Capuz Vermelho #14: "É Guerra"
CAPÍTULO 14: É GUERRA
Estando, finalmente, de frente ao seu predador, Rosie reencontrou dentro de si a força e coragem que antes se mostrava adormecida pela confusão de não saber sua origem e não possuir memórias fixas. A bela levantava-se, mantendo seu olhar furioso para a fera macabra que aprontava seu bote. Partindo desta, ocorreu o primeiro avanço. A criatura - uma quimera que aparentemente era o único ser que habitava aquela floresta sem fim - partiu contra Rosie em uma investida feroz, ao pular contra a mesma. Ambos bolavam no solo. A jovem tentava, desesperadamente, se libertar daqueles peludos braços, se debatendo.
Em um instante, a besta, mantendo-se parada segurando os braços de Rosie, deixava surgir sua arcada dentária, onde as presas eram ordenadas verticalmente. Um rugido fora dado por ela contra Rosie, fazendo o rosto da garota sujar-se de saliva gosmenta. Com um chute no seu abdômen, Rosie conseguira afasta-la, mesmo que por poucos metros de distância. Ao se levantar, tentou procurar nas suas vestes algum objeto que usasse para atacar. Encontrara sua infalível e reluzente adaga, não tardando a avançar contra a quimera, com a intenção de perfurar seus olhos de mosca. A fera esquivava-se dos golpes na mesma velocidade com a qual corria.
- Droga, eu vou acabar com você, seu monstro asqueroso! - disse Rosie, tentando, ao máximo, cravar sua adaga em alguma parte do corpo da quimera.
Estava relutante quanto à pegar a lâmina superior, já que a rocha não aparentava ser escalável, não o suficiente para terminar a tarefa de modo mais rápido. Sem perder tempo, decidiu, então, confiar em si mesma, ao menos naquele instante. Dando um soco diretamente no centro da face da quimera, Rosie aproveitaria o momento em que a mesma caía para escalar a não-tão-alta rocha.
Escalando lentamente, a jovem olhava, de forma desesperada, tanto para a espada quanto para a criatura. Quando prestes a alcançar o topo, sentiu a pesada mão da quimera puxar sua perna direita. Rosie apenas teve como saída balançar sua perna freneticamente.
- Ora, me larga... Cai fora! - exclamava ela, querendo se libertar.
A insistência da criatura não lhe impedia de avançar, mesmo com suas unhas arranhando a rocha para conseguir tocar um único dedo na espada. Após muita luta e suor, a jovem chegara ao topo e pôs sua mão esquerda no cabo da lâmina. Uma luz amarelada emergiu do prateado da espada, ao mesmo tempo em que a mesma flutuava e descravava-se sozinha da enorme pedra. Com o cessar da luz, a arma "voou" em atração com a mão de Rosie, dando-lhe a chance para executar um golpe certeiro.
Segurando-a firmemente, Rosie virou seu enfurecido olhar para a quimera, que ainda persistia em derruba-la da rocha, e cortou-lhe a cabeça em um movimento preciso. Um denso jato de sangue contrastou com o predominante tom azul-esverdeado da floresta, enquanto o corpo sem vida da besta debatia-se ao passo em que caía da rocha.
Aproveitando a deixa, Rosie descera, em um pulo, para realizar o que o Guia havia lhe orientado. Sem piedade, abriu o tórax do corpo do monstro com a espada, a fim de lhe tirar o coração, onde estava a peça do talismã. Respingos de sangue em seu rosto durante o ato lhe passavam despercebidos. Abrindo com mais força com as duas mãos, a jovem logo retirou o órgão, ainda executando batimentos, mesmo que lentos.
A peça se encontrava próxima ao ventrículo esquerdo. Após tira-la, Rosie soltou o coração e ficou a olhar o fragmento do artefato. A voz do Guia ecoou na sua mente, parecendo vir de cima.
- Está de parabéns, Rosie.
- Hã? Guia? É você? - perguntara ela, olhando à sua volta para saber de onde vinha a voz.
- Sim. Você completou o primeiro desafio redescobrindo sua força de vontade e determinação. Está, aos poucos, reencontrando e remontando sua essência.
- Então... quer dizer que todo esse sentimento de fúria que manifestei fazia parte de mim? - perguntou Rosie, olhando para a lâmina superior ensanguentada.
- Evidente. Obedecer ao instinto é um de seus maiores talentos.
- Mas acontece que não sou uma arma. E-eu não sei... não sinto que fui destinada a matar. - disse ela, soltando a espada e se afastando.
- Você apenas mata para se defender. É assim que funciona. É assim que tem que ser. Os humanos devem recorrer à esta forma para, unicamente, conseguir um objetivo: sobreviver. Foi o que você obteve agora.
Refletindo por alguns segundos, Rosie respirara fundo, mas ainda não estava totalmente convencida acerca de seu verdadeiro instinto de sobrevivência.
- Tudo bem. Acho que aprendi algo sobre mim mesma. Agora só resta você me dizer onde fica a saída desse lugar.
- Esquerda. - orientou o Guia.
Seguindo por tal caminho, Rosie apressadamente corria, ávida para achar a saída daquele inferno disfarçado de floresta. Quando finalmente se encontrou no ponto em que deveria estar, deparou-se com um muro não muito alto, feito com tijolos comuns. Na parte central da estrutura, estava uma porta de madeira nova com uma maçaneta dourada.
- Esta é a parte mais sombria desta floresta, Tome cuidado. Estão observando-a... - disse o Guia, ainda oculto, deixando Rosie assustada.
- T-tem razão. Aqui é um pouco mais escuro, é como se estivesse anoitecendo aos poucos. - disse Rosie, analisando o aspecto do ambiente, deixando suas mãos abertas e caminhando lentamente.
- Veja à sua frente. Esta porta irá leva-la para o próximo desafio.
- Sim, estou vendo. Mas não sei se devo... Apesar de estar curiosa, algo me diz que...
- Ainda não confia em mim? Relutância não a tornará mais forte. Lembre-se que o resultado final desta prova não só beneficiará você, como também à todos de sua espécie. Portanto, siga em frente.
Sem saber o que iria encontrar, a jovem não teve outra escolha a não ser silenciar-se e abrir a porta. Ao fazê-lo, uma forte luz branca ficava mais forte, quanto mais abria-se a porta.
Rosie semi-cerrou os olhos, protegendo-os com uma mão, deixando a intensa claridade engoli-la para dentro de um novo e desconhecido mundo.
***
Paralelamente, Hector seguira a pé para a região onde Rosie e sua avó viviam, à vários quilômetros de Raizenbool. Não demonstrando nenhum sinal de cansaço, o caçador conferira o endereço olhando no papel, para se certificar de que veio ao destino pensado, já que somente pisou uma única vez lá.
- Bem, é aqui mesmo. - disse, guardando o papel em um bolso de seu sobretudo e olhando a fachada da casa.
Entrando na residência, olhando para todos os itens e detalhes, o caçador estranhou o absoluto silêncio. Andou a passos lentos pela sala, deixando a porta entreaberta.
- Senhora Campbell? Está aí? - chamava o rapaz pela avó de Rosie, afastando uma parte de seu liso cabelo que cobrira os olhos.
Verificou os quartos: nada encontrado. Nem mesmo na cozinha ou nos banheiros. Mexeu nas dispensas para encontrar o tal soro que Michael havia falado na noite anterior. O vidro já não estava mais contido. O último cômodo que faltava para ser visto era a sala de jantar. Mantendo sua visão detalhista, o caçador não demorou para avistar um bilhete dobrado na mesa.
Ao ler o que estava escrito, Hector ficara sem palavras.
"Hector, sei que se caso vier aqui já saberei que algo deu muito errado. Apenas quero lhe dizer que viajei para um lugar distante, onde ninguém possa me encontrar. Não perca seu tempo tentando me procurar, mesmo querendo me dizer algo muito importante. Mais uma coisa: Cuide de minha menina. Proteja-a com unhas e dentes de qualquer mal que puder interferir no caminho de vocês. O motivo de minha viagem é que estou sendo perseguida. Por favor, faça isso enquanto eu estiver longe. Continue fugindo com Rosie."
- Eu sinto muito, senhora Campbell. Mas eu falhei. - disse ele, amassando o papel.
Ao sair da casa, o caçador ignorara a mensagem, como se a mesma não possuísse urgência alguma. Apenas uma informação sem muita relevância. No entanto, tal desaparecimento repentino lhe intrigara durante todo o caminho. Estava se dirigindo à delegacia, objetivando um novo encontro com Robert Loub para reunir fatos sobre Mollock. Assim que chegou, viu faixas amarelas em todas as salas com os dizeres "Interditado. Por favor, não entre". Ouvira vozes exaltadas e viu flashs de fotografia na parede do corredor que levava para a sala do delegado.
A imprensa local estava tentando uma entrevista com o delegado. O mesmo apresentava um alto grau de nervosismo, não conseguindo responder direito nenhuma pergunta dos repórteres insistentes. Hector, curioso, aproximou-se de um policial que observava a cena e aproveitou para saber o que havia se passado.
- O que está havendo aqui, afinal? - perguntou, enfiando as mãos nos bolsos de baixo de seu sobretudo.
- Bem, presumo que, na verdade, queira saber o que houve aqui, certo?
- Err... Sim. Eu percebi que, nas salas, há vários rastros e manchas de sangue nas paredes, além de tudo estar revirado.
- Aconteceu uma chacina. - disse ele, quase aos sussurros. - Um genocídio total. Por sorte, eu não estava aqui no momento, mas pelo que me disseram, foi um massacre terrível, causado por.... pasme: Lobisomens. - dizia o policial, gesticulando e demonstrando estar aflito. - De início, pensaram ser uma típica rebelião de detentos, mas... antes que pudessem perceber, já estavam dilacerados e mortos, eu acho.
- Eu vim aqui para visitar Robert Loub novamente. O que houve com ele? Algum detento foi morto?
- Curiosamente, aqueles monstros iam libertando os presos das salas onde os outros colocaram para mante-los protegidos. Loub, obviamente, também foi solto. Apenas policiais fazem parte da contagem de vítimas fatais. Muitos estão, agora, no hospital, bastante feridos ou talvez até agonizando. Além disso, segundo o que me falaram, os monstros, os lobisomens, tinham um líder, ao que parecia.
- Líder é? - perguntou Hector, franzindo as sobrancelhas, intrigado. - Alguém te forneceu uma descrição? Se sim, como ele era?
- Sim, eu pedi que descrevessem, mas não julguei muito fiel, talvez por conta do desespero não tenham visualizado melhor. Mas disseram que era grande, forte, muito forte... e tinha um ar de imponência. Praticamente se sentindo um deus. - revelou o policial, fitando um canto qualquer da sala, parecendo imaginar a figura.
- Bem, só isso já me é suficiente, pelo menos à essa altura. Muito obrigado. - agradeceu Hector, em um aperto de mão.
- De nada, detetive.
Saindo da sala, Hector parou na metade do corredor ao ouvir uma importante transmissão de rádio, no aparelho que estava posto em uma pequena mesa. Um policial estava ao lado, sentado em uma cadeira, escutando a notícia.
"Há pouco tempo, o exército britânico teve conhecimento de mais uma atrocidade cometida pelos lobisomens que atacaram Londres na noite passada. Fontes altamente confiáveis constataram que as vítimas mais graves sofreram uma série de delírios e distúrbios. Isto antes de manifestarem mutações em seus corpos, logo se transformando em seres idênticos aos mencionados, antes mesmo de serem conduzidas aos hospitais locais. Temos a nova informação de que esta horda de lobisomens se mantém concentrada no museu de história de Londres, além de terem massacrado todos os visitantes que lá estavam na hora. Um deles, tendo quase o dobro do tamanho da maioria e sendo supostamente o líder, orquestrou a tomada do museu. Só nos resta saber se o exército tomará alguma providência para, quem sabe, iniciar uma ofensiva contra estes seres.
O general BuckHolt, em pronunciamento à uma entrevista, disse que está á um passo de declarar guerra à todos estes monstros que ceifaram muitas vidas. Curiosamente, na noite de ontem, pôde-se ver a 'lua de sangue', pouco tempo depois do eclipse lunar, e muitos associaram o fenômeno à este ataque. Sendo assim, a ocasião ficou conhecida como 'A noite dos demônios da lua'."
Toda a população de Londres, bem como das cidades vizinhas, se mantém alerta e em pânico, temendo que tal ocasião possa significar o prenúncio de algo com proporções apocalípticas. Brevemente voltaremos com novas informações."
- Hum. - o policial soltara um risadinha de deboche. - Acredita que isso tem a ver com "fim do mundo", "juízo final" e coisas assim? - perguntou à Hector.
- Bem, uma pessoa despreocupada diria que isto não passa de sensacionalismo. Mas... talvez realmente signifique algo maior... tendo em vista o que descobri e investiguei. - respondeu o caçador, sem olhar para o rosto do policial, porém, não o deixando tão curioso.
***
Na cabana, um choque de descobertas estava prestes a ser realizado. Lester, suando em demasia, deu a liberdade para Adam falar primeiro, achando que se sentiria menos nervoso se relatasse por último.
- Ótimo. Pode mandar a bomba. - levantou levemente seu braço direito, em um gesto para permitir Adam a falar.
- Primeiramente, Alexia veio até nós à cavalo, depois de sair escondida de Rufus daqui. Quando ela nos encontrou em Londres, disse que havia tido uma visão. Quando mencionou Rosie, nós logo nos preocupamos, e então fomos até o templo impedir que uma tragédia acontecesse. - Adam deu um suspiro pesado antes de prosseguir, tentando encontrar um modo menos difícil de relatar aquilo - Não tínhamos ideia do que estava ocorrendo por lá. Quando chegamos, muito tarde por sinal, não encontramos absolutamente nada estranho. Nada de rastros, nem marcas... Nem Rosie e nem Hector estavam lá, haviam sumido misteriosamente. Foi então que... algo surreal aconteceu. Alexia foi... possuída, sei lá, por Abamanu, como se ele usasse a mente dela para se comunicar conosco. Nos revelou que Rosie foi mandada para uma terra distante... e nossas suspeitas indicam que talvez tenha sido para alguma espécie de dimensão paralela. Além disso, sua memória foi apagada.
Lester logo exibia seu desespero ligado à sua instantânea surpresa ao ouvir tais palavras.
- Bem, é a sua vez. - pediu Êmina, em tom impaciente, com as mãos na cintura.
Engolindo em seco a revelação, sem pensar em expressar as dúvidas que brotavam, o caçador olhou para o chão, mas tentando organizar as palavras para explicar o que havia visto.
- E-eu... Enfim, vou ser bem direto. Em um dos esconderijos dos caçadores de aluguel, eu vi, muitos deles feridos, se transformarem. - disse, com um olhar estático, gesticulando em uma estranha "mímica". - Sim, é exatamente isto que quero dizer: Nossos colegas de profissão se transformaram em licantropos. Aquelas bestas possuem uma mordida contagiosa. Como uma espécie de vírus.
- Não pode ser. Maldito Loub! - reclamou Adam, socando a mesa.
- Que horror. - lamentou Alexia, pondo uma mão em seu queixo. - M-mas... Vocês estão nesta estrada há muito tempo, certo? Conhecem algum antídoto?
Êmina se prestou a responder a árdua questão.
- Não, Alexia, infelizmente não há uma cura para a licantropia. Durante gerações, a Legião buscava, não importando em qual lugar ou qual ciência, alguma luz no fim do túnel para erradicar a maldição. E neste caso, é ainda mais impossível, pois são licantropos criados em laboratório. Talvez somente Loub saiba o antídoto, e nem podemos ir até à cadeia e obriga-lo a falar.
- Outra notícia, pessoal. - alertou Lester. - Sobre o Loub. Err... houve um ataque, uma invasão de licantropos na delegacia na qual ele estava preso. Eu estava ouvindo no rádio do esconderijo, disseram que mais de 40 policiais foram mortos. Contudo, muitos dos presos foram libertados, e não houve mais notícias de nenhum deles, para onde os licantropos os levaram, nem nada.
- Minha teoria é de que Loub avisou previamente o seu exército, para assim libertá-lo, e além disso angariar mais soldados, o que explica a utilização dos presos, se pensarmos que os licantropos que que invadiram a delegacia fazem parte do mesmo exército que atacou Londres. Logo, os de nível 3. O que também explica o fato das balas de prata terem surtido efeito temporário. - especulou Adam.
- Boa teoria. Agora você falou que nem o Hector. - comentou Êmina, em tom de brincadeira.
- Por falar nele... Onde ele está? - perguntou Lester.
- Já deveria estar aqui conosco. Eu não entendo porque ele ainda não veio nos procurar. - preocupou-se Adam, numa expressão angustiante.
- E se ele tiver sido também levado junto com Rosie? - teorizou Alexia, tentando se tornar o mais pertencente possível à discussão.
- É... pode até ser que sim... Mas você... quero dizer, Abamanu não havia mencionado Hector ou feito uma referência à ele. - esclareceu Adam.
- Talvez porque, obviamente, o alvo principal é Rosie. - replicou Êmina. - Sabe-se lá quais são os verdadeiros planos desse deus. Rosie pode até acabar morrendo no final se não agirmos, levando em consideração que ela era vista como o sacrifício.
- Uma objeção: Rosie era vista como sacrifício apenas pelos Red Wolfs. Não há nada, nem mesmo no livro, que comprove que Abamanu necessitava disso. Até porque, na minha visão, não acredito que Abamanu valorizava seus seguidores humanos, nem as regras deles. - opinou Adam, em claro conflito com a ótica de sua companheira.
- Bem, você pode ter razão... mas ainda precisamos confirmar isso melhor. Não adianta elaborar milhares de teorias e não sair do lugar. - disse a caçadora, descruzando seus braços, cansada estar tagarelando.
Alexia interferira novamente, empolgada.
- Lembrem-se de que sei quem pode oferecer ajuda. - disse a vidente, se aproximando vagarosamente da "roda de conversa". - Podemos procura-lo hoje mesmo. Conheço Charlie como ninguém. Ele ainda deve morar no mesmo lugar, desde os tempos do ensino médio. Resumindo bem, eu diria que ele é a nossa única esperança, se quisermos evitar que uma verdadeira tragédia aconteça com Rosie.
- Espera aí, quem é Charlie? - perguntou Lester, desentendido.
- Ele é um antigo colega dos tempos da escola. Estudamos juntos desde o primeiro grau. A cidade onde ele vive não é muito longe. É um vilarejo não muito populoso. Charlie mal saía de casa, sempre se trancava dentro de algum quarto ou sala para estudar Física, ele não interagia com praticamente ninguém. Era engraçado o modo como ele tentava me explicar aquelas fórmulas medonhas que eu nunca assimilei. - contou a vidente sorrindo, relembrando, com uma saudade confortante, eventos de um passado áureo. - No entanto, minha maneira de enxerga-lo mudou completamente um dia antes da prova mais importante para ele. Como àquela altura já estávamos bem mais íntimos, ele decidiu me confidenciar um segredo.
Um repentino estalo de curiosidade se deu nas mentes que acompanhavam, atentos, a história de amizade entre físico e a vidente. Todos elevaram seus olhares, apreensivos para saber o que era.
- Alexia, o que exatamente ele estudava sobre Física? - perguntou Adam, intrigado, esperando obter uma revelação concisa.
- Bem, pelo que me lembro, eram as principais ideias sobre viagens no tempo e ruptura do espaço-tempo. Mas lembro, bem menos vagamente, que o conteúdo que ele mais via era a chamada Teoria das Cordas.
- A teoria que diz que há uma certa quantidade de universos alternativos ao nosso!? Caramba... acho que agora as coisas se encaixam mais. - disse Êmina, ficando um pouco pensativa a respeito de tal coisa.
- Tudo isso me leva a dizer que o que ele me revelou foi que... Ele, na verdade, é um Mago do Tempo. Uma Ordem de conhecedores daquilo que o homem não entende. Aliás, ele é parte da última geração. Lembro de ele ter me dito que raramente um grande número de Magos do Tempo sobrevivia, pois eram constantemente alvos de seres de outro mundo. O que restava, o que conseguisse sobreviver ao massacre ou estivesse prestes a morrer, teria a obrigação de transferir esse conhecimento para alguém de sua confiança, e, após isto, este seria encarregado de fundar a nova Ordem dos Magos do Tempo depois de vinte anos. - Alexia suspirou profundamente, pensando o quão surpreendente aquilo lhe fora na época. - Ele nunca quis me contar sobre os massacres ou o porque deles ocorrerem. Perdeu muitos amigos. Eu nem sei como se manteve vivo por tanto tempo. E também não sei se ele ainda pratica suas habilidades, por isso vamos contar com a sorte para que ele esteja disposto ao invés de rendido.
- Torçamos para que sim. - disse Adam, esperançoso. - Agora fiquei curioso. Sabe algo mais em relação à esses Magos do Tempo?
- Eu já disse tudo o que sei. Quando estivermos lá, Charlie vai nos contar tudo em detalhes. - garantiu Alexia, se afastando um pouco. - Eu era a pessoa mais confiável que já esteve ao lado dele. - ressaltou, um tanto cabisbaixa.
Surpreendendo aos presentes, Rufus entrou na sala trazendo uma bandeja com xícaras, cujo líquido contido exalava um delicioso aroma.
- Ahn... Rufus!? - Adam se assustara com a repentina aparição do homem. - Mas você estava aqui na sala... Como você...
- Ah, não fiquem tão espantados. Estavam tão distraídos conversando, que aproveitei para fazer um chocolate quente para vocês. - disse Rufus sorridente, exibindo a bandeja.
- Nossa, quanta gentileza. - disse Alexia pegando uma xícara, com um espanto estranho, que se mostrava com um sorriso irônico. - Está aprendendo direitinho. - disse ela, mexendo o líquido com a colher.
- Isso que eu chamo de saída sorrateira e imperceptível. - disse Adam sendo servido por Rufus, quase aos risos.
- E rapidez. - complementou Êmina, também pegando uma xícara com cuidado.
Rufus ficou a pensar, satisfeito de si mesmo.
- Hehehe, a madame certamente notou minha mudança. E usando meus talentos culinários, todos com certeza passarão a gostar mais de mim. Chega de Rufus carrancudo. - afirmou para si mesmo, convencido e acariciando uma parte de seu bigode com o polegar e o indicador.
- Então estamos decididos. Iremos à noite. - disse Adam.
- Sim. Deixemos o Exército cuidar dos licantropos. - acrescentou Lester, logo pondo mais cubos de açúcar em seu chocolate.
***
Minutos posteriores ao cair da noite, Mollock, em seu novo aposento, entediara-se sentado em um enorme trono de mármore, sem muitos atrativos, localizado na altíssima parede de uma sala cinzenta, onde jaziam objetos e outras quinquilharias que não despertavam interesse do líder. Ansiava por um entretenimento digno para lhe fornecer a joia mais preciosa que ele encontraria naquele famigerado museu: o conhecimento. Impaciente e irritado, inclinou-se para frente, erguendo a cabeça logo movendo-a de um lado para o outro, como uma espécie de exercício para o pescoço. Ainda não estava suficientemente calmo.
- O senhor está bem, mestre? - perguntou um de seus asseclas, aproximando-se.
- Eu não ofereço aquilo que merecem apenas para ficarem perambulando por aí. - disse, em tom grave, "girando" seu ombro esquerdo. - Vamos! Tragam-me o que quero.
- M-mas, mestre, o senhor não nos dá nada em troca...
- Ainda não! - esbravejou, encerrando seus alongamentos. - Irão me agradecer quando tiverem, não sejam tão apressados. Agora tragam-me todas as fontes que necessito.
- Como o quê, por exemplo, mestre? - perguntou um deles.
- Livros, enciclopédias, mapas, artefatos. Tudo o que há nesse museu agora me pertence. Preciso expandir minhas ideias e minhas visões, se querem que este rei lhes dê um reino próspero.
- Sim, nós já iremos buscar. - disse um soldado, correndo para a porta da sala.
- E vocês, vão até os demais e avisem para se armarem. Há uma ala especial onde estão armazenadas as melhores e mais letais armas já usadas pelos antigos homo sapiens.
- Como o senhor descobriu isso? - perguntou um soldado mais próximo.
- Acima de uma parede, no fim do primeiro corredor, há um mapa de todo o museu, protegido com uma vidraça. Devem ser alertados... Nunca se sabe quando exércitos inimigos iniciam um ataque. - disse Mollock, acomodando-se novamente no trono.
- Proteções corporais também seriam úteis, sugiro.
- Armaduras, você quer dizer. Não se preocupem com defesas. muito além de seus corpos, suas coragens são à prova de balas. - afirmou, balançando uma mão que gesticulava um aviso para despreocupação.
- Armas humanas não são eficazes contra nós? Como isso pode ser possível?
- É uma longa história, e tem a ver com meu nobre pai. A propósito, como ele está? - perguntou, direcionando seu olhar penetrante para o soldado ao seu lado.
- Verifiquei a sala duas vezes, meu mestre. A jaula está intacta. Não demonstrou nenhum sinal de agressividade, na realidade manteve-se quieto por boa parte do tempo. Sempre encolhido, parado. Não perguntei se estava com fome, pois sabia que não ia responder. - revelou o assecla, deixando Mollock desnorteado.
- Oh... - suspirou cerrando os olhos. - É uma pena. Parece que eu mesmo terei de ir lá para motiva-lo e apresentar minhas ideias.
- Que ideias, senhor?
- Hum. - riu de modo rápido e misterioso. - Você acha que eu o deixaria fora desta guerra? Não. Ela envolve a todos que possam estar de alguma forma ligados à mim. E eu sinto... sinto, do fundo do meu coração que palpita agressivamente, que ainda há indivíduos que, embora eu não conheça, querem intervir nos meus planos.
- E como lida com essa sensação?
Mollock deu novamente sua risada pequena e rápida.
- Eu nunca temo meus inimigos invisíveis quando já presumo que sejam fracos. Portanto... eu diria que é como celebrar a vitória bebendo vários cálices de sangue e devorando diversos tipos de carne. E tenho a leve impressão de que um vasto banquete se aproxima.
***
Croydon, ao sul de Londres, Inglaterra; 9 horas antes.
Hector se enfiara rapidamente em uma cabine telefônica, não só para escapar do escaldante sol daquela manhã, mas para, urgentemente, telefonar para um de seus velhos amigos. Enquanto teclava de modo apressado, o caçador fixara na mente as informações obtidas, mas algo permanecia ainda mais preso. As paredes das salas da delegacia manchadas, quase que inteiramente, de sangue.
Levou o fone ao ouvido e finalmente pôde escutar a voz do outro lado. Era um dos estudiosos da conspiração, com quem a Legião dos Caçadores fizera aliança tempos atrás.
- Alô?
- James? - perguntou Hector, desconfiado. - Sou eu, Hector. Da Legião.
- Ahn... Ah sim, estou lembrado de você! Há quanto tempo, não é mesmo?
- Pois é... Eu liguei para pedir um favor. Urgente. - a voz do jovem caçador abaixava de tom gradualmente.
- E sobre o que é exatamente?
- Você ainda mantém os arquivos referentes aos Red Wolfs na biblioteca de seu avô? - perguntou Hector, olhando para o lado de fora da cabine, onde várias pessoas movimentavam-se, indo e voltando.
- Bom... sim, ainda estão lá, eu acho. Para quê precisa? Eles voltaram a ativa?
- Ainda não, mas temo que muito em breve eles vão ressurgir, e depois de tudo o que aconteceu, acredito que muitas coisas podem mudar... para pior. - disse ele, deixando gotículas de suor aparecerem em sua testa. - Você, um dia, nos revelou que a cada geração os Red Wolfs mudam de lugar secreto. Ainda confirma isso?
- Sim, não retiro uma vírgula do que eu disse a você e aos outros naquele dia. O lugar muda, mas a única coisa que permanece, sempre no centro, é a estátua. Geralmente optam por lugares com salas secretas e não utilizadas, porém, demoram bastante para encontrarem um local fixo. O mesmo ocorreu á geração anterior, somente depois de cinco anos é que decidiram se reunir naquele templo abandonado. A propósito, como estão Êmina, Adam e Lester? Estão bem?
- Eu... eu não sei. Algo aconteceu para que eu me separasse deles, e desde então eu não tenho mais visto-os. Mas diga-me: Em qual cofre estão estes arquivos? - perguntou, já querendo sair daquele lugar apertado.
- Seja mais específico. São tantos.
- Os que listam os prováveis lugares para onde os Red Wolfs transferem suas reuniões.
- Ah sim. Ficam no cofre 8B/995. A combinação é: 12051899, a data de aniversário do meu avô.
- Tudo bem. Já memorizei. Obrigado James, foi a primeira pessoa que pensei ser ideal para me ajudar. Espero um dia retribuir. - disse o caçador, com firmeza na voz.
- De nada, rapaz. Sempre que precisar de mim, estarei disposto. Boa sorte com a investigação. E o mais importante: Tome muito cuidado. Reafirmo: São homens perigosos e inescrupulosos, esteja sempre alerta. - orientou James, adquirindo um tom sério na fala.
- Pode deixar. Não tenho medo de nenhum deles. Até mais. - disse Hector, encerrando a conversa.
Dirigindo-se ao local mencionado, o caçador pôde entrar como um visitante comum. Nunca havia conhecido a família do pesquisador. Os cofres estavam em uma sala extremamente secreta, que outrora havia sido revelada aos caçadores por James, mas as senhas jamais foram ditas. Furtivamente, entrara na sala, já sacando o estetoscópio. Pondo o aparelho na porta do cofre e ao mesmo tempo girando a tranca, o jovem se viu apreensivo, como se sentisse numa corrida contra o tempo.
Conseguira obter o que queria. Dentre as inúmeras pastas que continham uma amontoado de papeis, estava o arquivo desejado, em apenas uma folha. Se agachou e leu atentamente até que se deparou com os locais listados.
- Porões ou salas secretas/vazias de bares, restaurantes nobres, universidades, colégios, museus de arte, igrejas, templos de religiões diversas... e bordéis. - a última palavra soou como flash de luz atravessando sua mente.
O caçador se levantara lentamente, mantendo o papel na mão, pensando na possibilidade.
- O bordel de Darkville. - disse a si mesmo.
***
Caminhando pela calada da noite na rua onde se localizava o estabelecimento, Hector sentira um imenso frio no abdômen, que desejava não evoluir para um embrulho no estômago. Logo quando abriu uma das portas, deparou-se com um bar, onde se encontravam várias mulheres semi-nuas e alguns homens ricos e despreocupados, gastando dinheiro com bebedeiras e fantasias libidinosas. Passando por muitas mesas e observando os ânimos agitados do local, Hector se sentia constrangido e nervoso ao mesmo tempo, ávido para encontrar de uma vez a tal sala.
Inesperadamente, se viu tropeçando em algo grande... muito grande. O caçador bolou no chão por duas vezes, derrubando mesas e cadeiras. Havia esbarrado suas pernas em um casal, no auge de um coito no chão.
- Ei, seu idiota, não olha por onde anda? Quem você pensa que é? - reclamou a mulher, se levantando com pressa e encarando Hector com raiva.
- Não, pode deixar, vou dar uma lição nesse monte de lixo agora mesmo! - disse o homem, arregaçando as mangas de sua camisa e cerrando os punhos em seguida.
- Espere, por favor! Me desculpem. - tentou amenizar a situação, sem reparar nas partes íntimas quase expostas do casal. - Não fiz por mal. Não quis atrapalhar. Err... Podem voltar ao que estavam fazendo... - disse Hector, quase erguendo as mãos, pedindo para se acalmarem.
O caçador logo correu, sem hesitação, para um ponto mais movimentado do pequeno bar do local, e se misturou entre os visitantes até desembocar em um corredor onde levava para os quartos.
O corredor possuía paredes de uma vermelho bastante vivo. Havia um porta detrás dele, a primeira que vira, bem mal-cuidada, cuja maçaneta estava enferrujada. Acima da porta, estava um papel colado com fita adesiva, cujas palavras diziam: "Siga a luz vermelha". Uma seta desenhada e apontada para baixo podia-se ver abaixo da frase.
- Bem, acho que encontrei. - pensou, ligando a tal frase com o motivo dos Red Wolfs usarem mantos vermelhos.
Abriu a porta e se viu em um novo corredor, desta vez todo pintado em um azul meio triste, quase beirando à cinza. A tal sala secreta estava localizada bem mais à frente, em uma enorme porta dupla, no fim do corredor. Ao se aproximar vagarosamente, pequenos sons de um sussurro foram gradativamente aumentando, à medida que o caçador abria uma metade da porta, sem ranger.
Viu a figura de uma mulher, parada e escondida em um muro, com o braço esquerdo esticado, onde a mesma fazia o símbolo de mano cornuto apontado para um dos Red Wolfs, que mal percebia ser o alvo.
A escuridão não permitiu ao caçador ver a face da mulher logo ao entrar, mas escutava palavras estranhas, que nunca ouvira antes.
- Arza Metriot Caballis Enok Vo Tou, Et Mannof ga shi Telllonu's Hannuh... - dizia a mulher, em sussurros.
Hector pôs uma mão em seu ombro esquerdo para chamar sua atenção, assustando-a de imediato, fazendo-a interromper seu afazer.
- O quê? Quem está aí? Quem é você? - perguntava ela, em tom baixíssimo.
- Eu que pergunto. Quem é você? - o caçador tentava ver o rosto da moça, completamente ocultado pela escuridão.
A mulher logo ignorou a presença de Hector ao avistar a figura de um Red Wolf saindo de uma porta do longo corredor, supostamente vindo do banheiro.
- Sai da frente, é a minha chance. - disse ela, mantendo o baixo tom de voz e sacando um facão.
Correra em direção ao homem em velocidade máxima, na tentativa de pega-lo desprevenido, enquanto o mesmo calmamente fechava a porta do toalete. Hector seguira a mulher, tentando alcança-la e impedi-la de usar a arma.
Logo reconheceu-a quando viu a cor do cabelo e o vestido... aquela que tanto achou ser misteriosa.
Eleonor. Empunhando a arma tentou decapitar o Red Wolf. No entanto, sua tentativa falhara, quando o mesmo apresentou uma pequena espada, tirada da manga de sua mortalha.
As armas se colidiram, rapidamente faiscando.
- Achou mesmo que conseguiria? - perguntou ele, não deixando seu rosto à mostra.
- Eleonor!? - chamou Hector, parando de correr.
A moça se virara e logo se surpreendera, arregalando seus olhos quando eles vieram de encontro ao de Hector.
- Hector!? O que faz aqui?
- Um caçador e uma bruxa!? Inaceitável! - exclamou o homem, preparando sua espada para atacar Eleonor por atrás.
- Eleonor, cuidado! - alertou Hector.
Virando-se novamente para o Red Wolf, a moça largou o facão e agindo rapidamente, antes que a lâmina da espada alcançasse seu corpo, fez um triângulo com as mãos e ditou palavras ainda mais estranhas.
- Haugmeria Let'omin raz me Dat Berzon! - exclamou, paralisando o homem, que deixou cair sua arma no chão ao ouvir tais palavras.
O Red Wolf logo caíra, tossindo intensamente até perceber gotas de sangue em sua mão. Uma outra crise de tosse inexplicável e já estava vomitando grotescamente uma boa quantidade de sangue, junto com insetos mortos, dentre eles estavam baratas, besouros e até vermes.
Jazia morto logo quando parou de tossir. Eleonor verificou se de fato estava morto ao levantar o capuz do homem. Revelou uma face altamente pálida, com os olhos totalmente brancos e as órbitas inchadas e sua boca suja e torta.
- Não parece ser realmente um deles. - constatou ela, para sua surpresa, analisando a aparência do sujeito.
Ela olhou novamente para Hector, imediatamente deduzindo o significado de sua expressão irrequieta.
- Conheço esta cara. Quer explicações. - disse, desinclinando seu corpo.
- E-eu... nem sei o que dizer... Como pôde esconder isso de mim? - perguntou o caçador, meio desapontado.
- É uma longa história. Quanto à este homem... - virou seu rosto novamente para o "Red Wolf" caído. - Foi uma jogada bem esperta por parte deles.
- O que quer dizer?
- Hum. - ela deu uma risadinha seguida de um sorriso de canto de boca. - Obviamente, esta não é a sua única pergunta. Mas sendo direta, nós acabamos invadindo um falso local secreto para os Red Wolfs. Quero dizer, que isto aqui não passa de uma distração para qualquer inimigo que possa se infiltrar nos prováveis lugares de cultos. Os Red Wolfs que tentei matar naquela hora não passam de farsantes, inclusive este.
- Inacreditável. - Hector pôs uma mão no queixo, estupefato. - Então significa que qualquer caçador ou bruxa que tenha conhecimento de tais lugares podem ser enganados e acabarem sendo mortos.
- Exato. Mas sinto-me mal... acabei matando um homem. Jamais fiz algo assim.
- Era um assassino, contratado pelos Red Wolfs atuais, os herdeiros da geração anterior, você fez a coisa certa. Estão agindo mais rápido do que pensei. - disse Hector, com certo fervor no seu tom de voz. - Então, partindo dessa descoberta, só posso especular que, nos lugares listados, há também falsos grupos. Tudo parte de um plano para driblar ou atrasar qualquer ofensiva de um inimigo conhecido, estou certo?
- Sim, exatamente. Mas a pergunta que não quer calar: Como conseguiu chegar até aqui? - perguntou Eleonor, cruzando os braços.
- Para mim a pergunta que não quer calar é: Onde se encontram os verdadeiros Red Wolfs? - replicou Hector, deixando diminuir ainda mais sua confiança na moça.
Eleonor suspirara de leve, afastando uma mecha de seu cabelo.
- Olha, eu sempre soube que os caçadores tinham bastante conhecimento das artimanhas dos Red Wolfs, mas nunca vi um chegar à este ponto. Portanto, eu peço que me responda primeiro.
- Ótimo, já que insiste... Eu tive acesso a um banco de arquivos, cujo lugar não posso revelar à você. Lá eu consegui uma folha, onde constavam os locais mais suscetíveis para a ocorrência de cultos dos Red Wolfs. Sendo assim, conferi este aqui primeiro.- contou Hector, com ar de relutância.
- E por que não contar para mim onde o achou? - perguntou Eleonor, desafiadora. - Por que sou uma bruxa?
Hector ficara imóvel após ser bombardeado por tal pergunta, movimentando apenas as pupilas para direções aleatórias do chão.
- Me desculpe... Eu não me expressei corretamente...
- Não, não, tudo bem. Compreendo seu preconceito. Mas não vou fazer drama, bancando a feiticeira oprimida. Afinal de contas, não quero desperdiça-lo. - disse Eleonor, com um olhar intrigante.
- O que quer? Uma aliança? - presumiu o caçador, semi-cerrando os olhos.
- Ela já se concretizou. Além disso, me sinto obrigada a contar alguns fatos para você. Afinal, não podemos firmar uma aliança deixando segredos guardados. Vamos, precisamos sair daqui. - disse ela, direcionando-se à saída, de modo a atraí-lo.
***
À frente da casa do futuro aliado, o quarteto se mantinha confiante perante à possibilidade de se saírem bem com toda a ajuda e o apoio oferecido por ele. A residência, localizada em um grande vilarejo de classe média, mas precisamente em uma vizinhança relativamente calma, apresentava uma aparência simples, nada muito sofisticado ou chamativo, com dois andares, sendo visível no segundo duas janelas largas e quadradas. Uma lamparina de luz alaranjada se fazia presente acima do pequeno teto que era sustentado por duas colunas grossas de concreto, na entrada.
Alexia tomou a liberdade de tocar a campainha, demonstrando certa empolgação, afinal estava prestes a reencontrar um velho amigo e companheiro.
Virou-se para Adam, Lester e Êmina, transmitindo-lhes expectativa.
- Bem, pessoal. Preparem-se para conhecer um verdadeiro gênio.
CONTINUA...
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