Contos do Corvo #5
- Estavam sumidos hein? - perguntou o corvo para o coveiro e a menina que se aproximavam em direções distintas.
- Vê se não enche! - reclamou o coveiro, de modo ríspido. - Só estou de passagem. - esclareceu empunhando sua "companheira" enxada.
- Eu estava meio ocupada com a escola. - contou a menina, chutando o gramado. - Enfim, tem alguma história para hoje? - empolgou-se, direcionando um olhar estranhamente alegre para o corvo.
- Sim e não. - respondeu, enigmático.
- Como assim? - confundiu-se a menina, franzindo as sobrancelhas.
- Na realidade, é meio que uma mistura de aventura e reflexão.
- Ou seja, mais uma mentira. - implicou o coveiro, verificando a hora no seu relógio.
- Aí, ô velhote. Se não está afim de ouvir, dá o fora daqui. - replicou o corvo. - Não é tão longa quanto as outras, hoje é seu dia de sorte.
- Hum... espero que seja rápido. Desembucha. - pediu, cravando a enxada no solo.
- Bem... foi há alguns anos, não faz tanto tempo assim. Eu tinha feito um amigo inesquecível...
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O GÓTICO
Passando por cada penumbra, em qualquer mansão ou prédio abandonado, lá estava ele... vestindo um sobretudo de um preto tão vivo quanto a obscuridade proporcionada pela noite.
Nos conhecemos em uma árvore bastante alta e seca. Ele foi uma das poucas pessoas que tomaram conhecimento de minha habilidade. Apenas duas horas bastaram para nos tornarmos amigos.
Me ditou uma enciclopédia sobre ele: Seus medos, pavores, amores, dores... absolutamente tudo. Seu único amor durante toda a vida foi a noite. Se sentia mais vivo quando ela chegava.
Comigo em seu ombro, percorria diversas altitudes, em meio às gárgulas, estátuas e pilares. Eu sentia uma tristeza em seus olhos. Perguntava o porque. Mas ele apenas respondia que fazia parte dele. Isto após muitas experiências marcantes. Tão marcantes quanto uma lâmina passeando pelo seu pescoço.
Posso não ter visto as cicatrizes de seu corpo, mas as da alma... hum, eram bem mais nítidas.
Ele não tentava fugir do passado assombroso, mas sim dos monstros que o perseguiam toda noite. Cada sombra representava um deles. Foram tantos pulos, saltos e escapadas que perdi a conta.
No mais, tínhamos tudo em comum, principalmente no modo de ver o mundo. Enxergamos a podridão que tomou conta desta terra.
Jamais irei esquece-lo. Pode-se dizer que foi o único melhor amigo que tive. Pois compartilhávamos algo que nunca nos abandonou...
A escuridão.
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