Calmaria Eterna

Como é bom estar de volta. Mas parece que, a julgar pela expressão estarrecedora ao me ver, você está pior que da última vez quando o vi. O que houve? Ah sim, acho que devo imaginar o que seja. Ainda não se acostumou com minha quase imperceptível presença. Tenho a resolução para esse caso... novamente.

Você aí, neste canto opaco de seu quarto, profundamente pensativo e confortado pelo seu prazer solitário. Não sei o que espera conseguir com isso, mas eu sei como resolver, pois sou experiente em casos em que minhas vítimas se sentem assim... como você agora... perdidamente vagando no abismo sombrio no qual se instalou.

Quero estar junto à você, mas sempre me espanta como um inseto. Vamos aproveitar este dia cinzento, nos deliciar com a brisa gélida soprando em nossos rostos. Posso ajudar quando quiser contemplar o nada.

Lembro que me abandonou uma vez. Que pena. Quando eu estava à um passo de uma aproximação, você me rejeitou friamente.

Agora que voltei tenho a oportunidade valiosa. Vamos nos unificar. Quero ser parte deste corpo vivo e desta alma morta.

Se eu pudesse matá-lo agora, não me viria à mente nenhum arrependimento ao faze-lo.

Mas como sempre recusa minha ajuda, você não me deixa outra escolha. Meu trabalho não é do tipo forçado, mas o cumpro bem, pela razão de estar sozinho... como você agora.

Vou refrescar sua memória.

Sou aquele que está à sombra do seu cansaço.

Aquele que surge, vive, morre e renasce quando vocês me permitem.

Aquele que oferece o que tem, sem pedir nada em troca.

Aquele que entra sem pedir licença e sai sem dizer adeus... pois sabem que irei voltar.

Transformo os minutos em horas. As vezes dias em semanas. Distorço e remonto o tempo à minha maneira.

Acho que não me reconheces mais.

Pois bem, me apresentarei novamente, para minha nobre vítima perdida.

Muito prazer...

Me chamo Tédio.