Contos do Corvo #6


A menina surgira repentinamente na frente do corvo, assustando-o de forma abrupta, quase o fazendo cair da lápide na qual estava em cima. A mesma pôs as mãos na cintura, com uma expressão séria.

- Não pode chegar assim tão rápido. Quer que eu infarte, é? - reclamou a ave.

- Desculpe. Estou procurando o senhor coveiro.

- Ué, não sabe o nome dele? - indagou o corvo, um pouco surpreso.

- Você sabe? - perguntou ela, curiosa.

- Ahn... não. Mas sei de outra coisa melhor que isso.

- O que é?

- Uma história. - afirmou o corvo, inclinando-se para frente.

- Já era de se esperar. - disse a menina, virando seu rosto para o lado, demonstrando tédio.

- O que foi? Você sempre recebe de bom grado as minhas histórias.

- Não é isso, eu gostei bastante da que você contou semana passada... É que sem o senhor coveiro aqui, fica meio... vazio.

- Vou preencher esse vazio... Afinal, ele não faz muita falta pra mim. Ouça bem: É a história de uma mulher... que teve um amizade para lá de estranha... e sinistra.

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                                                                   O BESOURO QUE AMEI

Kate morava no Illinois, EUA, e trabalhava em uma floricultura, o único emprego com o qual ela verdadeiramente havia se identificado, após anos de indecisão. Era essencialmente bela, tinhas cabelos negros e longos e sua pele era tão alva que todos achavam que ela estaria morta, tamanha era a palidez. Nos fins de semana, quando não havia trabalho a fazer, se dedicava a cuidar de seu magnífico e invejável jardim.

Certo dia, em um sábado especificamente, Kate verificou o estado das tulipas que tanto apreciava. Sua primeira surpresa desagradável foi encarada ao observar o imenso jardim. Uma vasta infestação de insetos ocorria naquele instante, para sua infelicidade repentina. Todos eles voavam para múltiplas direções, uma diversidade de zumbidos diferentes, um espetáculo que soava tão assustador quanto belo.

Tentando se proteger da invasão, pôs seu chapéu de palha na cabeça e foi direto à sua flor mais predileta. A única que não fora totalmente trucidada pelos asquerosos. Porém, havia um deles dentro da tal flor. Ela olhou com um horror repentino, mas logo esta sensação foi suavizando-se, evoluindo para uma calma, ignorando o que ocorria no restante do jardim.

Era um besouro, aparentemente acariciando as pétalas com suas patas. Kate, gentilmente, o pegou, sentindo algo que nunca tivera antes: uma certa afeição por um inseto. Seres que ela julgava inferiores e nojentos, que só serviam para infernizar a vida das pessoas, que não tinham utilidade alguma a não ser serem bases da cadeia alimentar. Sua visão mudara a partir daquele instante. O pequeno besouro simpatizara com sua delicadeza, andando pela palma de sua mão sem feri-la.

A espécie do tal inseto não era relevante, mesmo o reconhecendo pela sua grossa couraça de um preto brilhante. Enquanto carregara-o para sua casa, Kate chorava de emoção, ao ver o inocente inseto, quieto como um bicho de estimação bem adestrado, parecer ter gostado de sua companhia. Um novo amigo? Talvez.

Sentia parte de sua vida mudar. O besouro sempre a acordava, todas as manhãs. com seu zumbido alto, fazendo-a substituir seu velho e desgastado despertador. Passara a se sentir menos solitária na companhia do inseto. Tanto no trabalho quanto na sua vida social, que não era lá grande coisa. Sempre estando no seu ombro direito, o besouro chamava atenção de boa parte da vizinhança. Os olhares de repulsa e nojo sequer afetavam a confiança que Kate alimentara pelo pobre inseto. A moça irradiava com um sorriso em qualquer lugar que passasse, ao lado de seu amigo.

Um mês se passou. A qualidade no trabalho de Kate caíra drasticamente, o que resultou numa demissão conturbada. Passara dias sem sair de casa, apenas vendo TV ou dormindo ao lado de seu besouro. Nem mesmo ao jardim dava mais atenção. Quando amigas ligavam para saber de seu estado, ela, nas maioria das vezes, dizia estar ao lado de seu namorado, e que não podia ficar ao telefone por muito tempo.

Dia, tarde e noite divertindo-se com aquele besouro. Os vizinhos a chamavam de louca sempre que ela saía de casa conversando com o inseto, tal como estivesse interagindo com um ser humano. Sua aparência mostrava-se cada vez mais esquelética e pálida, com as profundas órbitas dos olhos denotando olheiras.

Ela desabafa seus temores e tudo de maligno que ela passou em tempos passados, e sentia-se confortável, mesmo não recebendo nenhuma resposta de seu ouvinte.

- Sabe... às vezes, eu me imagino encontrando uma lâmpada mágica e desejando ao gênio que você se tornasse mais... humano. - dizia ela, enquanto estava sentada no banco da praça, em uma tarde extremamente cinzenta e fria.

Quais seriam os outros dois desejos? Não havia mais além daquele.

Cinco meses se passaram. Kate já não era mais a mesma mulher forte e determinada de antes. Deprimida, ela chorava todas as noites, desejando que o amado realmente a amasse... como um homem. Já não aguentava mais falar sozinha e resistir aos olhares preconceituosos da sociedade.

Em uma noite, acordara sentindo como se não tivesse dormido nada. Nem mesmo levantou, apenas ficou parada, sentada na cama, quando se deparou com uma estranha imagem... sendo iluminado pela luz da lua através da janela. O ser apresentava asas brilhantes, patas enormes... típicas de um inseto.

Kate, assustada, acompanhava o escalar do ser na parede até chegar ao teto... e, por fim, se aproximar de seu rosto. Apenas dava para ver uma coisa escura ocupando certo espaço.

Kate percebeu, na mesinha ao seu lado onde ficava o abajur, um jornal meio velho - estava atrasada quanto às notícias. Lera a manchete da primeira página, forçando a visão. Nela dizia:

"Acidente com líquido tóxico e radioativo, no Centro de Pesquisas Municipal, infecta milhares de espécies de insetos, no Illinois." 

A notícia datava de sete meses. Kate ficara seriamente horrorizada. Foi, lentamente, virando seu rosto aterrorizado para o ser à sua frente, que a encarava.

Aproximando seu rosto ainda mais ao de Kate, deixando grossos pelos encostarem na face dela e com suas patas estralando no teto, a coisa finalmente disse algo, fazendo-a reconhece-lo de repente.

- Obrigado... por ter me alimentado... Mamãe.


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