo que acabasse morto brutalmente), e que consegue impor medo ao protagonista. O que creio ter ficado meio escasso é a variedade de parasitas e suas particularidades quando movidos à ação. Vi de tudo quanto é parasita bizarro, até um cachorro no início do anime que cria asas de carne, mas ficou uma sensação de pouco. O pouco que à certa altura fez muito, contudo poderia fazer mais, muito mais.

Cito o ponto alto do anime que é o levantamento de questões existenciais e além disso o ponto que realmente me pegou desprevenido e me prendeu à história como inicialmente nem pensava. Questões sobre o que significa ser humano. Vida, morte, direitos, escolhas, objetivos, começos, meios, fins, existência e etc. Junte isso tudo e um pouco mais numa "sopa filosófica" que o anime oferece de bom grado. Na estética, nada decepciona, destaque para a rapidez dos movimentos dos parasitas quando estes entram em combates viscerais, é bem empolgante.

Sobre reviravoltas, posso dizer que não me preparei ao que o episódio 22 mostrou. Reviravoltas bruscas mexem comigo e à medida que a extensão vai ganhando solidez cria-se até uma esperança de que Izumi retorne ao seu antigo eu. No episódio seguinte respirei aliviado. Na verdade, todo o encerramento do conflito inspira esse alívio.

Kiseijuu tem raríssimos momentos de humor. Posso destacar um (parece até ser o único de fato engraçado, impagável melhor dizendo) que é a cena em que Direita força um ereção em Shinichi no vestiário do colégio. Além do mais, temos a abertura muito bem montada e combinada à uma ótima música. No final dela eu notei uma representação da virada de Shinichi onde é mostrado ele caindo rápido intercalando com imagens de um parasita olhudo e monstruoso (deve ser o Gotou) até que no fim vemos ele com visual alterado (mais atraente, numa visão mais superficial) mostrando seu inseparável amigo. Para mim simboliza a mudança que Izumi sofre, a queda vertiginosa do protagonista.

PS: O Direita me lembra bastante o Ojama Yellow de Yu-Gi-OH! GX.

Considerações finais: 

Investindo numa trama relativamente profunda, Parasyte vai contra o típico gore gratuito com fundo narrativo pobre. Ele preza por uma filosofia pertinente e não é nenhum Genocyber da vida, mas tem lá suas pequenas superficialidades. Você vê um anime que promete ser nada mais que carniceiro ao extremo mas anseia por um enredo consistente? Tudo bem. Ele oferece um pouco de cada com dosagens corretas e precisas.

NOTA: 8,5 - BOM

Veria de novo? Sim. 


*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagens retiradas de: https://reelrundown.com/animation/Animes-like-Parasyte-Kiseijuu
                                     https://giphy.com/gifs/DROOgdRWvLmQo

Comentários

  1. Esse é melhor anime que já vi na minha vida <3 (por enquanto rsrs)
    Gostei da sua crítica também , só faltou fala mais sobre a personagem Reiko Tamura que foi peça essencial para entender melhor os parasitas. A morte da Reiko foi a mais marcante na minha opinião, chorei 2 vezes nessa cena (sim, essa morte me marcou muito ;-;)

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    Respostas
    1. Acho ela uma personagem de certa forma complexa nesse universo, o arco dela foi um dos mais profundos, mas, apesar disso, minha preocupação era o bebê hahaha Com tantos aspectos pra analisar (considerando a riqueza de elementos psicológicos do anime) meio que acabo esquecendo no meio do processo de destrinchar sobre algum personagem, é normal acontecer isso porque se fosse pormenorizar tudo mesmo ia dar um textão quilométrico e muitas vezes não dá pra desenvolver todos os pontos numa mesma proporção pra cada um justamente pra evitar isso aí. Valeu pelo feedback e Parasyte já se encontra na minha lista de melhores seinens ;)

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