Crítica - O Terceiro Olho 2


A clássica frase "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena" nunca fez tanto sentido.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

O trash de terror indonésio sobre possessões espirituais e manifestações fantasmagóricas estrelado pela belezinha da Jessica Mila no papel da protagonista Alia (capacitada em fazer uma cara de choro tão espontânea quanto uma risada de alguém que assiste o Zorra Total), recebeu uma sequência neste ano de 2019 dado o gancho apresentado no desfecho do filme anterior introduzindo uma nova entidade chamada Mirah. Mas a última cena que promovia a conexão com a trama seguinte foi abruptamente cortada, impedindo que o espectador aproveitasse mais da tensão climatizada. Retornaram para a continuação o roteirista Riheam Junianti e o diretor Rocky Soraya (que co-roteirizou) e pelo que se pôde ver a dupla tentou requentar elementos narrativos anteriormente usados para a justificação dos eventos, o que não poupou contínuas sensações de "deja vú". Nesta segunda dose de puro terror de plástico, as irmãs Alia e Abel estão engajadas na missão de salvar pessoas das garras de assombrações nefastas e cheias de ódio, basicamente se sentindo como "super-heroínas" do sobrenatural guiadas pela Sra. Windu que funciona como mentora espiritual dando dicas de outros métodos para a comunicação com fantasmas (dentre os objetos, em vez do Ouija, tem um tabuleiro com letras para chamar espíritos que parece ter sido comprado numa vendinha chinfrim). O que ilustra a tamanha falta de criatividade é o desenvolvimento.

Alia perdeu entes queridos no primeiro filme, no caso os seus pais. A atmosfera trágica repete-se e Abel, sua irmã mais nova, é a vítima da vez para causar mais perturbação na vida da jovem (pelo menos a sensibilidade da personagem não ficou comprometida pela interpretação meio songamonga da Jessica Mila e ela pôde expressar seu luto de forma relativamente mais nítida que no filme passado) que resolve vender a casa e se instalar num orfanato (descoberto através de uma visão mostrada por um específico colar) onde conhece o casal de proprietários Sra. Laksmi (Sophia Latjuba) e Pak Fadli (Jeremy Thomas), além das crianças (não sei se vi direito, mas... só tem meninas lá?). Uma delas é Nadia que também possui um terceiro olho aberto e se vincula à Alia para dividir sua experiência paranormal com o espírito maligno de Darmah, uma garotinha que foi brutalmente morta pelo pai que logo tem sua história bem atada com a de sua mãe, a própria Mirah (acusada por Alia de assassinar sua irmã). Nadia registra num caderno desenhando as aparições de Darmah (da qual ouvia vozes pedindo ajuda pelas paredes) e junto de Alia abre uma passagem secreta libertando-a de sua prisão acidentalmente. A mística do longa é um tanto estranha, por vezes parecendo até incoerente, mas é possível assistir conformado de não puxar nada para teorizações ou racionalizações. Cada espírito tem o seu mundo que pode ser acessado exclusivamente por pessoas quem tenham o terceiro olho aberto e o principal caminho de alcance é olhar nos olhos de alguém possuído (ou tocar, talvez) podendo ser capaz de entrar num estado semi-consciente onde sua mente vê a dimensão psíquica embora não interaja com a mesma (basicamente invadir as mentes tanto do possuído quanto do possessor, bem como precisamente suas memórias). No que se refere à transmissão de medo, não preciso nem discorrer muito sobre o quão arruinado foi esse ponto.

Eu não sou um amante dos jump scares que exige desse recurso como se ele fosse o trunfo infalível para qualquer filme do gênero, falo logo pra deixar bem claro, funciona variavelmente de espectador para espectador e às vezes não, contudo a ausência do recurso serviu como um dos agravantes para não sentir absolutamente nada que possamos entender como algo ameaçador na maior parte do tempo (1h56/116 minutos), pois simplesmente não existe a técnica para causar o susto e o espanto necessários, os fantasmas atacam sem nenhum auxílio de suspense e a câmera tem um ritmo de movimentação que contribui para esse decaimento de tensão - tensão esta casualmente interessante (os tremores e as luzes piscando rapidamente garantiram uma conferida mais atenta) - e ainda sobre a câmera temos o despropositado giro em algumas cenas que inicia com a imagem de ponta à cabeça e vai endireitando-se ao passo que segue em aproximação para focalizar determinado alvo. Voltando ao lance do requentamento de ideias, as principais situações que se desenrolam no ápice dessa bagaça chegam a lembrar ligeiramente partes do segundo ato e do clímax do primeiro filme. Até no plot twist não pouparam no repeteco (não literal, apenas chupinharam o conceito em torno da reviravolta). Enquanto a apelona da Sra. Windu não chegava para deter o violento espírito de Darmah à solta no orfanato, Nadia usava sua habilidade de desenhar eventos do passado por meio do seu terceiro olho com a ajuda de Alia e os rabiscos apontavam para Fadli como culpado pelas mortes de Mirah e Darmah. Abel ganho um encaixe seguro na trama: contactou Fadli pessoalmente para alerta-lo sobre Mirah querer libertar sua filha... sem saber que o cara era um psicopata homicida e a vendo como um empecilho decidiu mata-la, o que provocou a ira de Mirah. Mais tarde, Alia descobriu que Fadli é o assassino de sua irmã, confirmando pelas memórias de Darmah ao ser tocada por ela no mundo psíquico onde a própria castiga Fadli a base de chicotadas durante a possessão.

Realmente há similaridades notáveis com o enredo do primeiro filme. Dois vilões assassinos e não-sobrenaturais (o jardineiro Mang Asep e o Fadli) que são mortos por Alia possuída pelo espírito que jurou vingança por tirar-lhe a vida, com o único diferencial de que neste a protagonista e a fantasminha perigosa estão consensualmente direcionadas ao ato vingativo, o que rendeu uma boa cena de gore com direito à serra circular decapitando e fazendo jorrar litros e litros de sangue (dá pra sentir o impacto selvagem da cena, uma das poucas do escasso pacote de tensão), optando por menos planos ao longo da ação (outra repetição, esta mais do que óbvia, é o espírito no corpo de Alia fechando a porta barrando Windu que no filme 1 estava acompanhada de Abel e neste por Laksmi - a chifruda, traída por Fadli com sua própria irmã). Mãe e filha seguiram destinos opostos. Mirah encontrou sua paz e Darmah foi mandada para o inferno (adivinha por quem... começa com W) sendo levada por uns encapuzados numa cena para lá de artificial com todo aquele vermelho parecendo uma atração de parque temático de horror. e queimando no fogo eterno. No quesito maquiagem, infelizmente não devo repetir meus elogios feitos na review do 1º filme. A qualidade diminuiu a certo nível fazendo os espíritos ficarem com cara de melão japonês (acho que os efeitos práticos foram minimizados em contrapartida aos de computação). E como previsto, nada ficou totalmente bem no happy end.

Considerações finais:

O Terceiro Olho 2 (Mata Batin 2, no original) acaba pecando por reaproveitar uma parte estrutural de destaque do filme anterior, praticamente um auto-plágio descarado. Não sendo suficiente o texto novamente didático, redundante e desinspirado, o enredo, que poderia ser melhor ajustado a favor de pinceladas novas com cores diferentes, não se impulsiona para carregar a história do jeito que um terror que se considere legítimo proporia, tornando a experiência cansativa e fazendo desejar ter um terceiro olho para não perder os detalhes porque os outros dois estão fechados em sonolência.

PS1: Laksmi ter uma conduta bem rígida como dona do orfanato, tudo bem. Mas pra quêdeixar a coitada da Nadia sem jantar (ao invés de aceitar a verdade que ela sabia muito bem!) porque ela bagunçou seu quarto (uma criança normal teria força para jogar sua cama na parede ¬¬) e pôs a culpa num fantasma? Será que ela punia dessa forma as outras chiquititas órfãs?

PS2: "Mirah é minha sobrinha. Filha da minha irmã", disse Laksmi. Um exemplo do absurdamente óbvio texto desse filme.

PS3: No primeiro filme, os fantasmas agiam como demônios. Nesta sequência, isso não mudou, mas adicionaram fantasmas com trejeitos de zumbis... Se houver um próximo ("vira essa boca pra lá", diz uma voz na minha cabeça hahaha), teremos fantasmas-vampiros (de energia vital)? Pensando bem, ruim não seria, contanto que a direção e a roteirização fossem criteriosamente substituídas.

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Provavelmente não. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: https://entreterse.com.br/ficha-tecnica-o-terceiro-olho-2-original-netflix-29383/

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